TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTES CRíTICOS:

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Terapia Nutricional Enteral em Pacientes Críticos 53
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTES CRÍTICOS:
qual o papel do enfermeiro nesse processo?
ENTERAL NUTRITION IN CRITICAL PATIENTS:
the nurse’s role in this process?
RESUMO
O seguinte artigo apresenta as ações do enfermeiro, aponta a prevalência da
desnutrição hospitalar; apresenta o significado de estado crítico e a importância
da TNE no restabelecimento do paciente; enfatiza um cuidado multidisciplinar
e a figura do enfermeiro como crucial para a efetivação da Terapia Nutricional
Enteral.
Objetivo: Objetiva-se com este estudo descrever as ações do enfermeiro frente
à administração da nutrição enteral.
Metodos: Estudo de revisão literária do tipo qualitativo/descritivo. Pesquisa realizada através do uso de descritores em saúde (DECS) sendo eles: Cuidados
de enfermagem. Desnutrição. Estado crítico. Nutrição enteral. A coleta de dados
ocorreu entre os meses de Agosto/Setembro de 2013. Realizado cruzamentos
entre os descritores foi possível através de critérios de exclusão e inclusão foram
selecionadas publicações pertinentes para a confecção do artigo. Através da
analise de cada artigo, elegeu-se 03 categorias. O artigo obedece aos aspectos
ético-autorais compreendidos na Resolução do Conselho Nacional de Saúde N°
466 de 12 de Dezembro de 2012.
Resultado/Discussão: Elegeu-se 03 categorias: 01 - As Ações do enfermeiro
frente à Terapia Nutricional Enteral (TNE); 02- Desnutrição hospitalar versus Terapia Nutricional Enteral; 03- Terapia Nutricional em pacientes críticos. Discussão
das categorias em questão.
Considerações Finais: Apontou-se a real importância da TNE para a manutenção do funcionamento corpóreo do paciente; o cessar dos agravos da
desnutrição hospitalar; a importância do profissional Enfermeiro; constatação da
escassez de produção cientifica dos profissionais de enfermagem sobre o tema
aqui trabalhado.
Autores
ANJOS JUNIOR, Leonel Alcântara dos 1
ROSA, Rebeca da Silva 1
REIS, Juliana Benevenuto 2
PEGORARO, Vanessa Alvarenga 2
CAPOROSSI, Cervantes 3
1 - Acadêmicos do 10° Semestre de enfermagem da Faculdade AUM-Cuiabá.
2 - Mestras em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.
Docente da Faculdade AUM-Cuiabá
3 - Professor Associado 4 do Programa de
Pós-graduação em Ciências da Saúde
da Universidade Federal de Mato Grosso.
Correspondência Autor
Vanessa Alvarenga Pegoraro.
Rua Monte Castelo, 270. Vila Militar.
Cuiabá-MT.
CEP:78.040-870.
[email protected]
Descritores: Cuidados de enfermagem. Desnutrição. Estado crítico. Nutrição
enteral.
A Terapia nutricional enteral compreende um conjunto de procedimentos terapêuticos para a manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente,
por meio da ingestão controlada de nutrientes1. É indicada quando se tem a necessidade de se realizar a suplementação oral, na qual o paciente apresenta
condições de se alimentar pela cavidade oral, porém, por alguma razão não se
atinge as necessidades calórico-proteicas suficientes para manutenção ou ganho
de peso com a dieta habitual. Mas, essa terapêutica também pode ser realizada
quando o paciente por algum fator está parcialmente ou exclusivamente impossibilitado de receber a dieta por via oral, logo haverá o uso da sondagem2. Essa
terapêutica é também indicada para pacientes desnutridos ou em risco nutricional, pois isto pode proporcionar o paciente a não ter complicações infecciosas,
reduz a incidência de morbimortalidade, auxiliar na cicatrização tecidual, impedir
que ocorra a degeneração do trato gastrointestinal mantendo o organismo funcionante e sem riscos de falência múltipla dos órgãos3, 4.
