UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM MBA- GESTÃO DE PESSOAS EDSON APARECIDO VIOLA ROCHA ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES: UMA ABORDAGEM GERAL CRICIÚMA, AGOSTO DE 2008 EDSON APARECIDO VIOLA ROCHA ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES: UMA ABORDAGEM GERAL Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior. Orientador: Prof.(Dr, MSc). Edson Cichella CRICIÚMA, AGOSTO DE 2008 Ao Adão e a Terezinha, meus pais que eternamente serei grato pela educação exemplar – pai e mãe amo vocês; a meu sogro por meio de seus exemplos e palavras, sempre direcionados à moral e a ética, têm guiado minhas atitudes e minha vida. AGRADECIMENTOS A Deus, pela inspiração da vida e por estar sempre em todos os momentos, dando-me sabedoria e capacitação. A minha querida esposa Giane e meu filho Bruno por terem paciência nesta minha jornada de Pós graduação. Ao meu orientador prof. Edson Cichella , que me conduziu durante todo o processo deste trabalho, sempre com muita dedicação e sabedoria. “Lembremo-nos de que a nossa verdadeira riqueza é medida não pelo que temos, e sim pelo que somos.” Napoleon Hill RESUMO A partir de uma investigação fundamentada da ética, busca-se os pilares básicos que devem nortear a elaboração de um código de ética que realmente cumpra com a sua finalidade principal, qual seja, agregar valor organização. Nos dias de hoje, é de conhecimento notório a importância da ética no contexto das organizações, bem como a forma como ela está inserida e exerce influência no comportamento individual, nas relações de trabalho e no relacionamento externo com os clientes. O estudo da ética, além de bastante controverso, devido aos mais diversos enfoques e interpretações que enseja, remonta aos primórdios da Filosofia Antiga, tendo sido objeto dos escritos de Sócrates e Platão, dentre outros. Desta forma, para se chegar aos elementos que necessariamente devem compor um código de ética e com isso agregar valor ético as organizações, é necessário estabelecer a necessária diferenciação entre ética valores e moral, além de um estudo sobre a abordagem dos aspectos relacionados à ética capitalista e suas conseqüências. Pretende-se ainda, interpretar uma visão diferenciada e integral da ética até chegar à questão ética no contexto organizacional, tópicos estes investigados em importantes obras atuais da literatura científica sobre tema em questão. Acrescenta-se ainda neste trabalho, comentários sobre o código de ética da empresa Marisol S/A. Enfim, a abordagem abrangente do tema, resultante da revisão bibliográfica que vêm a compor este estudo, o credencia como fonte de consulta para futuros trabalhos acadêmicos. Palavras-chave: Organizações; Ética empresarial; Código de Ética . . LISTA DE FIGURAS FIGURA 1. Relação entre as regras éticas e as legais..............................................36 FIGURA 2. Modelo estrutural para compreender as tomadas de decisão ética na empresa......................................................................................................................42 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11 1.1 Tema e Problema...............................................................................................11 1.3 Justificativa........................................................................................................12 1.4 Metodologia .......................................................................................................12 2. DA MORAL ...........................................................................................................13 2.1 Conceitos de Moral ...........................................................................................13 2.2 Julgamento Moral..............................................................................................14 2.3 Moral Brasileira .................................................................................................16 2.4 Moral Empresarial .............................................................................................16 3. DOS VALORES E PRINCÍPIOS ...........................................................................18 3.1 Conceitos ...........................................................................................................18 3.2 Valores e Princípios da Empresa.....................................................................18 4. DO COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL.................................................20 4.1 Conceitos ...........................................................................................................20 4.2 Classificação .....................................................................................................21 4.3 Abordagens .......................................................................................................22 4.4 Modelo de Três Dimensões ..............................................................................23 4.5 Aplicando o Comprometimento Organizacional nas Empresas ...................24 5. DA ÉTICA .............................................................................................................28 5.1 Ética no Contexto Histórico .............................................................................28 5.2 Conceito .............................................................................................................34 5.3 A Ética e a Lei ....................................................................................................35 5.4 As Teorias Éticas ..............................................................................................36 5.5 Os Dilemas Éticos .............................................................................................38 6 ÉTICA NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL........................................................39 6.1 Ética nas empresas...........................................................................................39 6.2 Obstáculos à Ética Organizacional..................................................................43 6.3 Inteligência Competitiva ...................................................................................45 6.4 Mensuração da Ética Organizacional ..............................................................47 7. IMPLANTAÇÃO DE UM CÓDIGO DE ÉTICA ......................................................50 7.1 Código de Ética .................................................................................................50 7.2 Comentários sobre o Código de Ética da empresa Marisol S\A ...................53 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................55 REFERÊNCIAS.........................................................................................................57 ANEXOS ...................................................................................................................61 11 1 INTRODUÇÃO 1.1 Tema e Problema Neste novo cenário corporativo, as organizações têm se preocupado em resgatar valores éticos e em desenvolver ações voltadas às questões sociais. O caráter que uma pessoa tem é decisivo para sua vida, pois ainda que os fatores externos condicionem em um sentido ou outro o caráter, se a pessoa o assumir, é o centro último da decisão, pois a ética é uma prática individual, intransferível íntima. Quando se questiona o porquê desta preocupação com a ética nas empresas, devemos analisar que hoje a sociedade cobra das empresas uma atuação responsável e o consumidor tem consciência da efetividade de seus direitos. Portanto, uma nova postura é exigida das empresas, que explicite suas preocupações com a questão social e com a ética. Com isso, é necessário que os profissionais estejam preparados e possuam um nível de comprometimento capaz de identificar como funcionário diferenciado, que consegue demonstrar através de suas ações, os valores éticos pessoais e sociais Neste contexto, busca-se responder a seguinte questão problema: Quais os fatores que podem ajudar o profissional a assumir uma vida de maneira mais ética? 1.2 Objetivos A partir da questão problema formulou-se o seguinte objetivo: Propiciar condições que possam resultar em um despertar de consciência eticamente crítica nos indivíduos. 12 1.3 Justificativa Este trabalho apresenta uma análise da importância do comportamento ético nas organizações, visto que nestes tempos de globalização e reestruturação competitiva, as empresas que se preocupam com a ética e conseguem converter suas preocupações em práticas efetivas, mostram-se mais capazes de competir com sucesso e conseguem obter não apenas a satisfação e a motivação dos seus profissionais, mas também resultados compensadores em seus negócios. Ética, enquanto filosofia e consciência moral, é essencial à vida em todos os seus aspectos, seja pessoal, familiar, social ou profissional. Assim, enquanto profissionais e pessoas, dependendo de como nos comportamos, por exemplo, em nossas relações de trabalho, podemos estar colocando seriamente em risco nossa reputação, nossa empresa e o sucesso em nossos negócios. A sobrevivência e evolução das empresas e de seus negócios, portanto, estão associadas cada vez mais a sua capacidade de adotar e aperfeiçoar condutas marcadas pela seriedade, humildade, justiça e pela preservação da integridade e dos direitos das pessoas. 1.4 Metodologia Este trabalho será de revisão bibliográfica, buscando relacionar a ética empresarial e a ética do indivíduo para melhor caracterizar uma trajetória de sucesso nas organizações. 13 2. DA MORAL 2.1 Conceitos de Moral A moral está relacionada a um sistema de normas que expressam valores, códigos formalizados, conjunto internamente coerente de princípios ou de propósitos socialmente validados, discursos que servem de modelo para as relações sociais e aos comportamentos dos agentes. As questões morais escondem-se em muitas decisões e ações do cotidiano empresarial, ainda que os dirigentes não tenham plena consciência disso (SROUR, 2000). Cada vez mais, a imagem que as empresas gostariam de passar é a de empresas éticas. Isto, na verdade, implica em dizer empresas moralmente inatacáveis, sintonizadas com a moral do tempo e com os costumes vigentes. Por isso, empresas éticas seriam aquelas que subordinam as suas atividades e estratégias a uma prévia reflexão ética e agem de forma socialmente responsável (SROUR, 2000). Por moral podemos entender determinadas normas que orientam o comportamento prático (sobretudo para com o próximo, mas também com a natureza e para consigo mesmo). A moral orienta-se por valores: as normas já pressupõe os valores..., o que as normas exigem é que os valores sejam realizados (Leisinger & Schimitt, 2001, p. 18). A moral pode ser dividida em duas linhas: morais macrossociais e morais microssociais). Enquanto aquelas se referem às normas que regem a sociedade como um todo, estas dizem respeito aos interesses das coletividades internas às sociedades (SROUR, 2000). A moral é constituída por valores e normas, onde as normas já pressupõe os valores e exigem que os mesmos sejam realizados. No entanto, com freqüência, as controvérsias éticas se ressentem do fato de parceiros não compartilharem os mesmos valores sobre os quais se fundamentam suas normas morais. O que para 14 um pode representar um valor, pode para o outro ser um desvalor (LEISINGER E SCHIMITT, 2001). 