Introdução As gerações mais recentes são, sem dúvida, as que mais se preocupam com a saúde e a alimentação, e também as que dispõem de mais informação sobre este assunto. Temos consciência das deficiências dos nossos hábitos alimentares, dos abusos que cometemos no que se refere a esta questão e de como estas irregularidades nos afetam fisicamente. Para além disto, desconfiamos de tudo o que acaba por fazer parte do nosso «menu»: a qualidade dos alimentos a que temos acesso, as proporções mais adequadas de hidratos de carbono ou de gorduras e o regime ideal para mantermos um peso equilibrado ao longo da vida, para além de um vasto leque de outras preocupações. Tal como acontece em muitas outras áreas, temos à nossa disposição uma quantidade excessiva de informação, o que, na maior parte das vezes, acaba por nos desorientar. A nossa esperança de vida é cada vez mais longa. É verdade que temos mais tempo de vida, mas estes anos a mais deveriam fazer-nos pensar em como podemos aproveitar ao máximo esse tempo precioso vivendo melhor e — porque não? — prolongando a juventude. E está ao nosso alcance refletir sobre isto e enveredar por este caminho, bastando adotarmos uma nova abordagem: a da enzima mediterrânica. Com a presente obra, pretendo dar a conhecer o papel importantíssimo que as enzimas desempenham no nosso organismo, sobretudo através da digestão. As enzimas são o elemento essencial na transformação dos alimentos em nutrientes e dos nutrientes em energia, em tecidos, num melhor sistema imunitário, etc. Uma vez que são essenciais ao organismo, já nascemos com elas, porém em número limitado. Trata-se de uma espécie 13 DRA. MONTSE FOLCH de reserva finita que o nosso corpo utiliza para desempenhar cada uma das suas funções. Esta herança inestimável vem gravada no nosso ADN, mas desperdiçamo-la quando ficamos expostos ao stresse, às doenças; quando adotamos um regime alimentar errado… Ou seja, desperdiçamo-la em todos os cenários em que pomos o nosso metabolismo à prova. Contudo, também podemos obter enzimas a partir de elementos externos ao nosso corpo, como, por exemplo, em alimentos não cozinhados, e o consumo desses alimentos permite-nos colmatar o défice enzimático causado pelos cenários descritos atrás. É uma lógica simples que, no entanto, se revela muito mais eficaz quando nos informamos sobre como atua esta substância orgânica, onde a podemos encontrar, em que aspetos nos beneficia concretamente, etc. Estas são algumas das questões a que responderei nas páginas que se seguem, nas quais, além disso, também descrevo os benefícios extraordinários de uma alimentação à base de alimentos que ajudam as células a produzir enzimas e apresento tabelas alimentares que ajudarão o caro leitor a adotar este tipo de dieta. Por outras palavras, este livro é um guia sobre como seguir a dieta mais próxima da nossa cultura, ou seja, a dieta mediterrânica tradicional, que é um dos expoentes máximos em termos de riqueza enzimática. Esta riqueza decorre do conceito que cunhei como «enzima mediterrânica». Com efeito, foi precisamente em 2014 que se celebrou a dieta mediterrânica e a sua importância universal. Esta efeméride sublinhou a importância deste tipo de dieta, que proporciona ao nosso organismo o máximo bem-estar. Não obstante, decidi ir um pouco mais além, aplicando as virtudes da enzima mediterrânica aos quatro tipos de estrutura corporal que os nutricionistas consideram atualmente. Cada um de nós parte de uma base diferente, ou seja, a nossa herança genética, a nossa forma de digerir, de acumular ou eliminar gordura, a nossa própria estrutura corporal, etc., diferem de indivíduo para indivíduo e permitem identificar quatro body types (modelos físicos ou tipos de constituição, isto é, a predisposição genética de cada um para uma digestão mais difícil de determinados alimentos), que se aplicam a toda a população mundial: PARA, ESTRO, SUPRA e NEURO. Se dermos uma vista de olhos a esta classificação, podemos identificar-nos predominantemente com algum dos modelos corporais, e reconhecer as respetivas peculiaridades ajudar-nos-á bastante a aprender a escolher os alimentos que mais benefícios nos trazem. O objetivo final de A Enzima Mediterrânica é identificarmos a nossa dieta exata, personalizada ao máximo consoante as necessidades de cada um de nós. 14 ENZIMA MEDITERRÂNICA Apostar na enzima mediterrânica e conjugá-la com os diferentes body types é optar por uma saúde e um bem-estar renovados. O conhecimento da alimentação com base nas enzimas permite-nos melhorar, de uma forma proativa, o nosso estado de saúde geral, e este livro proporciona ao leitor todas as ferramentas para o conseguir. Contudo, a mudança dos hábitos alimentares requer algum tempo, compromisso e dedicação. Mas, mais do que tudo, é muito importante manter uma atitude positiva e um espírito aberto. Está provado que, em todos os ramos da medicina, a atitude e as emoções dos pacientes assumem uma relevância extrema, e a nutrição centrada nas enzimas não é exceção a esta regra. Portanto, tentemos sorrir mais vezes (ainda que, por vezes, as circunstâncias o dificultem), aprendamos a respirar, arranjemos tempo para relaxar e levemos as coisas com a maior tranquilidade possível. Estas são as primeiras — e mais importantes! — diretrizes para começarmos a assumir o controlo do nosso bem-estar. Vejamos agora o resto. 15 I A importância das enzimas para a saúde A vida não seria possível sem as enzimas, pois estas constituem a energia vital do nosso organismo, e a sua descoberta — juntamente com a constatação de que as vitaminas e os minerais têm uma importância vital para o corpo humano — é um dos capítulos fundamentais da história das ciências da nutrição. Apesar de o papel essencial que as enzimas desempenham na digestão — que desenvolverei mais adiante — já ter sido cientificamente demonstrado há mais de cem anos, a sua comercialização sob a forma de suplemento alimentar só teve início há pouco mais de vinte anos em países como os Estados Unidos, onde estes suplementos começaram a ser administrados como paliativos para determinadas alergias e intolerâncias clínicas. Por isso, tendo em conta que as enzimas são proteínas que fazem com que se produzam as reações químicas que ocorrem no nosso organismo — ou fazem com que estas ocorram mais rapidamente —, podemos dizer que são o agente que ativa o nosso organismo e que, sem ele, adoecemos e podemos, inclusivamente, morrer. Até ao presente, os cientistas já identificaram pelo menos duas mil e oitocentas enzimas diferentes. Para poder executar as suas funções, o nosso código genético — o ADN — precisa das ditas proteínas fundamentais, e para as fabricar necessita de nutrientes que extrai sobretudo dos alimentos que ingerimos. Consequentemente, devemos ver a NUTRIÇÃO como o meio de obtermos os ditos nutrientes essenciais, de os ingerirmos nas quantidades adequadas e de os digerirmos, absorvermos, transportarmos para o interior das células e metabolizarmos, 17 DRA. MONTSE FOLCH eliminando os elementos de que não necessitamos sem os transformarmos em gordura. Os principais nutrientes essenciais que alimentam as células do nosso corpo são os seguintes: - Hidratos de carbono - Proteínas - Lípidos (gorduras) - Água - Vitaminas - Minerais A ingestão destes elementos (incluindo as enzimas) nas quantidades adequadas garante uma nutrição correta. A função das enzimas Como já referi, as enzimas são substâncias vitais e, apesar de estarem presentes em todas as células vivas — tanto animais como vegetais —, são também bastante delicadas. Uma das funções corporais básicas em que intervêm é a transformação da comida que ingerimos em energia, com o subsequente desbloqueio desta última para que possa ser utilizada pelo