PROFESSORES DE FILOSOFIA DE ENSINO MÉDIO: FORMAÇÃO, SABERES E PRÁTICA DOCENTE GODÓI, Priscylla Krone Martins Coratti Sarsano de1 - UniSantos Grupo de Trabalho “Instituições de Ensino: políticas e práticas pedagógicas”/CNPq2 Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo relata a pesquisa filosófico-educacional que investigou sobre os saberes docentes dos professores de Filosofia do Ensino Médio, de escolas públicas e privadas, no estado de São Paulo, dentro de suas necessidades formativas e práticas. O objetivo desse estudo foi identificar quais saberes são necessários na formação e na prática dos professores de Filosofia do Ensino Médio. Quanto aos seus procedimentos metodológicos, a pesquisa está dividida em três momentos: no primeiro, realizamos uma contextualização histórica sobre a presença da Filosofia no currículo brasileiro com ênfase histórica e restrita na análise de variados documentos legais, em destaque: DCNEM, PCNEM, PCN+ e OCNEM (BRASIL, 1998, 1999, 2002 e 2006); no segundo momento, inferimos sobre a constituição da identidade do professor de Filosofia e os saberes na significação da prática educativa onde nos atemos em Cunha (1997), Aspis (2004), Abdalla (2006), Cerletti (2009), Rios (2010a, 2010b) e Tardif (2012); e, no terceiro momento, vinculamos uma pesquisa realizada com análise de conteúdo apoiada em (FRANCO, 2008) por meio do questionário realizado com vinte e cinco professores de Filosofia, de Ensino Médio, relacionados em seis eixos temáticos que descrevem a formação do professor, o conhecimento que possui sobre os documentos legais que amparam o trabalho docente, a percepção da docência, a percepção da própria realidade docente, as ações de sua prática e a formação continuada. Os resultados apontaram para: 1º variáveis da formação profissional teórica e a efetiva prática vivenciada; 2º constituintes da identidade profissional do professor de Filosofia, que visam a subjetividade e a alteridade; 3º as relações inferidas entre os saberes docentes que constituem a formação, a prática e a experiência. Palavras-chave: Filosofia. Professores. Formação. Saberes. Prática. 1 Professora de Filosofia no Ensino Fundamental e no Ensino Superior de História da Educação, Filosofia da Educação e Prática de Ensino e Estágio Supervisionado de Filosofia. Mestranda em Educação pela Universidade Católica de Santos (UniSantos). E-mail: [email protected]. 2 Grupo de Trabalho “Instituições de Ensino: políticas e práticas pedagógicas”/CNPq, do Programa de Mestrado em Educação da UniSantos. 11840 Introdução Este documento apresenta os dados inferidos sobre a pesquisa dos saberes dos professores de Filosofia do Ensino Médio, no que diz respeito às necessidades advindas desde sua formação e da sua efetiva prática docente após a definição do ensino de Filosofia como obrigatoriedade (BRASIL, 2008). Sendo estabelecida essa relação entre o saber-ser e o saber-fazer, que é advinda das necessidades que provêm da formação docente e de sua prática estabelecemos, em nossa pesquisa, uma investigação balizada em três momentos. No primeiro, nos centramos em contextualizar o que se requer no ensino de Filosofia presente nos referenciais teóricos e nas publicações legais indicadas para a Filosofia no Ensino Médio (BRASIL, 1998, 1999, 2002, 2006) e no estudo da Proposta Curricular para o Ensino de Filosofia, do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008). A seguir, nos atemos à constituição da formação e da prática docente do professor de Filosofia referendando a identidade e os saberes na significação da prática educativa presentes em Cunha (1997), Aspis (2004), Abdalla (2006), Cerletti (2009), Rios (2010a, 2010b) e Tardif (2012). Por fim, discorreremos sobre a pesquisa investigativa realizada com professores de Filosofia, no Ensino Médio, das redes privada e pública do Estado de São Paulo enfocando a análise de seis eixos temáticos, que dizem respeito: à trajetória de formação de cada sujeito; conhecimento sobre os documentos que amparam o trabalho do professor; a percepção da docência mediante uma análise da prática do professor referendada na formação recebida; a percepção da sua realidade docente, que integra a própria prática do professor, estabelecendo a construção de uma identidade; as ações de sua prática onde os professores relatam e descrevem exemplos sobre suas experiências em sala de aula; e, por fim, sobre a formação continuada, explicitando como se dá e o que se torna fundamental e mais evidente para cada professor. Referencial Teórico A presença da Filosofia no currículo do Ensino Médio foi efetivada a partir de 2008, com a sanção da lei nº 11. 