2.2 Julgamento Moral O modelo teórico de Kohlberg (Kohlberg, 1981 apud MONTEIRO, SANTO E BONACINA, 2005) descreve que os julgamentos e normas morais devem ser entendidos como agentes universais que regulam as suas interações sociais, ao invés de reflexões passivas de qualquer fato externo ou de emoções internas. Esta perspectiva sócio-moral baseado em Kohlberg possibilitam uma organização geral do julgamento moral e servem para informar e unir outros conceitos morais mais específicos, como a natureza do moralmente certo ou bom, reciprocidade moral, regras, direitos, obrigações ou deveres, eqüidade, conseqüências do bem-estar e valores morais como a obediência à autoridade, a preservação da vida, a manutenção de contratos e de relações afetivas. A descrição deste autor parte do pré-moralismo, passa pelo conformismo e se estende até a moralidade de princípios individuais, onde organizou uma série de seis estágios e três níveis (pré-convencional, convencional, pós-convencional), dois estágios em cada nível, do desenvolvimento e articulação do julgamento moral, que se estende da infância à vida adulta (SROUR, 2000). O primeiro nível é denominado pré-convencional e não existe internalização de princípios morais, sendo assim, o ato é julgado pelas suas conseqüências e não pelas suas intenções, pois os indivíduos não chegaram a entender e respeitar normas e expectativas compartilhadas. Este nível é característico da maioria das crianças com menos de 9 anos, de alguns adolescentes e de muito criminosos adolescentes e adultos (KOHLBERG, 1964, apud MONTEIRO, SANTO E BONACINA, 2005). Já o segundo nível é chamado de convencional. Nele já existe a internalização e o indivíduo acredita no valor e no reconhecimento daquilo que julga por excelência. Este nível é o da maioria dos adolescentes e adultos da sociedade moderna americana (COLBY & KOHLBERG, 1984 apud MONTEIRO, SANTO E BONACINA, 2005). 15 Pós-convencional é como é conhecido o terceiro nível. Neste nível, o questionamento das leis estabelecidas e o reconhecimento de que podem ser injustas e devem ser alteradas está presente. As pessoas entendem e aceitam as regras da sociedade, porém baseia-se na formulação de princípios morais gerais que sustentam essas regras, pois seguem princípios de consciência. Este nível é alcançado por uma minoria de adultos (em torno de 5%), geralmente depois dos 20 anos (LEISINGER & SCHIMITT, 2001). Neste contexto, Kohlberg (1964) em sua obra, propôs os estágios de julgamento (KOHLBERG, 1964, apud MONTEIRO, SANTO E BONACINA, 2005): • Orientação para a punição e obediência: caracteriza-se pela moralidade do ato definida em termos de conseqüências físicas para o agente. Se a ação é punida, está moralmente errada; se não for punida, está correta; • Hedonismo instrumental relativista: a ação moralmente correta é definida em termos de prazer ou da satisfação das necessidades da pessoa. Este estágio é caracterizado pelo egoísmo, pela moral relativa e o ato moral é um instrumento de satisfação pessoal; • Moralidade do bom garoto, de aprovação social e de relações interpessoais: o comportamento moralmente correto é aquele que leva à aprovação dos outros. Neste estágio surge a concepção da eqüidade; • Orientação para a lei e a ordem: existe o respeito pela autoridade, regras fixas e pela manutenção da ordem social. A justiça tem a ver com a ordem social estabelecida (indivíduo e sistema), e não é uma questão de escolha pessoal moral; • Orientação para o contrato social: o indivíduo admite que as leis ou costumes morais podem ser injustos e devem ser mudados pelos canais legais e contratos democráticos; • Princípios universais de consciência: o indivíduo reconhece os princípios morais universais da consciência individual e age de acordo com eles. Estas obrigações morais envolvem: princípio de justiça; princípio de .role-taking., ou seja, capacidade de se colocar no lugar do outro e o princípio do respeito pela personalidade. 16 2.3 Moral Brasileira Duas pesquisas de âmbito nacional feitas pelo Ibope no fim de 1992 e início de 1993 registraram que 64% dos entrevistados consideravam que, no Brasil, quando uma pessoa tem a oportunidade de conseguir uma vantagem fazendo algo errado, e sabe ter poucas chances de ser descoberta, ela age ilegalmente. De certa forma, dá razão a conhecida anedota sobre o Brasil: Deus, depois de haver presenteado o país com uma generosa geografia em que abundam recursos naturais, colocou como contrapeso um “povinho ruim” (SROUR, 2000). As morais brasileiras são divididas em: moral da integridade e moral do oportunismo. A moral da integridade é o sistema de normas que corresponde ao imaginário oficial brasileiro e configura o comportamento considerado decente e virtuoso. Essa moral é ensinada nas escolas e nas igrejas, serve de pauta aos tribunais e à mídia mais responsável. Enumera as qualidades que moldam as “pessoas de bem“ ou distinguem aquelas que possuem “retidão de caráter”. A moral do oportunismo corresponde imaginário oficioso brasileiro e que configura o comportamento dito esperto: consiste em que o agente individual se saia bem, ainda que em detrimento dos interesses dos outros; floresce na sombra da malícia; nutrese de franca hipocrisia, pois em público, todos aderem à moral da integridade. Suas formas de agir transgridem as normas morais e são consideradas imorais do ponto de vista moral oficial. A moral do oportunismo repousa no mais estreito interesse pessoal (SROUR, 2000). 2.4 Moral Empresarial Moral empresarial é o conjunto daqueles valores e normas que, dentro de uma determinada empresa, são reconhecidos como vinculantes. Não existe nenhuma moral especial para as empresas. Porém, existe expectativas de ação mais amplamente definidas. Para a conversão de padrões morais toda empresa depende em última análise de conseguir lucros além do necessário para cobrir os 17 custos. Entre conduta moral e economia lucrativa não existe nenhuma relação de exclusão. Não é o lucro como tal, nem o seu valor, mas sim a maneira de obtê-lo, bem como a justa aplicação situacional do princípio do lucro. Como critérios de qualidade, destacam-se: grandezas como razão, justiça, adequação, dignidade humana e lisura. Como “pessoa jurídica”, as empresas possuem direitos e deveres morais. Dentro da ordem jurídica e da competição, as empresas pleiteiam para si direitos econômicos, sociais e ecológicos. Dentro do exposto, destacam-se (LEISINGER & SCHMITT, 2001): • Empenhar-se e engajar-se a curto e longo prazo pelo bem da empresa; • Cuidar com responsabilidade da segurança e previdência dos colaboradores; • Levar em conta da maneira mais ampla possível os interesses do meioambiente; • Considerar de maneira mais ampla possível os desejos dos consumidores; • Produzir e oferecer a preços razoáveis (os melhores possíveis), produtos e serviços que sejam úteis, seguros, saudáveis, sob o aspecto qualitativo; • Criar ou manter vagas de trabalho; • Engajar-se em favor do contexto social, apoiar as comunidades e assumir responsabilidade social, bem como, ultimamente em medida cada vez maior; • Considerar o shareholder valuei, isto é, os interesses de curto e longo prazo dos acionistas da empresa. Neste contexto, é que as empresas são avaliadas e as prioridades dos diversos deveres podem variar com o tempo e de acordo com as condições econômicas, sociais e ecológicas. Sendo assim, a possibilidade de harmonizar a prática comercial-lucrativa com o agir moralmente deve sempre ser considerado em todo empresa (LEISINGER & SCHMITT, 2001). 18 3. DOS VALORES E PRINCÍPIOS 3.1 Conceitos A necessidade de escolher entre vários atos possíveis está inclusa em toda atitude ética. Esta escolha deve basear-se, por sua vez, em uma preferência. Escolhemos tomar tal atitude porque ela se apresenta como mais digna, mais elevada moralmente, ou mais valiosa (SROUR, 2000). O valor não é propriedade dos objetos em si, mas ele só atinge propriedade graças à sua relação com o homem, enquanto sujeito social. Apesar de que os objetos também têm um valor em função de certas propriedade objetivas, é o homem, como ser histórico-social e a sua atividade prática, que cria os valores e os bens nos quais acreditam e seguem. Os valores são, portanto, criações humanas, e só existem e se realizam no homem e pelo homem (VÁZQUEZ, 2001). Valores são algo que possui unidade e perenidade; valores são as metas às quais a moral aspira, metas que conferem à moral um objetivo. Nas metas está situada a exigência normativa, a partir da qual a moral experimenta sua justificação ou desqualificação ou simplesmente, seu objetivo. (LEISINGER & SCHIMITT, 2002). Sendo assim, a moral é constituída por valores e normas, onde as normas já pressupõe os valores e exigem que os mesmos sejam realizados. No entanto, com freqüência, as controvérsias éticas se ressentem do fato de parceiros não compartilharem os mesmos valores sobre os quais se fundamentam suas normas morais. O que para um pode representar um valor, pode para o outro ser um desvalor (SROUR, 2000). 3.2 Valores e Princípios da Empresa Os valores e princípios compartilhados por uma empresa são definições a respeito do que é importante para atingir o sucesso, indicam aquilo que é prioritário, 19 comunicam o que se deve esperar da organização e estão relacionados a comprometimento, comportamento ético, autoconfiança em relação aos objetivos organizacionais (SROUR, 2000). Em um recente estudo que investigou os princípios e valores morais de duas empresas familiares, verificou-se que os valores que consideram mais importante seguir dentro das empresas e aqueles que a empresa considera mais importante seguir, foram destacados os valores: responsabilidade, respeito e honestidade (MONTEIRO et al, 2005). 20 4. DO COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL 4.1 Conceitos O comprometimento sozinho não garante o sucesso da empresa, mas que um elevado grau de comprometimento com a organização contribui para que as empresas alcancem seus objetivos. O estudo do comprometimento possibilita “a melhor compreensão da natureza dos processos psicológicos pelos quais as pessoas escolhem identificar-se com os objetivos em seu ambiente (TEIXEIRA, 1994). Comprometer-se significa: sentir-se vinculado a algo e ter desejo de permanecer naquele curso de ação (ZANELLI, 2004). O comprometimento pressupõe um sentimento total de responsabilidade na transformação das metas e objetivos em realidade (SENGE, 1998). O indivíduo articula seus vínculos de comprometimento com diferentes focos. No trabalho de Morrow (apud ZANELLI, 2004), trabalho este que se tornou um marco importante na área, a autora trabalha com cinco focos, a saber: valores, organização, carreira, trabalho e sindicato. Sendo que esta pesquisa estudará o comprometimento apenas com foco na organização, apresentando diferentes abordagens quanto às dimensões do comprometimento organizacional (ZANELLI, 2004). Uma das características individuais mais estudadas, a partir dos anos 70, tem sido o comprometimento organizacional enfatizando especialmente a sua influência no alcance dos objetivos organizacionais. Colaboradores comprometidos com os objetivos da organização têm interesse em fazer o que for preciso para atingi-los (BASTOS, BRANDÃO E PINHO, 1996). Mais que uma simples lealdade à organização, o comprometimento é um processo através do qual, os colaboradores expressam sua preocupação com o bem-estar e o sucesso da organização em que trabalham (SANCHES & GONTIJO, 2001 ). 21 O comprometimento organizacional é conceituado como uma força relacionada com a identificação e o envolvimento das pessoas com uma organização específica. Assim, o comprometimento organizacional pode ser caracterizado por no mínimo três fatores: a) uma forte crença e a aceitação dos objetivos e valores da organização; b) estar disposto em exercer um esforço considerável em benefício da organização; c) um forte desejo de se manter membro da organização (SANCHES & GONTIJO, 2001). 4.2 Classificação O comprometimento se refere ao elo de ligação entre a pessoas e a organização, de base emocional ou intelectual, e é dividido em três categorias (SANCHES & GONTIJO, 2001): • Atitudinal: pessoas que se identificam e se envolvem com a organização e gostam de fazer parte dela. Comungam dos mesmos interesses da empresa, o que os motiva a trabalhar por ela; • Programático: pessoas que fazem parte da empresa somente porque os custos de deixá-la são muito altos. Preferem não se arriscar, embora insatisfeitas, continuam na empresa, mas não investem efetivamente seu capital humano; • Baseado na lealdade: pessoas que se sentem amarradas à organização por um senso de obrigação; esses trabalhadores desejam fazer aquilo que crêem ser o certo para a organização. Mesmo que de forma mais modesta da que ocorre no comprometimento atitudinal, produz dedicação e absorção dos objetivos organizacionais por parte do trabalhador. 