A evolução nos processos de incubação

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A evolução nos processos de incubação
Thomas A. C. Calil – CRMV-SP 15.018
Gerente de Operações
Pas Reform do Brasil
De alguns anos para cá nós, profissionais da avicultura, nos deparamos
cada vez mais freqüentemente com artigos científicos e estudos de campo que
relatam evoluções e novas descobertas em toda a cadeia produtiva das aves
industriais. A maioria deles está relacionada ao incrível desenvolvimento
genético, sobretudo nas aves do segmento corte. Isso significa que praticamente
todas as áreas da avicultura são dirigidas pela evolução genética das aves. Por
exemplo, a nutrição deve acompanhar as exigências nutricionais (e econômicas)
que a avicultura impõe e essas são fundamentalmente função da evolução
genética. Na tríade manejo/sanidade/ambiência os desafios não consistem
somente em acompanhar a demanda de uma nova ave a intervalos cada vez mais
curtos, mas também em determinações estatutárias e de bem estar animal
impostas pelos mercados compradores, sobretudo nos casos de produtos
destinados à exportação. E na incubação, quais os impactos das alterações
genéticas no gerenciamento da evolução embrionária? O que devemos entender
de maneira distinta? Quais características diferenciadas os novos equipamentos
de incubação devem apresentar para acompanhar a crescente evolução genética?
Primeiramente, é preciso termos ciência das alterações e a figura abaixo
apresentada por Martins (2002) dispensa grandes esforços para entender a
situação.
Figura 01.
01 Efeito da seleção genética para rendimento de carne branca
(Martins, 2002).
Anos 80
Anos 00
Logicamente é de se esperar que essa alteração, fruto de intensa pressão
de seleção para ganho de peso e, principalmente, rendimento de carne, tenha
trazido consigo implicações imprevistas, embora não necessariamente
indesejáveis. Um dos impactos mais discutidos sobre os efeitos secundários da
seleção genética diz respeito ao período de incubação, que, embora não tenha se
alterado de maneira absoluta, mostra uma representatividade exponencial
acompanhada pelo desenvolvimento das aves, uma vez que o período de
crescimento para atingir um determinado peso é cada vez menor. Hamminga
(2008) mostra claramente a evolução dessa representatividade na tabela abaixo.
Tabela 01.
01 Representatividade do período de incubação frente ao avanço
do desenvolvimento de diferentes linhagens de frango de corte.
Referência
1984
2004
2014
Dias necessários para chegar a 2000g
50
39
32
Dias necessários para incubação
21
21
21
Ciclo (incubação + crescimento)
71
60
53
30%
35%
40%
% total da incubação
Os efeitos da evolução genética sobre o metabolismo embrionário por si já
fundamentam alterações no manejo de incubação para que ambos caminhem
sincronizadamente (Tona et al, 2004). Isso se torna mais importante à medida
que consideramos os dados expostos acima, ou seja, o período de
desenvolvimento embrionário é cada vez mais importante na vida total da ave e
isso representa o maior desafio dos incubadores hoje e, principalmente, amanhã.
Assim também é o período de permanência no incubatório após a eclosão, ou
seja, relativamente esse período também é maior, assim como as conseqüências
deletérias para os pintos (Joseph & Moran, 2005; Fairchild et al, 2006; Noy et
al,2001 ).
As alterações no desenvolvimento embrionário e, conseqüentemente, no
manejo de incubação devem atender rigorosamente as necessidades fisiológicas
dos embriões, principalmente no tocante à temperatura, que, ainda, é o único
parâmetro físico de influência direta no embrião sobre o qual podemos exercer
algum controle. O controle da temperatura embrionária é tão importante e tão
discutido atualmente porque a produção de calor metabólico é diretamente
proporcional à evolução do crescimento do frango e vários pesquisadores
estudaram e demonstraram a geração de calor embrionário de diferentes
linhagens em diferentes estágios de desenvolvimento (Ohta et al, 2004) . Os
estudos de Lourens et al (2006) concluíram os dados apresentados no gráfico 01.
