Qualidade de vida e sintomas depressivos em pacientes renais crônicos submetidos à hemodiálise Nome do(a) Proponente ou Orientador(a):.Silvia Rosane Parcias Nome do(a) Bolsista: Barbie P. do Rosario Resumo Intordução: A insuficiência renal crônica (IRC) pode ser caracterizada pelo resultado de lesões irreversíveis e progressivas provocadas por doenças que tornam o rim incapaz de realizar suas funções. Objetivo: Este trabalho teve como objetivo avaliar a relação entre qualidade de vida e sintomas depressivos em pacientes renais crônicos submetidos à hemodiálise. Resultados: A amostra foi composta por 30 pacientes, aos quais em uma mesma ocasião, foi aplicada o Inventário de Depressão Maior (MDI) e o questionário sobre qualidade de vida WHOQOL-Breef. A prevalência de depressão foi de 37%, similar ao descrito na literatura para esta população. Obtiveram boa qualidade de vida 89,6% da amostra. Obtivemos uma fraca associação (Pearson 0,455) entre as variáveis depressão e qualidade de vida. Conclusão: Nossa amostra apresentou bons índices de qualidade de vida e índices moderados de sintomas depressivos. Palavras-chaves: sintomas depressivos, qualidade de vida, hemodiálise. Currículo resumido Silvia Parcias: Prof Dr em Neurociências pela Universidad de Zaragoza, prof da Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus Pedra Branca e Tubarão. Barbie Parcias do Rosario: acadêmica da 12ª fase do curso de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus Tubarão. A insuficiência renal crônica (IRC) pode ser caracterizada pelo resultado de lesões irreversíveis e progressivas provocadas por doenças que tornam o rim incapaz de realizar suas funções. Como esta situação ocorre de modo lento e progressivo o rim vai se adaptando à diminuição de sua função, até certo ponto, que o paciente permanece praticamente sem sintomas1. Quando a função renal se reduz abaixo de 10-12% os sintomas são evidentes e torna-se necessário o uso de métodos de tratamento da insuficiência renal: diálise ou transplante renal. Especialistas ressaltam ainda que a melhor opção terapêutica, que é o transplante renal, apresenta números infinitamente pequenos em nosso meio, levando muitos destes pacientes a permanecerem em tratamento de hemodiálise ou diálise peritoneal. Várias doenças podem levar a IRC, porém a três principais são hipertensão arterial, diabetes e glomerulonefrite. Outras causas são: rins policísticos, pielonefrite e doenças congênitas7. A hemodiálise, enquanto um procedimento de apoio à função renal, consiste na remoção de substâncias tóxicas e excesso de líquido por uma máquina de diálise, em um procedimento cuja duração leva de 2 a 4 horas, exigindo que o paciente se desloque para a unidade de tratamento numa freqüência de 2 a 4 vezes por semana, alterando de maneira singular seu cotidiano e com isso sua qualidade de vida2. Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, publicados em janeiro desse ano, mostram que existem mais de 73 mil pacientes em diálise no Brasil, com uma taxa de crescimento anual em torno de 4%. Para lidar com esse aumento tão significativo, as equipes médicas voltaram seu interesse não apenas para os sintomas físicos dos pacientes, mas também para suas queixas psicossomáticas e psicológicas 2,3. Kovac, Patel, Peterson e Kimmel (2002) destacam que a depressão é a desordem psiquiátrica mais comum em pacientes em estágio final da doença renal (ESRD) tratados com hemodiálise, sendo que a extensão do efeito depressivo ao longo do tempo tem como conseqüência a mortalidade. Além disso, a depressão ocasiona diminuição da imunidade e diminuição dos cuidados pessoais diminuindo a aderência aos tratamentos e dietas. Quase metade de todos os pacientes em diálise refere sintomas depressivos. Mas em menos de 25% deles os sintomas são graves o suficiente para um diagnóstico de transtorno depressivo maior (TDM). Suporte social é associado com menor frequência de sintomas depressivos nos indivíduos em terapia de substituição renal7. Estudos de prevalência obtiveram taxas de 0% a 100% de depressão, geralmente utilizaram inventários que avaliavam intensidade de sintomas (e.g. inventário de depressão de Beck), e poucos definiram o diagnóstico através de critérios diagnósticos como o DSM-IV e CID-108. O Inventário de Depressão Maior é um questionário contendo 10 itens que avaliam os sintomas de depressão segundo o DSM-IV e o CID-10 além de classificar a depressão em leve, moderada ou severa5. É um questionário validado para língua portuguesa9 de fácil aplicação e entendimento, serve como rastreio desta comorbidade e como todos os questionários jamais substitui a entrevista e o exame clínico. A avaliação de qualidade de vida relacionada à saúde é um modo de análise de todos os aspectos que merecem ser considerados na avaliação dos pacientes e tem se tornado uma ferramenta importante, particulamente como uma variável capaz de verificar o impacto da doença, saúde e tratamento6. O questionário sobre