22 4.3 Abordagens Neste contexto, existem cinco abordagens que podem distinguir a maioria das pesquisas na área de estudo do comprometimento organizacional. A trajetória das teorias organizacionais relata a proliferação, quanto a compreensão dos determinantes do comportamento humano na situação do trabalho, de caminhos intrapsíquicos, na maioria de natureza atitudinal. Estes caminhos buscam integrar a situação do trabalho e de como a pessoa processa em sua mente os eventos que ocorrem nas empresas. Sendo assim, a motivação no trabalho se transformou no eixo básico de investigação do comportamento do trabalhador, na perspectiva psicológica. Neste contexto, existe dois, existem enfoques organizacionais que devem sem mencionados, pois produzem um impacto qualitativo e quantitativo bem definidos dentro nas organizações (BASTOS, 1993). • Enfoque Afetivo: A natureza afetiva do processo de identificação do indivíduo com os objetivos e valores da organização são resumidos em três dimensões: os sentimentos de lealdade, o desejo de permanecer e o de se esforçar em prol da organização. O comprometimento seria um estado no qual o indivíduo se identifica com uma organização e seus objetivos e deseja manter-se como membro de modo a facilitar a consecução desses objetivos (BASTOS, 1993); • Enfoque Instrumental: Este tipo de comprometimento é visto como função das recompensas e custos associados com a condição de integrante da organização. Este tipo de comprometimento é caracterizado como um mecanismo psicosocial cujos elementos ou conseqüências de ações prévias (recompensas e custos) impõe limites ou restringem ações futuras ou seja, o trabalhar pode deixar a organização caso receba algum incentivo fora, tais como melhor pagamento, maior status e maior liberdade (BASTOS, 1993); • Enfoque Sociológico : O vinculo do trabalhador é conceitualizado em termos das relações de autoridade que governam o controle do empregador e a subordinação dos trabalhadores. Considerando-se que a característica 23 estrutural proeminentes nas relações de emprego nas economias capitalistas é a subordinação do trabalhador, assim, os trabalhadores trazem para o contexto do trabalho, além de uma orientação básica para os seus papéis de subordinados, um conjunto de códigos normativos que especificam maneiras moralmente corretas de dominação (BASTOS, 1993); • Enfoque Normativo: Este enfoque é caracterizado como o conjunto de pressões normativas internalizadas pelo indivíduo para que se comporte congruentemente com os objetivos e interesses da organização. A cultura organizacional pode atuar diretamente no sentido de produzir membros comprometidos, exercendo uma influência estável e de longo prazo sobre o comportamento no trabalho. Isso implica que a pressão normativa predispõe o indivíduo para se comportar segundo padrões internalizados, sou seja, quanto mais forte o comprometimento, maior a predisposição do indivíduo guiar as suas ações por padrões internalizados, mais do que considerações racionais acerca das conseqüências dessas ações. Assim, o indivíduo comprometido apresenta certos comportamentos não porque eles calculam que, em os apresentando, obterão benefícios pessoais, mais porque eles acreditam que é o certo e moral fazê-los (BASTOS, 1993). 4.4 Modelo de Três Dimensões Dentre os diversos modelos de conceituação do comprometimento, o modelo de maior aceitação entre os pesquisadores é o modelo de três dimensões (SANCHES & GONTIJO,2001). Este modelo é baseado nas proposições que comprometimento é uma força que liga um indivíduo ao curso de ações de relevância para um objetivo e pode ser acompanhado por diferentes opiniões que têm a função de dimensionar o comportamento. O modelo de Meyer, Allen e Smith é internacionalmente aceito, tendo sido validado em várias culturas. Este modelo conceitua o comprometimento organizacional em três dimensões: 24 • Comprometimento Afetivo: comprometimento como um envolvimento, onde ocorre identificação com os objetivos e valores da organização. Representa algo além da simples lealdade passiva, envolvendo uma relação ativa, na qual o indivíduo deseja dar algo de si para contribuir com o bem-estar da organização. Empregados com um forte comprometimento afetivo permanecem na organização porque eles querem; • Comprometimento Instrumental: comprometimento percebido como altos custos associados a deixar a organização. Empregados com comprometimento instrumental permanecem porque eles precisam; • Comprometimento Normativo: comprometimento como uma obrigação em permanecer na organização. Empregados com comprometimento normativo permanecem porque eles sentem que são obrigados. 4.5 Aplicando o Comprometimento Organizacional nas Empresas Recentemente, um estudo de caso em um supermercado, tendo como eixo central de investigação, o comprometimento organizacional, demonstrou que cerca de 70% dos colaboradores apresentam um alto grau de comprometimento com a organização, que resulta em funcionários dispostos a exercer esforço em benefício da empresa pesquisada. Sendo assim, foi analisado as três dimensões do comprometimento organizacional, onde concluiu-se que os comprometimentos afetivos, instrumentais e normativos não são antagônicos e podem existir harmoniosamente, em diferentes graus e combinações. A dimensão mais fortemente presente nos colaboradores da empresa é a dimensão afetiva, ou seja, indivíduos se identificam e se envolvem com a organização, seguida da dimensão instrumental, permanecem porque precisam e da dimensão normativa, sentem obrigação de ficar. A partir da combinação das três dimensões do comprometimento organizacional, criou-se oito padrões de comprometimento organizacional, onde a maior concentração de colaboradores encontra-se no padrão C – comprometido nas três dimensões. É importante verificar que cerca de 70% dos colaboradores 25 estabeleceram vínculo de comprometimento de base afetiva simples ou combinada com outras bases, ou seja, apresentam uma união emocional que vai além da lealdade passiva, na qual desejam dar algo de si para contribuir com os objetivos da empresa (MÜLLER et al, 2005). Nos últimos tempos, percebeu-se um esforço no sentido de conhecer o que gera comprometimento, quais as suas conseqüências, e quais são seus níveis, tanto para o alcance dos objetivos organizacionais quanto para a preservação de um nível aceitável de qualidade de vida do trabalhador. Neste cenário, o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema procura, como em outras áreas das ciências administrativas e sociais, compreender e explicar o comportamento dos indivíduos tendo em vista a prevê-lo e influenciá-lo. Neste contexto, a previsibilidade do comportamento dos membros organizacionais tem sido utilizada como justificativa para o controle organizacional. Como visto anteriormente, o controle organizacional refere-se a qualquer mecanismo justificável pelo ambiente ou praticado que assegure a conformidade individual à ordem organizacional e expectativas específicas de papel. O controle tem sido estudado por uma variedade de perspectivas (SANCHES & GONTIJO, 2001). Com o objetivo de caracterizar o comprometimento como um dos mecanismos cada vez mais utilizados para controlar a força de trabalho e direcionar seus esforços para a consecução dos objetivos da organização, estão sendo caracterizados preditores que favorecem níveis de compromisso. O comprometimento foi desenvolvido para estimular a permanência no emprego, diminuir o absenteísmo e aumentar o desempenho em prol dos objetivos da organização, por meio da introjeção dos valores organizacionais, ou seja, gera uma forma de controle menos aparente, mais poderosa e manipulatória do que o controle explícito das regras racionais legais da burocracia. Isto ocorre pela internalização dos valores organizacionais e das regras subliminares a estes, resultando em uma gaiola de ferro cujas barras são praticamente invisíveis para os trabalhadores. Predictabilidade de potencializados com comportamento a estimulação e calculabilidade do de comprometimento resultados são organizacional (LEISINGER & SCHIMITT, 2001) As implicações do vínculo do indivíduo com o trabalho e a organização na saúde do trabalhador é uma área pouco explorada nos estudos sobre o comprometimento. O trabalho caracteriza-se por uma relação de dupla 26 transformação entre o homem e a natureza, geradora de significado. Além disso, o trabalho é importante na construção da identidade do indivíduo, já que esta se constrói a partir das relações objetivas que o homem estabelece com o mundo e, conseqüentemente, com o trabalho. Mas da mesma forma que o trabalho pode constituir-se em um fator de equilíbrio e desenvolvimento pode, por outro lado, ser um fator de deterioração, de envelhecimento e de doenças graves. A dimensão negativa desta relação não deve focalizar apenas o trabalho em si, mas as condições e contextos onde ele ocorre (SANCHES & GONTIJO, 2001). O choque entre o indivíduo com sua história particular e a organização do trabalho, via de regra, despersonalizante, emerge uma vivência e um sofrimento, que podem extrapolar para outras esferas da vida do trabalhador. Quanto ao sofrimento, este pode ser descrito sob os sintomas da insatisfação e da ansiedade. A insatisfação gera sentimentos de indignidade, inutilidade e desqualificação que leva a vivência depressiva. Via de regra, quanto mais a organização do trabalho é rígida e acentuada, menor é o conteúdo significativo do trabalho e menores são as possibilidades de mudá-lo, resultando em um aumento do sofrimento (LEISINGER & SCHIMITT, 2001) Estas reflexões vêm ao encontro de uma área importante dentro da esfera da mudança de atitude que é o conceito da consistência cognitiva, ou seja, a necessidade que as pessoas têm de buscar o equilíbrio entre suas crenças, atitudes e comportamentos. Quando os indivíduos são forçados a desenvolver uma atividade que não se “ajusta” às suas crenças e atitudes, esta situação gera uma inconsistência ou desequilíbrio cognitivo, que leva a um resultado psicológico desagradável ou incômodo. Neste aspecto, algumas razões São apresentadas: o fato do trabalho assalariado ter se tornado regra geral; a organização do trabalho ser determinada pela empresa; as exigências de produtividade serem controladas por um dispositivo organizacional, além do tempo que se passa no trabalho, a interferência deste em outras esferas da vida, as questões de poder e outros pontos que são um risco para a saúde (SANCHES & GONTIJO, 2001). A relação saúde e trabalho, implicam em o sujeito ter possibilidade de respeitar as necessidades, ritmos e desejos quando eles se apresentam, controlando as condições e contextos de trabalho, sem ser forçado a se comportar segundo normas e prescrições. Desta forma, várias são as causas que interferem na saúde dos trabalhadores como a organização do trabalho, a exposição a produtos 27 químicos, a convivência diária com riscos que ameaçam a integridade física e a vida, as repercussões dos acidentes e doenças de trabalho e a possibilidade de desemprego, tão real e assustadora nos dias de hoje. Especificamente em relação à forma como o trabalho está organizado percebe-se que este deverá ser repensado considerando modelos mais flexíveis em que a hierarquia e a divisão e conteúdo das tarefas pressuponham a plasticidade necessária, não só porque há diferenças fisiológicas e psicológicas, mas porque há variabilidade intrapessoal (SANCHES & GONTIJO, 2001). 