Além de mínimo, muito sujo

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 Além de mínimo, muito sujo
Laboratório analisa notas de real e descobre que a campeã em imundície é a
de R$ 20, justamente aquela do aumento do salário
Viviane Barreto
Se o trabalhador já achava ruim R$ 20 de aumento do salário mínimo, imagina
o que dirá agora. A pedido do DIA, o Laboratório Bioqualitas analisou notas de
R$ 1 a R$ 100 e apontou a cédula de R$ 20 como a de maior índice de
contaminação. Sobram coliformes fecais (cocô) e também bactérias
patogênicas – que causam mal à saúde. Mas esse não é o único dinheiro sujo.
As notas de R$ 2 não ficam muito atrás.
Na soma total de bactérias encontradas nas cédulas analisadas, a de R$ 2 saiu
na frente. Como ninguém vive sem dinheiro, que jeito dar? “Usar cartões de
crédito para não se contaminar?”, sugere Ana Ascenção, 31 anos, que melhor
do que ninguém sabe o que é sofrer com dinheiro sujo. “Sou bancária. Já
peguei notas com cheiro de peixe e com mofo. Nossa! É nojento demais.
Sempre saio correndo para lavar as minhas mãos”, conta.
Três notas de cada valor foram analisadas
Para explicar tamanha contaminação dos R$ 20, a bancária arriscou palpite: “O
povo ficou tão injuriado com o aumento do salário-mínimo, que, diga-se de
passagem, foi mínimo mesmo, que deve ter cuspido na nota”, brinca Ana. As
cédulas analisadas foram recolhidas em ônibus, postos de gasolina,
supermercados, lanchonetes e, claro, bancos. O laboratório trabalhou com três
notas de cada valor (R$ 1, R$ 2, R$ 5, R$ 10, R$ 20, R$ 50 e R$ 100).
Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações do Rio, Isabella Ballalai
alerta sobre o risco de contaminação. “As mãos são o maior veículo de doença.
É preciso que as pessoas façam, pelo menos, a higienização antes de comer.
A maior preocupação é a presença de coliformes fecais. Nas fezes podem vir
várias doenças, como hepatite A e giardíase (diarréia)”, diz a especialista.
Mesmo com menor circulação, a nota de R$ 100 não ficou com ficha limpa. A
bactéria Staphylococcus aureus, que é prejudicial à saúde, tira proveito da
cédula de alto valor. Dezesseis Unidades Formadoras de Colônias (UFC) foram
encontradas ‘hospedadas’ nela. “Mas já os coliformes fecais estavam
ausentes”, explica a farmacêutica e microbiologista Brigitte Bertin, do
Bioqualitas.
Para fazer as análises, profissionais do laboratório esfregaram com cotonete
um lado inteiro de cada cédula. Quem pensava que a nota de R$ 1 seria a
grande campeã – devido à sua grande circulação –, enganou-se. Nenhuma das
duas bactérias que causam mal à saúde analisadas apareceu.
A escolha do Troféu Eca foi para lá de difícil. Apesar de todas mostrarem
muita sujeira para vencer a batalha, a nota de R$ 20 – a escolhida do
presidente Lula – foi realmente a grande vencedora. Vaias para ela.
Entenda o que cada bactéria pode causar
Bactérias mesófilas: é neste grupo onde se encontram as principais bactérias
patogênicas – que fazem mal à saúde. O coliforme fecal é uma mesófila.
Escherichia coli (E.coli): infecção alimentar por E.coli pode causar dor
abdominal, diarréia aquosa ou sanguinolenta, febre, náusea e vômito. A
maioria das categorias provoca diarréia de oito a 24 horas após a ingestão do
alimento contaminado. Sempre onde houver fezes, terá bactéria E.coli.
Staphylococcus aureus: é a bactéria que apresenta maior potencial
patogênico. Além de vômitos, sintomas como náusea, dor abdominal, diarréia,
dor de cabeça e dor muscular são observados.
Confira as bactérias presentes em cada nota
R$ 1
Mesófilas – A média das três notas analisadas foi de 359 mil Unidades
Formadoras de Colônias (UFC), mas em uma das cédulas chegou a 440 mil
UFC.
Coliformes fecais – O teste encontrou média de 3.600 UFC.
Escherichia coli – Ausente em todas as cédulas.
Staphylococcus aureus – Negativo em todas as notas.
Outros estafilococos – A média registrada pelo laboratório foi de 19.700 UFC.
R$2
Mesófilas – A média das três notas analisadas pelo Bioqualitas foi de 646 mil
UFC, mas em uma das cédulas chegou a 880 mil UFC.
Coliformes fecais – A média foi de 3.460 UFC.
Escherichia coli – Ausente em todas as cédulas.
Staphylococcus aureus – Havia em uma nota 410 UFC.
Outros estafilococos – A média registrada pelo laboratório foi de 6.560 UFC.
R$5
Mesófilas – A média das três notas analisadas pelo Bioquálitas foi de 133.600
UFC, mas em uma das cédulas chegou a 320 mil UFC.
Coliformes fecais – A média foi de 1.300 UFC.
Escherichia coli – Apareceu em uma nota: 50 UFC.
Staphylococcus aureus – Negativo em todas as cédulas analisadas.
Outros estafilococos – A média foi de 30.130 UFC.
R$10
Mesófilas – A média das três notas analisadas foi de 457.300 Unidades
Formadoras de Colônia, mas em uma cédula chegou a 660 mil UFC.
Coliformes fecais – A média foi de 3.293 UFC.
Escherichia coli – Média nas cédulas: 310 UFC.
Staphylococcus aureus – Presente em uma nota: 20 UFC.
Outros estafilococos – A média registrada pelo laboratório foi de 34.900 UFC.
R$ 20
Na nota de R$ 20 imundície não faltou. Sujeira foi também o que trabalhadores
acharam quando o Governo passou o salário mínimo de R$ 240 para R$ 260, a
partir do início do mês. Confira as bactérias presentes:
Mesófilas – A média das três notas analisadas foi de 609 mil UFC.
Coliformes fecais – Média encontrada: 13.560 UFC.
Escherichia coli – Apareceu numa nota: 60 UFC.
Staphylococcus aureus – Presente numa cédula: 720 UFC.
Outros estafilococos – Média registrada: 63 mil UFC
R$50
Mesófilas – A média das três notas analisadas pelo laboratório foi de 169 mil
UFC, mas em uma das cédulas chegou a 380 mil UFC.
Coliformes fecais – Não foram encontrados.
Escherichia coli – A bactéria estava ausente em todas as cédulas.
Staphylococcus aureus – Negativo em todas as notas.
Outros estafilococos – Média registrada foi de 263 UFC.
R$100
Mesófilas – A média das três notas analisadas pelo laboratório foi de 127.900
UFC, mas em uma das cédulas chegou a 310 mil UFC.
Coliformes fecais – Não foram encontrados.
Escherichia coli – Ausente em todas as cédulas.
Staphylococcus aureus – Presente em uma nota: 50 UFC.
Outros estafilococos – A média registrada pelo laboratório foi de apenas 650
UFC.
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