organismo. Segundo os cientistas, existem três grupos principais de enzimas: - As metabólicas - As digestivas - As alimentares O nosso corpo produz as enzimas metabólicas e as digestivas de forma natural, sempre que delas necessita. As primeiras são as que fazem funcionar o organismo, e as segundas as que digerem os alimentos. As enzimas alimentares, por sua vez, estão presentes — também de forma natural — em todos os alimentos crus. 18 ENZIMA MEDITERRÂNICA As principais fontes de enzimas Enzimas metabólicas É o próprio organismo que se encarrega de as produzir. São necessárias em todo o processo digestivo, e a idade e o stresse reduzem a capacidade de o organismo as sintetizar. Enzimas digestivas Também é o organismo que as produz, mas em caso de défice podemos recorrer a suplementos, que não devem ser sintéticos, como os das vitaminas e dos minerais, mas de origem vegetal, sendo depois extraídos em laboratório. Estas enzimas atuam em todo o aparelho gastrointestinal, desde o esófago até ao reto. Enzimas alimentares Os alimentos crus, sobretudo as frutas e os legumes, mantêm intacta a sua capacidade em termos de enzimas, daí serem tão nutritivos e constituírem a nossa principal fonte deste tipo de enzimas. Porém, esta capacidade perde-se por completo quando os ditos alimentos são cozinhados. As enzimas de origem animal também são adequadas para o consumo humano. Entre estas destaca-se principalmente a pancreatina, que obtemos a partir do suco pancreático do porco ou do boi e que atua no intestino delgado onde é digerida a gordura. Atualmente, esta enzima é alvo de diversas investigações científicas por também se encontrar presente nos tratamentos contra o cancro (descobriu-se que as pessoas que padecem desta doença, nas suas várias formas, costumam revelar carência desta enzima específica). A enzima de que falo também é utilizada para curar pacientes que sofrem de doenças autoimunes, de alergias alimentares, de fibroses quísticas e de infeções renais, para além de ter outras aplicações. Mas, para além desta, as seguintes três enzimas também se revelam de grande utilidade: a bromelina (derivada do ananás) e a papaína (derivada da papaia) são utilizadas como ingredientes na produção de cerveja e no setor industrial, para amolecer a carne; a pepsina, por seu turno, ajuda o estômago a digerir corretamente as proteínas. Esta enzima obtém-se das paredes do estômago do porco e deve possuir um pH ácido para atuar adequadamente. Devemos, portanto, ter o cuidado de não tomar antiácidos sem prescrição médica, pois com isto diminuímos, ainda que involuntariamente, a eficácia da dita enzima. 19 DRA. MONTSE FOLCH A quantidade de enzimas metabólicas e digestivas que produzimos e a sua eficácia estão intimamente relacionadas com a idade e o nosso estado de saúde. Assim, a nossa capacidade de produzir estes tipos de enzimas vai diminuindo à medida que envelhecemos. Para além do fator idade, a doença também leva a uma perda considerável de enzimas. A isto há que acrescentar ainda o estilo de vida que levamos (assumindo especial importância o tipo de alimentação que fazemos), o qual também influencia o equilíbrio enzimático do nosso corpo. Enzimas primárias e secundárias Uma digestão correta exige três enzimas primárias (a amílase, as protéases e a lípase) e quatro enzimas secundárias (a celulase, a láctase, a sacarase e a máltase). Esta divisão foi estabelecida de acordo com o seguinte critério: as enzimas primárias têm como função principal a digestão dos macronutrientes (hidratos de carbono, gorduras e proteínas) e as secundárias constituem uma variedade dentro do grupo das primárias. Por exemplo, a láctase é um tipo de amílase; a papaína uma variedade de protéase e a bílis de boi um tipo de lípase. A AMÍLASE ajuda à digestão dos hidratos de carbono (HC) e das féculas (fruta, verduras, massa, pão, etc.). Se estes hidratos de carbono forem mal digeridos, fermentarão, causando-nos gases e outros sintomas de mal-estar. A PROTÉASE ajuda a digerir as proteínas (carnes vermelhas, aves de capoeira, peixe e frutos secos). A má digestão das proteínas resulta na putrefação das mesmas, o que causa indigestão e toxicidade. A LÍPASE ajuda a sintetizar as gorduras e contribui para o equilíbrio dos ácidos gordos. Se não forem bem digeridas, as gorduras tornam-se rançosas e provocam odores desagradáveis e o desequilíbrio dos níveis de colesterol. Quanto às enzimas secundárias, a CELULASE sintetiza a fibra que se encontra nas verduras e noutros vegetais, ou seja, decompõe a celulose. O nosso organismo não consegue produzir fibras, e as que não digerimos podem deixar resíduos no intestino delgado e causar problemas resultantes dessa má absorção. A LÁCTASE, a mais conhecida das enzimas, sintetiza a lactose, ou seja, o açúcar contido no leite. Se o organismo não produzir láctase, a lactose não é digerida e isso origina problemas digestivos e alergias alimentares. A SACARASE e a MÁLTASE, por sua vez, ajudam a digerir o açúcar que existe nos alimentos. 20 ENZIMA MEDITERRÂNICA Contudo, as enzimas não atuam apenas ao nível do aparelho digestivo mas em toda a produção de energia pelo nosso corpo. E de onde vem a energia que consumimos? Vem dos ALIMENTOS, daí que qualquer protocolo relacionado com as enzimas, ou seja, qualquer quadro baseado na quantidade máxima de enzimas a produzir ou na sua suplementação com produtos farmacêuticos se concentre na nossa saúde digestiva. Na sua maioria, os tratamentos ou as dietas baseados na ingestão de enzimas colocam em primeiro plano o bom funcionamento do sistema digestivo: o que comemos, como ingerimos esses alimentos e, sobretudo, como os digerimos (incluindo a eliminação de resíduos). Não é, por isso, de estranhar que muitos destes métodos incluam medidas como a limpeza regular dos intestinos através de clisteres preparados com ervas, óleos essenciais, etc., ou mesmo do jejum, sempre sob supervisão médica, evidentemente. Sintomas do défice de enzimas: o que acontece se os alimentos não forem digeridos corretamente? Défice de amílase: fermentação dos hidratos de carbono A fermentação dos glícidos, ou açúcares, produzida pelos organismos da flora intestinal leva à libertação de ácidos gordos. Nestes casos, o sangue produz e absorve gases. Consequentemente, as células do sangue não conseguem juntar-se ao oxigénio e aglutinam-se. O sistema imunológico fica saturado e dificulta a circulação sanguínea. O défice severo de amílase pode ser um sinal de danos ou de um cancro no pâncreas ou de problemas nos rins. Esta insuficiência leva à presença de amido não digerido no cólon, o que provoca diarreia. Défice de protéases: putrefação das proteínas Os micro-organismos assimilam os aminoácidos e geram cadaverina e putrescina, ou seja, aminoácidos que se encontram nas substâncias putrefactas. A microflora utiliza as proteínas não digeridas e provoca a libertação de amoníaco, «bombardeando» assim o fígado com toxinas. 21 DRA. MONTSE FOLCH Forma-se, portanto, amoníaco, que é composto por nitrogénio, e é libertada ureia. Consequentemente, dá-se a sobrecarga dos rins. O sistema linfático, encarregue da eliminação de toxinas, também é afetado. A insuficiência de protéases causa alergias, leva à formação de substâncias tóxicas no organismo e aumenta o risco de infeção intestinal. Défice de lípase: gorduras rançosas Nestes casos, as toxinas do cólon são absorvidas pela corrente sanguínea, onde tendem a oxidar e a formar radicais livres, os quais são elementos químicos que danificam as células do organismo e estão relacionados com diversas doenças como a doença de Alzheimer e alguns tipos de cancro. São ativadas outras moléculas e a maior acidez daí resultante leva à sobrecarga do fígado. O nível de colesterol torna-se, então, excessivo. Os micro-organismos captam o colesterol (normalmente produzido pelo organismo de forma natural) e processam hormonas em quantidades excessivas, o que abre caminho a diversas doenças. A insuficiência de lípase implica uma má absorção das gorduras e das vitaminas. Outros efeitos secundários são a diarreia e as fezes gordurosas. 