28 5. DA ÉTICA 5.1 Ética no Contexto Histórico O estudo da ética remonta aos primórdios da filosofia clássica grega. De lá provém o significado etimológico da palavra: ethos, que significa costume, modo de agir. A tradição ética na cultura grega parte de Homero e Hesíodo. As epopéias homéricas (séculos X-VIII a C.) formulam uma ética aristocrática que fazia da virtude (aretê) um atributo inerente à nobreza e manifestado por meio da conduta cortesã e do heroísmo guerreiro. Originariamente, portanto, a palavra aretê não tem o sentido preciso de “virtude”. Ainda não atenuada por seu uso posterior puramente ético, estava de início ligada às noções de função, de realização e de capacitação, denotando a excelência de tudo o que é útil para algum ato ou fim (PESSANHA, 1999). Com Hesíodo (século VIII a C.) é que a aretê passa a assumir significado mais estritamente moral: deixa de ser atributo natural de bem–nascidos para se transformar numa conquista, resultado do esforço e do trabalho enobrecedor de qualquer homem. Neste período, nasce a idéia do ensino da virtude (aretê), tema que será retomado posteriormente por Sócrates (470-399 a C.), se tornando um dos pilares do seu pensamento (PESSANHA, 1999). As doutrinas éticas fundamentais nascem e se desenvolvem pelas relações entre os homens, e, em particular, pelo seu comportamento moral efetivo. Desta forma, existe uma inter-relação entre a doutrina ética que vigora em uma determinada época na história e os padrões de conduta, valores e normas que prevalecem e estabelecem a moral predominante. Devido ao processo dinâmico de mudanças verificado nas sociedades, os padrões de conduta vão sendo revisados, valores vão sendo repensados e as normas alteradas, gerando conseqüentemente, uma nova moral que será objeto de estudo de uma nova doutrina ética. Por isso, as doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas dentro de um processo de mudança e de sucessão que constitui propriamente a sua história (VÁSQUEZ, 2001). Importante ressaltar que, o surgimento de uma filosofia voltada para o estudo da ética se deve ao processo de democratização da vida política em 29 Atenas, quando emerge uma preocupação com os problemas do homem, e, sobretudo, com os problemas políticos e morais, que não eram objeto de estudo dos primeiros filósofos, chamados pré-socráticos (VÁSQUEZ, 2001). Neste contexto, serão examinadas algumas destas doutrinas que perpassam o estudo da Filosofia desde a Grécia antiga até os dias de hoje. Com o crescimento da democracia na política ateniense, a arte da retórica, do discurso convincente, passa a fazer parte da vida dos cidadãos, sendo de extrema necessidade o aprendizado para o efetivo exercício dos seus direitos e garantia de êxito na vida política. Sendo assim, surge o sofista, termo que significa mestre ou sábio, cuja função principal seria a de ensinar esta arte aos cidadãos em troca de dinheiro. Para o sofista, o discurso sempre será uma visão individualizada da realidade. Não existe o discurso verdadeiro ou falso, existe o discurso melhor e o pior. O melhor sempre será o mais convincente, independente da carga de verdade que traga em si. Não existe nem verdade nem erro, e as normas – por serem humanas – são transitórias (LEISINGER & SCHIMITT, 2001) Sócrates (470 a. C. – 399 a. C.) foi amigos dos sofistas, mas seus métodos eram completamente distintos. O seu ensino não pressupunha pagamento em troca, mas amizade, vontade de aprender. Não era partidário dos discursos longos dos sofistas. Preferia os diálogos, perguntas e respostas, para se chegar a conclusões. Escolheu não escrever, para evitar a divulgação popular das idéias. Cria que o desenvolvimento da filosofia deveria se dar através de um processo dialógico (a maiêutica). A idéia de Sócrates era que se podia chegar à verdade através do diálogo, em contrapartida aos sofistas, que afirmavam opiniões que poderiam ser verdade somente em determinados momentos, através dos longos monólogos (VÁSQUEZ, 2001). A ética socrática é racionalista, sendo composta por três elementos: uma concepção do bem e do bom; a tese da virtude (areté) como conhecimento, e do vício como ignorância e a tese segundo a qual a virtude pode ser transmitida ou ensinada. Resumindo, para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçam estreitamente. O homem age retamente quando conhece o bem e, conhecendo-o, não pode deixar de praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem, sente-se dono de si mesmo e, por conseguinte, é feliz. (VÁSQUEZ, 2001) Em 427 (a. C.) nasce em Atenas, Platão (morre em 347 a. C.). Usando a fórmula de diálogos abertos, Platão vai aplicar o método socrático na formulação do 30 pensamento. A teoria das idéias é um dos pilares do pensamento platônico. Contrapondo-se aos sofistas que eram partidários do relativismo, Platão acredita na necessidade de se buscar a verdade, o conhecimento verdadeiro da realidade. Assim, faz uma relação entre um mundo das idéias e um mundo real, das coisas. No pensamento de Platão, a alma do homem se eleva por intermédio da razão ao mundo das idéias, onde a finalidade principal é libertar-se da matéria e contemplar a Idéia do Bem, da perfeição. No entanto, para aproximar-se desta idéia de perfeição o indivíduo depende necessariamente da estrutura do Estado. Pata Platão, a ética está relacionada diretamente com a política, a qual se caracteriza como um outro núcleo central do pensamento (SROUR, 2000). A ética de Platão depende intimamente da política da concepção metafísica (dualismo do mundo sensível e do mundo das idéias permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que constituem a verdadeira realidade e têm como cume a Idéia do Bem, divindade, artífice ou demiurgo do mundo) (VÁSQUEZ, 2001) Neste contexto, nasce em Estagira, Macedônia em 384 (a . C.) e morre em 322 (a . C.) Aristóteles que foi discípulo de Platão na Academia, em Atenas. Para Aristóteles o fim último do homem é atingir a felicidade e, para atingi-la e sentir-se plenamente realizado, este deve dedicar-se a uma vida contemplativa guiado pelo seu principal atributo: a razão. Por intermédio do uso da razão o homem deve buscar um aprendizado constante que levará ao desenvolvimento de virtudes intelectuais e práticas ou éticas. Para Aristóteles a virtude é o equilíbrio entre dois extremos. Além disso, outras condições são necessárias para se atingir a felicidade, como maturidade, bens materiais, liberdade pessoal e saúde (VÁSQUEZ, 2001). A ética de Aristóteles – como a de Platão – está unida à filosofia política, já que para ele – como para o seu mestre – a comunidade social e política é o meio necessário da moral. O homem enquanto tal só pode viver na cidade; é, por natureza, um animal político, ou seja, social. Por conseguinte, não pode levar uma vida moral como indivíduo isolado, mas como membro da comunidade. Por sua vez, a vida moral não é um fim em si mesmo, mas condição ou meio para uma vida verdadeiramente humana: a vida teórica na qual consiste a felicidade. (VÁSQUEZ, 2001, p.234) Os fundamentos da ética também estiveram presente na era cristã medieval. Nesta época, a sociedade medieval organiza-se sob as bases do 31 Cristianismo, que se impôs durante dez séculos após se tornar a religião oficial de Roma no Séc. IV. Em um sistema social estratificado e hierarquizado, a religião, por intermédio da Igreja, vem garantir uma certa unidade social, monopolizando a vida intelectual, a moral e a ética, que estarão impregnadas de um conteúdo religioso ao longo deste período (VASQUEZ, 2001). As regras de conduta e moral devem ser definidas não com relação à sociedade, mas com relação a Deus. A ordem divina, sobrenatural, se sobrepõe à ordem natural humana. O Cristianismo como religião oferece assim ao homem certos princípios supremos morais que, por virem de Deus, têm um caráter de imperativos absolutos e incondicionais. A ética cristã – como a filosofia cristã em geral – parte de um conjunto de verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do homem com o seu criador e do modo de vida prático que o homem deve seguir para obter a salvação no outro mundo (SROUR, 2000). Além disso, o Cristianismo na Idade Média vem trazer uma idéia extremamente paradoxal para a realidade social na época. Em uma sociedade repleta de desigualdades, como divisões entre escravos e homens livres, servos e senhores feudais, a mensagem cristã vem falar de igualdade entre os homens. A mensagem cristã tinha um profundo conteúdo moral na Idade Média, isto é, quando era completamente ilusório e utópico propor-se a realização de uma igualdade real de todos os homens (VÁSQUEZ, 2001) Desde o século XVI até o começo do século XIX dominou a ética moderna, diferenciando-se da ética medieval na medida em que coloca o homem como centro de seu arcabouço teórico e não mais Deus. Esta mudança vai trazer uma série de conseqüências para a sociedade moderna. Na ordem espiritual, a religião deixa de ser a forma ideológica dominante e a Igreja Católica perde a sua função de guia. Verificam-se os movimentos de reforma, que destroem a unidade cristã medieval. Na nova sociedade, consolida-se um processo de separação daquilo que a Idade Média unira: a)a razão separa-se da fé (e a filosofia, da teologia); b) a natureza, de Deus (e as ciências naturais, dos pressupostos teológicos); c) o Estado, da Igreja; e d) o homem, de Deus. (VÁSQUEZ, 2001, p.240) Sendo assim, o homem passa a ser o centro da política, da ciência, da arte e da moral, tornando-se absoluto, como criador e legislador. Kant (1724-1804) é 32 apontado como expoente principal da expressão da ética moderna. A ética de Kant está baseada no chamado imperativo categórico que seria: “Age de maneira que possas querer que o motivo que te levou a agir se torne uma lei universal”. Isto porque, para Kant, o homem como legislador de si mesmo deve agir por puro respeito ao dever, obedecendo a sua própria consciência ética, que por sua vez, é determinada pela boa vontade no agir, que é universal e inerente a todos os homens em todo o tempo e em todas as circunstâncias. Na ética kantiana, finalmente, por conceber o comportamento moral como pertencente a um sujeito autônomo e livre, ativo e criador, Kant é o ponto de partida de uma filosofia e de uma ética na qual o homem se define antes de tudo como ser ativo, produtor ou criador. (VÁSQUEZ, 2001) Após a ética moderna, entra em destaque a ética contemporânea que inclui as doutrinas éticas atuais, como aquelas que, embora surgidas no século XIX, continuam exercendo forte influência nos dias de hoje, citando como exemplo, o existencialismo de Kierkegaard (1813-1855) e o marxismo de Karl Marx (1818-1883) Kierkegaard é considerado o pai do existencialismo e distingue três estágios na existência individual: estético, ético e religioso. Marx apresenta as teses fundamentais que vão estruturar a doutrina ética, a qual, a partir de uma crítica às morais do passado, vai colocar em evidência as bases teóricas e práticas de uma nova moral. Para Marx, a moral tem um caráter de classe, uma vez que ela existe para regular as relações sempre de acordo com os interesses da classe dominante. Sendo assim, em uma mesma sociedade podem coexistir várias morais, assim como existiram no passado diferentes morais de classe, que nunca conseguiram expressar um caráter universal, pois sempre estavam a serviço de interesses particulares. É necessário que se estabeleçam estas condições para o surgimento de uma nova moral que possua esta universalidade, sob o risco de que o homem retorne a um estado de barbárie tal que leve à sua própria destruição. Esta nova moral deverá se originar da classe proletária, pois esta estaria pronta para abolir a si mesma como classe, para ceder lugar a uma sociedade humana e justa, regida sob um sistema socialista e que garanta a unidade e a harmonia entre os seus membros (SROUR, 2000). 