Efeito do vigor da planta na ocorrência e diversidade de insetos

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Efeito do vigor da planta na ocorrência e diversidade de insetos
galhadores
Taís Carvalho Martins¹ (IC - PIVIC)*, Lidiane Rosa dos Santos¹ (IC), Marcela Yamamoto¹ (PQ)
1 Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Quirinópolis. Av. Brasil, 435. Bairro Hélio Leão III.
75860-000. Quirinópolis, GO
* [email protected]
Resumo: Galhas são alterações provocadas no padrão de crescimento de tecidos ou órgãos da
planta em resposta à ação de algum agente indutor. A hipótese do vigor de plantas (HVP) prediz que
plantas ou módulos mais vigorosos são preferencialmente selecionados por fêmeas de insetos
galhadores como sítios de oviposição, pois aumentam a chance de sobrevivência da prole. Assim, o
objetivo foi verificar a preferência dos insetos galhadores por plantas ou módulos mais vigorosos
usando dois modelos biológicos. O primeiro modelo, Bauhinia brevipes (Fabaceae) e a galha foliar
induzida por Schizomyia macrocapillata (Diptera: Cecidomyiidae) mostrou que a quantidade de galhas
não teve correlação com a altura das plantas, mas a correlação foi significativa com o comprimento
dos ramos e a quantidade de folhas. Indicando uma preferência do galhador por ramos mais
vigorosos e pela maior quantidade de folhas. Em Acacia polyphylla (Fabaceae) foram considerados
três morfotipos de galhas induzidas por Hymenoptera. Houve maior frequência de galhas entre 1,0 e
2,0m de altura e uma preferência do galhador para plantas mais altas. Ao que parece a HVP pode ser
comprovada nos modelos, dependendo do parâmetro a ser considerado.
Palavras Chave: Hipótese do vigor. Hymenoptera galhador. Schizomyia macrocapillata.
Introdução
Galhas são alterações provocadas pela mudança do padrão de crescimento e
desenvolvimento de tecidos ou órgãos da planta em resposta à ação de um agente
indutor como, vírus, bactérias, fungos, nematoides e principalmente insetos
(CARNEIRO;
BORGES;
ARAÚJO;
FERNANDES,
2009).
As
galhas
são
caracterizadas pelo aumento do número e/ou tamanho das células culminando na
formação de uma estrutura simétrica (RAMAN, 2007). Entre os insetos herbívoros,
os galhadores são provavelmente os mais sofisticados, pois são capazes de
controlar e redirecionar a planta hospedeira em seu benefício (FERNANDES, 1990;
SHORTHOUSE et al., 2005). Estes insetos encontram na em suas respectivas
plantas hospedeiras sítios de alimentação e proteção para a larva contra inimigos
naturais e condições ambientais adversas (FAGUNDES; GONÇALVES, 2005).
A hipótese do vigor de plantas (HVP) prediz que plantas ou módulos mais
vigorosos são preferencialmente selecionados por fêmeas de insetos galhadores
como sítios de oviposição, pois aumentam a chance de sobrevivência da prole
(GONÇALVES-ALVIM; FARIA; FERNANDES, 1999). De forma que, o tamanho da
planta pode ter um efeito positivo sobre a diversidade de insetos galhadores, devido
ao fato de que plantas maiores disponibilizam maior quantidade de recursos e são
mais aparentes para o inseto galhador (ALMEIDA et al.,2008). Assim, o
comportamento, a fisiologia e adaptações ecológicas dos herbívoros selecionam o
estágio de desenvolvimento da planta que lhes propiciam melhores taxas de
sobrevivência e reprodução (RAMALHO; SILVA, 2010).
Dessa forma, este estudo teve como objetivo verificar a preferência dos
insetos galhadores por plantas ou módulos mais vigorosos em duas populações de
plantas, Bauhinia brevipes Vogel e Acacia polyphylla DC, para testar a hipótese do
vigor de plantas.
Material e Métodos
Modelo Bauhinia brevipes
Para testar a HVP foi usado o modelo com a planta hospedeira Bauhinia
brevipes Vogel (Fabaceae) e a galha induzida por Schizomyia macrocapillata
(Diptera: Cecidomyiidae). Estas galhas têm formato esférico de coloração
avermelhado-laranja com uma única câmara induzida na superfície adaxial das
folhas de B. brevipes.
O material foi coletado em uma população de B. brevipes localizada em
remanescente de Cerrado da Fazenda Alegre (18°45’16,1” S; 50°35’28,3” O), em
abril de 2016, período em que ramos e galhas estavam desenvolvidos e crescidos.
Os parâmetros de vigor considerados foram: altura da planta, comprimento
dos ramos apicais, número de folhas e galhas. Para isso, foram coletados até 25
ramos apicais em 25 indivíduos. Eventualmente alguns indivíduos não possuíam 25
ramos, no entanto, os ramos destes indivíduos também foram amostrados. O
material foi acondicionado em sacos plásticos identificados, mantidos na geladeira
até a triagem em laboratório. O teste de Correlação de Pearson foi usado para
verificar a correlação entre os parâmetros medidos na população amostrada.
Modelo Acacia polyphylla
No modelo Acacia polyphylla DC (Fabaceae) foram considerados três
galhadores de folha dos morfotipos globoide, elipsoide e cônico, todos induzidos por
Hymenoptera. A população foi estudada no Parque Ecológico José Modesto
localizado na área urbana de Santa Helena de Goiás. Foram amostrados 73
indivíduos em julho de 2016. A altura dos indivíduos foi o parâmetro utilizado para
medir o vigor da planta. O teste Correlação de Spearman foi usado para verificar a
correlação entre a altura da planta e quantidade de galhas.
