c e n t r o d e i n f o r m a ç ã o d o m e d i c a m e n t o ORDEM DOS FARMACÊUTICOS Nova abordagem terapêutica na osteoartrose A osteoartrose (OA) constitui a patologia articular crónica de maior prevalência no mundo, a que estão associados elevados custos na área da saúde. É uma patologia articular degenerativa de etiologia pouco conhecida, caracterizada pela perda progressiva da cartilagem articular, causando uma elevada incapacidade entre os idosos, reflectindo-se na qualidade de vida dos doentes. São factores de risco: a idade avançada (> 65 anos), a obesidade, traumatismos e sobrecarga contínua nas articulações (exercício físico intenso, determinadas profissões...). Manifesta-se por dor intensa na articulação do joelho, ancas ou mãos associada a outros sintomas como a inflamação, rigidez e alterações na mobilidade dos doentes.1,2 Não existe um tratamento eficaz para evitar a história natural da doença, daí que o objectivo terapêutico seja reduzir a dor e a inflamação articular. O tratamento desta patologia torna-se mais eficaz quando são tomadas medidas não farmacológicas como a educação do doente e familiares, a perda de peso, o exercício físico moderado acompanhado por fisioterapeutas e a utilização de dispositivos ortopédicos específicos.1,2 A terapêutica utilizada no tratamento da osteoartrose (quadro I) pode ser classificada em 2 grupos: (AINEs), corticóides, entre outros. Do ponto de vista clínico, actuam de uma forma rápida e potente, porém não são capazes de modificar a evolução natural da doença e com a sua suspensão os sintomas reaparecem. Alguns autores consideram que o efeito analgésico dos AINEs e corticóides poderia agravar indirectamente o desgaste natural da articulação devido a sobrecarga funcional existente na fase de inflamação aguda, desaconselhando o seu uso. Por outro lado os problemas de segurança, especialmente os gastrintestinais, renais e hepáticos contribuem para a sua utilização restrita, especialmente em terapêuticas prolongadas.2,3 Estes grupos terapêuticos não serão abordados, tendo esta revisão o objectivo de focar os novos fármacos desenvolvidos especificamente para esta patologia. FármAcoS que moDiFicAm A SiNtomAtologiA Sulfato de glucosamina – É um amino-monossacárido de origem biológica, existente no organismo humano, sintetizado a partir da quitina extraída da crusta dos crustáceos. A glucosamina desempenha um papel importante na bioquímica da cartilagem já que ela entra na composição das cadeias polissacáridas dos glicosaminoglicanos essenciais da matriz da cartilagem e do líquido sinovial. Fármacos de acção rápida Estes fármacos têm como objectivo minimizar a dor, a incapacidade funcional e facilitar a mobilidade do doente e incluem os analgésicos, anti-inflamatórios não esteróides Fármacos de acção sintomática lenta São fármacos em que o início da acção é mais tardio. Apresentam, porém, um aumento gradual da sua eficácia clínica, sendo esta sobreponível à dos AINEs.2 A melhoria dos sintomas prolonga-se por um período maior (alguns meses) mesmo após a suspensão da terapêutica. Têm como vantagem não terem efeitos adversos de grande relevância clínica, tornando-se mais seguros para o doente.2 quadro i – terapêutica da osteoartrose Fármacos de acção sintomática rápida analgésicos anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) glucocorticóides articulares Fármacos de acção sintomática lenta Sulfato de glucosamina Sulfato de condroitina Diacereína 1500mg/dia 1000 mg/dia 100 mg/dia uma única toma 12/12H 12/12H (após refeições) Fármacos que modificam a patologia osteoartrósica – Actualmente não existe nenhum fármaco neste grupo. Novembro/Dezembro 2005 Boletim do CIM Director: J. A. Aranda da Silva Boletim do CIM Novembro/Dezembro 2005 O seu mecanismo de acção consiste na síntese do glicosaminoglicano pelos condrócitos e consequentemente dos proteoglicanos, podendo aumentar este processo de biossíntese nas cartilagens articulares. Possui também