22 ENZIMA MEDITERRÂNICA Causas do défice de enzimas A digestão dos alimentos é um processo prioritário e é também o que mais enzimas exige ao nosso corpo. Se a esta necessidade acrescentarmos outros fatores já mencionados (o exercício físico intenso; as constipações; a febre; a gravidez; as mudanças de temperatura ou de estação do ano; a ingestão de bebidas alcoólicas ou de cafeína em excesso ou a perda de sais minerais através da transpiração, da urina, das fezes e de todos os sucos gástricos), com o tempo poderemos vir a sofrer de falta de enzimas. Também não podemos esquecer que o nosso corpo fornece as enzimas necessárias à digestão mais rapidamente do que consegue repô-las. Se, para além disto, tivermos o hábito de consumir alimentos pobres em enzimas, os órgãos do nosso aparelho digestivo serão submetidos a um esforço maior. 23 DRA. MONTSE FOLCH O nosso organismo dá prioridade à digestão em relação à manutenção da boa saúde, por isso retira enzimas de outras partes do corpo para completar o processo digestivo. Ora, esta compensação esgota o sistema imunitário. Por este motivo, com o tempo o corpo pode fragilizar-se ao ponto de dificultar a defesa contra as doenças. Em tais casos de «quebra enzimática», a solução consiste em alargar o leque de «fontes de enzimas» tomando, por via oral, cápsulas de enzimas vegetais. Isto permite-nos manter a saúde dos nossos organismos. Como determinar se sofremos de falta de enzimas Cabe ao médico diagnosticar o estado em que se encontra o nosso potencial enzimático. Porém, é verdade que existem sintomas que nos levam a suspeitar que as nossas enzimas digestivas não estão a atuar corretamente. Se desconfiarmos de que nos falta algum tipo de enzima, podemos, por exemplo, notar que alimentos nos apetecem mais ou temos mais tendência para comer. Por exemplo, as pessoas com tendência para comerem doces, chocolates, etc., costumam apresentar um défice de amílase (recordemos que esta é a enzima que sintetiza os açúcares). Não obstante, também podemos prestar atenção aos seguintes sintomas: - Distensão abdominal e gases depois de comermos. - Existência de alimentos não digeridos nas fezes. - Acidez gástrica. - Náuseas. - Prisão de ventre; diarreia. - Cansaço depois de comer. - Alergia a algum alimento em concreto. Estes são alguns dos sinais de alerta a que o médico deve prestar atenção ao fazer o diagnóstico diferenciado de diferentes patologias ou alterações digestivas, como é o caso de alguns problemas sérios no pâncreas, no fígado, nos intestinos, etc. Em todo o caso, a observação regular da digestão e das fezes pode dar-nos uma ideia do nosso estado de saúde, tal como se faz com os bebés durante os primeiros meses de vida. Como é evidente, também existem técnicas de laboratório que permitem diagnosticar o estado de saúde do nosso corpo. É o caso do método Transformation, um programa médico criado em Houston que permite determinar o grau de deterioração do organismo mediante uma bateria 24 ENZIMA MEDITERRÂNICA de exames. Avaliados os resultados, o paciente é alvo de um acompanhamento médico bastante preciso. Os exames são os seguintes: BTA (Biological Terrain Assessment). Trata-se de uma avalia- ção do estado biológico de cada pessoa com base em análises específicas à saliva, à urina e ao sangue. O objetivo destas análises é avaliar o grau de envelhecimento e de stresse oxidativo do nosso corpo. DARKFIELD. É o estudo do grau de envelhecimento das células do sangue por imagem, através de um monitor ligado a um microscópio de campo escuro. BCA (Body Composition Analysis). Método pelo qual se ana- lisa a composição corporal em termos de músculos, gordura e líquidos extracelulares. Quando se verifica um desequilíbrio entre a quantidade de calorias ingeridas e gastas, a composição corporal é alterada. Este exame fornece informações que permitem equilibrar a distribuição de gorduras, líquidos e massa muscular no nosso organismo. ANÁLISE GERAL AO SANGUE. Este exame valoriza os níveis de colesterol, triglicéridos, ferro, minerais, etc. ESTUDO DO ENVELHECIMENTO CUTÂNEO. Toda a informação resultante destes exames fornece ao profissional de saúde especializado um bom ponto de partida para a determinação do protocolo enzimático e nutricional mais adequado a cada paciente. Apesar de o método Transformation permitir estabelecer metas terapêuticas, com uma combinação de enzimas mais complexa, uma alimentação baseada na dieta mediterrânica e as tabelas que apresentaremos adiante (sobre a hidratação e o exercício físico moderado), qualquer pessoa pode conseguir um equilíbrio enzimático ótimo. No terceiro capítulo, aprofundarei a relação entre as deficiências em termos de enzimas e os diferentes tipos físicos. Mas, em jeito de apresentação prévia, posso dizer-lhe, caro leitor, que cada body type costuma adoecer por causa de carências específicas: 25 DRA. MONTSE FOLCH — Corpo tipo PARA (ou tipo 1): défice de AMÍLASE. — Corpo tipo ESTRO (ou tipo 2): défice de LÍPASE. — Corpo tipo SUPRA (ou tipo 3): défice de PROTÉASES. — Corpo tipo NEURO (ou tipo 4): défice de LÁCTASE, LÍPASE e AMÍLASE. Todos precisamos de enzimas Necessitamos de enzimas sempre que consumimos alimentos cozidos, fritos, processados ou alterados de alguma forma. O calor gerado pela ebulição, pelos micro-ondas, pelas panelas de pressão e por outros processos de cozedura destrói as enzimas. Até determinados métodos de preparação de sumos — os que geram calor por fricção — podem anular o efeito enzimático e digestivo dos alimentos espremidos. Portanto, sempre que ingerimos alimentos cozinhados ou processados, gastamos enzimas do nosso potencial enzimático e, com o decorrer dos anos, acabamos por nos tornar vulneráveis a algumas doenças e maleitas (prisão de ventre, artrite, cefaleias, úlceras, fadiga crónica, etc.). O processo digestivo fornece 80% da energia do nosso organismo. As pessoas que mantêm, diariamente, uma atividade física considerável; que vivem em stresse ou em climas muito quentes ou frios; que estão grávidas ou viajam frequentemente de avião, precisam de uma grande quantidade extra de enzimas. Como já vimos, o envelhecimento reduz a nossa capacidade de produzirmos as enzimas necessárias. E a medicina prova que todas as doenças se devem à falta de enzimas ou ao desequilíbrio enzimático. Consequentemente, podemos afirmar que a nossa vida e a nossa saúde dependem destes elementos. E o nosso organismo pode obtê-los por duas vias: — Produzindo as suas próprias enzimas (ENZIMAS ENDÓGENAS): enzimas digestivas e metabólicas. — Por ingestão, através dos alimentos (ENZIMAS EXÓGENAS): enzimas alimentares. A energia das enzimas existentes no nosso corpo é necessária para: — um trato digestivo correto; 26 ENZIMA MEDITERRÂNICA — reparar regular e reativar os outros sistemas do organismo; — regular o metabolismo. E para aproveitarmos a dita energia ao máximo o melhor é ingerirmos os alimentos crus, com as respetivas enzimas digestivas intactas. Mas é preciso ter cuidado, porque as enzimas dos alimentos crus só ajudam à digestão das partículas do que ingerimos neste estado, pelo que o corpo tenderá a consumir as suas próprias enzimas digestivas. Se, por esse motivo, tivermos de procurar «fontes extra» de enzimas, a alternativa é complementarmos a nossa dieta com suplementos enzimáticos. Sempre que as nossas enzimas digestivas não forem suficientes, devem entrar em ação as enzimas