Hoje através de estudos e da medicina embasada em evidências, sabe-se que
um dos principais problemas que podem ocorrer com pacientes hospitalizados é
a desnutrição. Ela é definida como uma condição de alteração funcional, estrutural e de desenvolvimento orgânico em consequência de um desequilíbrio entre
a ingestão e a utilização dos nutrientes4.
Em um estudo nacional realizado pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE) com quatro mil pacientes, foi possível evidenciar que uma
1. Fugino V, Nogueira LABNS. Terapia Nutricional Enteral em pacientes graves:
revisão de literatura. Arquivo Ciência da
Saúde – FAMERP. São Paulo – SP,. vol.
14, n° 4, pg. 220-226. 2008.
2. Lopes AC, Tozetto AJG. Comparação entre a infusão do suporte nutricional e as
necessidades energéticas em pacientes
críticos internados em uma unidade de
terapia intensiva de um hospital público
no oeste do Paraná. Faculdade Assis
Gurgacz Cascavel – PR, 2008. Vol. 1,
n°2, 14 pg.
3. Campanella LCA, et al. Terapia nutricional enteral: a dieta prescrita é realmente
infundida? Revista Brasileira Nutrição
Clinica. Blumenau – SC,. vol. 23, nº 1,
pg. 21-27. 2009.
4. Matsuba CST, Magoni D. Enfermagem em
terapia nutricional. Ed. Savier. 1°ed. São
Paulo – SP, 2009. Pg.35-123.
COORTE - Revista Científica do Hospital Santa Rosa. 2014; (4): 53-59
54 Terapia Nutricional Enteral em Pacientes Críticos
média de 48,1% dos hospitalizados apresentaram a desnutrição, sendo essa
condição agravada com o tempo de hospitalização, chegando a cerca de 60%
naqueles internados há mais de 15 dias5,6. Esse paciente que por muitas vezes
está em estado crítico, pode desenvolver um estado hipercatabólico, onde suas
reservas energéticas são usadas para a manutenção do organismo, logo, com o
passar do tempo ocorrerá a depleção de gorduras, proteínas, aminoácidos e com
isso desenvolver um estado de desnutrição5.
Florence Nightingale, a precursora da enfermagem, em meado do século XIX,
logo após a Guerra da Crimeia em 1860, enfatizou em “Notas de Enfermagem”,
a importância da nutrição adequada e de boa qualidade, que seria oferecida por
uma enfermeira atenta e preocupada com essa prática.
“Se a enfermeira for inteligente e não apenas distribuidora de dietas para o paciente, deixe-a usar a sua inteligência nesses assuntos [...]. Até o momento a
química ofereceu poucas informações à alimentação do doente [...], deu-nos uma
lista de substancias dietética [...]. Na grande maioria dos casos, o estômago do
paciente é guiado por outros princípios de seleção e não meramente pela quantidade de carbono ou nitrogênio na dieta [...] a natureza, sem dúvidas, possui regras muito definidas para sua orientação sobre esse e outros assuntos, mas essas regras podem ser comprovadas unicamente pela mais acurada observação,
junto ao leito do doente [...]. Devo dizer à enfermeira: exerça controle sobre a
dieta de seu paciente [...]. Ela deve estar sempre exercendo a engenhosidade a
fim de suprir deficiências e remediar acidentes que acontecem entre os melhores
planejadores, mas pelos quais o enfermo não sofre menos porque eles podem
ser evitados.”4
4. Matsuba CST, Magoni D. Enfermagem em
terapia nutricional. Ed. Savier. 1°ed. São
Paulo – SP, 2009. Pg.35-123.
5. Cruz EDA, Hermann AP. Enfermagem em
nutrição enteral: Investigação do conhecimento e da prática assistencial em
hospital de ensino. Revista Cogitare –
UFPR. Curitiba – PR, 2009. vol. 13, n°
4, pg. 520-525.
