A evolução nos processos de incubação Thomas A. C. Calil – CRMV-SP 15.018 Gerente de Operações Pas Reform do Brasil De alguns anos para cá nós, profissionais da avicultura, nos deparamos cada vez mais freqüentemente com artigos científicos e estudos de campo que relatam evoluções e novas descobertas em toda a cadeia produtiva das aves industriais. A maioria deles está relacionada ao incrível desenvolvimento genético, sobretudo nas aves do segmento corte. Isso significa que praticamente todas as áreas da avicultura são dirigidas pela evolução genética das aves. Por exemplo, a nutrição deve acompanhar as exigências nutricionais (e econômicas) que a avicultura impõe e essas são fundamentalmente função da evolução genética. Na tríade manejo/sanidade/ambiência os desafios não consistem somente em acompanhar a demanda de uma nova ave a intervalos cada vez mais curtos, mas também em determinações estatutárias e de bem estar animal impostas pelos mercados compradores, sobretudo nos casos de produtos destinados à exportação. E na incubação, quais os impactos das alterações genéticas no gerenciamento da evolução embrionária? O que devemos entender de maneira distinta? Quais características diferenciadas os novos equipamentos de incubação devem apresentar para acompanhar a crescente evolução genética? Primeiramente, é preciso termos ciência das alterações e a figura abaixo apresentada por Martins (2002) dispensa grandes esforços para entender a situação. Figura 01. 01 Efeito da seleção genética para rendimento de carne branca (Martins, 2002). Anos 80 Anos 00 Logicamente é de se esperar que essa alteração, fruto de intensa pressão de seleção para ganho de peso e, principalmente, rendimento de carne, tenha trazido consigo implicações imprevistas, embora não necessariamente indesejáveis. Um dos impactos mais discutidos sobre os efeitos secundários da seleção genética diz respeito ao período de incubação, que, embora não tenha se alterado de maneira absoluta, mostra uma representatividade exponencial acompanhada pelo desenvolvimento das aves, uma vez que o período de crescimento para atingir um determinado peso é cada vez menor. Hamminga (2008) mostra claramente a evolução dessa representatividade na tabela abaixo. Tabela 01. 01 Representatividade do período de incubação frente ao avanço do desenvolvimento de diferentes linhagens de frango de corte. Referência 1984 2004 2014 Dias necessários para chegar a 2000g 50 39 32 Dias necessários para incubação 21 21 21 Ciclo (incubação + crescimento) 71 60 53 30% 35% 40% % total da incubação Os efeitos da evolução genética sobre o metabolismo embrionário por si já fundamentam alterações no manejo de incubação para que ambos caminhem sincronizadamente (Tona et al, 2004). Isso se torna mais importante à medida que consideramos os dados expostos acima, ou seja, o período de desenvolvimento embrionário é cada vez mais importante na vida total da ave e isso representa o maior desafio dos incubadores hoje e, principalmente, amanhã. Assim também é o período de permanência no incubatório após a eclosão, ou seja, relativamente esse período também é maior, assim como as conseqüências deletérias para os pintos (Joseph & Moran, 2005; Fairchild et al, 2006; Noy et al,2001 ). As alterações no desenvolvimento embrionário e, conseqüentemente, no manejo de incubação devem atender rigorosamente as necessidades fisiológicas dos embriões, principalmente no tocante à temperatura, que, ainda, é o único parâmetro físico de influência direta no embrião sobre o qual podemos exercer algum controle. O controle da temperatura embrionária é tão importante e tão discutido atualmente porque a produção de calor metabólico é diretamente proporcional à evolução do crescimento do frango e vários pesquisadores estudaram e demonstraram a geração de calor embrionário de diferentes linhagens em diferentes estágios de desenvolvimento (Ohta et al, 2004) . Os estudos de Lourens et al (2006) concluíram os dados apresentados no gráfico 01. Gráfico 01. 01 Produção de calor embrionário de acordo com o tamanho do ovo e a evolução do desenvolvimento (dias de incubação). Produção de calor (mW/ovo) Ovos grandes Ovos pequenos Tempo (dias) O fato de os embriões de ovos maiores gerarem mais calor a partir do último terço da incubação obriga a adequação da temperatura de set point das máquinas com objetivo de manter constante a temperatura embrionária (Lourens et al, 2006). Outros estudos conduzidos pela Pas Reform B.V. e também pela Universidade de Berlim complementam os dados apresentados acima ao apresentar estimativas de geração de calor embrionário para as próximas gerações. Tabela 02. 