684 (BRASIL, 2008), que alterou o artigo 36, da Lei de Diretrizes e Bases/LDB 9394/96 (BRASIL, 1996). Tal efetivação pode-se pressupor que já era esperada 11841 devido às diversas publicações e estudos que citavam e referendavam o ensino de Filosofia, que estavam sendo embasados por meio das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio, Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, Parâmetros Curriculares Nacionais + e as Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 1998, 1999, 2002 e 2006). A publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 1998) se mostrou como uma tentativa de maiores esclarecimentos para o que se pretendia alcançar nesse referido nível de ensino uma vez que em seu escopo as diretrizes se apresentam extremamente filosóficas definindo todos os princípios, fundamentos e procedimentos que pensam seus elaboradores para regerem o ensino, atrelado aos valores de interesse social, os direitos e deveres, o respeito ao bem comum e a ordem entendida como democrática. Apresenta-se em seu décimo artigo a organização curricular por áreas e a presença da Filosofia e da Sociologia, que é demonstrada no terceiro artigo com os princípios da Estética, Política e Ética, que norteiam e direcionam, no nosso entender, as próximas publicações federais e estaduais, principalmente, no que diz respeito a essas disciplinas. Esses princípios se cumprem alicerçados na subjetividade diante do favorecimento da formação da identidade como bases, que buscam ser igualitárias, e no fortalecimento das relações interpessoais com aqueles que participam do processo educativo; uma vez que são colocados como norteadores de fundamentos e procedimentos que regem a organização pedagógica e curricular da escola devido ao favorecimento do desenvolvimento global do ser humano. Podemos inferir, diante do exposto, que a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, 1999) prolonga o discurso iniciado anteriormente; uma vez que faz menção à recomendação de que os conteúdos filosóficos fossem contemplados e organizados mediante o desenvolvimento de competências e habilidades a serem trabalhadas em cada indivíduo e, ao mesmo tempo, estimuladas pelo educador. Cumpre ressaltar, que os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1999, p. 26) entendem que as competências e habilidades norteiam a seleção dos conteúdos mais significativos, atribuindo capacidades ao professor para apropriação e transposição de conhecimentos em novas situações para que ocorra o aprendizado. Na sua apresentação, nos deparamos com a confirmação, que seria uma tentativa para o cumprimento da LDB (BRASIL, 1996), “é hora de retomar e atualizar a educação humanista, através de uma organização escolar curricular baseada em princípios estéticos, políticos e éticos” (BRASIL, 1999, p. 18). 11842 A área de Ciências Humanas e Tecnologia contempla as competências e habilidades a serem desenvolvidas em Filosofia, que são descritas dada a relevância da leitura de textos filosóficos de modo significativo, bem como a leitura de outros tipos de textos, que fomentam e subsidiam os debates argumentativos e as elaborações textuais escritas a fim de promover a articulação de conhecimentos filosóficos com diferentes discursos, conteúdos e produções culturais, demonstrando e estimulando toda hermenêutica sócio-cultural. Contudo, continuamos encontrando uma falácia entre o que se pretende na LDB (BRASIL, 1996), o que se estabelece nas DCNEM (BRASIL, 1998) e o que propõem os PCNEM (BRASIL, 1999) na seguinte questão: o que ensinar? E nessa dúvida metodológica ou talvez, histórica dada as circunstâncias de entrada e saída da Filosofia no currículo escolar, que para se ensinar, não partimos do nada ou do obscuro e os PCNEM (BRASIL, 1999), de certa forma, reconhecem isso e enfatizam: Sendo evidente que o filosofar não se produz no vácuo, mas se desenvolve a partir de conteúdos concretos, vale dizer, sobre textos e discursos concretos, uma primeira escolha se impõe: não é possível pretender que o aluno construa uma competência de leitura filosófica sem que ele se familiarize com o universo específico em que essa atividade se desenvolve, sem que ele se aproprie de um quadro referencial a partir dos conceitos, temas, problemas e métodos conforme elaborados a partir da própria tradição filosófica. (BRASIL, 1999, p. 102) São os itens referendados na citação acima, tais como: conceitos, temas, problemas e métodos, que são abordados na publicação do PCN+ EM: Orientações Curriculares Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2002). Tal documento registra que se trata de um facilitador da organização do trabalho da escola por meio de um diálogo com os professores de Filosofia ou como se refere aos filósofos-educadores. Denota-se, a partir da leitura desse documento, uma conversa direta com o professor, pois trata especificamente do trabalho de planejamento nas disciplinas das Ciências Humanas, com análises e recomendações para o desenvolvimento do projeto pedagógico da escola. Em 2006, tivemos a publicação das Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) que, dentre todos os itens descritos pelos documentos legais que a antecederam, organiza suas ações a fim de “apontar e desenvolver indicativos que pudessem oferecer alternativas didático-pedagógicas para a organização do trabalho pedagógico, a fim de atender às necessidades e expectativas das escolas e dos professores na estruturação do currículo do ensino médio” (BRASIL, 2006, p. 8). 