Gráfico 01.
01 Produção de calor embrionário de acordo com o tamanho do
ovo e a evolução do desenvolvimento (dias de incubação).
Produção de calor (mW/ovo)
Ovos grandes
Ovos pequenos
Tempo (dias)
O fato de os embriões de ovos maiores gerarem mais calor a partir do último terço da
incubação obriga a adequação da temperatura de set point das máquinas com objetivo de manter
constante a temperatura embrionária (Lourens et al, 2006).
Outros estudos conduzidos pela Pas Reform B.V. e também pela
Universidade de Berlim complementam os dados apresentados acima ao
apresentar estimativas de geração de calor embrionário para as próximas
gerações.
Tabela 02.
02 Geração de calor metabólico como conseqüência das melhorias
genéticas nas futuras gerações (Hamminga, 2008)
Ano
mW/ovo
1.983
124
2.003
164*
2.013
186**
2.023
210**
2.033
???
* Dados da Pas Reform e Universidade
de Berlim
** Estimativas
Agora, sabendo das alterações provocadas pelo redirecionamento das
seleções genéticas partindo de características de desempenho reprodutivo para
produtivo, como mostra a tabela 03, concluímos que o gerenciamento do
controle da geração de calor metabólico se faz de extrema importância para a
evolução nos processos de incubação.
Tabela 03.
03 Alterações nos objetivos genéticos de acordo com a década de
seleção (Hamminga, 2008).
Característica
19851985-1995
19951995-2005
20052005-2015
Ovos incubáveis
++
++
+
Eclosão
++
+
+
Crescimento
++
++
++
Conversão
Alimentar
Rendimentos
+
+++
+++
+
++
+++
Viabili
Viabilidade
+
+
++
E como gerenciar a produção de calor embrionário de modo a aperfeiçoar
seu desenvolvimento sem levá-lo a situações de estresse calórico?
Podemos dizer que a evolução dos processos de incubação trouxe o
advento do controle de CO2 como grande destaque. Entretanto, o controle desse
gás resultante do metabolismo embrionário não é suficiente para atender as
demandas fisiológicas dos embriões das linhagens modernas atuais e futuras.
Para entendermos como os processos de incubação evoluíram e responder
a pergunta acima é importante destacarmos as diferenças entre incubação
estágio múltiplo e estágio único. O primeiro é aquele em que uma máquina opera
com idades embrionárias distintas, usualmente 3 ou 6 idades. Nessa situação, é
impossível manter a temperatura de desenvolvimento embrionário dentro de
intervalos adequados fisiologicamente para cada fase de desenvolvimento.
Portanto, equipamentos de incubação que preconizam o conceito estágio múltipl
há muito tempo já não têm condições de resultar em adequada eclosão e muito
menos em desempenho na granja.
A discussão então não reside na opção entre estágio múltiplo versus
estágio único, mas sim qual conceito de estágio único é capaz de atender às
exigências fisiológicas dos embriões de hoje e amanhã.
No geral, tanto os equipamentos estágio múltiplo quanto os de estágio
único antigos e modernos oferecem os mesmos parâmetros físicos de incubação
e a seguir daremos destaque nos diferenciais apresentados entre eles para cada
parâmetro importante.
Temperatura:
Temperatura Novos equipamentos permitem controlar a temperatura de
incubação em diferentes set points para diferentes posicionamentos da máquina
e isso somente é possível através de sistemas modulares de incubação estágio
único, como mostra a figura 02.
Figura 02.
02 Esquema de incubação modular em que cada grupo de ovos tem
controle separado da temperatura de incubação.
O controle individual por seção, em
conjunto com o sistema de ventilação
também individual e eficiente, assegura
homogeneidade na distribuição da
temperatura sobre os ovos, mantendo o
desenvolvimento
embrionário
constantemente dentro de limites
estreitos.