02 Geração de calor metabólico como conseqüência das melhorias genéticas nas futuras gerações (Hamminga, 2008) Ano mW/ovo 1.983 124 2.003 164* 2.013 186** 2.023 210** 2.033 ??? * Dados da Pas Reform e Universidade de Berlim ** Estimativas Agora, sabendo das alterações provocadas pelo redirecionamento das seleções genéticas partindo de características de desempenho reprodutivo para produtivo, como mostra a tabela 03, concluímos que o gerenciamento do controle da geração de calor metabólico se faz de extrema importância para a evolução nos processos de incubação. Tabela 03. 03 Alterações nos objetivos genéticos de acordo com a década de seleção (Hamminga, 2008). Característica 19851985-1995 19951995-2005 20052005-2015 Ovos incubáveis ++ ++ + Eclosão ++ + + Crescimento ++ ++ ++ Conversão Alimentar Rendimentos + +++ +++ + ++ +++ Viabili Viabilidade + + ++ E como gerenciar a produção de calor embrionário de modo a aperfeiçoar seu desenvolvimento sem levá-lo a situações de estresse calórico? Podemos dizer que a evolução dos processos de incubação trouxe o advento do controle de CO2 como grande destaque. Entretanto, o controle desse gás resultante do metabolismo embrionário não é suficiente para atender as demandas fisiológicas dos embriões das linhagens modernas atuais e futuras. Para entendermos como os processos de incubação evoluíram e responder a pergunta acima é importante destacarmos as diferenças entre incubação estágio múltiplo e estágio único. O primeiro é aquele em que uma máquina opera com idades embrionárias distintas, usualmente 3 ou 6 idades. Nessa situação, é impossível manter a temperatura de desenvolvimento embrionário dentro de intervalos adequados fisiologicamente para cada fase de desenvolvimento. Portanto, equipamentos de incubação que preconizam o conceito estágio múltipl há muito tempo já não têm condições de resultar em adequada eclosão e muito menos em desempenho na granja. A discussão então não reside na opção entre estágio múltiplo versus estágio único, mas sim qual conceito de estágio único é capaz de atender às exigências fisiológicas dos embriões de hoje e amanhã. No geral, tanto os equipamentos estágio múltiplo quanto os de estágio único antigos e modernos oferecem os mesmos parâmetros físicos de incubação e a seguir daremos destaque nos diferenciais apresentados entre eles para cada parâmetro importante. Temperatura: Temperatura Novos equipamentos permitem controlar a temperatura de incubação em diferentes set points para diferentes posicionamentos da máquina e isso somente é possível através de sistemas modulares de incubação estágio único, como mostra a figura 02. Figura 02. 02 Esquema de incubação modular em que cada grupo de ovos tem controle separado da temperatura de incubação. O controle individual por seção, em conjunto com o sistema de ventilação também individual e eficiente, assegura homogeneidade na distribuição da temperatura sobre os ovos, mantendo o desenvolvimento embrionário constantemente dentro de limites estreitos. Unicamente através da incubação estágio único por um sistema modular como o apresentado na figura 02 é possível incubarmos diferentes idades de reprodutora e de estoque de ovos no mesmo equipamento. O controle individual de temperatura por módulo de incubação também acarretará numa reduzida janela de nascimento, que será discutida adiante. A precisão no controle da temperatura de incubação é outro ponto crítico e os sistemas atuais utilizados nos processos evoluídos de incubação conseguem atingir uma elevada confiabilidade através de um sistema denominado P.I.D. (Proporcional, Integral, Derivativa). Esse sistema trabalha com constante previsão de demanda de energia, considerando a histerese das temperaturas para se chegar ao padrão estabelecido (set point), culminando com controle mais apurado entre o real e planejado para a máquina, bem como economia de energia na utilização dos equipamentos de incubação. Os sistemas convencionais, modelo “liga-desliga” trabalham com variações significativas de temperatura e, portanto, são também sistemas de custo operacional mais elevado. Como sabemos que os processos de seleção genética levaram os embriões a estresse térmico, novos sistemas de incubação devem apresentar mecanismos de aquecimento e refrigeração eficientes e uma das maneiras de se medir a eficiência dos sistemas não é somente pela carga potencial para troca de calor, mas também pela maneira como as fontes de aquecimento e refrigeração são distribuídas no equipamento. Existem duas formas básicas de aquecimento e refrigeração de equipamentos de incubação. O aquecimento pode ser elétrico (resistências) ou por água (serpentinas). O aquecimento elétrico demanda a utilização de resistências elétricas dispostas no interior da máquina ao passo que os equipamentos aquecidos a água necessitam de serpentinas no interior da máquina e um sistema de aquecimento externo (gerador de água quente ou caldeira). A tabela 04 apresenta um comparativo dos sistemas de aquecimento discutidos aqui: Tabela 04. 