33 Após este período, entra a vigorar a ética no sistema capitalista. Neste período, Benjamin Franklin produz as teses fundamentais elencadas que permeiam o espírito do capitalismo Com base nestas teses faz-se uma investigação a respeito de uma provável ética capitalista baseada estritamente no utilitarismo. Com efeito, todas as atitudes morais de Franklin são focadas no utilitarismo. A honestidade torna-se útil, porque assegura o crédito; do mesmo modo a pontualidade, a laboriosidade, a frugalidade, e esta é a razão pela qual são virtudes. Estas virtudes somente o são na medida em que são realmente úteis ao indivíduo, e sendo substituíveis pela mera aparência, sempre são suficientes quando o mesmo objetivo tiver sido atingido. É esta uma conclusão inevitável ao utilitarismo (WEBER, 1967). O homem é dominado pela produção de dinheiro, pela aquisição encarada como finalidade última da sua vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como meio de satisfazer as suas necessidades materiais. Esta inversão do que poderíamos chamar de relação natural, tão irracional de um ponto de vista ingênuo, é evidentemente um princípio orientador do capitalismo, tão seguramente quanto ela é estranha a todos os povos fora da influência capitalista. Um estado mental como o expresso nas passagens de Franklin e que receberam o aplauso de todo um povo, teria sido proscrito como o mais baixo poder de avareza e como uma atitude inteiramente desprovida de auto-respeito, tanto na Antigüidade como na Idade Média. (WEBER, 1967, p.32-35) Neste período destaca-se a condição última do capitalismo à qual vai se sujeitar toda a cadeia de valores éticos e comportamentais da sociedade, quer seja, a utilidade. Em uma sociedade regida por este pressuposto, só tem valor o que pode ser considerado útil. E, este conceito de utilidade está intrinsecamente relacionado à idéia de lucro, aumento de capital e de patrimônio. O que é útil é o que produz algum tipo de ganho econômico. Neste contexto as pessoas são levadas a uma busca incessante pelo “ter”, pelo “acumular”, em um corrida desenfreada onde os fins sempre justificarão os meios. É um verdadeiro “vale-tudo”, onde ficam para trás valores como honestidade, lealdade, solidariedade e outros, a menos que estes se subordinem à idéia do “útil”, quando, então, deixarão de ser legítimos. 34 5.2 Conceito A ética é a ciência que estuda a conduta dos seres humanos, analisando os meios que devem ser empregados para que a referida conduta se reverta sempre em favor do homem. É a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de uma forma específica de comportamento humano (VASQUEZ, 2001). A ética é indispensável ao profissional, por que na ação humana “o fazer” e “o agir” estão interligados. O fazer diz respeito a competência, ä eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a profissão. O agir se refere à consuta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão, ou seja, ético é todo profissional que tem como meta sentir-se íntegro e pleno da alegria de viver. Convicto de que todos os demais podem sentirse assim também. Cultiva o pensamento coorporativo. Tem um profundo e inabalável respeito pelos acordos firmados (LEISINGER E SCHMITT, 2002). A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros, relações justas e aceitáveis. Via de regra está fundada nas idéias do bem e virtude, em quanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz em uma existência plena e feliz. Cada vez mais, a imagem que as empresas gostariam de passar é a de empresas éticas. Isto, na verdade, implica em dizer empresas moralmente inatacáveis, sintonizadas com a moral do tempo e com os costumes vigentes. Por isso, empresas éticas seriam aquelas que subordinam as suas atividades e estratégias a uma prévia reflexão ética e agem de forma socialmente responsável. (SROUR, 2000). Ética e moral tem uma distinção bastante controvertida que circunda os estudos tanto relacionados à ética quanto à moral. Os conceitos parecem se confundir, até mesmo na significação etimológica. A palavra ‘ética’ etimologicamente origina-se do grego ethos, que significa costumes; a palavra ‘moral’ provém do latim mores, que também significa costumes“ (CAMARGO, 2002). Na busca de essencialidades frente ao étimo “moral versus ética” cabe citar: O termo ethos tem duas origens gregas. A mais antiga (êthos, com eta inicial) significa “morada, abrigo, refúgio”, isto é, uma espacialidade onde nos sentimos seguros, protegidos, onde nos 35 “desarmamos”. Quando chegamos em “casa”, após um dia de labuta e exigências, deixamos as nossas “armas”, os nossos “uniformes”, nos despimos das formalidades necessárias à subsistência e, acolhidos pelos que nos são mais próximos, baixamos a guarda. Tudo quanto nos rodeia é previsível, os outros são previsíveis, daí a possibilidade de abandonar as “armas”, - os mecanismos de ataque e defesa. (DISKIN et al, 1998, p.66) Ao longo do tempo, foram desenvolvidas diversas teorias na tentativa de diferenciar os dois conceitos (CAMARGO, 2002). Entretanto, mais importante do que discutir o sentido ou a conceituação das palavras é colocar em prática os princípios e valores que tanto uma quanto outra agregam (CAMARGO, 2002). Trazendo esta definição para o contexto organizacional, também parece não ficar muito clara a distinção, uma vez que o foco tanto da moral quanto da ética seria definir padrões de comportamento a serem incorporados pelos indivíduos que compõem uma organização. Por outro lado, a ética é a ciência, a disciplina teórica que promove o estudo sistemático das morais existentes, partindo de uma reflexão que vai levar em conta todas as variáveis que instituíram estas normas e padrões, com o objetivo de identificar seus propósitos, discrepâncias e os efeitos produzidos sobre os agentes sociais. A ética opera no plano da reflexão ou das indagações, estuda os costumes das coletividades e as morais que podem conferir-lhes consistência. O propósito de estudar-se a ética é libertar os agentes sociais da prisão do egoísmo que não se importa com os efeitos produzidos sobre os outros. A ética visa à sabedoria ou ao conhecimento temperado pelo juízo. Desta forma, pode-se dizer que, enquanto a moral está relacionada à ação, a ética está relacionada à reflexão (SROUR, 2000). 5.3 A Ética e a Lei O conceito ou preconceito ético é uma regra aplicável à conduta humana. O preconceito ético possui duas características essenciais: destina-se a adequar a ação humana ao conceito do bem e da moral; pode ser aplicado pela simples determinação do ser humano, independentemente de qualquer coação externa. Como os preceitos éticos são regras, muitos aplicam o princípio da possibilidade de 36 não atendimento sem violação dos princípios. Essa corrente de pensamento aceita a idéia de que um comportamento pode não estar exatamente de conformidade com a regra ética. Muitos autores não concordam com essa corrente de pensamento, portanto, para estes, os comportamentos valorados a luz das regras éticas apenas podem ser éticos ou antiéticos (MOREIRA, 2002). A lei é uma norma aprovada pelo povo de um país, que possui as seguintes características fundamentais: resulta de um processo formal de elaboração, do qual a sociedade participa diretamente; é dotada de sanção; é sempre atributiva. A relação entre as regras éticas e as legais pode ser representada através da seguinte ilustração (Figura 1) (MOREIRA, 2002): LEI A M B A S ÉTICA Figura 1. Relação entre as regras éticas e as legais. A ilustração mostra que pode haver comportamentos que são classificados como legais e que também são éticos. Outros, situados mais a esquerda da figura, podem ser somente legais, mas não éticos. E outros, ainda, situados à direita da figura, podem ser éticos sem ter respaldo legal (MOREIRA, 2002). 5.4 As Teorias Éticas Os conceitos éticos são extraídos da experiência e do conhecimento da humanidade. Há pelo menos cinco teorias a respeito da formação dos conceitos éticos (MOREIRA, 2002). 37 A teoria do fundamentalismo propõe que os conceitos éticos sejam obtidos de uma fonte externa ao ser humano, a qual pode ser um conjunto de preceitos adotados por um grupo, ou até mesmo outro ser humano. Os críticos da teoria fundamentalista costumam dar ênfase ao fato de que ela não permite que o ser humano encontre o certo e o errado (LEISINGER & SCHIMITT, 2002). A teoria do utilitarismo baseia-se principalmente nas idéias de Jeremy Betntham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873). A teoria propõe que conceito ético seja elaborado com base no critério do maior bem para sociedade como um todo. Segundo essa teoria, diante de cada fato, o ser humano para escolher a conduta em maior conformidade com ética, deverá selecionar aquela que gere o maior bem para a sociedade. A idéia de “maior bem” ao leva em conta o número de pessoas beneficiadas, mais sim o tamanho do bem. Em outras palavras, em uma circunstância na qual o maior bem beneficie poucos, em contraposição ao bem menor que possa ser feito a muitos, a primeira atitude deverá ser a escolhida. Os critérios do utilitarismo colocam em destaque a dificuldade de se aquilatar em cada caso o “bem maior para sociedade”. Além disso, expressam o seu desagrado pela submissão da moral uma regra matemática (MOREIRA, 2002). A teoria do dever ético, definida por Emanuel Kant (1724 – 1804) propõe que o conceito ético seja extraído do fato de que cada um deve se comportar de acordo com princípios universais. Um exemplo seria um dever de cumprir com um compromisso assumido. É um principio universal aquele que determina a quem assume uma obrigação o dever de cumpri-la. Kant propôs, também, que os conceitos éticos sejam alcançados através da aplicação de duas regras, a saber: qualquer conduta aceita como padrão ético deve valer para todos os que se encontrem na mesma situação, sem exceções; só deve exigir dos outros, o que exigimos de nós mesmos. A critica da teoria kantiana fundamenta-se na dificuldade de alcançar um consenso sobre quais sejam os princípios universais (LEISINGER & SCHIMITT, 2002). A teoria contratualista baseia-se sobretudo nas idéias de John Lock (1632-1704) e Jean Jacques Rousseau (1712-1778). Essa teoria parte do pressuposto de que o ser humano assumiu com seus semelhantes a obrigação de se comportar de acordo com as regras morais, para poder conviver em sociedade. Os conceitos éticos seriam extraídos, portanto, das regras morais que conduzem à perpetuação da sociedade, da paz e da harmonia do grupo social. A principal crítica 38 a tal teoria fundamenta-se na mutabilidade das regras morais aplicáveis a certos grupos sociais. Com base nessa teoria, dizem os seus críticos, um grupo de criminosos que possui uma moral própria teria a suas ações legitimadas sob o ponto de vista ético (MOREIRA, 2002). Na teoria do relativismo, cada pessoa deveria decidir sobre o que é ou não ético, com base nas suas próprias convicções e na sua própria concepção sobre o bem e o mal. Assim sendo, o que é ético para um pode não ser para o outro. A crítica a essa teoria é idêntica àquela feita em relação à anterior: ela pode ser usada para justificar ações que não são compatíveis com a concepção coletiva de moral. O estudo de todas essas teorias revela que os conceitos ou preceitos éticos precisam ser elaborados tendo em conta todas elas, mas sem se ater a uma em especial. Todavia, cada conceito ético, para ser aceito como tal precisa claramente encontrar guarida em pelo menos uma teoria (MOREIRA, 2002). 5.5 Os Dilemas Éticos Administradores sensíveis ao conteúdo ético de decisões sobre negócios e atividades operacionais, que concordam em agir eticamente e que sustentam idéias compatíveis, sobre a maneira de analisar situações deste tipo, terão que enfrentar ainda a natureza inerente desnorteante de alguns problemas. Ou como observa um estudo sobre ética na empresa: “enquanto administradores conversam sobre problemas éticos no trabalho, tornou-se claro que o descreviam eram dilemas, situações em que tinham que lidar com uma opção difícil e para qual não existia uma solução pronta e acabada”. Esses dilemas podem levar a divergências honestas de opinião indivíduos sinceros e virtuosos e à frustração aqueles que se esforçam para fazer o que é certo (AGUILAR, 1996). 