11843 As OCEM levantam a discussão a partir dessa nova estrutura do Ensino Médio, para a revisão dos cursos de formação e preparação de professores de Filosofia partindo mais à frente, para a ampliação da pós-graduação. É notável, ainda, que nesse caminhar se estabelecem desde subsídios para definição dos temas e conteúdos a serem trabalhados, além do material didático a ser utilizado. São abordadas, assim, discussões sobre a busca de uma caracterização e significação para a Filosofia, os objetivos da Filosofia nesse nível de ensino, as competências e habilidades já referendadas no próprio PCNEM e PCN+ (BRASIL, 1999 e 2002), a sugestão mais aprofundada dos conteúdos a serem desenvolvidos para a elaboração de propostas curriculares, e a metodologia que expõe as técnicas mais utilizadas nas aulas, como também, as práticas pedagógicas da disciplina. São lícitas e de extremo reconhecimento de um documento legal, a importância e a validade atribuídas ao profissional devidamente qualificado, que: (i) solicita uma competência profissional específica, de sorte que os temas próprios da Filosofia devam ser determinados por uma tradição de leitura consolidada em cursos de licenciaturas próprios; (ii) solicita do profissional já formado continuidade de pesquisa e formação especificamente filosóficas; (iii) evita a gratuidade da opinião, com a qual imperariam docentes malformados, embora mais informados que seus alunos, suprimindo o lugar da reflexão e da autêntica crítica; e (iv) determina ainda o sentido da utilização de recursos didáticos e de quem pode usar bem esses recursos, de modo que sejam filosóficas as habilidades de leitura adquiridas. (BRASIL, 2006, p. 37-38) Publicações legais foram elaboradas para que o estudo e o preparo dos profissionais fosse maior incentivado. Com a inclusão da disciplina como obrigatória nos currículos do Ensino Médio em nível nacional, era necessária a elaboração de uma proposta pedagógica, que respeitasse as normas comuns já discriminadas e desenvoltas pelas DCNEM, PCNEM, PCN+ e OCNEM (BRASIL, 1998, 1999, 2002 e 2006), com relevância estadual. E, nesse sentido a elaboração de uma Proposta Curricular do Estado de São Paulo3 possibilitaria consagrar uma base curricular, alinhavando conteúdos, competências e habilidades, que fossem desenvolvidos como projeto pedagógico alinhado ao processo de formação docente. Há de se levar em conta que essa abordagem temática da Filosofia coaduna com as propostas federais a que já nos referimos. Entretanto, intensifica a possibilidade de abordagens realizadas pelo professor, como também, a ampliação dos referenciais, que circundam os objetivos sociais e culturais da educação. 3 A Proposta Curricular do Estado de Filosofia é um material de apoio didático, que conta com a Revista do Professor, Cadernos do Gestor, do Professor e do Aluno, que foram distribuídos a partir de 2009. 11844 Podemos observar que nesse contexto a disciplina de Filosofia estabelecendo sua presença na grade curricular inicia um processo de viabilizar o que se pressupõe quanto ao exercício da cidadania. Entretanto, enquanto disciplina, reverberam outras demandas, que são norteadas por questões filosófico-pedagógicas, pela utilização de materiais, metodologia e didática de ensino aplicada, formação inicial e continuada de professores. Em termos gerais, a formação do licenciado em Filosofia, não acontece apenas com o estudo das disciplinas, que integram os conhecimentos específicos filosóficos ou também denominadas anteriormente, como puras. Há uma integração entre essas disciplinas e aquelas que fazem parte do quadro pedagógico. Existe, para os professores em formação, um alicerce entre o que ensinar formado pelos conhecimentos das disciplinas filosóficas e o como, sustentado pelas disciplinas pedagógicas. Entende-se que ocorre, em cada profissional, uma construção ativa crítica, que podemos também chamar, de subjetiva, em que cada qual reflete sobre o que lhe apraz enquanto ensino filosófico e se constitui enquanto profissional. Como afirma Cerletti (2009, p.9): Trata-se, muito mais do que ocasionais desafios pedagógicos, de verdadeiros questionamentos filosóficos e políticos. A docência em filosofia convoca os professores e as professoras como pensadores e pensadoras, mais do que transmissores acríticos de um saber que supostamente dominam, ou como técnicos que aplicam estratégias didáticas ideadas por especialistas para ser empregadas por qualquer um, em qualquer instância. A diversidade reflexiva e questionadora da Filosofia é, então, caracterizada pelo autor citado, como um problema filosófico do ensino de Filosofia. Esse sujeito passa a se constituir professor desde o início dos seus estudos, das experiências vividas que acabam sendo internalizadas e transformadas em pensamentos e ações de como ensinar. Abdalla (2006, p. 31) vai utilizar o termo necessidades pessoais ou subjetivas para referir-se ao professor, enquanto pessoa na composição de suas experiências de vida, extraindo, por outro lado, as necessidades profissionais e intersubjetivas, que se referem mais propriamente ao processo de autoconhecimento e conhecimento do outro. O constituir-se do professor é um movimento subjetivo; entretanto, é intrínseco nas relações que estabelece com aqueles que o rodeiam. Trata-se, então, de um processo de alteridade no qual há uma abertura do outro e de si mesmo. Esse laço de construção da identidade também é referendado por Rios (2010b, p. 121) como uma permanente construção 11845 implicada por um reconhecimento recíproco do “eu’ e do “outro”. Visões que, a nosso entender, são fundamentais ao professor enquanto aprendiz e docente. Assim, podemos afirmar que qualquer professor como também, no caso do professor de Filosofia, vivencia e se forma à medida que interage com os demais, onde está aberto e experiencia a diversidade e o múltiplo nas suas relações, seja nos espaços escolares e nas relações humanas. O agir