04 Sistemas de aquecimento de incubadoras por água quente ou por resistências elétricas: comparativo. Resistências Elétricas Água quente Microclima de Temperatura1 Alto Baixo Custo Operacional2 Alto Baixo Liberação de calor por radiação3 Alta Baixa Capacidade de otimização4 Nula Alta Potência instalada do equipamento5 Alta Baixa Item Observações: 1 – Resistências elétricas apresentam uma relação potência/superfície muito alta, pois as resistências estão concentradas em pontos específicos da máquina, ao passo que as serpentinas (quando desenhadas adequadamente) estão distribuídas em toda a área disponível cujo direcionamento dos pulsadores ocorre. Por isso, no caso das resistências, há uma concentração de calor local próximo das mesmas, sobretudo em casos em que a ventilação não é adequada devido à rotação das pás (será discutido adiante). 2 – É importante ressaltar que equipamentos aquecidos por meio de resistências não permitem a utilização do sistema P.I.D., já mencionado anteriormente. O fato do sistema de água quente trabalhar em um circuito fechado é outra vantagem econômica desse sistema, pois a água se mantém sempre dentro de uma faixa de temperatura para ser aproveitada em qualquer equipamento, sem necessidade de aquecimento a partir de um amplo delta de temperatura (diferença na temperatura da água de entrada na máquina e a de saída da máquina). 3 – Reforçando o que foi observado no item 1, as resistências trabalham com temperatura acima da casa dos 100°C enquanto as serpentinas com água quente geralmente operam em torno de 65°C. Esse gradiente de temperatura em favor do sistema aquecido a resistência agrava o exposto no item 1. 4 - A adoção de sistemas de aquecimento por água quente apresenta a grande vantagem econômica de se otimizar os equipamentos necessários (gerador de água quente, placas solares, caldeira etc.) para uso em outros fins como por exemplo: banho de funcionários, lavagem de bandejas e caixas e sobretudo climatização do incubatório. A climatização é o uso alternativo em que há maiores ganhos, ainda mais se associado com sistema de refrigeração via água. Assim, ao atribuir vários usos para o mesmo sistema os custos se diluem e o sistema se torna mais barato, pois, também, as mesmas serpentinas podem ser utilizadas para refrigeração no interior da máquina, dispensando outros mecanismos para esse fim. No caso de equipamentos aquecidos com resistência, a fonte de aquecimento é interna e local, não podendo ser aproveitada nos casos em que aquecimento se faz desnecessário na máquina, o que, por sinal, ocorre em grande parte durante o período de incubação e, também, não é possível utilizar para outro fim que não seja aquecimento. 5 – Como não há possibilidade de otimização do sistema de aquecimento por resistências, os equipamentos que o adotam trabalham com elevada ociosidade da capacidade já instalada e pelo fato de cada equipamento contar com um sistema independente de aquecimento essa capacidade se torna elevada, onerando os custos de implantação da rede elétrica da planta. Para termos uma idéia real podemos considerar que máquinas com aquecimento a resistência apresentam, em média, 11.000W de potência instalada ao passo que os equipamentos mais evoluídos não ultrapassam 6.000W, ou seja, praticamente a metade! Outro ponto crítico de controle de temperatura é a refrigeração. Uma grande parte dos equipamentos convencionais já adota a refrigeração por serpentinas, entretanto, algumas características diferenciam equipamentos obsoletos dos equipamentos focados no futuro. Nesse quesito, a forma como a energia endotérmica das serpentinas se dá separa os sistemas eficientes dos sistemas incapazes de cumprir o papel de refrigeração. Essa forma pode ser medida basicamente pela diferença de temperatura da água que entra na máquina para a água que sai da mesma. Para controlar essa diferença (denominada “delta”) o fluxo de água nas serpentinas deve ser ilustrado, o que está a cargo da figura 03, abaixo: Figura 03. 