actividade anti-inflamatória independente da ciclo-oxigenase, daí a sua excelente tolerância gastrintestinal. O papel da glucosamina na bioquímica e farmacologia da cartilagem articular é completado pela sua acção inibitória de enzimas destruidoras da cartilagem, tais como a colagenase, a fosfolipase A2 e enzimas lisossomais. Impede também a formação de radicais oxidantes dos macrófagos que danificam os tecidos. Estas acções são responsáveis pela capacidade de contrariar in vivo processos reactivos tais como o edema.4,5 A dose aconselhada é de 1500 mg por dia, administrada em uma toma durante um período de 4 a 12 semanas. Pode ser prolongado, se necessário. O período de tratamento pode ser repetido a intervalos de 2 em 2 meses, ou ainda na recorrência de sintomas. Não existem efeitos adversos relevantes, o que permite uma excelente adesão à terapêutica. Por outro lado, as suas características farmacocinéticas e farmacodinâmicas possibilitam, se necessário, a utilização simultânea com AINEs e analgésicos.1-6,8-10 Porém, nos doentes diabéticos é necessário ter precaução porque a glucosamina interfere no metabolismo da glucose, podendo aumentar os níveis séricos devido a resistência da sua absorção por parte das células. Neste caso, será necessário efectuar a monitorização destes doentes.11 Ácido hialurónico – É um glicosaminoglicano que existe em diversos tecidos extracelulares, inclusivamente no líquido sinovial. A sua administração intra-articular proporciona viscoelasticidade, fundamental pelas suas propriedades lubrificantes, essenciais para a correcta estrutura da cartilagem articular, implicando uma melhoria da mobilidade da articulação. A sua administração é realizada uma vez por semana durante 3 semanas consecutivas. A sua acção tem uma duração de 4 a 6 meses, dependendo do doente. Neste período o doente melhora substancialmente a qualidade de vida, não tendo muitas vezes de recorrer à terapêutica com analgésicos e AINEs.2,6 Sulfato de condroitina – Forma parte do grupo dos glicosaminoglicanos, que são importantes constituintes da matriz extracelular da cartilagem, conferindo propriedades mecânicas e elásticas. O seu mecanismo de acção consiste na retenção de água por parte dos proteoglicanos, permitindo o aumento do volume da cartilagem quando está submetida a uma força mecânica. Por outro lado, inibe as enzimas que degradam a cartilagem, estimula a síntese de proteoglicanos e colagéneo, elementos que constituem a cartilagem, aumentando os seus níveis nos condrócitos, nas células tecidulares que se encontram nas macromoléculas da cartilagem responsáveis pela regeneração óssea. Deste modo, permite assegurar as propriedades funcionais mecano-elásticas da cartilagem. Este fármaco está contra-indicado em doentes que apresentem hipersensibilidade cutânea e das vias respiratórias, como acontece em doentes do foro asmático. A dose aconselhada é de 1000 mg por dia, administrada em duas tomas diárias durante 3 meses. Estes ciclos de tratamento podem repetir-se 2 a 3 vezes no ano, consoante a resposta terapêutica do doente.1,2,4,7,8,10,12 Diacereína – É um pró-fármaco da reína, tendo uma acção inibidora dos sintomas agudos e crónicos de inflamação. Tem também efeitos benéficos na diferenciação celular e dos tecidos envolvidos nas doenças articulares. A síntese endógena das prostaglandinas não é antagonizada. Devido ao seu lento início de acção, o seu efeito analgésico é observado normalmente ao fim de 30 a 45 dias. A duração máxima de tratamento é de aproximadamente 6 meses. A dose recomendada é de 50 mg duas vezes ao dia, sendo administrada após as refeições de forma a permitir uma melhor biodisponibilidade. Devido às propriedades químicas deste fármaco, poderá ocorrer efeito laxante sob a forma de fezes moles e aumento dos movimentos peristálticos. Outros efeitos adversos observados com menor frequência consistem em gastralgia, meteorismo, diarreia e toxicidade hepática. Comparativamente aos AINEs, a