SINAIS E SINTOMAS MAIS PREVALENTES NA PREMATURIDADE: ANÁLISE DE DUAS SÉRIES DE CASOS CARDOSO FILHO, Diego. Discente do curso de Graduação em Medicina. UNIFESO. VASCONCELLOS, Marcus Jose do Amaral. Docente do Curso de graduação em Medicina. UNIFESO. Palavras-chave: prematuridade, gestante, sinais e sintomas. INTRODUÇÃO Alguns trabalhos são definitivos para o entendimento de um problema em saúde. Seus resultados servem de moldura para decisões e atitudes às vezes definitivas naquele problema. Este trabalho é um destes exemplos. A prematuridade extrema contribui bastante para a mortalidade e morbidade neonatal. Stoll et al ( 1 ) registraram prospectivamente durante 20 anos, 34 636 neonatais entre 22 e 28 semanas de gestação ( peso entre 401 e 1500 gramas ), em 26 centros intensivos nos Estados Unidos. Este trabalho procurou, além de fazer uma revisão bibliográfica sobre o tema, levantar uma série de casos de prematuridade acontecidos em nosso Hospital Universitário no último ano, e comparar com outra série obtida há 3 anos atrás. Qual o tema central ? Sinais e sintomas que uma gestante pode apresentar e sua relação com a prematuridade. Foram ponderados aspectos como ganho de peso da paciente durante o pré-natal, hipertensão na gestação (pré-eclampsia), infecção urinária entre outras causas que possam cuminar em parto prematuro. Dessa forma estaremos trabalhando a medicina preventiva, acolhendo nossas gestantes no sentido de evitar esta complicação, e certamente estaremos contribuindo para um gasto menor para o sistema de saúde de nosso país. OBJETIVOS Geral – Obter os principais sinais e sintomas da paciente em trabalho de parto prematuro em duas séries de casos acontecidos na maternidade do Hospital de Clínicas de Teresópolis. Específicos – (1) Comparar estes sinais e sintomas nas duas séries, pesquisando se houve alguma mudança no perfil do diagnóstico da prematuridade; (2) Produzir um documento para ser entregue à paciente na sala de espera do pré-natal, com finalidade de informar quais são estes sinais e sintomas, e assim admitir a possibilidade da 2 prevenção; (3) Apresentar trabalho de conclusão de curso para obtenção do grau em Medicina no Centro Universitário Serra dos Órgãos. METODOLOGIA O estudo de casos, prospectivo, realizado na Maternidade do Hospital de Clínicas de Teresópolis em dois períodos diferentes. As pacientes respondiam a um questionário, após assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. Na presença de uma gestação prematura que chegava ao parto ( menos de 36 semanas de gestação ), eram entrevistadas duas puérperas que haviam atingido o termo. Esta metodologia foi adotada na primeira série de casos, permitindo um tratamento estatístico. RESULTADOS A primeira amostra foi constituída por 14 pacientes com recém-natos prematuros e 28 pacientes sem a ocorrência desta complicação. Foram construídas tabelas abordando os principais sinais e sintomas observados tais como: Fadiga incomum, ganho de peso, hemorragia de 2º trimestre, aumento de PA, placenta prévia, contrações, gemelaridade. Os dois grupos se comportaram da seguinte forma Tabela 1 - Correlação entre alguns sinais e sintomas relacionados com a prematuridade sob o ponto de vista clínico nos dois grupos estudados: prematuros e não prematuros. Fadiga Ganho Hemor. Aumento Placenta Contraç incomum de peso 2º PA prévia ões < 5 Kg trimestre Gêmeos Prematuros SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM N = 14 5 (36% ) 3 (22%) 2 (14% ) 4 (29% ) 2 ( 15% ) 12(85% ) 1 NÃO NÃO Não NÃO NÃO NÃO NÃO 9 (64% ) 11(78%) 12 (86% ) 10 (71%) 12 (85% ) 2 ( 15%) 13 Não SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM prematuros 0 ( ---- ) 0 (----) 1 (3,5% ) 2 (7% ) 0 ( ----) 27(96%) 0 ( --- ) NÃO NÃO 28 NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO 28 (100%) ( 100%) 27(96,5% ) 26 ( 93% ) 28 (100%) 1 ( 4% ) 28(100%) N = 28 3 Esta tabela é clara em demonstrar que a fadiga incomum ( p < 0.01 ), o ganho de peso abaixo de 5 Kg ( p < 0.05 ), o aumento da pressão arterial ( p< 0.05 ), e a placenta prévia se relacionaram mais com a prematuridade Na TABELA 2 podemos observar a predominância da hipertensão e a não relação da prematuridade com sangramento no segundo trimestre. Tabela 2 - Apresentação os principais sinais e sintomas nas pacientes que apresentaram partos prematuros entre outubro de 2015 e janeiro de 2016 – 34 prematuros Prematuro N = 34 Fadiga Peso < 5 Aumento Sangue 2º Placenta