03 Diferentes sistemas de refrigeração por serpentinas. Sistema A Sistema B No sistema A (equipamentos de última geração), a água flui em apenas uma direção, o que aumenta a eficiência das trocas térmicas de maneira a garantir a uniformidade de temperatura em cada seção de incubação da máquina. Nos equipamentos convencionais (sistema B) a temperatura da água sofre maiores diferenças entre os vários pontos da circulação da serpentina e com isso há criação de micro climas. Em termos práticos, as diferenças de temperatura no sistema A situam-se na faixa de 5 a 7°C ao passo que nos sistemas convencionais esse delta é especificado entre 10 e 12°C, comprovando a facilidade em criar micro clima e reforçando ainda mais o discutido no item 2 da tabela 04, pois o custo de re-refrigeração da água do sistema B é significativamente maior do que A, em virtude do delta maior não ser acompanhado por um volume proporcionalmente maior. Para fecharmos o tópico sobre controle de temperatura na evolução dos processos de incubação convém considerar o período de nascimento como uma das etapas do processo em que o embrião passa pela maior susceptibilidade a estresse calórico de toda sua vida até então. É nesse momento que a geração de calor e a necessidade de refrigeração para evitar acúmulo de CO2 se tornam mais críticas. Para atender às demandas dos embriões, os nascedouros devem ter, sobretudo, o sistema de refrigeração eficiente e a avicultura já pode contar processos de refrigeração de nascedouros extremamente eficientes, em que as paredes das máquinas se resfriam e não somente as serpentinas. Ao resfriar toda a parede, a área de contato disponível para troca de calor aumenta mais de 30 vezes, com exatamente o mesmo consumo de água gelada, apresentando ainda um delta menor do que nos sistemas convencionais. A figura 04 mostra o exemplo de um equipamento com esse sistema: Figura 04 – Nascedouro com sistema de resfriamento por toda a parede (surrounding cooling ®) B A Em A nota-se o interior de um nascedouro de última geração, que apresenta as paredes internas em alumínio anodizado, facilitanto as trocas térmicas do ar para refrigeração dos ovos/pintos, além de contribuir com a biossegurança do incubatório por apresentar superfícies lisas e fáceis de higienizar. Em B tem-se uma visão superior com o esquema que mostra a circulação de ar látero-central do equipamento, o que permite a realização de trocas eficientes, mais uma vez, antes que haja contato com os ovos/pintos, semelhante ao discutido em relação à figura 02. Ventilação: Ventilação O sistema de ventilação de um equipamento de incubação apresenta 3 funções básicas principais: • • • Remoção de CO2 e renovação de O2 Remoção e homogeneização de umidade Transferência de calor A maioria dos equipamentos convencionais de incubação apresenta uma taxa de utilização de ar (consumo) cerca de 3 vezes maior do que equipamentos de última geração, o que acarreta em desequilíbrio no funcionamento da máquina (deixando a máquina mais “nervosa”, como costumamos dizer), com prejuízo para a homeostase embrionária, sem assim promover adequada troca de temperatura máquina-embrião. Isso se dá porque equipamentos para incubação considerados obsoletos (estágio múltiplo ou convencional) são refrigerados a ar, ou seja, por não conseguir controlar a ambiência interna do gabinete de incubação, optam por realizar a troca do ar, ao invés de ajustá-lo. Em um exemplo simples percebemos que com a alta renovação de ar, há alta perda de umidade relativa não só pelos embriões, mas também pela máquina; conseqüentemente, a máquina trabalha buscando compensar essa perda. Como a ativação dos bicos de umidade se torna relativamente constante, o processo evaporativo resfria o sensor (e não os ovos!), que atua fechando momentaneamente as válvulas (dampers) de entrada/saída de ar, reiniciando o ciclo vicioso. É importante lembrar também que o sistema de ventilação de um equipamento de incubação está diretamente relacionado ao seu consumo de energia, ou seja, quanto mais troca de ar o equipamento realizar, mais caro será sua implantação e operação, dada a necessidade de dimensionamento elevado dos equipamentos de controle climático. Outro ponto importantíssimo do sistema de ventilação é o acesso de ar (fresco ou climatizado pela máquina) sobre os ovos. Sempre que o ar fresco entra em contato com o equipamento há a criação de um micro clima de temperatura e umidade relativa. Como exemplo, tomamos a máquina a 37,5°C e 55% de UR e a sala de incubação a 25,0°C e 60% de UR. No momento em que o ar da sala entra na máquina e é aquecido à sua temperatura, o que leva tempo, sua umidade relativa passa de 60% para 29%. Portanto, mesmo que o ar tenha