39 6 ÉTICA NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL 6.1 Ética nas empresas Com relação ao contexto empresarial, a referência à ética empresarial ou à ética dos negócios significa estudar e tornar inteligível a moral vigente nas empresas capitalistas contemporâneas e, em particular, a moral predominante em empresas de uma nacionalidade específica (SROUR, 2000). Pode-se distinguir a moral do trabalho e a ética do trabalho, como expressão da dupla existência relacionada aos valores, o que nos permite entender a moral enquanto ideologia de dominação e a ética no trabalho como forma positiva de construção de uma sociabilidade efetivamente humana no interior da organização. Esta possibilidade de uma ética no trabalho pode ser ilustrada através de situações de trabalho como a distinção entre o trabalho prescrito e o real, a autonomia vigiada nas empresas e em situações sociais paradigmáticas (GOULART, 2002). A ética é cada vez mais um tema presente e recorrente no contexto das organizações, seja por necessidade identificada pelo próprio gestor, de implementar padrões de comportamento e costumes que agreguem valor à empresa, seja por imposição do mercado, que abriga um consumidor cada dia mais exigente e consciente dos seus direitos. A importância da ética nas empresas cresceu a partir da década de 80, com a redução das hierarquias e a conseqüente autonomia dada às pessoas. Os chefes, verdadeiros xerifes até então, já não tinham tanto poder para controlar a atitude de todos, dizer o que era certo ou errado (JACOMINO, 2000). Somado a isto, devido à pequena mobilidade dos organogramas das empresas, passou-se a uma verdadeira disputa por cargos, na qual prevalecia a famosa “Lei de Gérson”, ou seja, o importante era levar vantagem sobre os outros. Neste quadro, vislumbrou-se a necessidade de estabelecer padrões de comportamento que regulassem as relações no ambiente de trabalho. A ética neste período é caracterizada como uma tentativa de sistematizar as noções de certo e errado, com base em algum princípio básico (ZYLBERSZTAJN, 2002). 40 Contudo, é importante ressaltar que, a questão da ética passa necessariamente pela questão do indivíduo. São os indivíduos que formam as organizações e nela convivem diariamente. Sendo assim, a conscientização da importância de valorização da ética deve partir do indivíduo. Além de ser individual, qualquer decisão ética tem por trás um conjunto de valores fundamentais. Ser ético nada mais é do que agir direito, proceder bem, sem prejudicar os demais (JACOMINO, 2000). O “agir eticamente” é, acima de tudo, uma decisão pessoal, uma opção de cada indivíduo. A partir do momento que há o despertar para a relevância do assunto, ele passa a estar cada vez mais presente nas atitudes das pessoas que compõem a organização e nas decisões que venham a ser tomadas. Não podemos ser inocentes e pensar que empresas são apenas entidades jurídicas. Empresas são formadas por pessoas e só existem por causa delas. Por trás de qualquer decisão, de qualquer erro ou imprudência estão seres de carne e osso. E são eles que vão viver as glórias ou o fracasso da organização. Por isso, quando falamos de empresa ética, estamos falando de pessoas éticas. (JACOMINO, 2000, p. 57). A ética empresarial estaria relacionada a reflexões ou indagações sobre costumes e morais, isto é, qual a moral vigente nas empresas. Muito têm a ganhar as empresas que institucionalizam orientações efetivamente partilhadas sobre os seus membros ou que convencionam valores que foram previamente negociados. As normas de comportamento derivam dessas providências. Portanto, a reflexão ética torna-se um instrumento de trabalho simbólico: intervém de maneira útil no modus operandi das empresas e contribui para moldar sua identidade corporativa (SROUR, 2000). A ética empresarial reflete sobre as normas e valores efetivamente dominantes em uma empresa. Em sentido amplo, ela baseia-se na idéia de um contrato social segundo o qual os membros se comportam de maneira harmoniosa, levando em conta os interesses dos outros. Na ética empresarial podemos considerar como desejáveis todas as condições que uma empresa possa criar para aumentar e não diminuir a vida das pessoas em todas as suas dimensões. Isto exigiria um ethos empresarial que sem considerar a rentabilidade, vise o lado humanitário, que diga sim à eficiência, mas inclua também a responsabilidade e o compromisso (LEISINGER & SCHIMITT, 2002). 41 Atualmente, o comportamento ético por parte da empresa é esperado e exigido pela sociedade. O único lucro moralmente aceitável é aquele obtido com ética. São também razões para a empresa ser ética: custos menores, a possibilidade de avaliar com precisão o desempenho da estrutura, a legitimidade moral para exigir comportamento ético dos empregados, a geração de lucro livre de contingências, a obtenção de respeito dos parceiros comerciais, o cumprimento de dever inerente à responsabilidade social da organização (MOREIRA, 1999). A empresa ética expõe a verdade ao empregado e permite o acesso deste aos dados que a ele se referem. O respeito à privacidade implica em: não violação das correspondências e comunicações do empregado, utilização de bancos de dados públicos para pesquisa sobre o empregado e não interferir na vida pessoal do empregado (MOREIRA, 1999). Dentro da empresa há duas vertentes em questão: a ética pessoal e a ética empresarial. A ética individual e a ética empresarial não devem ser lançadas uma contra a outra. Não obstante, há um campo de tensões existente que pode ser descrito como: em uma empresa, quanto mais os colaboradores possuem espaço de decisão e de responsabilidade própria, tanto mais a ética empresarial é marcada pela ética individual; quanto mais fragmentados os cursos de ações e quanto mais autoritários, tanto mais a violência estrutural passa a ser um problema. Enfim, a empresa tem de conceder autonomia a seus colaboradores para que alcancem as metas propostas. Mas criar uma cultura empresarial que favoreça a moral e faça justiça às pessoas não é tarefa das instituições em si, mas das pessoas portadoras de responsabilidade em todas as posições importantes da empresa (SROUR, 2000). A moralidade ou a falta de moralidade, desta forma, é trazida para os sistemas através das pessoas, por suas orientações de valor e pela consistência de seus comportamentos. Evidentemente toda empresa desenvolve sua vida institucional própria, mas isto não diminui a responsabilidade dos indivíduos, antes a aumenta. Colaboradores de todos os níveis têm conhecimento técnico, experiência profissional e competência social. Por isso eles também têm o dever de responsabilizar-se por si, pelas pessoas a quem suas decisões afetam e pelas metas da empresa a serem alcançadas. Têm igualmente o dever de defender suas convicções morais. Enfim, os atores morais são, portanto, tanto a empresa como as pessoas que nelas trabalham (LEISINGER & SCHIMITT, 2002). 42 As pessoas, com freqüência, supõe que tomar uma decisão ética na empresa se assemelha a forma com que agem na família ou na vida pessoal. No entanto, no contexto de trabalho, a maioria sofre pressões da empresa na hora de decidir sobre o que é melhor fazer. Um recente trabalho, propõem um modelo estrutural (Figura 2) no processo da tomada de decisão, no qual os principais componentes seriam: a identificação da gravidade da questão ética, os fatores individuais, como desenvolvimento cognitivo moral, idade e sexo e a cultura da empresa (FERRELL et al, 2001). Gravidade da questão ética Fatores individuais Cultura empresa da Avaliações e Intervenções da ética da empresa Comportamento ético ou antético Figura 2. Modelo estrutural para compreender as tomadas de decisão ética na empresa. Quanto à gravidade da questão ética, esta pode ser entendida como a sua relevância ou importância para pessoa, grupo de trabalho e/ou empresa. Assume um caráter pessoal na medida em que sofre a influência de valores, crenças, necessidades, maneira de ver as coisas, características especiais da situação e pressões pessoais e/ou institucionais (SROUR, 2000). Os fatores individuais envolvem aspectos como o desenvolvimento cognitivo moral, também conhecido como o julgamento moral, a idade e o sexo. A cultura da empresa, que pode ser definida como um conjunto de valores, convicções, metas, normas e maneiras de resolver os problemas na organização pode sugerir nos seus colaboradores atitudes éticas ou antiéticas. O modelo estrutural proposto acima serve de guia e para prover insights nas tomadas de decisões. Essas decisões não dependem somente da filosofia moral adotada pelo o indivíduo, mas sofrem uma forte influência da ética sugerida e praticada nas organizações (FERRELL et al, 2001). 43 Sendo assim, é fundamental que a empresa defina regras claras para a condução dos seus negócios e para o relacionamento entre as pessoas que compõem as equipes de trabalho, buscando promover a participação de todos na discussão dos limites éticos na organização. O objetivo final será a elaboração de um código de ética, que será o instrumento no qual constarão estas regras e que possibilitará o cumprimento das mesmas, permitindo que haja uniformidade de comportamento na empresa, segundo os padrões éticos estabelecidos (SROUR 2000). 6.2 Obstáculos à Ética Organizacional Cada organização tem uma missão que define todo seu sentido. Um delineamento bem preciso da missão serve de constante alerta acerca da necessidade de olhar-se para fora da organização em busca de medidas de sucesso e não somente de clientes. Assim, é mais importante definir claramente a meta e a finalidade da organização estimulando seus membros a alcançá-las do que determinar um conjunto de normas e regulamentos. São os fins que conferem sentido às atividades e as regras só podem ser fixadas se eles forem levados em conta (LEISINGER & SCHMITT, 2001; DRUCKER, 1996). Os empresários “excelentes” indicam que, hoje em dia, tem mais peso a clareza dos fins do que das normas e dos regulamentos. Aqueles que têm lucidez acerca das finalidades e sabem, partindo delas, ordenar os objetivos intermediários estão mais capacitados a adaptar-se e/ou criar soluções inovadoras frente às mudanças que surjam. Ter consciência dos propósitos a serem perseguidos e habituar-se a escolher e agir segundo eles constitui um fator imprescindível na configuração de uma ética pessoal e das organizações (LEISINGER & SCHMITT, 2001). Uma missão organizacional explicitamente definida, compartida e respeitada faz com que as pessoas sintam orgulho da organização, do que ela representa e conseqüentemente lutem pela sua integridade. Além disto, sentindo- se 44 apreciados, é mais provável que os partícipes da organização resistam à tentação de se desviarem de condutas eticamente corretas (BLANCHARD, 2007). Uma organização atua de forma eticamente adequada quando persegue suas metas e respeita os valores e os direitos compartidos pela sociedade na qual está inserida. No entanto, no atuar ético não cabe a expressão a qualquer preço, pois há preços que nem as pessoas, nem as organizações podem pagar se é que querem agir de maneira, além de prudente, também justa. Para assegurar o bem comum deve-se observar procedimentos idôneos. As empresas nas quais a transparência do processo decisório não é comprometida, colocada de lado ou minimizada com vistas à obtenção de resultados almejados constituem palco de boas práticas éticas (BLANCHARD, 2007; LEISINGER & SCHMITT, 2001) A impaciência e a pressa para chegar aos objetivos e metas constituem fatores para a negligência no trato das questões éticas dentro das organizações. Isto pode por em risco a satisfação dos clientes e dos empregados, iniciando um ciclo negativo que termina por afetar os resultados (BLANCHARD, 2007). Este desvio da missão organizacional, especialmente em seu aspecto social chama-se perversidade. Em outras palavras, a perversidade ocorre quando uma organização, através das ações de seus participantes, afasta-se de sua razão de ser, do que é esperado para o seu tipo de atividade. Ao isolar-se das necessidades e demandas sociais, a organização deixa cair no esquecimento à causa primeira de sua existência e mina a motivação de seus integrantes (SROUR, 2000). Como exemplo, dentre outros, o autor refere-se a um hospital que se apresenta com a missão social específica de curar e na prática, como um desvio na direção oposta ou um distanciamento desta missão organizacional, só cura quando se trata de um negócio viável ou rentável. Os sistemas perversos ou também chamados de dupla moral fazem alusão à corrupção social que provoca a mudança arbitrária de valores de acordo com as circunstâncias