6. Nozaki VT, Peralta RM. Adequação do
suporte nutricional na terapia nutricional
enteral: comparação em dois hospitais.
Revista de Nutrição. Campinas – SP. Vol.
22, n° 3, pg. 341-350, 2009.
7. Ceribelli MIPF, Santos DMV. Enfermeiros
especialistas em terapia nutricional no
Brasil: Onde e como atuam. Revista Brasileira de Enfermagem. São Paulo – SP,
2008. vol. 59, n° 6, pg. 757-761
8. Gil, AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. Pg.41-47.
COORTE - Revista Científica do Hospital Santa Rosa. 2014; (4): 53-59
Nightingale sempre visionária relatou o quão importante é o papel do enfermeiro
na prática desse cuidado. Analisando o trecho citado, é possível observar que
mesmo em uma época na qual os recursos tecnológicos e o conhecimento das
propriedades nutricionais contidas nas dietas eram praticamente inexistentes,
apenas o simples fato da observação, pode conferir ao enfermeiro o poder de
identificar as reais necessidades evidenciadas pelo olhar do enfermeiro. Ela ainda relata que nesse cuidado a enfermeira não fosse apenas uma distribuidora de
dietas, mas, sim observadora, cautelosa e inteligente.
O papel do enfermeiro é de suma importância para o desenvolvimento da terapia
nutricional. Como planejador assistencial, juntamente com a equipe de enfermagem, realiza o cuidado tendo como foco as necessidades do paciente, desde a
administração, até ao controle dos níveis de nutrientes, para que não ocorram
complicações que interfiram na sobrevida do paciente5.
Desta forma, a enfermagem deve se atualizar para que haja um cuidado completo e de qualidade, devendo estar à frente dessa ação, pois seu papel é fundamental para nortear a equipe e avaliar as necessidades humanas básicas do
paciente, promovendo sua saúde7.
Diante da relevância de tal tema, observou-se que há a necessidade de se
desenvolver um trabalho acadêmico abordando a temática supracitada. O devido
assunto nos despertou para o entendimento dessa terapêutica, onde uma equipe multidisciplinar atua em prol do restabelecimento da saúde do individuo e o
profissional enfermeiro desenvolve um papel crucial para essa reabilitação. Objetiva-se com este estudo descrever as ações do enfermeiro frente à administração
da nutrição enteral.
MÉTODOS
Este é um estudo de revisão literária e é elaborado com base em material já
publicado com o objetivo de analisar posições diversas em relação a determinado assunto8. Essa forma de pesquisa é amplamente utilizada nos estudos exploratórios devido a sua facilidade obtenção de informações iniciais sem a necessidade de ir a campo. Além de ser um estudo do tipo descritivo e qualitativo,
desenvolvido com a produção científica indexada na base eletrônica de dados:
LILACS e SCIELO, que enfoca o Cuidado de Enfermagem como descritor nucle-
Terapia Nutricional Enteral em Pacientes Críticos 55
ar e Desnutrição, Estado Crítico e Nutrição Enteral como descritores complementares. A coleta de dados ocorreu
no período de Agosto à Setembro do ano 2013. Foram usados os seguintes critérios de inclusão: textos disponíveis
completos e gratuitos e em língua portuguesa; e de exclusão: monografias, teses, dissertação e TCC, além de artigos com tempo de publicação inferior a 05 (cinco) anos. Foi realizada a pesquisa isolada com o descritor “DESNUTRIÇÃO”, encontrada nela foi encontrada 3241 publicações, após o refino, restou apenas 01 artigo. Com o descritor