se estabilizado em temperatura ele não pode entrar em contato diretamente com os ovos, pois, se o fizer, promoverá uma perda de umidade local (micro clima de umidade relativa). Além disso, como a umidade do ar está diretamente relacionada à sua capacidade de transferência de calor, também haverá maior dificuldade em transferir calor dos ovos nos pontos onde o ar passar antes de ser homogeneizado em temperatura e umidade relativa. Para se termos uma idéia, o ar já homogeneizado em temperatura e umidade relativa (37,5°C e 55%UR) contém 95kJ/kg de energia (Entalpia) ao passo que o ar, mesmo na temperatura adequada, mas sem homogeneizar a umidade relativa apresenta uma quantidade de energia claramente inferior, na ordem de 68kJ/kg (a 37,5°C e 29% UR). Agora, que já compreendemos o que deve ocorrer com o ar antes de entrar em contato com os ovos, podemos verificar numa situação ideal o que deve ocorrer observando novamente a figura 02. As setas desenham o fluxo do ar ao entrar na máquina ou mesmo ao ser renovado pela mesma, ou seja, antes de entrar em contato com os ovos ele é climatizado (desenho esquemático serpentinas- atrás dos pulsadores), em seguida circula pela lateral dos ovos em direção a um corredor principal para, então, ser redirecionado para os ovos, mantendo-os na correta temperatura embrionária, sem diferenças em umidade relativa (high RH ou low RH spots). Numa analogia ao sistema convencional, poderemos verificar a figura 03 abaixo, em que o ar entra diretamente em contato com os ovos, principalmente na porção inferior, onde normalmente estão localizados os bicos de umidade, que, numa tentativa de corrigir a baixa umidade do ar recém aquecido, promovem micro clima de temperatura ainda maior devido à perda de energia de calor latente provocada pelo processo de resfriamento evaporativo da água lançada no ambiente pelos bicos de umidade. Figura 03. 03 Sistema de entrada e distribuição de ar em equipamentos convencionais. H2O Notar que o ar ainda não homogeneizado em temperatura nem em umidade relativa entra em contato diretamente com a massa de ovos, provocando a criação de micro climas de temperatura e umidade, alterando a fisiologia embrionária, bem como seu balanço hídrico local e momentaneamente. Ainda sobre o tema ventilação, percebemos que a capacidade de movimentação de ar dos pulsadores está relacionada exponencialmente ao número de rotações por minuto (RPM) dos mesmos, ou seja, na eventualidade de diminuição na rotação dos mesmos o ar movimentado pelo equipamento diminui à uma razão polinomial de ordem 3, como mostrado na tabela 05, adaptada dos laboratórios Bess (Universidade de Illinois) e citada por Calil (2007). Tabela 05. 05 Redução relativa na capacidade de ventilação (movimentação de ar) relacionada à redução relativa das rotações por minuto de sistemas de climatização avícola (valores nominais). % Rotação da hélice* hélice* % Movimentação de ar* ar* 100 100 90 82 80 70 70 55 60 35 * Valores nominais Ao analisar a tabela ao lado verificamos que a queda na rotação das hélices é acompanhada pela movimentação de ar. Esse acompanhamento é sempre maior. No exemplo, uma redução de 10% na rotação das hélices (de 100% para 90%) leva a movimentação de ar a uma redução de 18% (de 100% para 82%) e assim sucessivamente. Essas reduções muitas vezes passam despercebidas em virtude de correias frouxas, desgastadas, polias sem condições de uso, água/graxa no sistema etc.. A importância de compreender essas variações nos leva a concluir que o controle da ventilação seja de fundamental importância para a adequada incubação, sobretudo das linhagens modernas. E assim, de fato, o é. Portanto, equipamentos modernos de incubação devem apresentar sistema que contabilize as rotações por minuto da máquina (tacômetro digital integrado) e emita alarmes caso esses valores saiam dos limites planejados, da mesma forma como ocorre com temperatura, por exemplo. O incubatório do Futuro A eleição do modelo de incubação a ser adotado nos processos de novas plantas deve ser feita com muito critério, pois, como sabemos, o conjunto de incubação é feito para trabalhar em perfeitas condições por 20 anos ou mais. Sabendo disso, nos vêm a seguinte pergunta: “Quais são as tendências para os incubatórios do futuro e o que fazer se no futuro incubaremos com os equipamentos de hoje?” Abaixo estão elencados os seguintes pontos e comentários: • Automação Automação: omação com o super dimensionamento dos incubatórios no futuro (acima de 10.000.000 pintos/mês) a climatização e automação serão parte integrante do projeto e não mais “opcionais”. Destaque