metabólicas, para as ajudarem no processo digestivo. Daí que, ao diminuirmos as nossas reservas, começamos a precisar de complementos enzimáticos. O corpo humano não poderia existir sem enzimas. Temos de repor a energia sempre que necessário, pois é nisso — e na sintetização das gorduras, para alimentar as células — que consiste a regulação do metabolismo. Da criação de novos tecidos (dos músculos, ossos, glândulas e nervos) à libertação das toxinas geradas por estes processos, passando pela saúde da pele e pelo funcionamento perfeito do cólon, do fígado, do coração, do cérebro, dos pulmões, dos rins e das hormonas, tudo depende das enzimas e da energia que nos fornecem. Todos os processos que ocorrem no corpo devem decorrer em perfeita sincronia, e quando nos falta algum mineral ou alguma vitamina ou enzima, o resultado deste desequilíbrio é a doença. Os efeitos secundários de acrescentarmos algum protocolo enzimático aos nossos hábitos quotidianos são, basicamente, dois: uma boa saúde e o maior bem-estar possível, de acordo com a nossa faixa etária. Portanto, não podemos evitar o envelhecimento ou a doença, mas podemos — isso sim — atrasar os efeitos mais negativos da idade e prevenir ao máximo as doenças ou, no caso de já estarmos doentes, fazer com que o nosso organismo esteja suficientemente preparado para enfrentar estas contrariedades. 27 DRA. MONTSE FOLCH Como as enzimas participam na digestão e a importância de digerir bem os alimentos A saúde do aparelho digestivo influencia a saúde de todo o resto do organismo, portanto pode dizer-se que a chave do nosso bem-estar reside na boa digestão. Hipócrates (460 a.C.-370 a.C.), o pai da medicina, afirmou, certa vez, que «todas as doenças começam no intestino», afirmação esta que traduz na perfeição o facto de uma dieta pobre ou um sistema digestivo debilitado constituírem a via direta para desenvolvermos doenças e todos os tipos de transtornos metabólicos. Portanto, o sistema digestivo contém mais terminações nervosas do que a medula espinal e produz mais neurotransmissores do que o próprio cérebro. Estes são dois dados bastante reveladores, que levam a que devamos prestar toda a atenção à nossa barriga. De facto, 90% da serotonina que o nosso corpo produz provém do trato intestinal, e mais de 70% do sistema imunitário concentra-se no aparelho digestivo ou nos órgãos periféricos. Recordemos o que eu disse no início deste capítulo: os cientistas dividem as enzimas em três grupos diferentes, sendo que as enzimas de cada um destes grupos atuam de forma diversa. As enzimas metabólicas encarregam-se da manutenção do corpo em geral, reparando tecidos e órgãos; as digestivas, cuja «fábrica» principal é o pâncreas (onde são produzidas grandes quantidades de amílase e de protéases e uma quantidade mais reduzida de lípase), ajudam à digestão dos alimentos, transformando-os em nutrientes básicos; e as alimentares, que são exógenas ao corpo humano e se obtêm a partir dos alimentos (só os que contêm enzimas, ou seja, os crus), representam um reforço quase imprescindível para a contagem enzimática. Concentrando-nos nas enzimas digestivas, percebemos que a sua função principal é digerir três dos principais nutrientes essenciais, nomeadamente as proteínas, as gorduras e os hidratos de carbono. Os alimentos crus e não oxidados contêm um número bastante razoável de enzimas concebidas pela Natureza para ajudarem à respetiva digestão ou para se degradarem de forma natural uma vez atingido o final do seu ciclo de vida. Se o organismo for submetido a um regime alimentar que inclua esta quantidade extra de enzimas, 28 ENZIMA MEDITERRÂNICA a reserva de enzimas digestivas mantém-se intacta e as enzimas metabólicas são rentabilizadas ao máximo na sua função de reforço do sistema imunitário e de preservação do nosso bem-estar físico. Se, pelo contrário, não houver este aporte extra de enzimas fornecidas pelos alimentos crus ou a nossa dieta for pobre nestas substâncias orgânicas, o corpo vai enfraquecendo progressivamente e torna-se vulnerável ao desgaste e ao défice destas substâncias vitais. É por esta razão que se torna tão importante fazer boas digestões, e fazê-las utilizando apenas as enzimas digestivas e alimentares. Fases da digestão O médico grego Galeno (130 d.C.-200 d.C.) já dizia, no seu tempo, que a função principal do estômago era «reter» dentro de si os alimentos e fazê-los avançar aos poucos. Antes desta afirmação, acreditava-se que o estômago e o coração eram um e o mesmo órgão. Ainda hoje se mantêm alguns vestígios semânticos desta convicção, como é o caso da palavra catalã coragre («corazón agrio» ou «coração acre»), que se refere à acidez gástrica. Primeira fase: ORAL. Neste momento inicial, o estômago atua como um grande depósito. A digestão começa com a mastigação e o envolvimento dos alimentos em saliva, na boca. Quanto mais saliva produzirmos e mais mastigarmos os alimentos, melhor iniciaremos o processo digestivo. A saliva contém cálcio, que protege os dentes, e também amílase, que é a substância que dá início ao processo de digestão dos glícidos ou hidratos de carbono (presentes no pão, nos cereais, etc.). As proteínas e as gorduras são decompostas numa fase posterior. Para além disto, a saliva ALCALINIZA o estômago, o que também contribui para uma boa digestão. É importante saborearmos e mastigarmos muito bem os alimentos. As pessoas que não o fazem não formam um «bolo» na boca antes de engolirem, o que pode causar-lhes problemas gastrointestinais. Por outro lado, engolir grandes pedaços de comida implica mais trabalho para o estômago e restantes órgãos do aparelho digestivo, que, assim, têm de trabalhar durante mais tempo para decomporem os alimentos. Quando comemos à pressa, o estômago vai recebendo tudo o que lhe cai dentro, quer sejam bolos alimentares ou grandes pedaços de comida mal mastigados, distendendo-se aos poucos para que caiba tudo. E apesar de a capacidade normal do estômago ir de um litro a um litro e meio, a verdade é que este órgão chega a conter seis litros de alimentos. 29 DRA. MONTSE FOLCH Segunda fase: GÁSTRICA. Os alimentos descem da boca até ao estômago através do esófago, que é como um tubo que produz contrações ondulatórias (movimentos peristálticos) que empurram a comida. As fortes contrações peristálticas do estômago trituram e reduzem o tamanho dos alimentos sólidos até os transformarem numa espécie de pasta ou papa cujas partículas não chegam a atingir um milímetro de diâmetro. Neste momento da digestão, o aparelho digestivo recebe mais de 30% do fluxo sanguíneo total do nosso corpo para poder levar a cabo todas as funções digestivas (é por este motivo que entramos num estado de alguma sonolência a seguir às refeições). O estômago segrega então suco gástrico, que contém pepsina (uma enzima proteolítica, ou seja, uma enzima que ajuda a digerir as proteínas, da qual falei no subtítulo «As principais fontes de enzimas»), bicarbonato, gastrina e ácido clorídrico (HCL). Estas substâncias encarregam-se da decomposição da comida em fragmentos ainda mais pequenos do que os referidos atrás. O pH das enzimas digestivas é muito ácido (entre 1,00 e 3,00), o que lhes permite decompor as proteínas completas, como as da carne de frango ou de peixe, e transformá-las em aminoácidos para serem mais facilmente absorvidas pela corrente sanguínea. O tipo de alimentos que ingerimos e a integridade das nossas enzimas digestivas determinam o tempo que a comida permanece no estômago. Por exemplo, uma peça de fruta é digerida com grande facilidade e permanecerá no estômago por apenas vinte ou trinta minutos, enquanto um bife, que é um alimento muito mais complexo, pode permanecer neste nosso órgão digestivo por várias horas. Portanto, o nosso