“ESTADO CRÍTICO”, encontrou-se 19.040, logo após o refino, elegeu-se apenas 02 artigos. Na pesquisa isolada do
descritor “NUTRIÇÃO ENTERAL”, encontrou-se 18.883 publicações, onde apenas 07 artigos se enquadravam nos
critérios de seleção. No cruzamento dos descritores: Cuidados de enfermagem AND Desnutrição, foram levantadas
471 publicações, porém, nenhuma se enquadrou nos critérios de seleção. Assim, foi com o cruzamento entre Cuidados de Enfermagem AND Estado crítico (48) e Cuidados de Enfermagem AND Nutrição Enteral (978) e nenhum
artigo pertinente à leitura. Portanto, finalizamos as buscas com 10 artigos pertinentes para a confecção do artigo em
questão. Segundo a RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012, sobre aspectos éticos, diz que estudo
de revisão de literatura não se faz necessária passar por aprovação de um comitê de ética. Para o tratamento dos
dados, realizamos a retirada dos núcleos de sentido dos artigos selecionados, identificando as ideias centrais de
cada autor, com o objetivo da construção das categorias do nosso trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados foram coletados através da leitura e análise minuciosa dos títulos e resumos de todos os artigos escolhidos. Logo, através de tal análise, elegemos 03 categorias que iremos discuti-las no presente artigo, sendo elas: As
ações do enfermeiro frente à Terapia Nutricional Enteral (TNE); Desnutrição hospitalar versus Terapia Nutricional
Enteral; Terapia Nutricional em pacientes críticos.
ANO
PUBLICAÇÃO
IDIOMA
DESCRITOR
2011
Português
Desnutrição
Arquivo de Gastroenterologia
2009
Português
Nutrição
enteral
LILACS
Revista de Nutrição
2009
Português
Nutrição
enteral
BEGHETTO et al.
LILACS
Revista de Nutrição
2008
Português
Nutrição
enteral
5
O início precoce do
suporte nutricional como
fator prognóstico para
pacientes com sepse
grave e choque séptico
BONAMETTI et al
LILACS
Semina: Ciências biológicas e
da saúde
2011
6
Terapia Nutricional
Enteral em UTI: seguimento longitudinal
CARUSO, L;
SORIANO, F; G
OLIVEIRA, N. S.
LILACS
Nutrire: Revista
da Sociedade
Brasileira de
Alimentação e
Nutrição
7
Monitoração da terapia
nutricional enteral em
UTI: indicador de qualidade?
ARANJUES, A. L;
TEIXEIRA, A. C.
de C; CARUSO,
L; SORIANO,
Francisco G.
LILACS
Mundo Saúde
TITULO DO
ARTIGO
AUTORES
BANCO
DADOS
1
Identificação de fatores
de risco de desnutrição
em pacientes internados
AQUINO, R. de
C. de; PHILIPPI,
S. T.
Scielo
Revista Associada Medicina
Brasileira
2
Avaliação do estado nutricional precedente ao
uso de nutrição enteral.
LEANDRO-MERHI, V A.;
MORETE, J. L;
OLIVEIRA, M. R
M. de.
LILACS
3
Adequação do suporte
nutricional na terapia
nutricional enteral:
comparação em dois
hospitais.
NOZAKI, V. T;
PERALTA, R. M.
4
Suprimento de micronutrientes, adequação energética e progressão da
dieta enteral em adultos
hospitalizados.
Nº
NOME DO
PERIÓDICO
2010
2008
Português
Nutrição
enteral
Português
Nutrição
enteral
Português
Nutrição
enteral
COORTE - Revista Científica do Hospital Santa Rosa. 2014; (4): 53-59
56 Terapia Nutricional Enteral em Pacientes Críticos
Nº
TITULO DO
ARTIGO
8
Aplicabilidade dos
métodos de triagem
nutricional no paciente
hospitalizado
9
Avaliação nutricional em
pacientes graves
10
Nutrição enteral: diferenças entre volume,
calorias e proteínas
prescritos e administrados em adultos.