Unicamente
através
da
incubação estágio único por um sistema
modular como o apresentado na figura
02 é possível incubarmos diferentes
idades de reprodutora e de estoque de ovos no mesmo equipamento. O controle
individual de temperatura por módulo de incubação também acarretará numa
reduzida janela de nascimento, que será discutida adiante.
A precisão no controle da temperatura de incubação é outro ponto crítico
e os sistemas atuais utilizados nos processos evoluídos de incubação conseguem
atingir uma elevada confiabilidade através de um sistema denominado P.I.D.
(Proporcional, Integral, Derivativa). Esse sistema trabalha com constante previsão
de demanda de energia, considerando a histerese das temperaturas para se
chegar ao padrão estabelecido (set point), culminando com controle mais
apurado entre o real e planejado para a máquina, bem como economia de
energia na utilização dos equipamentos de incubação. Os sistemas
convencionais, modelo “liga-desliga” trabalham com variações significativas de
temperatura e, portanto, são também sistemas de custo operacional mais
elevado.
Como sabemos que os processos de seleção genética levaram os embriões
a estresse térmico, novos sistemas de incubação devem apresentar mecanismos
de aquecimento e refrigeração eficientes e uma das maneiras de se medir a
eficiência dos sistemas não é somente pela carga potencial para troca de calor,
mas também pela maneira como as fontes de aquecimento e refrigeração são
distribuídas no equipamento.
Existem duas formas básicas de aquecimento e refrigeração de
equipamentos de incubação. O aquecimento pode ser elétrico (resistências) ou
por água (serpentinas). O aquecimento elétrico demanda a utilização de
resistências elétricas dispostas no interior da máquina ao passo que os
equipamentos aquecidos a água necessitam de serpentinas no interior da
máquina e um sistema de aquecimento externo (gerador de água quente ou
caldeira). A tabela 04 apresenta um comparativo dos sistemas de aquecimento
discutidos aqui:
Tabela 04.
04 Sistemas de aquecimento de incubadoras por água quente ou
por resistências elétricas: comparativo.
Resistências
Elétricas
Água quente
Microclima de Temperatura1
Alto
Baixo
Custo Operacional2
Alto
Baixo
Liberação de calor por radiação3
Alta
Baixa
Capacidade de otimização4
Nula
Alta
Potência instalada do equipamento5
Alta
Baixa
Item
Observações:
1 – Resistências elétricas apresentam uma relação potência/superfície
muito alta, pois as resistências estão concentradas em pontos específicos da
máquina, ao passo que as serpentinas (quando desenhadas adequadamente)
estão distribuídas em toda a área disponível cujo direcionamento dos pulsadores
ocorre. Por isso, no caso das resistências, há uma concentração de calor local
próximo das mesmas, sobretudo em casos em que a ventilação não é adequada
devido à rotação das pás (será discutido adiante).
2 – É importante ressaltar que equipamentos aquecidos por meio de
resistências não permitem a utilização do sistema P.I.D., já mencionado
anteriormente. O fato do sistema de água quente trabalhar em um circuito
fechado é outra vantagem econômica desse sistema, pois a água se mantém
sempre dentro de uma faixa de temperatura para ser aproveitada em qualquer
equipamento, sem necessidade de aquecimento a partir de um amplo delta de
temperatura (diferença na temperatura da água de entrada na máquina e a de
saída da máquina).
3 – Reforçando o que foi observado no item 1, as resistências trabalham
com temperatura acima da casa dos 100°C enquanto as serpentinas com água
quente geralmente operam em torno de 65°C. Esse gradiente de temperatura em
favor do sistema aquecido a resistência agrava o exposto no item 1.