Resultados e Discussão
Modelo Bauhinia brevipes
No total foram contadas 31.376 folhas nos ramos apicais de B. brevipes, das
quais, 1.277 hospedaram galhas de S. macrocapillata. Não houve correlação para os
resultados de altura da planta e quantidade galhas (r = 0,05; p = 0, 4613; Figura 1).
No entanto, houve uma correlação significativa entre a quantidade de folhas com
número de galhas (r = 0,64, p < 0,0001; Figura 2) indicando que a ocorrência de
galhas aumenta de acordo com a quantidade de folhas. A abundância de galhas
também foi positivamente correlacionada com o comprimento dos ramos (r = 0,34; p
< 0,0001; Figura 3), indicando que para este parâmetro houve uma preferência por
ramos mais vigorosos.
No modelo estudado, o galhador S. macrocapillata parece escolher seu
hospedeiro pela quantidade de folhas e pelo comprimento dos ramos, mas não pela
altura das plantas.
Figura 1-Correlação de Pearson dos parâmetros: altura das plantas de Bauhinia brevipes (Fabaceae)
e quantidade de galhas de Schizomyia macrocapillata (Diptera: Cecidomyiidae).
Figura 2-Correlação de Pearson dos parâmetros: quantidade de folhas de Bauhinia brevipes
(Fabaceae) e quantidade de gualhas de Schizomyia macrocapillata (Diptera: Cecidomyiidae).
Figura 3- Correlação de Pearson dos parâmetros: comprimento dos ramos apicais de Bauhinia
brevipes (Fabaceae) e a quantidade de galhas de Schizomyia macrocapillata (Diptera:
Cecidomyiidae).
Modelo Acacia polyphylla
A altura média das plantas foi de 1,59 ± 0,61m (± desvio padrão) e a
quantidade média de galhas foi de 17,45 ± 21,80. A maior frequência de galhas foi
observada em plantas de 1,0 a 2,0m de altura (Figura 4). Houve correlação positiva
significativa da quantidade de galhas com a altura das plantas (rs = 0,24, p = 0,035,
Figura 5). Este resultado mostra uma preferência dos insetos galhadores por
indivíduos mais altos, como previsto na HVP.
Figura 4 - Distribuição da quantidade de galhas conforme a altura dos indivíduos de Acacia polyphylla
(Fabaceae) amostrados no Parque Ecológico José Modesto, Santa Helena de Goiás
500
450
400
350
Quantidade de galhas (n)
300
250
200
150
100
50
0
0,0 a 0,5m
0,51 a 1,0m
1,1 a 1,5m
1,51 a 2,0m
2,1 a 2,5m
2,51 a 3,0m
acima de 3,0m
Altura da planta (m)
Figura 4 - Correlação de Spearman dos parâmetros: altura da planta Acacia polyphylla (Fabaceae) e
quantidade de galhas.
Considerações Finais
Os resultados encontrados confirmam a hipótese do vigor de plantas como
um fator determinante na abundância de galhas, mas não para todos os parâmetros
medidos. Ao que parece, os modelos utilizados mostraram que plantas mais
vigorosas oferecem maior disponibilidade de recursos e sítios de oviposição, mas
que o parâmetro usado depende do tipo de galhador.
Agradecimentos
À Universidade Estadual de Goiás pela bolsa PIVIC Edital PrP n.001/2015. A UEG Campus
Quirinópolis pelo laboratório. Aos proprietários da Fazenda Alegre e a administração Parque
Ecológico José Modesto por disponibilizar as áreas de estudo.
Referências
ALMEIDA, E, C.S.; LUZ, G.R.; MENINO, G, C. O; OLIVEIRA, M.L.; FAGUNDES. M.;
FERNANDES, G.W. Efeito do vigor sobre a abundância de insetos indutores de
galhas em Astronium fraxinifolium. In: II SIMPOSIO internacional SAVANAS
TROPICAIS, 12-17 outubro, 2008, Brasília. Anais... Brasília: 2008.
CARNEIRO, M, A. A.; BORGES, R, A. X; ARAÚJO, A, P.A.; FERNANDES, W.G.
Insetos indutores de galhas da porção sul da cadeia do Espinhaço, Minas
Gerais, Brasil. Revista Brasileira de Entomologia v. 53, n. 4, p. 570–592, Laboratório
de entomologia Ecológica, Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, 2009.
FAGUNDES, M., GONÇALVES, C.L. Ataque de um inseto galhador (Diptera:
Cecidomyiidae) em Astronium fraxinifolium (Anacardiaceae) em uma floresta
estacional. Unimontes Científica, v.7, n.1. Montes Claros, 2005.
FERNANDES, G. W. Hypersensitivity: a neglected plant resistance mechanism
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GONÇALVES-ALVIM, S.J.; FARIA, M.L.; FERNANDES, G.W. Relationships
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RAMALHO, V.F.; SILVA, A.G. Modificações bioquímicas e estruturais induzidas
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2010.
RAMAM, A. Insect-induced plant galls of India: unresolved questions. Current
Science v.92, p. 748–757, 2007.
SHORTHOUSE, J. D.; WOOL, D.; RAMAN, A. Gall-inducing insect: nature´s most
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