AUTORES
BANCO
DADOS
NOME DO
PERIÓDICO
ANO
PUBLICAÇÃO
IDIOMA
DESCRITOR
LILACS
Revista de Nutrição
2008
Português
Estado
Crítico
MAICÁ, A. O;
SCHWEIGERT,
I. D.
LILACS
Revista Brasileira de Terapia
Intensiva
2008
Português
Estado
Crítico
ASSIS et al.
LILACS
Revista Brasileira de Terapia
Intensiva
2010
Português
Nutrição
Enteral
CECCONELLO
et al.
Quadro 01 – Relação dos Artigos selecionados para a construção do presente
artigo. Disponível na base de dados LILACS nos anos de 2008 a 2011.
Ao analisar o presente quadro, é possível se inferir que nenhum dos artigos
selecionados é diretamente da área da enfermagem, logo, evidencia-se uma
escassa publicação de profissionais de enfermagem acerca de tal assunto abordado.
5. Cruz EDA, Hermann AP. Enfermagem
em nutrição enteral: Investigação do
conhecimento e da prática assistencial
em hospital de ensino. Revista Cogitare
– UFPR. Curitiba – PR, 2009. vol. 13, n°
4, pg. 520-525.
9. Ciosak, SI, Matsuba, CST, Serpa, LF.
Terapia Nutricional Enteral e Parenteral:
Consenso de Boas Práticas de Enfermagem. Ed. Martinari. 1ª ed. São Paulo –
SP. Pg. 25-65.
COORTE - Revista Científica do Hospital Santa Rosa. 2014; (4): 53-59
Categoria I - As ações do Enfermeiro frente à Terapia Nutricional Enteral (TNE).
O processo assistencial nutricional fala da importância da equipe de enfermagem no manejo da Nutrição Enteral (NE), o que acaba por englobar: promover
e manter a via de acesso escolhida, instalar e administrar, em doses plenas, a
dieta prescrita, determinar a forma e o controle da infusão, assim como detectar
e atuar frente às possíveis intercorrências apresentadas pelo paciente durante
esta terapêutica9.
Afirma-se que o planejamento assistencial de enfermagem deve ser individualizado, considerando globalmente o paciente, analisando aspectos físicos,
psicossociais e espirituais. Ambos os autores enfatizam a necessidade dos
enfermeiros identificarem a complexidade do processo assistencial em TNE e
quanto o uso da Sistematização da Assistencia de Enfermagem (SAE) visando
à qualidade do cuidado prestado ao paciente e no fortalecimento de práticas de
enfermagem seguras e de qualidade5.
Definam-se aqui quais são as principais ações desenvolvidas pelo Enfermeiro
frente à TNE. Eles apontam que o enfermeiro deve atender as legislações vigentes sobre tal prática; focar nas necessidades do paciente; observar tipo, volume, características das dietas, necessidades de nutrientes a serem infundidos;
sinais, sintomas e queixas; verificar nível residual gástrico; manter a cabeceira
do leito sempre levantada (de acordo com a situação clínica) e observar se há
estase gástrica, diarreia, vômitos, possíveis intolerâncias a TNE5.
Além de todas as atribuições e competências desenvolvidas pelo enfermeiro
que foram citadas pelos autores acima, de acordo com a Resolução – RDC 63,
de 6 de julho de 2000, o enfermeiro deve participar da escolha da via de administração da nutrição enteral em consonância com o médico responsável pelo
atendimento ao paciente e com a Equipe Multidisciplinar em Terapia Nutricional9. No que diz respeito à manutenção do acesso enteral, deve ser elaborado
protocolos uniformizando as condutas e treinando constantemente a equipe de
enfermagem, para que haja um aumento no tempo de permanência do acesso,
contribuindo para diminuição de custos, exposição desnecessária do paciente
ao jejum e ao estresse, além de otimizar o trabalho do enfermeiro.
Terapia Nutricional Enteral em Pacientes Críticos 57
Categoria II - Desnutrição hospitalar versus Terapia Nutricional Enteral.