diacereína não demonstrou nenhum potencial ulcerogénico para o tracto gastrointestinal.1,2,13,14 É um fármaco que apresenta efeitos adversos relevantes, daí que a sua utilização tem sido restrita, dando-se preferência ao sulfato de glucosamina. coNcluSão Actualmente a terapêutica da OA está baseada numa concepção farmacológica mais natural (quadro I) tendo em conta a fisiopatologia da doença e o papel que estas novas moléculas (tais como o sulfato de glucosamina e o ácido hialurónico) podem ter, quer na prevenção da degeneração da cartilagem, quer no seu tratamento. Além disso, a segurança que está demonstrada representa uma melhoria da qualidade de vida do doente, com uma redução nos custos despendidos pelos serviços de saúde.1,3,9,11 Porém, serão necessários mais ensaios clínicos no sentido de confirmar as vantagens da utilização destes novos fármacos em relação à terapêutica clássica, acerca da sua interferência na progressão da doença, segurança e eficácia a longo prazo e clarificar definitivamente o seu mecanismo de acção. Ana maria Ferra de Sousa Bibliografia 1. Reginster J. Y et al. J Rheumatol, 2003; 30 (Suppl 67): 4-20. 2. Verges J. et al. Aten Farm, 2003; 5(6): 361-73. 3. Brandt K.D. Ann Rheumatol Dis, 2004; 63(2): 117-122. 4. Anon. Rev Prescrire, 2004; 24(253): 612-614. 5. Viartril®-S. Resumo das Características do Medicamento. Laboratórios Delta Lda. Junho de 2004. 6. Anon. Panorama Actual Med, 2004; 28(275): 653-657. 7. Leeb B. et al. J. Rheumatol, 2000; 27: 205-11. 8. McAlindon T. et al. JAMA, 2000; 283: 1489-1495. 9. Jordan K.R. et al. Ann Rheum Dis, 2003; 62: 1145-55. 10. Richy F. et al. Arch Intern Med, 2003; 163: 1514-1522. 11. Jain R. et al. Arch Intern Med, 2004; 164: 807. 12. Ossin 500®. Resumo das Características do Medicamento. Laboratório Basi – José Esteves Alves, Lda. Julho de 2004. 13. Anon. Panorama Actual Med, 2003; 27(264): 577-82. 14. Artrolyt®. Resumo das Características do Medicamento. Neo-Farmacêutica, Lda. Maio de 2005. Durante os processos de oxidação libertam-se radicais livres.1 Estudos experimentais têm mostrado que estes podem induzir numerosos processos patológicos.2 Têm sido implicados na carcinogénese, na progressão de doença cardiovascular, na patogénese de sepsis e doenças oculares, em complicações da diabetes mellitus e na disfunção cognitiva associada à idade.3 Tem sido posta a hipótese de que certas substâncias, chamadas antioxidantes, actuem sobre os radicais livres prevenindo certas patologias.4 Alguns dos nutrientes com capacidade antioxidante são: carotenóides, vitamina C, vitamina E, selénio e zinco.1,2,5 Entre os carotenóides estão: betacaroteno (pró-vitamina A principal da dieta), alfacaroteno, luteína, zeaxantina e licopeno.6 Muitos estudos têm investigado os efeitos da ingestão de antioxidantes na função imune e no risco de doenças crónicas incluindo cancro, problemas respiratórios e cardiovasculares.5 DoeNçA cArDiovASculAr A oxidação do colesterol das lipoproteínas de baixa densidade (LDL-C) tem sido proposta como um factor importante no desenvolvimento de aterosclerose.5,7Assim, os antioxidantes seriam potencialmente úteis na prevenção do desenvolvimento de aterosclerose e da doença cardíaca.5,8 Em estudos observacionais, as pessoas com uma alta ingestão de vitaminas antioxidantes (caroteno, vitamina C e vitamina E) na dieta, ou como suplementos dietéticos, têm geralmente menos risco de enfarte ou acidente vascular cerebral.9 No entanto, apesar dos resultados promissores neste tipo de estudos, a maioria dos ensaios aleatorizados e controlados por placebo não têm encontrado benefício de forma conclusiva no uso de suplementos com antioxidantes (administrados individualmente ou em associações8) na prevenção primária ou secundária de doença cardiovascular.8-11 Alguns estudos têm mesmo sugerido que estes suplementos podem ter efeitos prejudiciais. Em ensaios clínicos com betacaroteno, na prevenção primária do cancro, não há prova de