SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA - SOBRATI MESTRADO EM TERAPIA INTENSIVA JALDECY DOS SANTOS JUNIOR GESTÃO DE RISCO EM ENFERMAGEM INTENSIVA: SEGURANÇA DO CLIENTE EM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL VIA SONDAGEM NASOOROGÁSTRICA. RIO DE JANEIRO/RJ 2013 JALDECY DOS SANTOS JUNIOR GESTÃO DE RISCO EM ENFERMAGEM INTENSIVA: SEGURANÇA DO CLIENTE EM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL VIA SONDAGEM NASOOROGÁSTRICA. Artigo Científico Apresentado à Comissão de Professores da SOBRATI, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA. Orientador: MSc. Dolores F. M. Araújo RIO DE JANEIRO/RJ 2013 GESTÃO DE RISCO EM ENFERMAGEM INTENSIVA: SEGURANÇA DO CLIENTE EM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL VIA SONDAGEM NASOOROGÁSTRICA. Jaldecy dos Santos Junior1 Orientadora: MSc. Dolores F. M. Araújo RESUMO O presente artigo científico de revisão tem por objetivo instruir, elucidar e explanar sobre a gestão de risco em enfermagem intensiva com ênfase em segurança do cliente em terapia nutricional enteral via sondagem naso-orogástrica, para tanto, fez um breve histórico da gestão de risco, os aspectos do tratando de terapia nutricional via sonda naso-oroenteral e a função do profissional de enfermagem neste tratamento. Este artigo foi elaborado a partir de uma revisão bibliográfica, utilizando-se de buscas em livros e bases de dados (Lilacs, Scielo, Ri, RBTI). No desenvolver e na discussão chegou-se à conclusão que a nutrição enteral via sondagem naso-orogástrica apresenta inúmeros riscos em todo o seu processo, tendo a enfermagem um papel fundamental, principalmente para identificar os risco inerentes a esta terapêutica fazendo com que aja redução da incidência de eventos adversos originando assim uma assistência de enfermagem segura. Palavras-chave: Enfermagem. Gestão. Risco. Terapia nutricional. Naso-oroenteral. ABSTRACT This scientific paper review aims to educate, elucidate and explain about risk management in nursing intensive with emphasis on client safety in enteral nutritional therapy via nasalsounding orogastric, therefore, made a brief history of risk management, aspects of dealing with nutritional therapy via naso-oroenteral and function of professional nursing in this treatment. This article was developed from a literature review, using search in books and databases (Lilacs, SciELO, Ri, RBTI). In developing and discussion came to the conclusion that enteral nutrition via naso-poll orogastric presents numerous risks throughout the process, and nursing a key role, especially to identify the risks inherent in this therapy causing reduction act incidence of adverse events originating a safe nursing care. Keywords: Nursing. Management. Risk. Nutritional therapy. Naso-oroenteral. 1 Enfermeiro Graduado pela EEAP - UNI RIO; Pós Graduado em Paciente Crítico pela FELM - São Camilo/RJ; Coordenador dos Serviços de Enfermagem Intensiva e Semi-Intensiva Adulto do Hospital Ferreira Machado Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes/RJ e Oficial Enfermeiro do CBMERJ (Capitão) . [email protected] 1. INTRODUÇÃO Em se tratando de gestão atualmente as novas tendências reforçam a idéia da qualidade como instrumento-chave na busca da sobrevivência em um mercado competitivo. A filosofia da gestão de qualidade é um referencial para o desenvolvimento de uma cultura baseada na melhoria contínua, tendo como princípios básicos desse enfoque a satisfação dos usuários, a busca de motivação, o envolvimento dos profissionais e de todos os colaboradores e a integração e a inter-relação nos processos de trabalho. Gestão de riscos ou o gerenciamento de riscos pode aplicar-se a qualquer situação que possa gerar conseqüência ou um resultado não mapeado ou não esperado; e é uma parte integrante de toda boa gestão. Existe um forte conjunto de evidências e conhecimentos pontuais sobre as implicações que a segurança, ou a falta