4 - A adoção de sistemas de aquecimento por água quente apresenta a
grande vantagem econômica de se otimizar os equipamentos necessários
(gerador de água quente, placas solares, caldeira etc.) para uso em outros fins
como por exemplo: banho de funcionários, lavagem de bandejas e caixas e
sobretudo climatização do incubatório. A climatização é o uso alternativo em que
há maiores ganhos, ainda mais se associado com sistema de refrigeração via
água. Assim, ao atribuir vários usos para o mesmo sistema os custos se diluem e o
sistema se torna mais barato, pois, também, as mesmas serpentinas podem ser
utilizadas para refrigeração no interior da máquina, dispensando outros
mecanismos para esse fim. No caso de equipamentos aquecidos com resistência,
a fonte de aquecimento é interna e local, não podendo ser aproveitada nos casos
em que aquecimento se faz desnecessário na máquina, o que, por sinal, ocorre
em grande parte durante o período de incubação e, também, não é possível
utilizar para outro fim que não seja aquecimento.
5 – Como não há possibilidade de otimização do sistema de aquecimento
por resistências, os equipamentos que o adotam trabalham com elevada
ociosidade da capacidade já instalada e pelo fato de cada equipamento contar
com um sistema independente de aquecimento essa capacidade se torna
elevada, onerando os custos de implantação da rede elétrica da planta. Para
termos uma idéia real podemos considerar que máquinas com aquecimento a
resistência apresentam, em média, 11.000W de potência instalada ao passo que
os equipamentos mais evoluídos não ultrapassam 6.000W, ou seja, praticamente
a metade!
Outro ponto crítico de controle de temperatura é a refrigeração. Uma
grande parte dos equipamentos convencionais já adota a refrigeração por
serpentinas, entretanto, algumas características diferenciam equipamentos
obsoletos dos equipamentos focados no futuro. Nesse quesito, a forma como a
energia endotérmica das serpentinas se dá separa os sistemas eficientes dos
sistemas incapazes de cumprir o papel de refrigeração. Essa forma pode ser
medida basicamente pela diferença de temperatura da água que entra na
máquina para a água que sai da mesma. Para controlar essa diferença
(denominada “delta”) o fluxo de água nas serpentinas deve ser ilustrado, o que
está a cargo da figura 03, abaixo:
Figura 03.
03 Diferentes sistemas de refrigeração por serpentinas.
Sistema A
Sistema B
No sistema A (equipamentos de última geração), a água flui em apenas uma
direção, o que aumenta a eficiência das trocas térmicas de maneira a garantir a
uniformidade de temperatura em cada seção de incubação da máquina. Nos
equipamentos convencionais (sistema B) a temperatura da água sofre maiores diferenças
entre os vários pontos da circulação da serpentina e com isso há criação de micro climas.
Em termos práticos, as diferenças de temperatura no sistema A situam-se na faixa de 5 a
7°C ao passo que nos sistemas convencionais esse delta é especificado entre 10 e 12°C,
comprovando a facilidade em criar micro clima e reforçando ainda mais o discutido no
item 2 da tabela 04, pois o custo de re-refrigeração da água do sistema B é
significativamente maior do que A, em virtude do delta maior não ser acompanhado por
um volume proporcionalmente maior.