reflexivo de um professor de Filosofia é sustentado por uma série de elementos que vão se constituindo no processo dialógico, seja com seus pares e alunos. Em alguns momentos, reafirmamos e percebemos que os professores de Filosofia chegam a contagiar seus pares, depositando subliminarmente uma inquietude e o refletir constante de como ensinar e o que deve ser ensinado. Para Aspis (2004), as aulas de Filosofia são locais onde ocorrem experiências filosóficas, que são construídas nessa relação professor-aluno e, portanto, ensinoaprendizagem. As mesmas inquietações reflexivas, que a Filosofia provoca em seus professores, são experimentadas pelos alunos. Desse modo, afirma: As aulas de filosofia, como lugar de experiência filosófica, têm como objetivo oferecer critérios filosóficos para o aluno julgar a realidade por meio da prática do questionamento filosófico e da construção de conceitos, por meio do exercício da criatividade e avaliação filosóficas. Assim, além dos critérios e do modo de pensar da indústria, do consumismo ou da mídia, além dos critérios e do modo de pensar da tradição e da ciência, o aluno passará a dispor dos critérios e do modo de pensar da filosofia para compor seu pensamento de forma autônoma, pois autoconsciente e, portanto, metacognitivo. (ASPIS, 2004, p. 310) Não há como negar que esse professor vai além do ensinar Filosofia, está preocupado com o desenvolvimento do próprio pensar de seu aluno, busca em suas aulas uma prática intelectual, enfatizando seu potencial cognitivo no estímulo e desenvolvimento do pensar. Sendo o empreendedor de reflexões e discussões filosóficas, o professor de Filosofia também se torna um provocador, que possui a chave de um espaço singular e típico para vivenciar o debate e prática dialógica. Assim, entendemos que, diante da diversidade de movimentos, da empregabilidade de ações, o ambiente escolar permite que esse professor possa ser considerado um super-herói e que possa ser e estar na profissão (ABDALLA, 2006), agindo na sua função enquanto professor de Filosofia, em que pode estabelecer uma linha tênue entre a necessidade da aplicação prática de sua formação e função social. 11846 Nesse processo incerto sobre a possibilidade do ser professor de Filosofia e a realidade do estar professor de Filosofia na sala de aula, sem é claro, nos referirmos à posição da disciplina de Filosofia, encontramos a preocupação com os professores, no que se refere à formação e, consequentemente, à prática. Para esse entendimento, encontramos no estudo de Tardif (2012), os saberes que são apresentados desde a formação, bem como, na descrição da experiência docente e prática docente. Nesse aspecto, entendemos que há um conjunto que tange aspectos individuais e sociais, de experiências individuais e coletivas, que se contextualizam e, de certa forma, se completam, incorporando uns aos outros. Os saberes dos docentes são entendidos dentro de seu contexto de vida e profissional. Assim como já explicitamos na formação do professor, que apresenta uma incorporação na sua subjetividade, uma vez que antes da sua própria atuação, enquanto docente, ele já está imerso nesse mesmo universo, adquirindo a formação de seu saber, que é o espaço escolar. Tal fato expõe a preocupação de Tardif (2012, p.35), ao enfatizar a integração dos processos de formação, que adiante são coordenados por agentes educacionais. Os saberes estão integrados devido à coordenação dos agentes educacionais; entre eles, o próprio professor, que se torna um dos responsáveis. Desse modo, o saber do professor cumpre uma característica cultural, na formação integral, bem como na transmissão e produção de outros saberes, que estão ligados à competência técnica e pedagógica. Ocorre um processo relacional entre os professores e seus próprios saberes que integram sua prática. Além disso, os saberes docentes são classificados, por Tardif (2012, p. 36), como saberes da formação profissional, disciplinares, curriculares e experienciais. Assim, o autor caracteriza os saberes da formação profissional “como um conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores (escolas normais ou faculdades de ciências da educação)”. Esses saberes são destinados propriamente à formação, e estão ligados à prática científica e à prática docente. Nos cursos de formação de professores de Filosofia, a produção científica fica imersa nos estudos das obras filosóficas, na participação em congressos e na própria produção de artigos, que estão ligados à iniciação científica. A prática docente é, assim, incorporada pela realização de estágios e projetos em comunidades, que visam à formação aliada aos conteúdos trabalhados pelas disciplinas pedagógicas. 