dela, tem sobre as organizações de saúde, sobre os profissionais e principalmente pacientes/clientes. Essas implicações traduzem-se essencialmente em três formas: a) perda de confiança nas organizações de saúde e em seus profissionais, com conseqüente degradação das relações entre eles e os pacientes; b) aumento dos custos sociais e econômicos, variando a sua dimensão na razão direta dos danos causados e da casuística desses danos; c) redução da possibilidade de alcançar os resultados esperados/desejados, com conseqüências diretas na qualidade dos cuidados prestados (FELDMAN, 2004; QUINTO NETO e BITTAR, 2004; SOUSA, 2006). Talvez por isso, este seja um dos temas relevantes que nos últimos anos e de forma crescente, tem dominado a agenda das políticas de saúde, em muitos países europeus, nos Estados Unidos da América e na Austrália, sendo igualmente assunto central na estratégia de várias organizações internacionais, ao exemplo da World Alliance for Patient Safety, lançada em 2004 pela Organização Mundial da Saúde. 2. ANÁLISE E DISCUSSÃO A administração de riscos começou a se desenvolver nos EUA a partir dos anos 50. Algumas grandes empresas americanas, nessa década, incorporaram a função Gerência de Riscos. A gestão de riscos ou o gerenciamento de riscos são as traduções habituais da Administração de Riscos. Ainda que se possa definir de muitas formas, sempre é considerada como processo. Na Austrália, no New Zealand Standard, a administração de risco é considerada como "um processo interativo estabelecido com passos bem definidos que, trabalhados de forma seqüencial, constituem o fundamento de uma adequada tomada de decisão, ao proporcionar um melhor conhecimento dos riscos e dos impactos dos mesmos" (LÓPEZ, 2001). Para esse programa, a gestão de risco é um elemento a mais que integra uma boa gestão. No Standard, está definido como padrão que a gestão de risco culmina na aplicação de um processo lógico e sistemático com identificação, análise, quantificação, tratamento e a comunicação dos riscos associados a qualquer atividade, função ou processo de trabalho, de maneira que possibilite à organização minimizar as perdas e maximizar as oportunidades. Na Espanha, a gestão de risco está desenvolvendo-se na esfera pública onde a implantação da gestão de riscos, tanto no setor privado como no sistema público como já citado foi imprescindível com vistas a incrementar a segurança aos pacientes e profissionais, elevar a qualidade da assistência, reduzir e conter os gastos dos processos judiciais e diminuir a freqüência e gravidade dos casos (LÓPEZ, 2001). Quando discutimos a segurança, parece que estamos diante de um conceito pragmático e bem delimitado; logo, fácil de ser identificado e analisado com vistas a se proporem mudanças no sentido de se promover a redução e/ou a eliminação dos riscos. No entanto, a realidade apresenta algumas particularidades e características que tornam difícil a percepção dos riscos e a abordagem da segurança, devido essencialmente, à complexidade das organizações de saúde, ao caráter multifatorial das situações que estão por trás das falhas dos processos, e, não menos importante, à sensibilidade que o tema desperta (HARADA, 2006; D'INNOCENZO, 2006). O caráter multifatorial subjacente às falhas de segurança dos pacientes, também denominado por alguns autores como a lógica da cascata, para a ocorrência de um evento adverso ou dano no cliente é necessário o alinhamento de diversos eventos, por exemplo, falhas estruturais ou pontuais, má prática ou descuido dos profissionais de saúde, comportamentos inseguros ou de risco por parte dos doentes, etc. Segundo James Reason (1997), os erros são decorrentes, majoritariamente, de: ações automáticas, distração, memória longa (quando os padrões que armazenamos diferem dos reais), especificação insuficiente, falta de conhecimento, falta de dados e esquecimento. Os erros podem ser derivados de: capacidades/skills (a pessoa sabe o que fazer, mas a ação não ocorre como planejado); regras (a pessoa sabe o que fazer, mas não repara em contra-indicações, aplica as regras erradas, ou não aplica as regras corretamente); conhecimento (a pessoa não sabe o que fazer). Parece então que errar é uma condição humana e que resta a todos aprender a viver com essa condição, tirando dela o maior proveito para o conhecimento, aprendizado e prevenção. No gerenciamento de riscos precisamos gerir os erros (identificá-los, identificar as causas e fazer algo), pensar bem antes de retirar do ambiente do erro a pessoa que o cometeu (ela pode ajudar a identificar as causas) e considerar os erros como um produto final de falhas menores nos processos (as pessoas são conduzidas ao erro pelas circunstâncias). A fonte do problema é, na maioria das vezes, desencadeada por múltiplos fatores, podendo a sua origem resultar de deficiências ou falhas na estrutura ou no processo. Estrutura se refere ao planejamento e preparo das condições físicas, hipóteses, questionamentos, idéias e ações preparatórias básicas para sustentação do projeto. Processos são as relações e a integração entre as pessoas e as atividades de forma multicultural, interdisciplinar agregando a formação de um conjunto de trabalho. Como administradores, gestores, líderes devemos estar constantemente conscientes da possibilidade de falhas, assumimos que os erros acontecerão e devemos treinar as pessoas para os anteciparem e para que deles se recuperem e para tanto, a epidemiologia do risco precisa ser conhecida e compreendida. Em se tratando de terapia nutricional via sonda naso-oroenteral os vários aspectos que a envolvem como o grau de dependência e complexidade dos pacientes submetidos a esta terapia nos remetem os riscos a que estes pacientes estão suscetíveis. Quando identificamos os riscos podemos então traçar medidas preventivas, porém estas medidas não afastam as possibilidades de eventos adversos assim definido em 1990 pelo Institute of Medicine como um dano ocasionado pelas intercorrências durante a promoção de cuidados, ou seja, a ocorrência de uma lesão não intencional que resulta em incapacidade temporária ou permanente, prolongamento do tempo de internação e, até mesmo, morte. O que caracteriza um erro de um evento adverso é que, enquanto o primeiro é considerado uma falha no plano de ação que não foi completado como se previa, o segundo é um erro que ocorre durante a prestação de um cuidado de saúde, causando algum tipo de dano a quem recebe o cuidado, ou seja, o paciente grave. Os protocolos atuais orientam que a terapia nutricional via sonda seja o mais fisiológica possível apesar de sabermos que esta técnica não é fisiológica mas uma adaptação do processo fisiológico pois para tal necessitamos fazer com que os nutrientes alcancem o trato gastro-intestinal. Os riscos nesta técnica vão desde a escolha da via até o término da administração das dietas. A via orogástrica é mais fisiológica se comparada a via nasal visto que ingerimos nossos alimentos pela via oral o que faz com que aja uma redução dos riscos de falso trajeto, lesões de septos e cavidades nasais, sinusites muito comuns nas sondagens nasais e lesões em asas do nariz por fixações iatrogênicas. Em pacientes com padrões neurológicos de vigília, a via oral se torna uma via muito incomodativa a estes pacientes, com deslocamentos provocados pelo próprio paciente, aumento com isso os riscos de broncoaspiração. A localização da sonda também é um fator que nos proporciona risco visto que a sua inserção na região estomacal é a mais fisiológica, o que favorece a atuação do estômago na degradação dos nutrientes favorecendo a melhor a absorção dos mesmos, no entanto, se a cabeceira do paciente não estiver elevada 30-45º e a enfermagem não mensurar regularmente o resíduo gástrico para avaliação da absorção da dieta o risco de broncoaspiração ainda permanece. A administração de dieta