Para fecharmos o tópico sobre controle de temperatura na evolução dos
processos de incubação convém considerar o período de nascimento como uma
das etapas do processo em que o embrião passa pela maior susceptibilidade a
estresse calórico de toda sua vida até então. É nesse momento que a geração de
calor e a necessidade de refrigeração para evitar acúmulo de CO2 se tornam mais
críticas. Para atender às demandas dos embriões, os nascedouros devem ter,
sobretudo, o sistema de refrigeração eficiente e a avicultura já pode contar
processos de refrigeração de nascedouros extremamente eficientes, em que as
paredes das máquinas se resfriam e não somente as serpentinas. Ao resfriar toda
a parede, a área de contato disponível para troca de calor aumenta mais de 30
vezes, com exatamente o mesmo consumo de água gelada, apresentando ainda
um delta menor do que nos sistemas convencionais. A figura 04 mostra o
exemplo de um equipamento com esse sistema:
Figura 04 – Nascedouro com sistema de resfriamento por toda a parede
(surrounding cooling ®)
B
A
Em A nota-se o interior de um nascedouro de última geração, que apresenta as paredes
internas em alumínio anodizado, facilitanto as trocas térmicas do ar para refrigeração dos
ovos/pintos, além de contribuir com a biossegurança do incubatório por apresentar superfícies
lisas e fáceis de higienizar. Em B tem-se uma visão superior com o esquema que mostra a
circulação de ar látero-central do equipamento, o que permite a realização de trocas eficientes,
mais uma vez, antes que haja contato com os ovos/pintos, semelhante ao discutido em relação à
figura 02.
Ventilação:
Ventilação O sistema de ventilação de um equipamento de incubação
apresenta 3 funções básicas principais:
•
•
•
Remoção de CO2 e renovação de O2
Remoção e homogeneização de umidade
Transferência de calor
A maioria dos equipamentos convencionais de incubação apresenta uma
taxa de utilização de ar (consumo) cerca de 3 vezes maior do que equipamentos
de última geração, o que acarreta em desequilíbrio no funcionamento da
máquina (deixando a máquina mais “nervosa”, como costumamos dizer), com
prejuízo para a homeostase embrionária, sem assim promover adequada troca de
temperatura máquina-embrião. Isso se dá porque equipamentos para incubação
considerados obsoletos (estágio múltiplo ou convencional) são refrigerados a ar,
ou seja, por não conseguir controlar a ambiência interna do gabinete de
incubação, optam por realizar a troca do ar, ao invés de ajustá-lo. Em um exemplo
simples percebemos que com a alta renovação de ar, há alta perda de umidade
relativa não só pelos embriões, mas também pela máquina; conseqüentemente,
a máquina trabalha buscando compensar essa perda. Como a ativação dos bicos
de umidade se torna relativamente constante, o processo evaporativo resfria o
sensor (e não os ovos!), que atua fechando momentaneamente as válvulas
(dampers) de entrada/saída de ar, reiniciando o ciclo vicioso. É importante
lembrar também que o sistema de ventilação de um equipamento de incubação
está diretamente relacionado ao seu consumo de energia, ou seja, quanto mais
troca de ar o equipamento realizar, mais caro será sua implantação e operação,
dada a necessidade de dimensionamento elevado dos equipamentos de controle
climático.
Outro ponto importantíssimo do sistema de ventilação é o acesso de ar
(fresco ou climatizado pela máquina) sobre os ovos. Sempre que o ar fresco entra
em contato com o equipamento há a criação de um micro clima de temperatura e
umidade relativa. Como exemplo, tomamos a máquina a 37,5°C e 55% de UR e a
sala de incubação a 25,0°C e 60% de UR. No momento em que o ar da sala entra
na máquina e é aquecido à sua temperatura, o que leva tempo, sua umidade
relativa passa de 60% para 29%. Portanto, mesmo que o ar tenha se estabilizado
em temperatura ele não pode entrar em contato diretamente com os ovos, pois,
se o fizer, promoverá uma perda de umidade local (micro clima de umidade
relativa). Além disso, como a umidade do ar está diretamente relacionada à sua
capacidade de transferência de calor, também haverá maior dificuldade em
transferir calor dos ovos nos pontos onde o ar passar antes de ser
homogeneizado em temperatura e umidade relativa. Para se termos uma idéia, o
ar já homogeneizado em temperatura e umidade relativa (37,5°C e 55%UR)
contém 95kJ/kg de energia (Entalpia) ao passo que o ar, mesmo na temperatura
adequada, mas sem homogeneizar a umidade relativa apresenta uma
quantidade de energia claramente inferior, na ordem de 68kJ/kg (a 37,5°C e 29%
UR).