11847 Tardif (2012, p. 37) ainda salienta que esses saberes conduzem o “arcabouço ideológico à profissão e, por outro, algumas formas de saber-fazer e algumas técnicas”. E o conhecimento produzido por meio desse saber acaba se transformando em prática científica articulada com a prática docente por meio da formação inicial ou contínua dos professores. A caracterização desse saber nos remete à discussão se ensinamos Filosofia ou ensinamos a filosofar. Nesses termos, a perspectiva ideológica apresentada por cada professor pode ser vista propriamente na análise de sua prática. Na formação acadêmica o professor ainda encontra os saberes disciplinares, que dispõem a nossa sociedade na forma de disciplina, transmitidos pelos cursos e departamentos universitários independentes das faculdades de educação e dos cursos de formação de professores. Esses saberes “emergem da tradição cultural e dos grupos sociais produtores de saberes” (TARDIF, 2012, p. 38). Em relação aos estudos filosóficos, entendemos que esses saberes são aqueles provenientes das disciplinas chamadas de puras (CERLETTI, 2009). Ou seja, as disciplinas que fazem parte do estudo específico do curso de Filosofia. Mesmo com o estudo dentro da formação específica, o próximo grupo, elencado por Tardif (2012), são os saberes curriculares, que correspondem aos “discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelos da cultura erudita e de formação para a cultura erudita” (TARDIF, 2012, p. 38). Esse saber se refere aos programas escolares que os professores devem conhecer. Para o professor de Filosofia, esses saberes denotam o acesso e integração do que e como ensinar. Por fim, Tardif (2012) nos apresenta os saberes experienciais que são aqueles que provêm da prática docente cotidiana. São “adquiridos através da experiência profissional constituem os fundamentos da sua competência” (TARDIF, 2012, p. 48). Esses saberes não provêm das instituições e nem da formação curricular, são formados pela subjetividade dada, pela interpretação, compreensão e orientação de cada professor. Nessas circunstâncias, o que é evidenciado, nesse saber, é a relação dos professores com sua prática e como ela se revela, visto que esses saberes são aqueles que brotam da experiência individual e coletiva, na sua relação entre o saber-fazer e o saber-ser. O saber-ser e saber-fazer, descritos por Tardif (2012), nos remete à pesquisa desenvolvida por Cunha (1997, p.105-106) sobre os bons professores, que, na organização de 11848 seus dados, elencou três referenciais que orientam nosso pensamento sobre a prática dos docentes. O primeiro referencial se refere às relações estabelecidas pelo professor com o ser e o sentir. Uma vez imbuído dos saberes experienciais, ou seja, da sua prática, o professor tem a possibilidade de elencar as situações que lhe são necessárias e, nesse aspecto, recorremos às considerações feitas por Abdalla (2006) sobre o (trans) formar sua ação. O segundo item diz respeito às relações estabelecidas com o próprio saber, em que os saberes disciplinares e curriculares se entrecruzam para a produção de conhecimento, na relação entre teoria e prática. E, por fim, o terceiro referencial são as relações estabelecidas com o fazer, em que o professor mede sua execução, sua própria ação. Os saberes docentes integram as relações inferidas pelos professores dentro do seu sentir – saber – fazer, a fim de provocar e significar o sentido do ser e estar na profissão, que permite ao professor mobilizar as informações, que possui, a fim de mediar, também, sua aprendizagem. Entendemos que são os saberes, por vezes, desconhecidos pelos próprios professores, que projetam as ações reflexivas que permeiam a tríade - sentir – saber – fazer - desse profissional que, por vezes, age na incerteza, mas busca referenciais para sua prática educativa, validados pela execução dentro de sua profissão. Saberes que, de acordo com Abdalla (2006, p.95), “se desdobram em objetivos sociais e pedagógicos, nas especificidades de conteúdo e metodologias, em um saber escolar (grifos da autora)”. Saberes, que ora se “estruturam/organizam o trabalho docente”, que fazem “refletir sobre a nossa prática” e o nosso próprio conhecimento e que “afeta existencialmente o professor” (p. 95). Metodologia A pesquisa realizada teve como enfoque conceitual a abordagem qualitativa alicerçada na análise de conteúdo (BARDIN, 1994; FRANCO, 2008) que vai se presentificar na categorização das respostas dos sujeitos pesquisados, estabelecendo as dimensões e categorias de análise, bem como as unidades de sentido que serão abordadas. Desse modo, a pesquisa foi desenvolvida a priori com a análise documental e a posteriori com a aplicação de um questionário com vinte e cinco professores de Filosofia, do Ensino Médio, dividido em eixos temáticos, que abordam sobre: a formação; o conhecimento 11849 sobre os documentos, que amparam o trabalho do professor; a percepção da docência; a percepção da sua realidade docente; as ações da sua prática; e a formação continuada. As questões desse instrumento eram abertas e proporcionaram a cada sujeito a possibilidade de diversas interpretações, bem como expressar-se com maior liberdade expondo nesse sentido, nossa percepção por meio da descrição de nossas inferências às palavras escritas dos sujeitos dessa pesquisa. Resultados Os resultados obtidos por meio da análise das respostas dos professores de Filosofia participantes da pesquisa quanto aos eixos temáticos são: 1- Sobre os conhecimentos dos professores quanto aos documentos legais que amparam seu trabalho docente: apenas um professor indicou desconhecimento da LDBEN (BRASIL, 1996). O que se diferencia do reconhecimento do último documento referente à Proposta Curricular do Estado (SÃO PAULO, 2008), visto que os professores (seis entre oito), que desconhecem esse documento, trabalham na rede privada de ensino e, assim, podemos inferir que não possuem acesso ao material de ensino da rede estadual. Também não é de se estranhar que lhes sejam desconhecidos as