redução de risco cardiovascular e alguns dados apoiam um incremento na mortalidade total. Há resultados similares em análises sobre prevenção secundária.8 Uma meta-análise12 sobre efeitos cardiovasculares a longo prazo de vitaminas antioxidantes, analisando sete ensaios controlados e aleatorizados, conclui que o uso de vitamina E não pode ser recomendado por rotina e que o uso de suplementos com betacaroteno deve ser desaconselhado por um pequeno, mas significativo, aumento na mortalidade por todas as causas, incluindo a cardiovascular. Recomenda que os ensaios com betacaroteno sejam suspensos. Outra meta-análise13 utilizando dados de dezanove ensaios clínicos controlados e aleatorizados encontra uma relação dependente da dose entre a suplementação com vitamina E e a mortalidade total. Nove dos onze ensaios, com altas doses de vitamina E (≥ a 400 UI/dia) durante pelo menos um ano, mostraram aumento no risco de mortalidade por todas as causas. Os benefícios ou riscos de suplementos com doses baixas não foram claros. O estudo conclui que se devem evitar os suplementos de vitamina E em altas doses. Uma revisão sistemática conclui que suplementos alimentares com caroteno, vitamina C e vitamina E não podem ser recomendados para a prevenção primária ou secundária de doença cardiovascular.9 Outros antioxidantes como flavonóides, coenzima Q10, ubiquinona, selénio ou licopeno são promovidos para prevenir a doença cardíaca, mas os estudos ainda são menos conclusivos, sendo necessários mais ensaios.14 Dos estudos observacionais, há alguma prova de que a pouca ingestão de fruta e vegetais pode aumentar o risco cardiovascular. Esta conclusão não está baseada na revisão sistemática da evidência disponível, mas, tendo em vista outros efeitos benéficos da dieta rica em fruta e vegetais, parece razoável recomendá-la também para protecção frente a doenças cardiovasculares.9 cANcro A maioria dos estudos epidemiológicos indicam que uma dieta rica em fruta e vegetais está associada a menor incidência de algumas doenças malignas.10,11,15 Ensaios clínicos recentes não encontraram significativa associação entre consumo de fruta e vegetais e cancro de diversos tipos.15 Um ensaio, numa região da China com uma alta prevalência de cancro gastrintestinal, observou efeitos benéficos na mortalidade total e na incidência de cancro, depois de cinco anos de suplementação com doses nutricionais de betacaroteno, alfa-tocoferol e selénio.2,16 Os ensaios sobre prevenção primária ou secundária não apoiam necessariamente os dados dos estudos observacionais. Os antioxidantes não têm demonstrado redução do risco de cancro em fumadores. Na realidade, parece que os suplementos antioxidantes (não os antioxidantes da dieta) podem aumentar o risco de cancro em fumadores.5 É imprescindível não negar que doses elevadas de betacaroteno ficaram associadas a cancro nalguns estudos, não o prevenindo. Antes de se recomendar um aumento da ingestão de suplementos, deve ser considerada a probabilidade de o individuo ter o ADN afectado (pelo tabaco, por ex.). Nesse caso, os antioxidantes provavelmente não vão prevenir ou reparar o dano preexistente e os suplementos em altas doses podem, na realidade, inibir o mecanismo de apoptose.3 Numa revisão sistemática e meta-análise15 sobre o uso de suplementos antioxidantes na prevenção de cancro gastrintestinal, nenhum ensaio com betacaroteno, vitaminas A, C e E e selénio (sozinho ou em associação) mostrou efeitos significativos na incidência de cancro de esófago, gástrico, colo-rectal, pancreático ou de fígado. Em alguns dos ensaios, o antioxidante aumentou a mortalidade: betacaroteno e vitamina A e betacaroteno e vitamina E aumentaram a mortalidade de forma significativa. Em quatro ensaios (três com metodologia inadequada ou pouco clara) o selénio mostrou uma redução na incidência de cancro gastrintestinal. Diversos estudos sugerem que os suplementos antioxidantes podem não ser benéficos para a prevenção do