Gemelidade incomum Kg PA trimestre prévia SIM SIM SIM SIM SIM SIM 14 (41,1% ) 14 (41,1% ) 9 (26,4%) 4 ( 11,7%) 0 0 Não NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO 20(58,8%) 20 (58,8% ) 25 (73,5% ) 30 (88,2% ) 34 34 TABELA 2 representa alguns outros aspectos de sinais e sintomas que foram observados nesta série descritiva. Aqui aparecem os grandes percentuais de apagamento cervical, presença de contrações e vaginites de repetição. Tabela 2 - Apresentação de algumas outras variáveis de sinais e sintomas das 34 gestantes com parto prematuro acompanhadas no HCT de outubro de 2015 e janeiro de 2016. Prematuros N = 34 Apagamento Presença Vaginites Aumento cervical contração repetição líquido SIM SIM SIM SIM 13 ( 38,2% ) 21 (61,7% ) 17 (50,0% ) 2 (5,8% ) NÃO NÃO NÃO NÃO 21( 61,7% ) 13 (38,2%) 17 (50,0% ) 32(94,1%) Quando comparamos as duas séries, podemos construir a TABELA 3, que permite observar que alguns dados não foram valorizados na primeira série. Os parâmetros comparados apresentaram percentual muito semelhante. TABELA 3 – Comparação dos sinais e sintomas entre as duas séries estudadas na maternidade do HCT – 2012 e 2015/2016. 2012 2015/2016 4 Fadiga incomum 36,0% 41,1% Ganho de peso < 5 Kg 22,0% 41,1% Aumento de pressão arterial 29,0% 26,4% Sangramento 2º trimestre 14,0% 11,7% Placenta prévia 15,0% 0 Gemelaridade -------- 0 Apagamento cervical -------- 38,2% Presença de contrações 85,0% 61,7% Vaginites de repetição ------- 50,0% Polidramnia -------- 5,8% DISCUSSÃO Um dos primeiros pontos que merecem uma discussão são as vulvovaginites de repetição. Em nossa segunda série de casos encontramos 50% das pacientes acometidas do problema. Carvalho et al ( 2 ) estudaram 541 pacientes, e pesquisaram vaginose bacteriana entre 23 e 24 semanas de gestação pela coloração do Gram. A vaginose foi diagnosticada em 19% das gestantes, e neste grupo 9,7% ( 10/103 ) evoluíram para o parto prematuro, contra 3,2% no grupo negativo para o exame ( p=0.008 ). A pós a análise de risco, os autores concluíram que o risco relativo de uma gestante com vaginose ter prematuridade é de 1.8. Uma segunda intercorrência que foi muito prevalente em nosso trabalho, foi a síndrome hipertensiva da gestação. Nas duas séries de casos apresentadas, sua incidência foi de mais de 20%. Rades et al. ( 3 ) confirmam estes números na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, quando citam uma cifra de 21,1% entre as causas de cesarianas indicadas em gestações prematuras, em benefício do bem estar fetal. Esta indicação só perde para o sofrimento fetal agudo ( 49,5% ). Uma discussão final deste trabalho são os recentes trabalhos que valorizam a utilização do sulfato de magnésio com a finalidade de proteger o dano cerebral que pode acontecer em criança prematura. Oddie et al ( 4 ) realizaram metanálise demonstra que a droga, quando aplicada antes do parto, reduz a paralisia cerebral em 30%. Portanto na vigência de uma dos fatores descritos neste trabalho, que colocam em risco a continuidade da gestação, devemos 5 sempre pensar na utilização do sulfato na dose de ataque que é usada na eclampsia ou na préeclampsia grave. CONSIDERAÇÕES FINAIS A prematuridade é uma complicação da gestação que continua aparecendo com freqüência em nossa cidade. As duas séries de casos permitiram observar que entre as pacientes com partos prematuros, o apagamento do colo, as infecções genitais e a hipertensão arterial são fatores predisponentes para a prematuridade. Baseado nestas conclusões, podemos construir o documento abaixo para que seja distribuído nas salas de espera de atendimento pré-natal. Estas instruções se prendem exclusivamente aos fatores epidemiológicos de risco. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Stoll BJ, Hansen NI, Bell EF, Walsh MC, Carlo WA, Shankaran S et al. Trends in care practices, morbidity, and mortality of extremely preterm neonates, 1993-2012. JAMA. 2015; 314(10):1039-51. 2. Carvalho MHB, Bittar RE, Maganha PPAS, Pereira SV, Zugaib M. Associação da vaginose bacteriana com o parto prematuro espontâneo. Rev bras ginecol obstet. 2001; 23(8):529-33. 3. Rades E, Bittar RE, Zugaib M. Determinantes diretos do parto prematuro eletivo e os resultados neonatais. Rev bras ginecol obstet. 2004; 26(8):655-62. 4. Oddie S, Tuffnell DJ, McGuire W. Antenatal magnesium sulfate: Neuro-protection for preterm infants. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2015; 100(6):F553-7.