VERIFICAÇÃO DA RESISTÊNCIA À ACIDEZ E A TOLERÂNCIA À BILE POR CEPAS DE BACTÉRIAS LÁCTICAS ISOLADAS DE KEFIR Tais Hobold Justo (PIBIC/UNICENTRO), Loyse Tussolini (IC-Voluntário/ UNICENTRO), Osmar Roberto Dalla Santa (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências Exatas Departamento de Engenharia de Alimentos/Guarapuava-PR Palavras-chave: kefir, bactérias láticas, potencial probiótico. Resumo: Neste estudo foi avaliado o potencial probiótico de cepas de bactérias lácticas isoladas de kefir e dos grãos de Kefir, através da resistência á acidez e aos sais biliares. Um dos pré-requisitos para que um microrganismo exerça ação probiótica é a sua capacidade de sobreviver após a ingestão do alimento. Todas as cepas de bactérias lácticas avaliadas apresentaram resistência à acidez e alta tolerância aos sais biliares. Desta forma, em relação a essas características as cepas de bactérias lácticas isoladas de kefir apresentam potencial probiótico. Introdução Kefir é uma bebida láctea, originada do Cáucaso, produzida a partir da fermentação alcoólica e ácido-lática do leite por grãos de kefir (CZAMANSKI, 2004). Os grãos de kefir possuem uma complexa microbiota composta por bactérias ácido-láticas e leveduras (NINANE, 2005). Esse produto é considerado o iogurte do século XXI (BESHKOVA, 2002) e um alimento naturalmente probiótico (OTLES; CANGIDI, 2003). De acordo com Otles e Cangidi (2003) alimento probiótico é aquele que contem microrganismos vivos, que quando ingeridos em quantidades adequadas são capazes de trazer benefícios à saúde humana, restabelecendo a flora intestinal. A resistência à acidez e a tolerância aos sais biliares são duas propriedades fundamentais para que os microrganismos sejam considerados probióticos, permitindo que sobrevivam às condições ácidas do estômago e a presença dos sais biliares no intestino delgado durante a passagem pelo trato gastrintestinal (ERKKILÄ; PETÄJÄ, 2000). Na literatura são encontrados vários trabalhos que investigam o potencial probiótico de bactérias lácticas isoladas de diferentes produtos alimentícios. Esses estudos visam selecionar estirpes com características adequadas para ser utilizada como starter na produção de alimentos Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 fermentados, e também exercer ação probiótica (DALLA SANTA, 2008; PENNACCHIA, et al., 2004; PAPAMANOLI et al., 2003; MACEDO, 2005). Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi testar a resistência á acidez e a tolerância aos sais biliares, de cepas de bactérias lácticas isoladas de kefir, para verificar uma possível característica probiótica. Materiais e Métodos Isolamento das cepas de bactérias lácticas Foram isoladas cepas dos grãos de kefir e do leite fermentado (kefir): a) Para o isolamento de cepas dos grãos de kefir foi adicionado em um tubo com 10 mL de água salina peptonada 1 g de grãos de kefir intactos ou amassados, agitado, diluído e semeado em placas com Ágar Man, Rogosa e Sharpe (MRS) adicionado de azul de anilina. Desta forma foram isoladas cepas da superfície e do interior dos grãos de kefir. b) Para o isolamento de cepas do kefir foi adicionado em frascos com 90 mL de água salina peptonada 10 mL de kefir fresco ou maturado, homogeneizado, diluído e semeado em placas com ágar MRS adicionado de azul de anilina. As placas foram incubadas por 48 h a 37ºC. As cepas isoladas foram armazenadas em 4ºC para a realização dos testes. Teste de resistência à acidez Para verificar a resistência à acidez, as 20 cepas das bactérias lácticas isoladas foram reativadas por dois cultivos sucessivos em tubos com 5 mL de caldo MRS, incubados por 12-14 h a 37ºC. Uma alíquota de 1 mL desta suspensão (concentração superior a 9 log10 Unidades Formadoras de Colônia - UFC) foi utilizada para inocular tubos com 9 mL de tampão fosfato salina (PBS) com pH ajustado a 3,0 utilizando HCl 5 mol/L. A