A desnutrição é definida como uma condição de alteração funcional, estrutural
e de desenvolvimento orgânico em consequência de um desequilíbrio entre a
ingestão e a utilização dos nutrientes4. A desnutrição hospitalar vem sendo estudada há décadas, e relatos na literatura científica têm indicado que 20 a 50%
dos pacientes hospitalizados apresentam algum grau de desnutrição3.
Seguindo a mesma linha de investigação a acerca da desnutrição hospitalar, é
possível observar através de dados que em um ambiente hospitalar, o índice de
desnutrição energético-proteico pode chegar à prevalência de 50%, aumentando o risco de morbimortalidade10. A terapia nutricional enteral (TNE) tem sido
empregada rotineiramente como alternativa bem sucedida para melhorar as
condições nutricionais nos pacientes hospitalizados11.
Afirma-se a importância da realização de uma triagem nutricional aos pacientes,
afim de se detectar precocemente um possível estágio da desnutrição. E para
um real funcionamento dessa triagem, os profissionais que compõe a equipe
multidisciplinar devem passar por um processo de capacitação, onde todos e
principalmente o enfermeiro deva conhecer as técnicas para esse cuidado10.
Porém, o diagnostico deve ser levantados todas as variáveis possíveis que possam influenciar na desnutrição, exemplo: stress, oferta inapropriada de dieta,
co-morbidades, entre outros12. Pacientes com infecções graves, traumatismos
ou em pós-operatório de grandes cirurgias são particularmente vulneráveis a
desenvolver desnutrição. Contudo, conhecendo essas tais variáveis do processo de desnutrição hospitalar é o primeiro passo para a adequação da atenção
nutricional do paciente6.
No que se afirma a prática da Terapia Nutricional Enteral, identifica-se possíveis
problemas nutricionais através de uma monitorização, é possível a diminuição
de complicações e um crescimento positivo no aproveitamento nutricional. Contudo, a instalação da terapia nutricional enteral traz ao paciente uma esperança
de cura, uma melhora no seu quadro geral de saúde, além de prevenir a desnutrição13.
Categoria III - Terapia Nutricional em pacientes críticos.
Quando se fala no termo “paciente crítico”, é importante definir o que é a doença
grave ou crítica refere-se a amplo espectro de condições clínicas ou cirúrgicas
que apresentam risco à vida e que, na maior parte das vezes, exigem internação
em unidade de terapia intensiva (UTI). Embora o quadro englobe pacientes de
diversas doenças, com respostas metabólicas por vezes muito diferentes, pelo
que, inclusive não se podem estabelecer recomendações globais para todos
os pacientes, frequentemente são descritos ao menos grave uma disfunção
sistêmica, necessitando suporte terapêutico ativo14.
Apresentam aqui quais seriam essas situações clinicas que definem um paciente crítico. Sendo os que:
• Apresentam risco iminente de perder a vida ou função do corpo/órgão humano;
• Poli traumatismos graves / Traumas encefálicos graves;
• Cirurgias de riscos em idosos;
• Doenças degenerativas em estados avançados;
• Acometidos por infecções na qual a resposta a antibióticos esteja descontrolada;
• Com problemas cardíacos, circulatórios descompensados;
• Diabetes gravemente descompensada;
• Possuem insuficiências respiratórias gravemente descompensadas14.
Logo, a equipe deve se atentar às mudanças fisiológicas que ocorrem nesse individuo, pois se sabe que um paciente crítico poderá desenvolver o estado hipermetabólico, no qual o objetivo é de fornecer agudamente energia e substra-
3. Campanella LCA, et al. Terapia nutricional enteral: a dieta prescrita é realmente
infundida? Revista Brasileira Nutrição
Clinica. Blumenau – SC,. vol. 23, nº 1,
pg. 21-27. 2009.
4. Matsuba CST, Magoni D. Enfermagem em
terapia nutricional. Ed. Savier. 1°ed. São
Paulo – SP, 2009. Pg.35-123.
