NECROSE PENIANA EM FELINO OBSTRUÍDO – RELATO DE CASO Camilla Tizei de Andrade Lira1, Jéssica de Torres Bandeira1, Melina Barreto Gomes da Silva1 Marília de Albuquerque Bonelli², Telga Lucena Alves Craveiro de Almeida², Angélica Neves dos Santos Rocha², Ernani Mero Campos², Bruno Martins Araújo², Nathalia Ianatoni Camargo², Eneida Willcox Rêgo³ Introdução A obstrução uretral é um sinal clínico comum da Doença do Trato Urinário Inferior dos Felinos (DTUI) e, associada com outras alterações, leva o animal à dificuldade ou incapacidade de urinar e, em casos mais graves, pode causar a morte do animal. É mais frequente em felinos machos e pode ter origem mecânica ou funcional. Os tampões mucoproteináceos e urólitos são as duas causas mais comuns da obstrução uretral [1]. Alimentação, obesidade, diminuição da frequência e volume urinário, castração, pouca atividade física, enfermidades e estresse podem influenciar na formação dos tampões e urólitos [1]. Gatos que têm entre dois e seis anos de idade [2] são mais propensos a apresentar obstrução urinária. Além dos fatores descritos, a conformação anatômica da uretra dos machos parece favorecer à instalação do processo [3]. O tratamento pode ser feito por introdução de sonda, cistocentese (se a parede da bexiga não estiver comprometida) ou uretrostomia. Sondas de polipropileno são bastante irritantes na uretra, favorecendo aos traumas, por isso é mais indicado o emprego de sonda de Teflon ou silicone [4]. O cateterismo, se executado de forma inadequada ou com material inadequado, pode causar traumas, estreitamento da uretra e inflamações [5], podendo haver lacerações peniana e uretral, com consequente extravasamento de urina pelos tecidos subcutâneos e até necrose peniana [6]. A necrose é a morte tecidual, que pode ocorrer devido a diversos fatores tais como químicos (incluindo toxinas de bactérias, vírus, venenos), físicos, fatores fisiológicos e isquemias [7]. No caso de necrose peniana, o tratamento pode ser cirúrgico, sendo necessário o procedimento de penectomia [8], seguida por uretrostomia perineal, que é a mais empregada atualmente em gatos machos com lesões irreversíveis na mucosa da uretra peniana [9]. O objetivo deste trabalho é relatar necrose peniana secundária a uma tentativa de desobstrução havendo assim a necessidade de um procedimento cirúrgico. Material e Métodos Foi atendido no Hospital Veterinário da UFRPE um felino, SRD, macho, castrado, de aproximadamente três anos de idade. O proprietário relatou que o animal havia sido levado a uma Clínica Veterinária há dois dias, por estar com dificuldade de urinar e que, por isso, foi utilizado um objeto metálico para esvaziar a bexiga e também desobstruir. Do mesmo modo, segundo relatou o proprietário, retiraram urina com uma seringa Entretanto, mesmo depois de tal procedimento, o animal não havia urinado. No exame clínico, a palpação do abdômen demonstrou que a bexiga encontrava-se repleta, e na avaliação da mucosa peniana foram observados sinais de necrose total. Além disso, o animal apresentava-se prostrado, desidratado e com temperatura retal de 37,8ºC. Foi solicitado hemograma, com contagem de plaquetas. Realizou-se cistocentese, para esvaziar a bexiga e aliviar o animal e o mesmo foi então encaminhado para a cirurgia. Foi efetuada uma penectomia e durante exploração cirúrgica para realização de uretrostomia perineal, constatou-se que havia também ruptura e necrose da uretra pélvica. Optou-se então pela realização de uretrostomia abdominal, e durante a laparotomia, foi observado vazamento de urina pelos locais de cistocentese, que precisou de sutura. Resultados e Discussão O animal encontrava-se suscetível a apresentar um quadro de obstrução, por se tratar de um felino, macho, castrado, pois esse tipo de enfermidade acomete mais frequentemente animais com estas características [1,2,3]. Cistocentese e cateterismo têm indicação descrita na literatura [4], mas estes procedimentos devem ser realizados com cautela e utilizando-se sondas adequadas, para que não haja complicações [5]. A utilização de sonda rígida não condiz com o que foi pesquisado na literatura [4], que descreve o uso de uma ________________ 1. Estudante de graduação em Medicina Veterinária na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52.171-900. 2. Médicos Veterinários residentes da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52.171-900. 3. Professor adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52.171-900. sonda de silicone ou Teflon. Desta forma, acredita-se que a necrose peniana e ruptura uretral tenham sido consequências da tentativa de desobstruir o animal com uma sonda rígida [6]. Sabendo que a necrose é a morte tecidual [7] e que como procedimento terapêutico deve-se fazer a retirada de todo o tecido necrosado [8], a penectomia foi então indicada. Apesar da localização de uretrostomia mais comumente indicada, ser na região perineal [9], foi preferível realizar o procedimento em outra área, em virtude de haver ruptura e necrose de todo o segmento da uretra pélvica e consequente comprometimento dos tecidos circunvizinhos. Desse modo procedeu-se à realização de uretrostomia abdominal. Referências [1] RABELO, R.C; SOARES, J.A.; LEITE, R. M.C. 2008 [Online]. Aspectos emergenciais na síndrome urológica obstrutiva dos felinos. Homepage: ttp://www.bveccs.com.br>. Acesso em 6 jun. 2009 [2] Wouters, F.; Barros, C..S.L.; Wouters, A.T.B.; Kommers, G.D. 1998. [Online]. Síndrome Urológica Felina: 13 Casos. Homepage: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010384781998000300024&script=sci_arttext>. Acesso em 14 set. 2009 [3] RECHE Jr., A.; HAGIWARA, M.K.; MAMIZUKA, E. 1998 [Online]. Estudo clínico da doença do trato urinário inferior em gatos domésticos de São Paulo. Homepage: <http://www.scielo.br/pdf/bjvras/v35n2/35n2a04.pdf>. Acesso em 14 set. 2009 [4] LANE, I. 2009. [Online]. Urethral obstruction in cats: Catheters and complications (Proceedings). Homepage: <http://veterinarycalendar.dvm360.com/avhc/Feline+medicine/Ureth ral-obstruction-in-cats-Catheters-andcomplic/ArticleStandard/Article/detail/608438>. Acesso em 14 set. 2009 [5] CORGOZINHO, K.B.; SOUZA, H.J.M.; PEREIRA, A.N., BELCHIOR, C.; SILVA, M.A.; MARTINS, M.C.L.; DAMICO, C.B. 2007. [Online]. Catheter-induced urethral trauma in cats with urethral obstruction. 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