OCEM (BRASIL, 2006), uma vez que normalmente os documentos possuem maior abordagem na atuação, prática e formação continuada do professor de escola pública. Há, em alguns sujeitos, uma preocupação em contextualizar situações interdisciplinares, utilizar diferentes fontes de informação como periódicos, linguagens artísticas visuais e musicais, além de sites e redes sociais. Isto posto, destaca-se o reconhecimento dos professores para a necessidade de um ensino voltado ao aprofundamento das temáticas contemporâneas, bem como de situações diárias, mantendo, assim, o desenvolvimento das competências e habilidades descritas no PCNEM (BRASIL, 1999). Assim como defendido pelas DCNEM (BRASIL, 1998), também destacamos os três princípios que tangem a Estética da Sensibilidade, a Política da Igualdade e a Ética da Identidade, que são determinados por aspectos conceituais filosóficos e determinantes para o encaminhamento que é dado nas articulações entre teoria e prática. Observamos, nas respostas de nossos sujeitos de pesquisa, que aquilo que dispõem as diretrizes, se estabelecem nos materiais e, principalmente, nos discursos dos responsáveis pela formação inicial ou continuada dos professores. 11850 Outro item ainda lembrado, na fala dos sujeitos, que participaram da pesquisa, diz respeito à possibilidade que os materiais e o encaminhamento que as aulas tomam ao elevar o protagonismo juvenil. Nesse ponto, ainda confirmamos que tal temática faz parte dos itens propostos para a reformulação do Ensino Médio, descrito nos PCNs (BRASIL, 1999), e do caráter político atribuído à disciplina de Filosofia, com ênfase no exercício da cidadania, presente na própria LDB 9394/96 (BRASIL, 1996). Mencionado por alguns professores, entendemos que ocorre um desequilíbrio na aplicabilidade da proposta do ensino de Filosofia nas escolas. Isto posto decorrente de que alguns professores argumentam, que nas próprias escolas ocorre a ausência das discussões sobre os referenciais teóricos e as questões pedagógicas que auxiliam o trabalho efetivo do professor na sala de aula. Mesmo com o conhecimento dos documentos legais, para maior aderência e entendimento, é observada, como necessidade, a discussão desses referenciais pelos professores, tomando um caminho efetivo e um momento oportuno para serem traçadas novas diretrizes e planos de ação, que favoreçam as necessidades sentidas pela prática pedagógica, mesmo que seja em cada unidade escolar. 2- Sobre o eixo temático de percepções da docência: os sujeitos dessa pesquisa afirmaram que a formação obtida na graduação teve relação direta com sua maneira de lecionar, o que nos leva a confirmar que existe uma relação intrínseca entre os saberes específicos da Filosofia com os saberes da formação pedagógica. A necessidade e a influência da formação pedagógica são expostas pelos professores como justificativa para o ensino de elementos técnicos, que norteiam o aprender a ensinar, a aplicação e manuseio de materiais, assim como estabelece um entendimento sobre a educação necessária à formação do professor dentro de seu processo de ensino-aprendizagem e da relação entre a teoria e a prática. Outro ponto nas respostas dos sujeitos de pesquisa, que nos chamou muito atenção, foi a desintegração de disciplinas, como Prática de Ensino e Didática, dos aspectos pedagógicos. Parece-nos que essas disciplinas são colocadas pelos alunos como apenas um exemplo de troca de experiências, o que desvalida o ensino das técnicas, dos métodos, das tendências pedagógicas e um aprofundamento de análise e aplicabilidade real ao ensino de Filosofia. 3- No eixo temático percepção de sua realidade docente as perguntas se dividiam em três categorias: da necessidade da ação, da relação entre a formação e a atuação e, da superação da dificuldade que encontramos atualmente na educação. 11851 No que diz respeito às necessidades da ação, os sujeitos de pesquisa descreveram diversas características sobre o professor de Filosofia, que tecem seu comportamento e o demonstram como ser humano. Podemos exemplificá-las como: ter uma postura humilde, bom senso, respeito ao pensamento do aluno, ser criativo, paciente, possuir valores éticos, ser dinâmico, curioso, dedicado, questionador, aberto ao diálogo e isento de preferências doutrinárias e ideológicas. Sobre sua atuação foram listadas as ações que devem empreender o processo educativo do ensino de Filosofia, como: promoção de debate e atualização de assuntos presentes no cotidiano, facilitação e mediação do acesso ao conhecimento, boa formação, reconhecimento do objetivo da Filosofia e do seu ensino, proposta de atividades diferenciadas e interdisciplinares entre outros. Entende-se que os itens descritos acabam sendo incorporados no próprio processo de formação e constituindo a identidade desse profissional. Desse modo, os fatores descritos pelos sujeitos, que representavam a relação entre a formação inicial e a atuação docente enfatizavam: a experiência; o conhecimento específico de Filosofia; a relação entre a teoria e a prática; a relação e transformação dos saberes com a realidade; o aperfeiçoamento formativo e profissional contínuo; a amplitude da visão; e a atenção para conceitos desenvolvidos. Uma vez contempladas as características que compunham a identidade desse profissional, e a relação entre a formação e a atuação, pedimos que fossem