5. Cruz EDA, Hermann AP. Enfermagem em
nutrição enteral: Investigação do conhecimento e da prática assistencial em
hospital de ensino. Revista Cogitare –
UFPR. Curitiba – PR, 2009. vol. 13, n°
4, pg. 520-525.
6. Nozaki VT, Peralta RM. Adequação do
suporte nutricional na terapia nutricional
enteral: comparação em dois hospitais.
Revista de Nutrição. Campinas – SP. Vol.
22, n° 3, pg. 341-350, 2009.
10. Cecconello et al. Aplicabilidade dos
métodos de triagem nutricional no paciente hospitalizado. Revista de Nutrição.
Campinas – SP. Vol. 21, n° 5, pg. 553561. 2008.
11. Leandro-merhi VA, Morete JL, Oliveira
MRM. Avaliação do estado nutricional
precedente ao uso de nutrição enteral.
Arquivo de Gastroenterologia. São Paulo
– SP. Vol. 46 n° 3, pg. 219-224. 2009.
12. Aquino RC, Philippi ST. Identificação de
fatores de risco de desnutrição em pacientes internados. Revista Associada
Medicina Brasileira. São Paulo. Vol. 57,
n° 6, pg. 637-643, 2011.
13. Aranjues AL, et al . Monitoração da Terapia Nutricional Enteral em UTI: indicador
de qualidade. Revista Mundo Saúde:
Centro Universitário São Camilo. São
Paulo. vol. 36, nº 1, pg. 16-23, 2009.
14.Maicá AO, Schweigert ID. Avaliação nutricional em pacientes graves. Revista
Brasileira Terapia Intensiva. Ijui – RS,
2009. vol. 20, nº 3, pp. 286-295.
COORTE - Revista Científica do Hospital Santa Rosa. 2014; (4): 53-59
58 Terapia Nutricional Enteral em Pacientes Críticos
to para o sistema imune e de coagulação para combater patógenos, estancar
hemorragias e reparar tecidos lesados (FUJINO; NOGUEIRA, 2008). Essa resposta é benéfica, porém ao surgimento de complicações, ocorre grande desgaste orgânico com degradação proteica e instalação precoce de desnutrição,
situação em que o paciente se torna susceptível a infecções e traumas manutenção das funções corpóreas, além da defesa imunológica, cicatrização de
feridas cirúrgicas4.
A ideia de que a atuação da equipe multiprofissional e a do enfermeiro têm
como fundamental objetivo, minimizar o catabolismo impedindo que o paciente
se desnutra ou, se a desnutrição já estiver instalada, que não se agrave e também em minimizar a perda de massa magra e, ao mesmo tempo, fornecer calorias para o organismo5.
Foi evidenciado em um estudo que os pacientes ao serem internados na UTI
com sepse (em estado crítico), durante o período de observação, não recebiam um suporte nutricional precoce. Com esse erro, o aumento no tempo de
internação e permanência na ventilação mecânica. Além disso, evidenciou um
crescente aumento na realização de diálise e no índice de mortalidade15.
Hoje se trabalha com a chamada terapia nutricional enteral precoce, no qual, o
paciente, não mais fica em dieta zero, a TNE é realizada em até 48 horas e de
preferência nas primeiras 24 horas4.
Com essa instalação precoce da TNE, se visa manter funcionante o trato gastrointestinal (TGI), evitando a degradação dos enterócitos (células que constituem os intestinos), a translocação bacteriana, risco de sepse e também na
melhora da cicatrização tecidual, no fortalecimento orgânico e no melhoramento
do sistema imunológico4. Há também a ideia que a terapia nutricional enteral
precoce pode ser um importante fator na promoção da saúde, diminuição do
estresse fisiológico e manutenção da imunidade16.
4. Matsuba CST, Magoni D. Enfermagem em
terapia nutricional. Ed. Savier. 1°ed. São
Paulo – SP, 2009. Pg.35-123.