Agora, que já compreendemos o que deve ocorrer com o ar antes de entrar
em contato com os ovos, podemos verificar numa situação ideal o que deve
ocorrer observando novamente a figura 02. As setas desenham o fluxo do ar ao
entrar na máquina ou mesmo ao ser renovado pela mesma, ou seja, antes de
entrar em contato com os ovos ele é climatizado (desenho esquemático serpentinas- atrás dos pulsadores), em seguida circula pela lateral dos ovos em
direção a um corredor principal para, então, ser redirecionado para os ovos,
mantendo-os na correta temperatura embrionária, sem diferenças em umidade
relativa (high RH ou low RH spots).
Numa analogia ao sistema convencional, poderemos verificar a figura 03
abaixo, em que o ar entra diretamente em contato com os ovos, principalmente
na porção inferior, onde normalmente estão localizados os bicos de umidade,
que, numa tentativa de corrigir a baixa umidade do ar recém aquecido,
promovem micro clima de temperatura ainda maior devido à perda de energia de
calor latente provocada pelo processo de resfriamento evaporativo da água
lançada no ambiente pelos bicos de umidade.
Figura 03.
03 Sistema de entrada e distribuição de ar em equipamentos
convencionais.
H2O
Notar que o ar ainda não homogeneizado em temperatura nem em umidade relativa
entra em contato diretamente com a massa de ovos, provocando a criação de micro climas de
temperatura e umidade, alterando a fisiologia embrionária, bem como seu balanço hídrico local e
momentaneamente.
Ainda sobre o tema ventilação, percebemos que a capacidade de
movimentação de ar dos pulsadores está relacionada exponencialmente ao
número de rotações por minuto (RPM) dos mesmos, ou seja, na eventualidade de
diminuição na rotação dos mesmos o ar movimentado pelo equipamento diminui
à uma razão polinomial de ordem 3, como mostrado na tabela 05, adaptada dos
laboratórios Bess (Universidade de Illinois) e citada por Calil (2007).
Tabela 05.
05 Redução relativa na capacidade de ventilação (movimentação
de ar) relacionada à redução relativa das rotações por minuto de sistemas de
climatização avícola (valores nominais).
% Rotação da
hélice*
hélice*
% Movimentação
de ar*
ar*
100
100
90
82
80
70
70
55
60
35
* Valores nominais
Ao analisar a tabela ao lado
verificamos que a queda na rotação das
hélices é acompanhada pela movimentação
de ar. Esse acompanhamento é sempre
maior. No exemplo, uma redução de 10% na
rotação das hélices (de 100% para 90%) leva
a movimentação de ar a uma redução de
18% (de 100% para 82%) e assim
sucessivamente. Essas reduções muitas
vezes passam despercebidas em virtude de
correias frouxas, desgastadas, polias sem
condições de uso, água/graxa no sistema
etc..
A importância de compreender essas variações nos leva a concluir que o
controle da ventilação seja de fundamental importância para a adequada
incubação, sobretudo das linhagens modernas. E assim, de fato, o é. Portanto,
equipamentos modernos de incubação devem apresentar sistema que contabilize
as rotações por minuto da máquina (tacômetro digital integrado) e emita
alarmes caso esses valores saiam dos limites planejados, da mesma forma como
ocorre com temperatura, por exemplo.
O incubatório do Futuro
A eleição do modelo de incubação a ser adotado nos processos de novas
plantas deve ser feita com muito critério, pois, como sabemos, o conjunto de
incubação é feito para trabalhar em perfeitas condições por 20 anos ou mais.
Sabendo disso, nos vêm a seguinte pergunta: “Quais são as tendências
para os incubatórios do futuro e o que fazer se no futuro incubaremos com os
equipamentos de hoje?”