registradas sugestões para superação das dificuldades, que apareceram em três âmbitos. Quanto à estrutura, foram destacados: a disponibilidade de cursos e capacitações voltados à prática docente e ao ensino de Filosofia; maiores investimentos em recursos audiovisuais; valorização profissional e financeira do professor e principalmente, do especialista em Filosofia; falta de materiais didáticos coerentes com a realidade vivenciada; diminuição da carga excessiva de trabalho e valorização financeira do professor. Sobre o que tange ao ensino foram citados: modificação da proposta curricular do Estado de São Paulo; elaboração de um projeto político pedagógico consistente e efetivo; respeito por parte dos colegas de áreas diferentes; investimentos na relação entre o aprender e ensinar. E, consequentemente, ao que se refere ao professor, temos: o aprender constante e o desenvolvimento de como lidar com o jovem e as novas tecnologias; uso do diálogo com 11852 atributos de paciência, flexibilidade e conhecimento diversificado; escassez de tempo para preparação das aulas e empreendimentos interdisciplinares; formação continuada; estabelecimento de vínculos com os alunos, direção e coordenação; promoção de relações empíricas entre a Filosofia e a realidade vivenciada pelos educandos; formação pedagógica mais voltada para a prática em sala de aula. 4- No eixo temático sobre as ações de sua prática, nos referimos quanto às técnicas e estratégias utilizadas pelo professor que revelaram a preocupação de aulas preparadas e o acesso ao conhecimento. Encontramos, em comum, a promoção do debate como constituinte da aprendizagem dialógica filosófica, chegando a ser citada a preleção dialogada e as aulas expositivas. A utilização de estratégias com filmes e textos se refere às competências e habilidades dos PCNEM (BRASIL, 1999). A preocupação com a representação dos alunos quanto aos conceitos aprendidos é notada nas atividades em que manifestam o conhecimento adquirido por meio da composição de expressões artísticas (desenho, teatro, artesanato etc.) e produções textuais. Encontramos também, um professor que relatou como técnica e estratégia, o bom humor. Ele nos dizia que: “bom humor opera milagres, todo professor deve saber que é também um ator, sua sala de aula é seu palco e cada aula é uma representação inédita”. Tal exemplo nos leva a concluir, que, para a utilização de tão extensa lista de recursos, esse profissional deve possuir múltiplas habilidades que não se centram apenas no conhecimento e, sim, em como ele pode pensar, elaborar, refletir e se posicionar constantemente sobre suas estratégias. E, também, a utilização de recursos, chegando a indicar, ainda, aspectos sobre a sua própria personalidade. Uma das questões centrais de nossa pesquisa foi apresentada nesse eixo temático, que indagava aos professores se acreditavam que existia algum saber que era específico da ação pedagógica do professor de Filosofia. Na tabulação dos dados encontramos três grupos de saberes. O primeiro diz respeito aos conhecimentos específicos do curso de Filosofia, ou seja, nomeados por Tardif (2012) como saberes da formação profissional. A seguir, constituímos o segundo grupo, com os saberes curriculares (Tardif, 2012), que exemplificam: os saberes mais específicos da profissão docente dentro do agir do professor, na elaboração do seu plano de ensino; o entendimento sobre as questões 11853 interdisciplinares necessárias para o ensino; e a noção dos métodos a serem utilizados e sua aplicabilidade. Por fim, foram mencionados e agrupamos atributos, já descritos no eixo temático anterior, que categorizamos como habilidades que compõem a subjetividade do professor de Filosofia que podem ser descritos como: aberto a interações, diálogo, debate e discussões; atualizado; com capacidade de análise; crítico; cuidadoso com o pensar lógico; disponível; mediador; ouvinte; paciente; que promova exemplos e relações com a realidade; que negue a posse do conhecimento; questionador, curioso, provocador; reflexivo; tolerante; que visualize soluções. Tais habilidades supracitadas revelam que os professores percebem que existe, para além dos saberes caracterizados como da formação profissional, disciplinares, curriculares e experienciais; uma série de habilidades, que passa a formalizar a subjetividade do professor de Filosofia e, praticamente, a constituir a sua personalidade. O que, para alguns, pode ser confundido com método, estratégia e, até mesmo, com os próprios saberes experienciais cunhados por Tardif (2012). Mais uma vez, analisando as respostas, obtivemos uma unanimidade em relação ao que nossos professores pensavam sobre a mudança de atuação de acordo com a experiência. Foram, significativamente lembrados pelos sujeitos: a mudança de técnicas; estratégias e métodos utilizados nas aulas; a mudança do pensamento em relação a algumas atitudes e opiniões formadas que possuíam; como também, a forma e o tipo de avaliação que realizavam nas aulas e os assuntos abordados. Essas mudanças vão demonstrando que a experiência adquirida no exercício do magistério renova a prática do professor e o constitui em reformulação a partir de suas vivências, de suas próprias constatações. De certa forma, é o que pressupõe Tardif (2012), com seus saberes experienciais. Salientamos, também, o pensar reflexivo, no exercício do pensamento