5. Cruz EDA, Hermann AP. Enfermagem em
nutrição enteral: Investigação do conhecimento e da prática assistencial em
hospital de ensino. Revista Cogitare –
UFPR. Curitiba – PR, 2009. vol. 13, n°
4, pg. 520-525.
15. Bonametti et al. O início precoce do
suporte nutricional como fator prognóstico para pacientes com sepse grave e
choque séptico. Semina: Ciências biológicas e da saúde. Londrina – PR. Vol.
32 n° 2 , pg. 135-142, 2011.
16. Assis, et al. Nutrição enteral: diferenças
entre volume, calorias e proteínas prescritos e administrados em adultos. Revista Brasileira Terapia Intensiva. Porto
Alegre – RS. vol. 22, nº 4, Pg. 346-350,
2010.
COORTE - Revista Científica do Hospital Santa Rosa. 2014; (4): 53-59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se através da busca e análise dos dados a escassez de estudos da
área da enfermagem sobre o tema Nutrição enteral. É evidente a necessidade
de aprimorar os conhecimentos sobre tal tema, tendo como principal motivação,
assegurar uma assistência de qualidade e que ajude o paciente reconstituir sua
saúde. Em nível de motivação para a construção do artigo, vimos a real necessidade de abordar tal temática em função de despertar o interesse de enfermeiros
para a pesquisa nessa linha de cuidado.
Os achados bibliográficos usados na confecção do artigo trouxeram uma importante fundamentação teórico-cientifico, nos mostrando os aspectos da desnutrição, estado crítico e a relevância da adequação da terapia nutricional enteral
como a grande chave para um bom funcionamento corpóreo, na reabilitação do
individuo e no cessar dos agravantes da desnutrição. Além de afirmar a necessidade da atuação de uma equipe multidisciplinar para o cuidado do paciente
em terapia nutricional.
A realização desse artigo se firmou perante a necessidade de identificar qual
eram as ações do profissional enfermeiro na administração da TNE, além de
seu papel de conduzir a equipe de enfermagem e em virtude das diminuições
de complicações, no manejo e permanência da sonda no paciente. Contudo,
pode-se afirmar que o enfermeiro é fundamental ator nessa assistência, pois,
seu cuidado deve ser baseado na contemplação das necessidades humanas
básicas, assegurando ao paciente, um cuidado holístico, integral e humanizado.
Terapia Nutricional Enteral em Pacientes Críticos 59
ABSTRACT
The following article presents the actions of the nurse points out the prevalence of hospital malnutrition; has the
meaning of a critical condition and the importance of TNE in restoring the patient; emphasizes multidisciplinary care
and the figure of the nurse as critical for the realization of Enteral Nutrition Therapy.
Objetive: The objective with this study describes the actions of the nurse in the administration of enteral nutrition.
Methods: Study literature review of qualitative / descriptive. Research conducted through the use of health descriptors (DECS) which are: nursing care. Malnutrition. Critical condition. Enteral nutrition. Data collection occurred
between the months of August / September 2013 Held crosses between descriptors was possible through inclusion
and exclusion criteria relevant publications were selected for the preparation of the article. By analysis of each article, was elected 03 categories. The article meets the ethical and copyright aspects covered in the National Council
of Health No. 466 of December 12, 2012.
Results/Discussion: The author chose 03 categories:
01 - The actions of the nurse in Enteral Nutrition Therapy (NET);
02 - hospital malnutrition versus Enteral Nutrition Therapy;
03 - Nutritional therapy in critically ill patients. Discussion of these categories.
Final Thoughts: He pointed up the real importance of TNE for maintaining bodily function of the patient; the cessation of injuries of hospital malnutrition; the importance of the professional nurse; finding of lack of scientific production of nursing professionals working on the topic here.
Keywords: nursing care. Malnutrition. Critical condition. Enteral nutrition
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