e as conveniências dos envolvidos. Desta forma, pode-se dizer que a perversidade sustenta-se conceitualmente em um definição que requer contextualização. O invariável é a coexistência de requerimentos contraditórios, como a possibilidade de ser, simultaneamente, juiz e parte em um processo (SROUR, 2000). Perversidade significa referir-se a modelos de relação e formas de pensar passíveis de ocorrer em qualquer grupo social. A perversidade emerge de uma 45 relação marcada pela assimetria e desigualdade e é plasmada por uma racionalidade destrutiva. As vítimas são submetidas a regras injustas que não controlam, mas que lhe causam danos. A perversidade implica que os envolvidos incorporem em suas relações um esquema explicativo que torne admissível ou justificável a desigualdade, podendo chegar a considerá-la normal ou mesmo a não distingui-la. Por isto é relativamente comum que os protagonistas de relações permeadas pela perversidade não admitam que em sua forma de agir exista algo de desvio ou destruição. Tratar-se de alternativas escolhidas a fim de conseguirem seus fins pessoais dentro dos grupos ou organizações às quais pertencem. Muitas vezes, o que é eticamente incorreto aparece sob o rótulo de adaptação ao meio. Desta forma, é bem comum as pessoas não se sentirem responsáveis pelas conseqüências negativas que causam aos outros (SROUR, 2000). Os desvios e as deformações podem restringir-se a pontos específicos da organização, mas é possível que se estendam propiciando condutas antes não aceitas e revestindo de ambigüidade a definição da missão organizacional. Brechas no controle social, como a falta de sanções e punições e a dissuasão ou a supressão deste através de meios indefensáveis, como a corrupção e a intimidação facilitam a ocorrência do fenômeno da perversidade nas organizações. A burocracia também pode constituir fator facilitador da instalação da perversidade quando consome uma parte exagerada dos materiais, da energia e dos recursos a ponto de suplantar o que é gasto na geração dos serviços ou dos produtos tidos como os característicos da atividade organizacional (SROUR, 2000). Frente a este risco da perversidade, é necessário que as diferentes organizações, tendo patente o sentido da atividade que lhes é característica, reflitam sobre quais os bens internos a esta atividade e os meios adequados para atuar nesta direção. Talvez, seja esta a primeira tarefa de uma ética para as organizações (LEISINGER & SCHMITT, 2001). 6.3 Inteligência Competitiva O conceito de inteligência como informação analisada, auxilia a tomada de decisão estratégica e tática. A palavra “competitiva” relaciona-se à aquisição de 46 informações públicas e acessíveis sobre os concorrentes. Interpreta-se inteligência competitiva como um sistema de monitoramento, definindo-a como um conjunto de procedimentos para coleta e análise de informação sobre o macro ambiente, que possibilitariam à organização um processo de aprendizagem contínuo, voltado ao planejamento e a decisões estratégicas. Algumas das técnicas utilizadas no campo da Inteligência Competitiva são aplicáveis também para monitorar tendências tecnológicas e de inovação (CANORGIA et al, 2004). A Inteligência Competitiva não exige o conhecimento e o uso de técnicas sofisticadas, ou o desenvolvimento de novas habilidades que já não estejam disponíveis na maioria das empresas. De fato, ela está focalizada nas competências, habilidades e técnicas já existentes, mas em uma direção e num propósito que, estes sim, são novos em muitas empresas (CANORGIA et al, 2004). Pode-se também compreender a Inteligência Competitiva como um processo organizacional, que envolve múltiplos participantes, múltiplos níveis e funções de uma organização, e que atua sobre as diversas perspectivas dos tomadores de decisão. Em um extensivo mapeamento sobre a aplicação de processos de Inteligência Competitiva, ainda existem muitas dificuldades relativas ao entendimento e uso de Inteligência Competitiva, e sua implementação ocorre, em geral, com baixo nível de sofisticação em grandes empresas e de maneira ad hoc em pequenas empresas (CANORGIA et al, 2004). Um conceito mais estratégico, definindo Inteligência Competitiva é a atividade de gestão estratégica da informação que tem como objetivo permitir que os tomadores de decisão se antecipem às tendências dos mercados e à evolução da concorrência, detectem e avaliem ameaças e oportunidades que se apresentem em seu ambiente de negócio para definirem as ações ofensivas e defensivas mais adaptadas às estratégias de desenvolvimento da organização (GOMES e BRAGA, 2001) Incorporando os conceitos de sistema e de processo, defini-se Sistema de Inteligência Competitiva com processo organizacional de coleta e análise sistemática da informação sobre o ambiente externo, que por sua vez é disseminada como inteligência aos usuários em apoio à tomada de decisão, tendo em vista a geração ou sustentação de vantagens competitivas. A importância da Inteligência Competitiva para as empresas é um assunto consolidado, pelo menos no meio acadêmico e nas empresas de consultoria. Relativamente às empresas, no entanto, 47 verifica-se que essa visão parece não ser tão clara, quando se leva em conta a quantidade das que optaram pela implementação organizada de um sistema de Inteligência Competitiva (GOMES e BRAGA, 2001) A Inteligência Competitiva tem sido implementada, na maioria das empresas, de uma forma desorganizada, de maneira empírica, feita por dirigentes empresariais que se utilizam somente de fontes convencionais de informação. O problema é que a hiper-competitividade e a hiper-informação inviabilizam tentativas de processos que não estejam bem sistematizados. Dentro dessa perspectiva é que se pode encontrar trabalhos enfocando a necessidade de implantação de um sistema de inteligência e sugerindo a adoção ou não de certos procedimentos para a implementação desse sistema, fruto na maioria das vezes de estudo de casos em empresas que já optaram pelo seu uso (ARAÚJO et al, 2001). 6.4 Mensuração da Ética Organizacional No intuito de mensurar o nível ético de uma organização, muitos modelos têm sido propostos e alguns devem ser citados. Na década de 70, por exemplo, Ackerman e Bauer já apresentavam uma matriz de auditoria social em que cada célula seria uma afirmação verbalizada, quantificada ao máximo, a respeito do quão seriamente a empresa considerava as conseqüências de suas ações (Ackerman e Bauer, 1976 apud ARRUDA, 2000). Nas linhas estavam representados os stakeholders e, nas colunas, as principais atividades da empresa: produtos, produção, marketing, finanças, localização dos edifícios, P&D, desenvolvimento de novos negócios, relações com o governo e programas especiais. Os autores notaram que existia uma limitação séria no estudo, pois este não previa que o papel da empresa fosse sendo claramente revisto à medida que o tempo passasse e as circunstâncias mudassem. As organizações, em curto prazo, deixaram de responder com a mesma facilidade. Em 1994, Zadek, da New Economics Foundation, idealizou um processo de auditoria social, em que definia, observava e registrava medidas do comportamento ético em uma organização, em relação aos objetivos e aos de aos stakeholders (Zadek, 1994 apud ARRUDA, 2000). 48 Nos Estados Unidos o Council on Economic Priorities Accreditation Agency (CEPAA) desenvolveu em 1997, um padrão internacional, baseado em convenções sobre direitos humanos, para que as empresas cuidassem de questões como trabalho infantil, saúde e segurança, liberdade de associação, direito e negociação coletiva, discriminação, horas de trabalho e remuneração, inclusive salários mínimos. Trata-se do Social Accountability 8000 ou SA8000, logo acolhido por muitas organizações (CEPAA, 1997 apud ARRUDA, 2000). O objetivo de estabelecer valores para benchmarking, com ênfase na informação aos stakeholders, ficou mais conhecido nas organizações como o fundamento dos programas de compliance. Porém, uma dificuldade surgiu no momento de definir qualitativamente a responsabilidade social da empresa e o quanto esse conceito estava de fato absorvido, a ponto de se garantir uma informação real e útil. A revista Fortune publica anualmente a Corporate Reputation Survey, com as empresas norteamericanas .mais admiradas, assim, o ranking constitui-se de 300 empresas de 32 setores, a partir da opinião de 8 mil executivos a respeito de alguns atributos subjetivos: qualidade do gerenciamento, qualidade dos produtos, capacidade de inovação, valor dos investimentos de longo prazo, saúde financeira, capacidade de atrair e manter pessoas de talento, responsabilidade com a comunidade e com o meio ambiente e bom uso dos ativos da empresa. Porém, nota-se que a preocupação direta com os funcionários, ou o clima ético das empresas, também não é o ponto central da pesquisa (ARRUDA, 2000). Os modelos parecem ter-se prendido mais à responsabilidade social das empresas, ou seja, à satisfação dos seus stakeholders externos: acionistas e sociedade em geral. Numa análise crítica, talvez os indicadores tenham sido utilizados mais como um instrumento de marketing que possibilitasse avaliar a imagem que esses stakeholders fazem da instituição do que propriamente indicadores do nível ético das organizações.Nesse sentido, o trabalho de Navran pareceu ideal para o momento de desenvolvimento da Ética Empresarial no Brasil (SROUR, 2000). O princípio básico do modelo de Navran é o da congruência ou consistência: a pessoa, individualmente, e a organização são mais eficientes quando há congruência entre os valores e as crenças a respeito de como o trabalho deve ser feito e as expectativas e exigências da organização em relação ao sucesso. O 49 conjunto de expectativas percebidas e exigidas é denominado clima ético. Assim, para descrever a percepção dos funcionários a respeito do clima ético de uma organização, há cerca de 20 anos, Frank Navran desenvolveu e testou, embora não chegasse a publicar, um instrumento de mensuração do clima ético que possibilitasse: esclarecer os dirigentes de uma organização a respeito das suas equipes, de seus departamentos ou de outros grupos da empresa; levantar resultados de consistência ética dentro de dez dimensões do clima ético; identificar opções de resposta da empresa, na busca por melhor consistência ética (ARRUDA, 2000). 