cancro.15 DoeNçAS oculAreS O olho sofre um risco especial de dano oxidativo devido às altas concentrações de oxigénio, à grande quantidade de ácidos gordos oxidáveis na retina e à exposição aos raios ultravioletas.5,17 Há provas significativas indicando que a foto-oxidação, bem como outras condições oxidativas, contribuem para os processos degenerativos do olho.7,17 A degeneração macular relacionada com a idade (DMRI) é causa de cegueira no idoso.5,17 Alguns estudos epidemiológicos mostram que uma alta ingestão de frutos e vegetais, particularmente os que têm altos níveis de luteína e zeaxantina, Novembro/Dezembro 2005 o uso de antioxidantes na prevenção da doença Boletim do CIM Novembro/Dezembro 2005 diminui a incidência de DMRI.5 Tem sido sugerido que a progressão de DMRI pode ser diminuída com dieta rica em vitaminas antioxidantes (carotenóides, vitamina C e E), ou minerais (selénio e zinco).18 No entanto, os resultados de estudos observacionais relacionando a ingestão, ou os níveis sanguíneos de antioxidantes, com a DMRI têm sido inconsistentes.17 Presentemente não há evidência de que pessoas saudáveis devam tomar antioxidantes para prevenir o início da DMRI.17 Num ensaio clínico, a suplementação com antioxidantes e zinco pode ter beneficiado ligeiramente (atrasar a progressão da doença e prevenir perda de visão) alguns doentes com DMRI moderada a grave.18,19 Serão necessários mais ensaios.18 Os antioxidantes estão a ser estudados na prevenção e atraso do crescimento de catarata. Estudos observacionais encontram alguns efeitos positivos em consumidores de vitamina E.7 Uma formulação de vitamina C, E e betacaroteno em alta dose aparentemente não teve efeito no desenvolvimento ou progressão de catarata relacionada com a idade ou na diminuição da acuidade visual.20 outroS eStuDoS Há investigação sobre o uso de selénio na artrite ou na SIDA (efeitos na progressão da doença e na mortalidade) e também sobre a suplementação com vitamina E na doença de Alzheimer. Os dados são preliminares, sendo necessária mais investigação.21 Uma revisão sistemática sobre suplementação com antioxidantes em doentes críticos concluiu que a suplementação com selénio parentérico (sozinho ou em associação com outros antioxidantes) pode estar associada a uma redução na mortalidade.22 coNcluSão Os antioxidantes têm sido promovidos como terapêutica preventiva em diversas situações.14 Dados epidemiológicos têm, de facto, mostrado uma forte relação inversa entre a ingestão de antioxidantes, ou alimentos ricos nesses nutrientes e o risco de cancro e doença cardiovascular isquémica.2 A avaliação da terapia com antioxidantes em humanos tem geralmente dado resultados desanimadores.8 Até à data, os resultados publicados de ensaios aleatórios e controlados de suplementos com antioxidantes não têm proporcionado uma clara evidência de efeito benéfico.2 Resultados de grandes ensaios multicêntricos mostraram que os suplementos antioxidantes nem sempre foram eficazes para reduzir a incidência de cancro ou problemas cardiovasculares, particularmente em doentes de alto risco.3 Não têm confirmado o efeito benéfico potencial, e alguns deles têm mesmo sugerido efeitos negativos para a saúde.2,3 Alguns autores argúem que a falha na demonstração do benefício com os antioxidantes é devida a dose inadequada, à duração do tratamento ou ao tipo de antioxidantes.23 Os resultados positivos dos ensaios observacionais podem sugerir que os antioxidantes sejam marcadores para outro factor que proporcione benefício.10 Em geral, os melhores resultados dos antioxidantes foram observados em estudos epidemiológicos com derivados da dieta. Não se sabe se esses efeitos benéficos podem ser especificamente atribuídos aos antioxidantes identificados nesses alimentos; podem ser necessários os variados nutrientes encontrados nos alimentos ricos em antioxidantes, que actuariam sinergicamente, proporcionando os efeitos protectores.3,14 A quantidade de antioxidantes nos