importante nesse tópico é dado para automação, pois mesmo no cenário latino-americano, onde custos de mão-de-obra ainda são relativamente baratos, os processos automatizados serão utilizados como fatores de agilidade no processamento de cargas cada vez maiores que deverão ser entregues cada vez com o intervalo nascimentoalojamento menor. • Qualidade de pinto: pinto O fator qualidade será decisivo no desempenho zoo-econômico de lotes de frango e, no incubatório, a Janela de Nascimento se tornará um dos principais indicadores do gerenciamento. Sistemas que auxiliem na medição da Janela e na adoção de medidas corretivas da qualidade dos pintos serão necessários. • Climatização: Climatização os processos de incubação serão completamente integrados aos processos de ventilação/climatização. Cada vez mais será fundamental controlar a pressão estática dos diferentes ambientes, sobretudo pela questão sanitária. A integração Incubação-Ventilação trará benefícios na prestação de serviços e solução de problemas com causa mal atribuída a um ou a outro sistema. Além disso, essa integração promoverá melhores índices zootécnicos, por melhor atendimento às necessidades fisiológicas dos embriões. • Biossegurança: Biossegurança as exigências dos mercados consumidores serão cada vez maiores, as barreiras comerciais poderão estabelecer mais e mais imposições mascaradas pelo véu sanitário. Com isso, além de todas as vantagens fisiológicas e zootécnicas, o sistema de incubação estágio único será um valioso diferencial. • Serviços Técnicos em Incubação: Incubação Os fornecedores de Tecnologias de Incubação trabalharão em conjunto com seus clientes na busca constante de melhorias. Além do serviço técnico presencial, se fará cada vez mais importante a disponibilidade de peças de reposição em tempo hábil, de treinamentos e consultoria, de publicações dos avanços mais recentes (biblioteca de incubação). • Genética: Genética as linhagens manterão o acelerado ritmo de crescimento, com conseqüente geração de calor metabólico (tabela 02) e por isso os equipamentos de hoje devem ter a capacidade de refrigeração suficiente para atender às demandas futuras dos embriões. • Recuperação de energia: energia Os mecanismos de recuperação de energia se tornarão imprescindíveis dada a importância do custo que esta representa para toda a cadeia avícola. O subproduto do metabolismo embrionário (calor) será utilizado eficientemente nos incubatórios modernos. O conceito de estágio único prevalecerá e as máquinas com embriões em idade avançada (liberando calor) auxiliarão as máquinas com embriões em idade jovem (absorvendo calor). Outras fontes de geração de calor como saídas de chillers, plenums de exaustão, geradores de energia etc. terão sistema de captação de energia para imediato reaproveitamento. Se hoje os sistemas convencionais de incubação enfrentam dificuldades para lidar com as linhagens modernas é porque no passado a avicultura não dispunha de ferramentas para predição das necessidades dos embriões do futuro, que hoje é o nosso presente. Ou então porque não soube utilizá-las com a cautela que a interação ciência-campo exige. Felizmente atualmente há estudos científicos sérios de predição das necessidades fisiológicas dos embriões do futuro. Esses estudos são amparados pelos “breeding goals” (objetivos genéticos) das empresas de seleção genética avícola (vide tabela 03) e, por sua vez, permitem aos departamentos de P&D das empresas de ponta na incubação mundial avançar mais e mais a cada nova geração de sistemas de incubação. Conclusão Com todo o exposto neste artigo fica evidente a necessidade da avicultura industrial brasileira se adaptar aos conceitos mais avançados de incubação, representados pela incubação modular em estágio único. Referências bibliográficas Calil, T.A.C. Princípios básicos básicos de incubação. incubação Apinco 2007, Santos, 2007. Fairchild, B.D. Northcutt, J.K. Mauldin, J.M. Buhr, R.J. Richardson, L.J. Cox, N.A. Influence of Water Provision to Chicks Before Placement and Effects on Performance and Incidence of Unabsorbed Yolk Sacs. Journal of Applied Poultry Research, 15: 538-543, 2006. Hamminga, B. Sistemas de incubação Pas Reform. Reform Avesui 2008, Florianópolis, 2008. Joseph, N.S. Moran Jr, E.T. Effect of Flock Age and Postemergent Holding in the Hatcher on Broiler Live Performance and FurtherFurther-Processing Yield. Journal of Applied poultry Research, 14: 512:520, 2005. Lourens, A. Molenaar, R. van den Brand, H. M. J. W. Heetkamp, R. Meijerhof, and B. Kemp. 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