enteral através de sonda em posição pós -pilórica tem sido sugerida como método para melhorar a tolerância, com menores taxas de aspiração e pneumonia. Entretanto, não podemos desconsiderar complicações inerentes a passagem deste dispositivo associado ao maior custo e maior tempo, o que atrasa o inicio da dieta. Tais critérios determinam a instalação da sonda pós-pilórica, são eles: necessidade de sonda nasoenteral para dieta enteral, indicação para posicionamento pós-pilórico, evidência de esvaziamento gástrico retardado, aspiração de conteúdo gástrico em grande quantidade, aspirações gástrica repetidas, história de aspiração pulmonar de conteúdo gástrico, pacientes de alto risco e doença pulmonar aguda grave. Na terapia nutricional gástrica ou enteral, a atuação da enfermeira é fundamental e envolve vários aspectos do cuidado. Além do controle da infusão das dietas e dos complementos, a enfermagem é responsável pelo estabelecimento de acesso gástrico ou enteral, pela via oral ou nasal, incluindo, a avaliação, o seguimento diário da evolução do estado nutricional dos pacientes. O funcionamento e a manutenção dos equipamentos usados na terapia nutricional também devem ser verificados pela enfermeira. A observação do volume residual gástrico (VRG), antes de infundir a dieta, é uma medida importante que possibilita conferir a posição da sonda, o volume e características como: coloração, odor e textura que são fundamentais para a tomada de decisão sobre a infusão da dieta. Volume residual alto tem sido considerado um marcador de intolerância gástrica à terapia nutricional, assim, um dos fatores que interferem na oferta energética é a existência de débito elevado do VRG. Atualmente a administração desta terapia se faz de forma contínua e não mais intermitente, em torno de 18 a 24 horas, portanto em relação ao tempo temos um intervalo de tempo muito grande ao qual o paciente está sendo submetido ao risco desta terapêutica. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A nutrição enteral via sondagem naso-orogástrica apresentam inúmeros riscos em todo o seu processo. Identificar os risco inerentes a esta terapêutica faz com que aja redução da incidência de eventos adversos originando uma assistência de enfermagem segura. A enfermagem tem papel fundamental na manutenção da segurança do paciente na terapia intensiva desenvolvendo suas estratégias de gestão de risco através do mapeamento dos riscos e estabelecimento de protocolos de segurança. O que precisamos é estabelecer em nossas instituições a cultura da gestão de riscos pois afeta diretamente a qualidade da assistência ofertada e a confiabilidade dos usuários na instituição, estabelecendo sua credibilidade e se tornando um diferencial no mercado competitivo atual. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORREA, G. T.; PORTELA, C. R. Manual de consulta para estágio em enfermagem. São Caetano do Sul: Yendis, 2007. FEFERBAUM, R.; DELGADO, A. F.; COSTA VAZ, F. A. Nutrição parenteral prolongada em neonatologia. Disponível em < http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=239>. Acessado em 16/06/2013. FELDMAN, LB. Como alcançar a qualidade nas instituições de saúde. Critérios de avaliações, procedimentos de controle, gerenciamento de riscos hospitalares até a certificação. São Paulo: Martinari, 2004. KERN, AE. LIMA, APF. FELDMAN, LB. Gerenciamento de Riscos. Revista GTH. Disponível em <http://www.gthospitalar.com.br/files/editions/ed1281619030.pdf>. Acessado em 16/06/2013. KNOBEL, E. Nutrição. São Paulo: Ed. Atheneu, 2005. NOGUEIRA, LCL. Gerenciamento pela Qualidade Total na Saúde. 2ª ed. Belo Horizonte: Ed Desenvolvimento Gerencial, 1999. REASON, J. Gerenciando os Riscos de Acidentes Organizacionais. Aldershot: Ashgate, 1997. TEIXEIRA NETO, F. Nutrição Clínica. Rio de Janeiro/RJ: Guanabara Koogan, 2003. TIRAPAGUI, J. Nutrição: Fundamentos e Aspectos Atuais. 2. ed. São Paulo, SP: Atheneu, 2006.