crítico, no trabalho com seus alunos; porém, em primeiro lugar, consigo mesmo. Nesse mesmo eixo temático, ainda pedimos aos professores que relatassem alguma situação vivenciada em sua profissão e que se relacionasse com sua prática. As situações descritas evidenciavam ações e projetos empreendidos pelo professor como: realização de café filosófico; uso de questões de vestibular e incentivo à continuidade e estudo; promoção de debates, momentos de reflexão e discussão sobre temas problematizadores; aulas diferenciadas. Alguns relatos abordavam comparações e atitudes dos alunos, mediante 11854 experiências vividas em aulas ou proporcionadas pelos ensinamentos dos professores, seja enquanto conteúdo, na prática questionadora e reflexiva, como também no entendimento da alteridade, na visão e no contato com o outro. Por meio dos relatos descritivos sobre a experiência de serem professores de Filosofia, visualizamos uma dimensão das relações interpessoais, do comprometimento humano e do compromisso de ensino-aprendizagem: característicos da práxis do professor. Na resposta de cada profissional estabelecemos e visualizamos a constituição da identidade do ser professor seja nas relações humanas desenvolvidas, como nas contribuições destes professores para a formação de seus alunos. Além disso, foi possível compreender o sentido atribuído ao papel de educação, bem como da própria Filosofia. As ações sobre a prática, determinadas nesse eixo temático, não estabelecem posições diferenciadas para os professores que atuam em diferentes redes de ensino (privada e pública). 5- No eixo temático sobre a formação continuada, os relatos dos professores foram concisos em admitir que ela ocorre constantemente, seja formalmente ou informalmente. Citada entre a maioria, a leitura em geral, é uma forte modalidade da busca contínua para atualização do professor, seja em termos específicos de Filosofia quanto de Educação, como também em conhecimentos e informações diárias e gerais. A utilização de novas tecnologias e redes sociais é bastante explorada com visitas a site e blogs. Aliado à compreensão das novas formas de comunicação, há de se levar em conta, o acesso à cultura nas suas múltiplas formas de expressão: teatro, cinema como também, viagens. Neste sentido, alguns professores descrevem que é preciso investir em cursos de pós-graduação e viagens para troca de riquezas culturais. Como também, leituras diferenciadas, vídeos e tecnologias. A troca com os pares de Filosofia e professores de outras áreas do conhecimento, seja nos momentos de reuniões pedagógicas nas escolas ou nas instituições de ensino superior, estabelecem o retorno ao debate, troca de experiências, como também de novos materiais de estudo. A aquisição de livros foi citada apenas uma vez, e a dificuldade financeira para seu acesso não foi mencionada. Foram relatados, também: a formação de grupos de pesquisa para alunos e para os próprios professores; participação em cursos, fóruns, palestras, conferências, bem como 11855 cursos de pós-graduação, em que ocorre a ênfase à pesquisa e o aprendizado; além das publicações desse porte. No que se refere aos professores que ministram aulas na rede pública estadual de São Paulo, a formação continuada também ocorre com o oferecimento esporádico de cursos e capacitações. Dadas algumas percepções, os professores manifestaram descontentamento, pois nos parece que as formações e/ou cursos ministrados acabam trabalhando os conteúdos básicos, tentando atingir aos professores que não são graduados em Filosofia. Todavia, outros se manifestaram, alegando que já não ocorrem mais cursos com tanta frequência, como também não veem grande significação no conteúdo ministrado e na compensação salarial que acarretará. Podemos perceber, nos relatos dos professores, que a formação continuada nem sempre, ocorre como um processo natural de suas aulas e da prática docente, embora muitos declarem que estão sempre pesquisando e se aprimorando. Considerações Finais Nossa pesquisa esteve sustentada em duas dimensões de análise, que consistiam na historicidade legal do ensino de Filosofia e na constituição identitária do professor de Filosofia entre o que se objetiva legalmente e o que se espera para o seu ensino. Os indicadores desse percurso apresentaram três categorias, que foram analisadas hierarquicamente. Iniciando pela presença da Filosofia na educação brasileira, de acordo com a contextualização histórica advinda desde o ensino dos jesuítas, perpassando pelos interesses sócio-políticos e propriamente filosóficos, que demarcaram a saída e o retorno, enquanto disciplina obrigatória no Ensino Médio, ao estudo do professor dentro da sua especificidade de professor de Filosofia e a demanda dos saberes docentes. Ao passarmos para a análise da pesquisa, esmiuçamos a análise dos eixos temáticos do questionário aplicado. Essa análise nos evidencia a presença de três unidades de sentidos, que se revelam: 1º na relação entre teoria e prática, determinada pelos documentos estudados, encontrados nas salas de aula e nos relatos dos professores; 2º no desenvolvimento da subjetividade, da alteridade e desse profissional, e, por fim; 3º nos saberes docentes, que analisam a formação, a prática e a experiência revelada. 11856 REFERÊNCIAS ABDALLA, Maria de Fátima Barbosa. 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