estômago gasta muito mais tempo, energia e enzimas na decomposição de alimentos complexos. Terceira fase: INTESTINAL. O alimento, agora chamado quimo, sai do estô- mago e entra na parte do intestino delgado a que se dá o nome de duodeno. O intestino delgado divide-se em três partes: o duodeno, o jejuno e o íleo. A primeira — o duodeno — será, talvez, a mais importante, pois é no seu interior que se dão muitos dos processos e absorção vitais para o organismo. Quando o quimo, ácido, passa pelo duodeno, as células das paredes deste troço do intestino delgado começam a segregar uma substância mucosa cuja função é alcalinizar o pH deste «bolo». Ao contrário das paredes do estômago, que são mais resistentes, as delicadas paredes do intestino delgado não toleram enzimas nem substâncias ácidas. Por isso, para se protegerem, segregam a tal substância mucosa, que aumenta o pH do bolo digestivo por um curto período de tempo. É importante referir que o stresse pode inibir a difusão desta substância que alcaliniza o quimo. Quando isto acontece com frequên30 ENZIMA MEDITERRÂNICA cia, podemos sentir ardor, dores e é mesmo possível que venham a surgir úlceras nesta zona. Enquanto decorre o processo de alcalinização do quimo, são também libertadas as enzimas segregadas pelo pâncreas e pelo fígado. Entre as enzimas pancreáticas incluem-se a amílase, as protéases e a lípase, que se encarregam de reduzir alimentos complexos como as gorduras, as proteínas e os hidratos de carbono aos seus elementos básicos. O fígado, por sua vez, produz a bílis, que é armazenada na vesícula e segregada para o interior do intestino delgado. Com a sua ação detergente, a bílis decompõe a gordura em pequenos glóbulos para facilitar a digestão, para além de facilitar também a absorção das vitaminas lipossolúveis A, D, E, F e K; de ajudar a assimilar o cálcio; de transformar o betacaroteno em vitamina A e de estimular os movimentos peristálticos intestinais, que ajudam a evitar a prisão de ventre. À medida que as partículas de comida vão avançando pelo jejuno e o íleo, as paredes do intestino delgado vão absorvendo os nutrientes, as vitaminas e os minerais. As moléculas passam pelas paredes das células e entram na corrente sanguínea, viajando, através do sistema porta hepático, até ao fígado. No fígado, os nutrientes — incluindo o ferro e as vitaminas A, B12 e D — são extraídos da corrente sanguínea para uso posterior. O fígado também desempenha uma função vital no metabolismo da gordura; na síntese dos ácidos gordos provenientes dos aminoácidos e dos açúcares; na produção de lipoproteínas, colesterol e fosfolípidos; e na oxidação da gordura para gerar energia. Para além disto, também é neste órgão que os alimentos excedentários se transformam em gordura, que é depois enviada para os tecidos gordos do organismo, onde é armazenada. O fígado também funciona como órgão desintoxicante, regula o metabolismo das proteínas e mistura as substâncias tóxicas — como os detritos metabólicos, os resíduos de inseticidas, o álcool, os medicamentos e os produtos químicos — com substâncias menos tóxicas. Estas são, depois, excretadas a partir dos rins. Os detritos resultantes dos processos digestivo e de absorção passam, de seguida, ao intestino grosso. Dependendo da natureza dos detritos e do tempo que estes permanecem no intestino grosso, a absorção pode ser insignificante. As funções principais do intestino grosso incluem o transporte e a eliminação dos detritos através do reto e da reabsorção de água. Não esqueçamos que, se o corpo utilizar muitas enzimas digestivas no processo de digestão, terá de gastar também uma parte das metabólicas (o que acabará por levar ao esgotamento das reservas existentes, ficando o nosso organismo menos protegido contra eventuais doenças). Além disto, há que acrescentar que, se comermos em demasia e, sobretudo, se o nosso menu incluir uma percentagem de gordura elevada, o esforço do aparelho 31 DRA. MONTSE FOLCH digestivo aumentará exponencialmente e o seu mau funcionamento acarretará os mais diversos incómodos. Problemas digestivos frequentes Acidez/Ardor Dilatação do estômago Enfartamento Trânsito intestinal lento Diarreia Vómitos Prisão de ventre Indigestão Náusea Flatulência Arrotos A alternativa é optarmos por um regime rico em enzimas ou que inclua complementos enzimáticos. Estas enzimas extra fortalecem o aparelho digestivo, além de aumentarem a disponibilidade de nutrientes para a regeneração celular e a manutenção do sistema imunitário e facilitarem a expulsão de toxinas e detritos metabólicos, entre outras coisas. Outro bom exemplo do importante papel desempenhado pelas enzimas alimentares é o leite materno. A ciência já demonstrou que este alimento tem mais de uma centena de componentes que as fórmulas artificiais não conseguem reproduzir. Para além disto, o valor imunológico deste alimento não só é essencial na primeira etapa de crescimento e desenvolvimento do bebé, como se estende, inclusivamente, à idade adulta. O leite materno contém bastantes enzimas, enquanto as fórmulas químicas baseadas no leite de vaca apresentam muito poucas, uma vez que o processo de pasteurização as destrói. Mas há outra prova científica que inclina os pratos desta balança a favor do aleitamento materno: as glândulas salivares dos bebés são demasiado jo32 ENZIMA MEDITERRÂNICA vens para conseguirem segregar amílase, e a geração de lípase no pâncreas de indivíduos tão jovens é um processo que ainda não amadureceu o suficiente. Portanto, as enzimas exógenas que o bebé ingere são um suplemento fantástico para lhe melhorar a digestão e, consequentemente, o sistema imunitário. As consequências de uma má digestão Uma má digestão pode provocar diversos problemas de saúde. Quando os alimentos não são corretamente decompostos, transformam-se em toxinas, os hidratos de carbono fermentam, as proteínas são destruídas e as gorduras tornam-se rançosas. De que forma é que estes factos estão relacionados com o nosso estado de saúde geral? Todos eles causam os diferentes desequilíbrios a que o organismo está sujeito. Em primeiro lugar, se os alimentos que digerimos não se decompuserem em nutrientes simples, o nosso corpo não terá um fornecimento constante do «combustível» necessário para conservar a boa saúde das células, dos músculos e dos tecidos. Em segundo lugar, o grau de acidez dos alimentos altera-se, e muitas das reações bioquímicas dependem do nível correto de acidez. Por último, o aumento da toxicidade exige um esforço maior do fígado, do cólon, dos rins, dos pulmões, da pele e, em última instância, do sistema imunitário. O abuso prolongado dos mecanismos de defesa do organismo leva a que este deixe de conseguir defender-se das doenças pelos seus próprios meios. Em que partes do aparelho digestivo se encontram as enzimas? Que funções desempenham? Órgão Enzimas Amílase salivar Função Decomposição dos hidratos de carbono Glândulas salivares Decomposição de: Lípase lípidos (triglicéridos) Decomposição dos Amílase hidratos de carbono Estômago Decomposição de: Lípase lípidos triglicéridos 33 DRA. MONTSE FOLCH Órgão Enzimas Pepsina Função Decomposição de proteínas Estômago Decomposição de substâncias Renina lácteas (caseína) Decomposição de: Intestino delgado Carboxipeptidase proteínas Enteroquinase tripsinogénio Peptidases péptidos Sacarase sacarose Láctase lactose Lípase triglicéridos Maltase maltose Fosfatase fosfatos Amílase Decomposição de amido Decomposição de Lípase triglicéridos Pâncreas Decomposição de Tripsina proteínas Quimotripsina Decomposição de proteínas O que acarretam certas patologias gástricas ou intestinais? Em muitos casos, as patologias deste tipo devem-se a um estilo de vida pouco adequado (fumar, beber, ter mau feitio, não ter horários fixos para as refeições, comer mal, ter problemas laborais ou pessoais de monta, etc.), que pode traduzir-se em diferentes transtornos digestivos de maior ou menor intensidade, como já vimos anteriormente (dores, vómitos, náuseas, perda de apetite, gases, etc.). Apesar de as patologias graves não serem muito comuns, o cancro do cólon é a que se manifesta com maior frequência. 