50 7. IMPLANTAÇÃO DE UM CÓDIGO DE ÉTICA 7.1 Código de Ética Em um contexto organizacional estão diretamente envolvidos diversos atores, denominados stakeholders: acionistas ou proprietários, empregados, clientes, fornecedores, governantes e membros da comunidade em que a empresa está inserida. Os empregados da organização, devido à sua formação familiar, religiosa, educacional e social, atuam conforme determinados princípios, sendo que no dia-a-dia os valores individuais podem conflitar com os valores da organização, que caracterizam a cultura empresarial (SROUR, 2000). Para evitar a ocorrência de fatos como este e estabelecer uma homogeneidade de comportamento é de fundamental importância que a organização estabeleça um sistema de valores, padrões e políticas uniformes que possibilitem aos empregados saber qual a conduta adequada e apropriada em qualquer circunstância. Este sistema se denomina código de ética, que pode ser definido como a declaração formal das expectativas da empresa à conduta de seus executivos e demais funcionários. O código deve traduzir a filosofia e os princípios básicos definidos pelos acionistas, proprietários e diretores. Desta forma, o código de ética vai regular as relações dos empregados entre si e com os chamados stakeholders (ARRUDA, 2006). A elaboração de um código de ética se dá a partir da definição da base de princípios e valores esperados dos funcionários de determinada organização. Para se chegar a isto, o ideal é que se proceda a um relatório que irá agregar as práticas e políticas específicas da organização, o qual deverá ser discutido e criticado por todos os funcionários em todos os níveis. Este relatório, aprimorado pelas críticas e sugestões, irá servir de base para a definição de padrões de comportamento e responsabilidades que nortearão a elaboração dos artigos do código de ética. Os códigos tornam claro o que a organização entende por conduta ética. Procuram especificar o comportamento esperado dos empregados e ajudam a definir marcos básicos de atuação (ARRUDA, 2002) 51 Devido à inter-relação que há entre o indivíduo e a organização, na qual um influencia diretamente no outro, é necessário o estabelecimento de regras claras e factíveis que balizem o comportamento e as atitudes dos indivíduos dentro da organização. É imprescindível, também, que seja de conhecimento notório as conseqüências para aqueles que descumprirem estas regras, o que se denomina “política de conseqüências”. A empresa que almeje ser ética deve divulgar declarações precisas definindo as regras e deve criar procedimentos de verificação para assegurar que todos na organização as estão cumprindo (ARRUDA e NAVRAN, 2000). Obviamente, a orientação para não fraudar deve ser acompanhada de ações definidas pela organização que punam os infratores (ZYLBERSZTAJN, 2002). Então, surge à necessidade de elaboração de códigos de ética que sejam instrumentos efetivos de determinação de padrões de conduta que agreguem valor à organização, mas que, para se tornarem eficazes, devem vir acompanhados de uma política de conseqüências clara e amplamente aplicável. Para Arruda (2006, p.67) “uma vez que a organização adota um código de ética, é importante estabelecer um comitê de alta qualidade, geralmente formado por um número ímpar de integrantes provenientes de diversos departamentos, todos reconhecidos como pessoas íntegras, por seus colegas.” A finalidade deste comitê será além de investigar e solucionar casos que surjam no âmbito da organização que digam respeito a questões éticas, promover uma revisão constante do código de ética, adaptando-o às mudanças e às necessidades dos stakeholders. Algumas organizações chegam a nomear um profissional de ética, vinculado à Diretoria e com total autonomia para coordenar os programas de ética. Suas principais atribuições são manter atualizado o código de ética e promover treinamento com os empregados, visando a disseminação da cultura ética na organização (SROUR, 2000). Finalmente, com vistas a possibilitar que esta cultura ética se torne parte da cultura da organização, é necessário a implementação de um sistema de monitoramento. Para que se mantenha o alto nível do clima ético, resultante do esforço de cada stakeholder, pode ser útil implementar um sistema de monitoramento e controle dos ambientes interno e externo da organização, para 52 detectar pontos que podem vir a causar uma conduta antiética. Esse sistema, denominado por alguns auditoria ética, e por outros compliance, visa ao cumprimento das normas éticas do código de conduta, certificando que houve aplicação das políticas específicas, sua compreensão e clareza por parte de todos os funcionários. (ARRUDA, 2006) A partir de um estudo realizado por Rob Van Tulder e Ans Kolk, professores universitários na Holanda, que analisou códigos de 17 organizações brasileiras, Arruda (2002), descreve os tópicos que mais predominaram nestes códigos, que podem ser considerados como elementos necessários a qualquer código de ética. Neste estudo, analisando as 17 organizações brasileiras, parece predominar a preocupação com a Ética como comportamento correto com as pessoas, manutenção dos valores éticos fundamentais e o esforço por abolir práticas como o suborno e as facilidades de pagamentos (SROUR, 2000). Quase com o mesmo nível de consciência, os códigos parecem indicar a obediência às leis, especialmente no tocante à sociedade e às relações de trabalho. A seguir, fica patente também o respeito aos interesses do consumidor, voltado para a atenção à necessidade de consumo, a revelação de informação e a prática respeitosa de marketing. Na mesma linha, boa parte das organizações registra os interesses comunitários como de importância, a ponto de consubstanciá-los no seu Código de Ética (ARRUDA, 2002). Portanto, pode-se verificar que a preocupação com os aspectos éticos fundamentais é premente nas organizações integrantes do universo pesquisado, assim como o compromisso com o cumprimento das leis e a necessidade de um bom relacionamento com os consumidores, fornecedores e até com os concorrentes. Além disso, fica registrado que as organizações têm buscado participar mais ativamente na discussão e resolução dos problemas da comunidade em que está inserida, o que representa um avanço de relevada importância. Em resumo, o Código de Ética é um padrão de conduta para pessoas com diferentes visões e experiências aplicadas a atividades empresariais complexas. Ele tem a missão de padronizar e formalizar o entendimento da organização empresarial em seus diversos relacionamentos e operações, evitando que os julgamentos subjetivos deturpem, impeçam ou restrinjam a aplicação plena dos princípios. Este ainda pode servir como prova legal da intenção da empresa (MOREIRA, 1999). 53 A maneira de fazer o Código ser cumprido consiste em estabelecer um Programa de Ética constituído por: treinamento de implantação e reciclagem (no mínimo anuais) dos conceitos constantes do Código; prática de um sistema de revisão e verificação do efetivo cumprimento; criação de um canal de comunicação destinado a receber e a processar relatos de pessoas (empregados ou não) sobre eventuais violações; tomada de atitudes corretivas ou punitivas em caso de constatação de violação; luta clara contra os concorrentes antiéticos, inclusive em juízo, se necessário, com divulgação interna das ações e resultados. Neste aspecto observamos que ambas empresas mantinham nas suas instalações textos com conteúdos referentes à visão e a missão da empresa, valores e padrões éticos sugeridos (MOREIRA, 1999). 7.2 Comentários sobre o Código de Ética da empresa Marisol S\A Um código de ética deve traduzir a filosofia e os princípios básicos definidos pelos acionistas, proprietários e diretores. Este pilar é trazido pela empresa Marisol S/A em seu código de ética. A Marisol partiu da definição da base de princípios e valores esperados para definição de seu código, estabelecendo primeiramente a visão, a missão e os princípios. Esta empresa, através deste documento visa reforçar seus valores e orientar o caminho para uma atuação compatível e alinhada. Ela divide seu código em acionistas, colaboradores (políticas da Marisol, condutas de chefia/colaboradores, uso dos ativos da organização por colaboradores, liberdade com responsabilidade), prontidão às mudanças e atualização tecnológica, relação com fornecedores/prestadores de serviços, comunidade, meio ambiente, clientes e consumidores e comunicação com o consumidor (publicidade e propaganda, imprensa e meios de comunicação). Realizando uma leitura crítica, pode-se observar que esta empresa forneceu instrumentos efetivos de determinação de padrões de conduta que agregaram valor à organização, acompanhados de uma política de conseqüências clara e amplamente aplicável. Portanto, pode-se verificar que a preocupação com os aspectos éticos fundamentais está presente, assim como o compromisso com o 54 cumprimento das leis e a necessidade de um bom relacionamento com os consumidores, fornecedores e até com os concorrentes. Além disso, ficou definido que a Marisol têm buscado participar mais ativamente na discussão e resolução dos problemas da comunidade em que está inserida, o que representa um avanço de relevada importância. Porém, um ponto falho no código de ética da empresa Marisol trata do chamado “Termo de Compromisso” que consta no Código de Ética revisado por este estudo e que deveria ser assinado pela alta administração da empresa e por todos os empregados, manifestando ciência e compromisso com relação ao conteúdo do Código. Sendo assim, é fundamental que a empresa defina regras claras para a condução dos seus negócios e para o relacionamento entre as pessoas que compõem as equipes de trabalho, buscando promover a participação de todos na discussão dos limites éticos na organização. A elaboração de um código de ética se dá a partir da definição da base de princípios e valores esperados dos funcionários de determinada organização. Para se chegar a isto, o ideal é que se proceda a um relatório que irá agregar as práticas e políticas específicas da organização, o qual deverá ser discutido e criticado por todos os funcionários em todos os níveis (ARRUDA, 2002). Neste contexto, pelo menos até que chegue este tempo, o código de ética, além de necessário, se bem elaborado a partir da incorporação das premissas identificadas neste estudo, pode se tornar, sem sombra de dúvida, um importante fator de sucesso da organização. 55 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Na busca por um esclarecimento sobre o comprometimento organizacional na empresa, foi realizada uma breve pesquisa bibliográfica onde foi possível constatar que níveis elevados de comprometimento organizacional, produzem efeitos consideráveis no alcance dos objetivos organizacionais. Hoje, para que uma empresa consiga credibilidade junto ao mercado, não basta só auferir qualidade a seus produtos ou serviços. Embora esse fator seja primordial e o público consumidor esteja cada vez mais exigente nesse sentido, a conquista da credibilidade é mais ampla. Ela engloba outros itens relacionados à empresa e a ética é um desses itens. Nossa sociedade vive na atualidade uma redescoberta da ética. Há exigências de valores morais em todas as instâncias sociais. Nossa sociedade passa por uma grave crise de valores, identificada por alguns como falta de decoro e por outros como falta de respeito. A ética é entendida como a ciência dos costumes ou dos atos humanos e passa a ser uma questão de sobrevivência para organizações submetidas a pressões constantes, nos setores mais dinâmicos da empresa. Observa-se que a prática da ética nas organizações, por caminhos formais ou informais, instala-se por referências ideais de comportamentos e procedimentos que servem de guia, modelo e exemplo de ações ou atitudes tidas como aceitas ou recomendadas. A formalização de um Código de Ética enfrenta um difícil caminho de construção, implementação e manutenção nas organizações. Mesmo quando uma organização não tem um código de ética formal, sempre existe um conjunto de princípios e normas que sustentam as suas práticas. As organizações têm vital relevância no meio social e para que nele sobrevivam não podem agir egoisticamente sem ponderar sobre os reflexos de suas atitudes. Para que se evite tal erro e persistam em práticas reconhecidamente equivocadas e prejudiciais, devem permitir e incentivar o diálogo entre seus funcionários, entre eles e seus colaboradores, e destes todos para com os consumidores, sempre interagindo com o Poder Público de modo a formar as redes de diálogos que comporão as relações sociais das organizações e a base de um código de ética. 56 A ética em uma organização, seja ela empresarial ou governamental, deve ser pautada pelos mesmos princípios. Qualquer ação ou decisão, coletiva ou pessoal, não pode prescindir de um comportamento ético, já que os códigos de conduta devem ser uma ferramenta de gestão para estabelecer e articular os valores corporativos, as responsabilidades sociais, e as obrigações da organização que, em última análise, vão definir a forma como atua para atingir os fins coletivos a que se propõe. Finalizando, cabe ressaltar que esta pesquisa não teve a pretensão de esgotar as possibilidades de análise ou tirar conclusões ambiciosas de um tema tão complexo como os fatores que levam o indivíduo a comprometer-se com os objetivos da organização. Enfim, a abordagem abrangente do tema, resultante da revisão bibliográfica que vêm a compor este estudo, o credencia como fonte de consulta para futuros trabalhos acadêmicos. 57 REFERÊNCIAS AGUILAR, Francis. A Ética nas Empresas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. ARAÚJO, Luiz et al. Implantando Inteligência Competitiva nas Organizações. Programa Excelência Gerencial. 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