Abaixo estão elencados os seguintes pontos e comentários:
• Automação
Automação:
omação com o super dimensionamento dos incubatórios no
futuro (acima de 10.000.000 pintos/mês) a climatização e automação serão parte
integrante do projeto e não mais “opcionais”. Destaque importante nesse tópico
é dado para automação, pois mesmo no cenário latino-americano, onde custos
de mão-de-obra ainda são relativamente baratos, os processos automatizados
serão utilizados como fatores de agilidade no processamento de cargas cada vez
maiores que deverão ser entregues cada vez com o intervalo nascimentoalojamento menor.
• Qualidade de pinto:
pinto O fator qualidade será decisivo no desempenho
zoo-econômico de lotes de frango e, no incubatório, a Janela de Nascimento se
tornará um dos principais indicadores do gerenciamento. Sistemas que auxiliem
na medição da Janela e na adoção de medidas corretivas da qualidade dos pintos
serão necessários.
• Climatização:
Climatização os processos de incubação serão completamente
integrados aos processos de ventilação/climatização. Cada vez mais será
fundamental controlar a pressão estática dos diferentes ambientes, sobretudo
pela questão sanitária. A integração Incubação-Ventilação trará benefícios na
prestação de serviços e solução de problemas com causa mal atribuída a um ou a
outro sistema. Além disso, essa integração promoverá melhores índices
zootécnicos, por melhor atendimento às necessidades fisiológicas dos embriões.
• Biossegurança:
Biossegurança as exigências dos mercados consumidores serão
cada vez maiores, as barreiras comerciais poderão estabelecer mais e mais
imposições mascaradas pelo véu sanitário. Com isso, além de todas as vantagens
fisiológicas e zootécnicas, o sistema de incubação estágio único será um valioso
diferencial.
• Serviços Técnicos em Incubação:
Incubação Os fornecedores de Tecnologias de
Incubação trabalharão em conjunto com seus clientes na busca constante de
melhorias. Além do serviço técnico presencial, se fará cada vez mais importante a
disponibilidade de peças de reposição em tempo hábil, de treinamentos e
consultoria, de publicações dos avanços mais recentes (biblioteca de incubação).
• Genética:
Genética as linhagens manterão o acelerado ritmo de crescimento,
com conseqüente geração de calor metabólico (tabela 02) e por isso os
equipamentos de hoje devem ter a capacidade de refrigeração suficiente para
atender às demandas futuras dos embriões.
• Recuperação de energia:
energia Os mecanismos de recuperação de energia
se tornarão imprescindíveis dada a importância do custo que esta representa
para toda a cadeia avícola. O subproduto do metabolismo embrionário (calor)
será utilizado eficientemente nos incubatórios modernos. O conceito de estágio
único prevalecerá e as máquinas com embriões em idade avançada (liberando
calor) auxiliarão as máquinas com embriões em idade jovem (absorvendo calor).
Outras fontes de geração de calor como saídas de chillers, plenums de exaustão,
geradores de energia etc. terão sistema de captação de energia para imediato
reaproveitamento.
Se hoje os sistemas convencionais de incubação enfrentam dificuldades
para lidar com as linhagens modernas é porque no passado a avicultura não
dispunha de ferramentas para predição das necessidades dos embriões do futuro,
que hoje é o nosso presente. Ou então porque não soube utilizá-las com a cautela
que a interação ciência-campo exige.
Felizmente atualmente há estudos científicos sérios de predição das
necessidades fisiológicas dos embriões do futuro. Esses estudos são amparados
pelos “breeding goals” (objetivos genéticos) das empresas de seleção genética
avícola (vide tabela 03) e, por sua vez, permitem aos departamentos de P&D das
empresas de ponta na incubação mundial avançar mais e mais a cada nova
geração de sistemas de incubação.
Conclusão
Com todo o exposto neste artigo fica evidente a necessidade da avicultura
industrial brasileira se adaptar aos conceitos mais avançados de incubação,
representados pela incubação modular em estágio único.
Referências bibliográficas
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