34 ENZIMA MEDITERRÂNICA 10 conselhos básicos para cuidar do aparelho digestivo 1. Comermos só quando temos apetite. Apesar de também não ser aconselhável saltar as principais refeições, pois para o seu correto funcionamento o organismo necessita do equilíbrio entre o consumo de energia e a ingestão de alimentos para a repor. Também é recomendável fazermos, de vez em quando, jejuns controlados, à base de chás ou sumos de fruta. 2. Nunca ficarmos com a sensação de enfartamento. Devemos comer moderadamente e com calma. 3. Desfrutarmos da comida. Devemos apreciar o odor, a cor e o sabor de cada alimento. Não devemos abusar das gorduras nem dos fritos. 4. Mastigarmos bem os alimentos. É conveniente formarmos uma papa na boca, embrulhando todos os alimentos em saliva antes de os engolirmos. Não nos esqueçamos de que as enzimas começam a atuar logo na primeira fase da digestão. 5. Prepararmos pratos que nos ajudem a fazer bem a digestão. Consumir os alimentos que nos façam sentir melhor e combinar um pouco calórico (os vegetais) com um mais energético (proteínas, cereais, etc.). Também é preferível optar por uma dieta composta essencialmente por alimentos crus (com enzimas), diminuir a proporção de alimentos cozinhados (sem enzimas) e, se necessário, complementar o regime com suplementos enzimáticos. 6. Devemos consumir sopas e caldos na primavera e no outono e gaspachos e sopas frias de alho e amêndoa no verão. Há que incluir também caldo verde ao longo de todo o ano. Como os alimentos que entram nas sopas e nos caldos são cozinhados, não contêm enzimas. Uma boa forma de as integrarmos é acrescentando cogumelos crus picados. 7. Compota de maçã. Com um pouco de limão, é um bom remédio para o alívio do mal-estar digestivo. Em caso de diarreia, é recomendável comer raspas de maçã. 35 DRA. MONTSE FOLCH 8. Infusões. Devem ser variadas, consoante a altura do dia, a estação do ano e a nossa disposição. Variedades: orégão, tomilho, poejo, lúcia-lima ou camomila. Os chás com propriedades digestivas (como os de camomila ou poejo), por exemplo, são bons substitutos para o café, depois das refeições. O chá de tomilho, por sua vez, é perfeito contra o catarro, pelo que o seu consumo é mais frequente no inverno, e o de canela é conhecido pelos seus efeitos afrodisíacos. 9. Pão e arroz integrais. São fontes de vitaminas do grupo B e de fibras, que ajudam a fortalecer o sistema nervoso e a manter o funcionamento ótimo dos intestinos. 10. Probióticos. Favorecem o desenvolvimento das bactérias intestinais benéficas, tal como os produtos lácteos fermentados (iogurte; kéfir, também conhecido como iogurte búlgaro, etc.) e o chucrute. Outras fontes de probióticos são o tempeh (produto alimentar resultante da fermentação da soja, habitualmente usado como substituto da carne nas dietas vegetarianas), algumas bebidas à base de soja e o miso (massa aromatizada, de origem japonesa, obtida através da fermentação de sementes de soja e/ou cereais com sal marinho). Soluções naturais para os problemas digestivos mais comuns Muitas vezes, os problemas digestivos mais comuns podem ser solucionados adotando hábitos quotidianos mais saudáveis, como aumentar a quantidade de fibra na dieta, praticar exercício físico, hidratar o corpo corretamente ou respeitar planos alimentares. Um dos problemas digestivos mais comuns é, sem dúvida, a prisão de ventre. As estatísticas são espantosas. Segundo a Fundação Espanhola do Aparelho Digestivo (FEAD), um em cada cinco espanhóis é afligido por este tipo de problema. Este transtorno ocorre duas vezes mais nas mulheres do que nos homens, e três vezes mais nos idosos. Deve-se, quase sempre, a dietas pobres em fibra (o tipo de alimentação é o principal responsável por este problema, juntamente com o estilo de vida sedentário e a negligência face ao chamamento da Natureza, i.e., a repressão da necessidade de evacuar). Os sintomas podem ser: desconforto, sensação de mal-estar no baixo-ventre, falta de apetite, dor de cabeça, etc., e este problema é agravado pelo stresse. 36 ENZIMA MEDITERRÂNICA O tratamento comum engloba: — A mudança para uma dieta rica em fibra, com: ■ Farelos de aveia ou de trigo ■ Legumes (voltar aos pratos de colher) ■ Arroz, massa e pão integral ■ Quivis (2 por dia) ■ Ameixas secas (2 ou 4 por dia) — Se necessário, pode-se recorrer a laxantes mecânicos (ricos em fibras solúveis e não solúveis) — que atuam absorvendo a água e, consequentemente, aumentando o volume das fezes, o que favorece os movimentos de evacuação —, como os seguintes: ■ Sementes de linho ■ Sementes de zaragatoa (Plantago psyllium) ■ Sementes de tanchagem (Plantago major) ■ Sementes de sene-de-alexandria (Plantago ovata) Os produtos abaixo são fáceis de encontrar em ervanárias e parafarmácias, tal como os laxantes irritativos, que só devemos tomar em situações pontuais: ■ Frângula (Frangula alnus) ■ Cáscara-sagrada (Rhamnus purshiana) ■ Folhas de sene (Cassia angustifolia) — Beber/tomar bastantes líquidos: água, chá, caldos, sopas, purés, etc. — Tomar repositores da flora bacteriana intestinal, como o iogurte, o kéfir, etc. Enzimas para aumentar a imunidade Alguns estudos científicos identificam dois pontos de partida comuns à maior parte das doenças. Em primeiro lugar, o défice de enzimas ou a malnutrição, em conjunto com a subjacente predisposição genética; em segundo lugar, a exposição do organismo a carcinogéneos, a bactérias, à 37 DRA. MONTSE FOLCH radiação, à poluição e a um vasto leque de elementos prejudiciais à saúde de qualquer ser vivo. O que se passa com esta segunda horda de invasores do sistema imunitário, que são, basicamente, catalisadores de vários tipos de doenças? Apesar de não garantir a cem por cento o desenvolvimento de nenhum problema de saúde, a exposição a estes agentes tóxicos aumenta, efetivamente, o risco em termos estatísticos. Porém, nem todos os fumadores contraem cancro do pulmão, por exemplo, nem todas as pessoas com níveis elevados de colesterol sofrem de problemas cardíacos. Na verdade, as mesmas condicionantes podem despoletar respostas diferentes em pessoas diferentes. Vejamos o exemplo do acidente nuclear de Fukushima e os respetivos efeitos na população que vivia nas imediações desta central nuclear. Dois anos após esta catástrofe, os primeiros testes feitos a cento e trinta mil crianças da zona revelaram números aterradores: 40% das crianças evidenciavam os primeiros sinais de cancro da tiroide1, e prevê-se que venha a surgir uma infinidade de doenças degenerativas ao longo da próxima década. O que pretendo dizer é que, perante as mesmas circunstâncias, seis em cada dez crianças não evidenciam, atualmente, nenhum indicador cancerígeno (enquanto os outros quatro já revelaram indicadores tumorais), apesar de os médicos não poderem ter certezas quanto à forma como os seus sistemas imunitários reagirão à acumulação de radiações com o passar do tempo. Portanto, se os alimentos processados se revelam, sem qualquer dúvida, deficitários em enzimas e os seus efeitos a longo prazo no organismo ainda estão por verificar, sendo que o panorama não melhora quando avaliamos os agentes externos nocivos — ou mesmo tóxicos — que deterioram a nossa saúde, para além do envelhecimento natural, que opções nos restam? Temos de descobrir como tirar o máximo proveito da barreira protetora que nos é fornecida pela mãe Natureza: o sistema imunitário, estreitamente relacionado com a nutrição. No que se refere a isto, diversos estudos clínicos apontam a nutrição correta como o nosso melhor aliado na defesa da saúde e na prevenção da doença. No entanto, quando falamos de nutrição, não devemos referir-nos apenas ao que comemos, mas também ao estilo de vida que levamos, aos nossos hábitos de consumo (álcool, drogas, ingestão de gorduras, etc.), à limpeza do organismo (controlando o equilíbrio da flora intestinal e garantindo uma evacuação regular), etc. Podemos identificar os inimigos mais comuns do sistema imunitário como sendo as toxinas, a contaminação, a radiação e o stresse crónico (para Fonte: <www.express.co.uk/news/world/387357/Two-yearsafter-the-Fukushima-nuclear-disaster-is-Japan-facing-a-cancer-time-bomb>. 