suplementos pode ser tão elevada, comparada com a dieta, que leva a um efeito tóxico.14 No desenho dos estudos será importante considerar os estilos de vida.3 Na interpretação de estudos prospectivos de coortes, os enviesamentos são inerentes à selecção de participantes; por exemplo, as pessoas que consomem grandes quantidades de frutos e vegetais tendem a ter um estilo de vida saudável. Os resultados positivos dos estudos observacionais poderiam estar relacionados com este estilo de vida.9,14 Os estudos observacionais realizam-se na população geral, enquanto muitos ensaios são efectuados em doentes de alto risco. É possível que, pela idade e características ligadas ao risco, esses indivíduos sejam menos susceptíveis à redução dos problemas cardiovasculares.8 * Tendo em conta o aumento da mortalidade com altas doses de betacaroteno e recentemente com a vitamina E, o uso de suplementos com doses altas deve ser desaconselhado até existir evidência de eficácia, documentada por ensaios clínicos bem concebidos.13 Devem ser considerados todos os riscos possíveis dos suplementos, especialmente no doente crónico.3 O papel exacto dos suplementos com antioxidantes na prevenção da doença não está estabelecido.2,3,15 Os antioxidantes não devem ser utilizados por rotina numa população com uma alimentação variada.4 Assim sendo, as actuais recomendações indicam que a estratégia mais segura e eficaz na prevenção e tratamento de doenças associadas às lesões oxidativas continua a ser a manutenção de uma dieta variada, rica em frutos e vegetais, ricos em nutrientes antioxidantes e outros fitoquímicos.1,3,5 O farmacêutico recomendará uma dieta equilibrada e estilos de vida saudáveis com exercício moderado, sobriedade no consumo de álcool e evitando o tabaco.5 Aurora Simón Bibliografia 1. Waine C. Pharm J, 2001; 867: 352-54. 2. Hercberg S. et al. Arch Intern Med, 2004; 164: 2335-42. 3. Clarck S. F. Nutr Clin Pract, 2002; 17: 6-17. 4. Anon. Rev Prescrire, 2005; 261: 376-77. 5. Mc Dermott J. M. J Am Pharm Assoc, 2000; 40: 785-99. 6. Dietary supplements Fact Sheet: Vitamin A and carotenoids. Office of Dietary Supplements. Disponível em. http://ods.cd.nih.gov/ factssheets/vitamina.asps (consultado 2005.09.02). 7. Vitamin E. Office of Dietary Supplements. Disponivel Em: http://ods. cd.nih.gov/factssheets/vitamine.asp (consultado 2005.09.02). 8. Morris C. D., Carson S. Ann Intern Med, 2003; 139: 56-70. 9. Asplund K. J Intern Med, 2002; 251: 372-92. 10. Riley S. J., Stouffer G. A. Am J Med Sci, 2003; 325(1): 15-19. 11. Riley S. J., Stouffer G. A. Am J Med Sci, 2002; 324(6): 314-20. 12. Vivekanantham D. P. et al. Lancet, 2003; 361: 2017-23. 13. Miller E. et al. Ann Intern Med, 2005; 142: 37-46. 14. Tran T. L. Postgrad Med (Ed Port), 2002; 17(1): 107-112. 15. Bjelakovic G. et al. Lancet, 2004; 364: 1219-28. 16. Antioxidants and cancer prevention: questions and answers. National Cancer Institute Fact Sheet. 01/08/2003. Disponível em: www.cancer.gov (consultado 2005.11.14). 17. Hall N. F., Gale C. R. BMJ, 2002; 325: 1-2. 18. Evans J. R. Cochrane review abstract and plain language summary. The Cochrane Database of Systematic Reviews, 2005, issue 4. 19. Kassoff. A. et al. Arch Ophthalmol, 2001; 119: 1417-1436. 20. Kassoff. A. et al. Arch Ophthalmol, 2001; 119: 1439-52. 21. Selenium. Dietary supplements Fact Sheet. Office of Dietary Supplements. Disponível em: http:/ods.od.nih.gov/factsheets/selenium.asp. (consultado 2005.09.02). 22. Heyland D. K. et al. Intensive Care Med, 2005; 31: 327-37. 23. Spencer D., Meadows S. J Fam Pract, 2002; 51(11): 976. Boletim Do Cim - Publicação bimestral de distribuição gratuita da ordem dos Farmacêuticos - Rua da Sociedade Farmacêutica, 18 - 1169-075 lisboa - telf. Cim 213 191 393. Director: J. Aranda da Silva Comissão de Redacção: A. Simón (coordenadora); J. A. Aranda da Silva; m. e. Araújo Pereira; m. t. isidoro; t. Soares. os artigos assinados são da responsabilidade dos respectivos autores.