solução de PBS foi preparada dissolvendo NaCl (9 g/L), Na2HPO4.2H2O (9 g/L) e KH2PO4 (1,5 g/L) em água destilada (ERKKIÄ; PETÄJÄ, 2000). As suspensões foram incubadas em estufa por 3 horas a 37ºC. Após este período foram feitas diluições decimais em água peptonada 0,1% e a população viável foi determinada pela contagem em placas com ágar MRS. Teste de tolerância aos sais biliares Para avaliar a tolerância à bile, as cepas das bactérias foram reativadas conforme descrito no item acima. Após, 1 mL da última cultura (concentração superior a 9 log10 UFC) foi utilizado para inocular tubos com 9 mL de caldo MRS adicionado de 0,3% de sais biliares. Os tubos foram incubados por 4 h a 37ºC. Em seguida, foram feitas as diluições decimais adequadas da cultura e a tolerância aos sais biliares foi verificada pela Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 contagem em placas com ágar MRS depois da incubação em estufa por 48 h a 37ºC (PENNACCHIA, et al., 2004). Resultados e Discussão No gráfico da Figura 1 estão os resultados dos testes realizados para verificar a resistência a acidez e a tolerância aos sais biliares das cepas de bactérias lácticas isoladas dos grãos de kefir e do kefir. 10 8 Bili 0,3% 6 Acidez [inóculo] 4 2 0 KI 7 KA 01 K 03 KAA02 G KI 04 KA 7 0 G 3 KA 01 0 KI 1 KM 0 4 0 KI 2 KI 0 1 KI 7 02 7 KA 20 1 KI G02 72 K 0 KI I7 2 4 7 2 03 04 KI B K 03 KAA04 G KM03 01 Concentração em log (UFC/ml) 12 Cepas de Bactérias Láticas Figura 1: Concentração inicial (inóculo) e viabilidade das cepas de bactérias lácticas após exposição à acidez e à presença de sais biliares. Pela análise dos resultados apresentados na figura 1, verificou-se que as cepas de bactérias lácticas avaliadas não foram afetadas de forma significativa pela presença de bile. Algumas cepas foram capazes de crescer, aumentando a população final, o que indica que são resistentes a concentração de 0,3% de sais biliares. O efeito da acidez foi mais limitante que a presença de bile para o desenvolvimento das cepas de bactérias lácticas avaliadas. Diferenças entre as cepas podem ser observadas, algumas foram tolerantes ao pH 3,0, permanecendo em número semelhante ao inicial, já outras diminuíram a população. A cepa KAG03 foi a mais sensível para a acidez. Desta forma, em relação às características avaliadas, as cepas de bactérias lácticas isoladas dos grãos do kefir e do kefir apresentam potencial probiótico, pois têm condições de sobreviver ou se multiplicar na presença de 0,3% de sais biliares, concentração média de bile encontrada no trato Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 gastrintestinal humano, bem como podem sobreviver ao pH 3,0, sendo este o pH estomacal com alimento (PENNACCHIA, et al., 2004). Conclusões Com este estudo foi possível selecionar cepas de bactérias lácticas isoladas de grãos de kefir e do kefir, com capacidade de sobreviver às condições ácidas do estômago e aos sais biliares no intestino delgado, durante a passagem pelo trato gastrintestinal, dessa maneira apresentam potencial probiótico. Agradecimentos A UNICENTRO por possibilitar o desenvolvimento deste estudo e pela bolsa PIBIC/UNICENTRO. Referências Beshkova, D.M.; Simova, E.D.; Simov, Z.I.; Frengova, G.I.; Spasov, Z.N. Pure cultures for making kefir. Food Microbiol. 2002, 19, 537. Czamanski, R.T.; Greco, D.P.; Wiest, J.M. Avaliação da atividade antimicrobiana de filtrados de kefir artesanal. Higiene Alimentar. 2004, 124. 75. Dalla Santa, O.R. Avaliação da qualidade de salames e seleção de culturas starter para a produção de salame tipo italiano. Tese de doutorado, Universidade Federal do Paraná, 2008. Erkkilä, S.; Petäjä, E. 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Selection of Lactobacillus strains from fermented sausages for their potential use as probiotics. Meat Science. 2004, 67, 309. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009