1 38 ENZIMA MEDITERRÂNICA além de vírus, bactérias, etc.). No que se refere ao stresse, costumava constituir uma resposta natural do organismo a situações de perigo, até o nosso estilo de vida atual o transformar no nosso estado permanente. O stresse implica a segregação de adrenalina, o que, por sua vez, leva o coração a bater mais depressa, aumenta a tensão arterial e gera descargas de açúcar no sangue. Toda esta reação química é uma estratégia natural para que os animais reajam rapidamente, por exemplo, a uma ameaça de morte representada pela presença de um predador. Porém, no caso do ser humano, existem estudos que levam à conclusão de que esta segregação de adrenalina acontece nas mais diversas situações ao longo do dia, por influência da ansiedade, da irritação ou da tensão nervosa, com a consequente — e desnecessária! — hipertensão. Por outras palavras, o facto de abusarmos desta forma de um sistema de defesa natural acaba por prejudicar a nossa saúde. Perante este quadro, a sociedade atual precisa, mais do que nunca, de tudo o que as enzimas podem fazer por ela. Não sabemos o que nos reserva o futuro (em termos de doenças, lesões, etc.), mas podemos contribuir para uma esperança de vida mais alargada e com maior qualidade mediante uma alimentação à base de enzimas. Sabemos que as nossas reservas de enzimas são finitas e que está nas nossas mãos ajudarmos o corpo a repor as que vai consumindo, principalmente através da digestão. A questão é que, tal como já vimos, o corpo humano dá prioridade a este processo em relação a todas as outras funções vitais, de forma que, se tiver de consumir muitas enzimas para digerir os alimentos, as possibilidades de defesa do nosso metabolismo serão reduzidas. Por outras palavras, temos de facilitar a «pré-digestão» ingerindo alimentos ricos em enzimas, pois a recompensa imediata é um sistema imunitário forte. Em que alimentos se encontram as enzimas? Uma dieta rica em enzimas compreende, basicamente, alimentos crus (de origem vegetal e animal), não processados e não oxidados. Recordemos que o processo de oxidação dos alimentos ocorre quando estes se encontram expostos ao ar e as suas moléculas iniciam a decomposição, pelo que o seu potencial enzimático vai diminuindo progressivamente. Um exemplo excelente deste processo é o de um quarto de maçã exposto aos elementos climáticos. Felizmente, a dieta mediterrânica é rica em produtos naturais que podem ser consumidos crus e que, por isso, conservam as suas enzimas, como é o caso da fruta, dos vegetais, das sementes, do azeite, dos frutos secos, dos produtos lácteos, etc. 39 DRA. MONTSE FOLCH A forte presença de enzimas nestes alimentos simplifica bastante a sua digestão. Mas o que acontece quando cozinhamos a comida? As enzimas são um componente assaz delicado, e só atuam com a temperatura e a humidade adequadas. No que se refere especificamente à nossa alimentação, o principal inimigo é o calor, que faz com que os alimentos comecem a degradar-se a temperaturas acima dos 40ºC e apodreçam completamente a temperaturas superiores a 52ºC. É por isso que se recomenda a ingestão de enzimas cruas, pois são digeridas três vezes mais depressa do que as cozinhadas, não exigem demasiado esforço digestivo ao organismo e não deixam resíduos que possam causar problemas de saúde. Segundo alguns nutricionistas, as únicas enzimas necessárias ao processo digestivo são as que o próprio corpo sintetiza. Na obra Fisiologia Médica, William F. Ganong afirma que as glândulas salivares e da língua, o pâncreas e as mucosas do estômago e do intestino delgado segregam vinte e cinco enzimas digestivas. Mas se a Natureza dotou os alimentos crus da capacidade de se «digerirem a si próprios» e, em princípio, o nosso organismo não precisa de alimentos cozinhados, não faz sentido existirem estas vinte e cinco enzimas digestivas. A nossa dieta difere da dos nossos antepassados no aperfeiçoamento dos métodos e utensílios para cozinhar os alimentos. Há várias décadas, os nossos antepassados usavam métodos irregulares como a assadura ao ar livre ou a aplicação de pedras quentes sobre a comida, os quais não distribuíam o calor uniformemente, o que fazia com que uma pequena parte das enzimas não sofresse o impacto direto do fogo. A verdade é que, se o ato de cozinhar os alimentos fosse uma coisa assim tão nociva para a saúde, a humanidade há muito que se teria extinguido e jamais conseguiria aumentar a sua esperança de vida. Por outro lado, apesar de desfrutarmos de uma maior esperança de vida, a ocorrência e o aumento do número de doenças degenerativas e destrutivas leva-nos a questionar o nosso estilo de vida, nomeadamente o que comemos e como comemos. Como já foi dito, as enzimas encontram-se em todos os seres vivos, sejam eles animais ou vegetais. Será que isto significa que a nutrição com base em enzimas se reduz, necessariamente, a um menu composto por alimentos crus? Não. Na verdade, é difícil mantermos uma dieta crua e equilibrada por causa da qualidade dos alimentos que temos à nossa disposição. Não podemos esquecer-nos de que a indústria alimentar descobriu formas de aumentar a produção modificando geneticamente os animais e as plantas. Além disso, a produção alimentar encontra-se condicionada por normas de higiene e segurança atualmente necessárias, que, no entanto, possibilitam que a carne 40 ENZIMA MEDITERRÂNICA que ingerimos, por exemplo, provenha de animais que ingeriram sistematicamente os mais diversos antibióticos, hormonas e complementos nutricionais. Outra pecha, se assim se pode dizer, da alimentação com base em enzimas é o facto de os alimentos que consumimos mais vezes crus (fruta, saladas e alguns vegetais) conterem um baixo nível de enzimas. Neste sentido, os alimentos pouco calóricos costumam constituir fontes ricas em vitaminas e minerais, mas, por outro lado, são bastante pobres em enzimas, que se concentram mais e com maior variedade (incluindo os três tipos básicos) nos alimentos mais ricos em calorias, que costumam ser os que têm de ser cozinhados (batatas, carne, pão, etc.). Também não podemos pensar que conseguiremos alcançar algum equilíbrio com a combinação que costumamos fazer de alimentos crus e cozinhados. Tomemos como exemplo um menu saudável: salada (alimento cru) como entrada, e bife grelhado (alimento cozinhado), acompanhado de uma batata ou um tomate assados no forno (mais alimentos cozinhados). Nesta proposta, as poucas enzimas da salada pouco contribuiriam para a pré-digestão, pelo que o corpo teria de recorrer à sua própria produção para extrair dos alimentos desta refeição os nutrientes necessários. Não obstante — e apesar das «críticas» que acabo de fazer —, dispomos de mais duas opções para conseguirmos extrair o máximo de enzimas dos referidos alimentos. Em primeiro lugar, podemos consumir produtos orgânicos que tenham sido colhidos, pescados ou sacrificados recentemente, mediante garantia de produção controlada nos dois últimos casos. Desta forma, dispomos de alimentos que podemos consumir com segurança e que sofreram um nível de oxidação muito baixo. Mas ainda falta pô-los no prato. Quanto à fruta e às verduras (que apresentam poucas enzimas, não o esqueçamos), não apresentam problemas, pois podem ser consumidas cruas. Porém, a carne e o peixe costumam ser cozinhados, e já vimos que os métodos de cocção convencionais, cujas temperaturas ultrapassam os 40ºC, degradam (ou destroem completamente) as enzimas. Alguns nutricionistas afirmam que se limitarmos a cocção à superfície externa do naco de carne ou do peixe — deixando o interior quase cru —, conseguiremos aproveitar boa parte do potencial enzimático destes alimentos. A segunda opção é mais convencional, pois consiste em continuarmos a cozinhar e a comer como já fazemos, mas acrescentando à nossa dieta as enzimas sintéticas necessárias para colmatarmos o défice de enzimas alimentares de origem natural. Não obstante, devemos optar por esta alternativa apenas sob orientação médica, para que o profissional de saúde possa determinar o nosso ponto de partida em termos de enzimas, ou seja, 41 DRA. MONTSE FOLCH a forma como o nosso organismo as consome e, sobretudo, como as elimina. Não convém obrigarmos os nossos órgãos internos (sobretudo os rins, o fígado e o pâncreas) a um esforço desmedido para eliminarem uma quantidade excessiva de enzimas. Optando pela dieta tradicional, as percentagens ideais de consumo de alimentos crus e cozinhados devem situar-se, respetivamente, nos 75% e 25% (a percentagem maior atuará ao nível da pré-digestão dos alimentos consumidos). Para chegarmos aos 75%, podemos aumentar o consumo de alimentos como bananas, ananases, papaias, uvas, morangos, figos, abacates e tâmaras (atenção, porque estes frutos também são mais calóricos, à exceção dos ananases e das papaias). Também podemos comer grãos, frutos secos e sementes germinadas e cruas, desde que livres de inibidores de enzimas, pois estes levam a que se desenvolvam apenas nas condições ideais em termos de solo e de humidade. Portanto, se queremos consumir sementes que se encontrem no seu máximo esplendor enzimático, devemos escolher as que já tenham germinado. Caso contrário, se as consumirmos em quantidades consideráveis, teremos de suportar uma digestão difícil, apenas com a ajuda das enzimas produzidas pelo nosso organismo (ler o capítulo intitulado «Receitas com enzimas»). Ananás e papaia, fontes de enzimas Existem dois frutos que fogem à norma do fraco equilíbrio entre enzimas e calorias: o ananás e a papaia. São dois frutos pobres em calorias mas com propriedades enzimáticas extraordinárias. A papaia é a fonte natural da papaína, uma substância que, na sua ação digestiva, é semelhante à pepsina, e é capaz de digerir uma quantidade de proteínas equivalente a duzentas vezes o seu peso. Para além disto, regula o trânsito intestinal (atua como um laxante suave) e acelera a cicatrização externa e interna (úlceras gástricas). O ananás, por seu turno, contém bromelina, uma enzima também muito potente no que se refere à transformação das proteínas. Por este motivo, é aconselhável a pessoas com digestão lenta, estômago «pesado» ou atonia gástrica. 42 ENZIMA MEDITERRÂNICA Os cogumelos também são uma excelente fonte natural de enzimas. As cozinhas chinesa e japonesa usam frequentemente estes fungos em grande parte das suas receitas. A família dos Aspergilli, mais concretamente a espécie Aspergillus oryzae, fornece as enzimas necessárias para a digestão de produtos lácteos, proteínas, hidratos de carbono e gorduras. Para além disto, também é do fungo Aspergillus oryzae que se extraem diversas enzimas para utilização alimentar e farmacêutica. E a indústria alimentar também usa as enzimas como aditivos para, por exemplo, alterar determinados sabores, evitar que um sumo fique turvo, etc. Historicamente, o Japão e a Dinamarca foram os primeiros grandes produtores de enzimas para uso industrial. As enzimas permitem a substituição de processos químicos (de maior impacto ambiental) por processos naturais, apesar de estes serem induzidos pelo Homem. Neste caso, as enzimas são obtidas a partir de tecidos animais ou vegetais ou por processos de fermentação com micro-organismos selecionados. São utilizadas em diversos setores industriais, desde o têxtil ao farmacêutico, passando pela indústria alimentar, em que entram na composição do pão, do queijo, do vinho e até dos gelados. Suplementos enzimáticos que podemos encontrar facilmente Quando a função digestiva é alterada por falta de enzimas, podemos recorrer aos suplementos enzimáticos para facilitar a digestão, sobretudo se comemos muitos alimentos cozinhados. É possível adquirir estes suplementos enzimáticos de origem vegetal em estabelecimentos de venda de alimentos, por correio, online e em farmácias e parafarmácias. Mas apesar de dispormos de um vasto leque de opções de aquisição de enzimas, recomendo sempre que as pessoas consultem os seus médicos para que estes lhas receitem. Estes profissionais de saúde indicar-nos-ão a(s) enzima(s) que mais se adequa(m) ao nosso caso e dir-nos-ão quais são as de melhor qualidade. 43 DRA. MONTSE FOLCH Para além de facilitarem a digestão, os suplementos também podem ajudar-nos a combater os sintomas mais comuns do défice de enzimas, dos quais já falei anteriormente (gases, arrotos, acidez, alergias, intolerâncias, etc.). Estes défices são mais frequentes nas pessoas que padecem de doenças crónicas — como gastrites, inflamações do cólon, hérnias de hiato, Doença de Crohn e desequilíbrios alimentares — e tomam muitos medicamentos. Por exemplo, quem padece de insuficiência pancreática (pancreatite crónica) terá mais problemas principalmente aquando da ingestão de gorduras. Também sofrerá um défice de lípase pancreática, a qual não tem substitutos, e já vimos quais são as consequências da insuficiência de lípase: a gordura não pode ser hidrolisada e é eliminada pelas fezes (num processo a que se dá o nome de esteatorreia), juntamente com as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K). Para além disto, quem sofre destes problemas também absorverá poucos aminoácidos, o que levará à diminuição da quantidade de proteínas corporais e, consequentemente, a uma eventual perda de peso. Existem preparados com enzimas pancreáticas cobertos, para que estas enzimas não sejam destruídas no estômago e possam chegar ao intestino para desempenharem a sua função. Estes preparados evitam o esforço excessivo do pâncreas e aumentam a quantidade de enzimas disponíveis para os processos metabólicos. O efeito, os componentes, a quantidade do produto e a sua apresentação variam em função do suplemento enzimático que adquirimos. É verdade que existe uma grande variedade destes suplementos, mas não podemos esquecer que cada um desempenha uma ação específica e não pode desempenhar mais do que uma só função. Por exemplo, durante a digestão, a PTIALINA, que é a enzima salivar, decompõe o amido até ao seu componente mais simples, a glucose. Depois, entram em ação as PROTÉASES e a LÍPASE para decompor as proteínas e as gorduras, respetivamente. Uma vez assimilados estes elementos, outras enzimas encarregam-se de transformar estes produtos simples em tecidos orgânicos, como pele, ossos, etc. No que se refere ao doseamento, se consumirmos a quantidade recomendada, não correremos risco de intoxicação. Mesmo quando ingeridas em grandes quantidades, estas enzimas não devem provocar efeitos secundários, porém, como medida de precaução, a sua toma não é recomendada a mulheres grávidas ou lactantes. Pela sinergia que produz, uma boa combinação seria, por exemplo, tomar enzimas com fibras e probióticos, bem como betacarotenos (precursores 44