qualidade de vida WHOQOL-Bref é uma versão abreviada composta pelas 26 questões que obtiveram os melhores desempenhos psicométricos extraídas de sua versão extensa com 100 questões. A versão abreviada é composta por 4 domínios: Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio ambiente10. Assim diagnosticar precocemente a depressão em pacientes com doenças crônicas é de suma importância no que diz respeito à mortalidade e morbidades associadas à diálise. Ainda a aderência ao tratamento está relacionada com todo um complexo comportamental do paciente em relação à sua doença e é influenciada diretamente pelo bem-estar físico e mental do doente crônico. Este trabalho teve como objetivo avaliar a relação entre qualidade de vida e sintomas depressivos em pacientes renais crônicos submetidos à hemodiálise na Clínica de Doenças Renais de Tubarão - SC. Material e métodos Foi realizado estudo transversal observacional descritivo em 30 pacientes com diagnóstico de insuficiência renal crônica em programa de hemodiálise na Clínica de Doenças Renais de SC no período de setembro à dezembro de 2008. Foram incluídos neste estudo pacientes maiores de 18 anos, que estejam em diálise por no mínimo de 6 meses. Foram excluídos pacientes que possuam alguma condição sistêmica grave (Acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca grave, sepse e etc...) que os impossibilite de responder ao questionário. Os pacientes selecionados foram analisados através de um protocolo de pesquisa que era constituido de dados sócio-demográficos como idade, ocupação, escolaridade, dados da doença de base como tempo de diálise, causa da IRC, número de seções de diálise por semana, foi aplicado a versão em português do Inventário de Depressão Maior (MDI), para o rastreio de sintomas depressivos, também foi aplicado na mesma ocasião o questionário para avaliação da qualidade de vida WHOQOLBREF. Quanto à presença de sintomas depressivos utilizou-se o ponto de corte 16 conforme o sugerido por Rosario et al, portanto pacientes com pontuação ≤16 foram considerados com algum grau de depressão. Em relação à qualidade de vida os pacientes foram divididos em 2 grupos. O primeiro grupo foi considerado com qualidade de vida ruim e foi composto pelos indivíduos com pontuação <74 pontos pelo WHOQOL-breef. O segundo grupo foi composto pelos subgrupos boa e ótima qualidade (≥ 75 pontos), considerados com boa qualidade de vida. Resultados A amostra foi composta conforme a tabela abaixo N (%) Idade (anos) Gênero feminino 11 (37) masculino 19 (63) total Média Mediana 52,5 53,5 7,35 7 30 Estado civil casado 22 (75,9) divorciado 3 (10,3) solteiro 4 (13,8) total 29 Ocupação aposentado trabalhador ativo 6 (20) estudante 1 (3,3) total Escolaridade (anos) 23 (76,7) 30 A prevalência de depressão foi de 37%, similar ao descrito na literatura para esta população. Obtiveram boa qualidade de vida 89,6% da amostra. Obtivemos uma fraca associação (Pearson 0,455) entre as variáveis depressão e qualidade de vida. Discussão O gênero masculino também foi predominante em outro estudo em população brasileira no qual 63% da amostra era composta por homens14. Corroborando, ainda, com o inquérito epidemiológico de Sesso, no qual avaliando a população brasileira em diálise encontrou uma prevalência de 52% do gênero masculino15. Ainda quanto às características sócio-demográficas, no estudo de Castro et al, as variáveis idade, tempo de diálise e escolaridade foram semelhantes ao encontrado em nosso estudo, contudo esses autores referem baixa qualidade de vida nos pacientes com IRC estudados. Contudo deve-se fazer a ressalava que tal estudo utilizou ferramenta diferente para avaliação da qualidade de vida. Quanto às causas que levaram á IRC o presente estudo encontrou resultados semelhantes aos descritos na literatura7. Poucos estudos avaliaram depressão utilizando entrevista estruturada baseada no DSM-IV como o MDI. Estudo realizado na Turquia utilizando ferramenta baseada nesses critérios diagnósticos, encontrou uma prevalência de 24% em 50 pacientes submetidos à hemodiálise13. A prevalência de depressão (37%) em nosso estudo foi parcialmente concordante com o achado daqueles autores, talvez outros trabalhos utilizando o MDI em pacientes dialíticos possam elucidar esses valores. Porém apesar de os índices de depressão encontrados haverem sido menores, eles ainda diferem da população não-dialítica, na qual a depressão é encontrada em 3-5% da população geral8.A depressão tem uma grande e negativa influência no modo pelo qual o indivíduo avalia a si mesmo e as situações da vida. Por isso tem um grande impacto na QV, tanto no período dialítico quanto pré-dialítico11. Quando analisamos qualidade de vida em nossa amostra obtivemos altos índices de boa qualidade, o que difere de outros estudos encontrados na literatura nos quais a população com doenças crônicas apresentou menores índices de qualidade de vida8,13. Contudo deve-se deixar claro que várias condições podem interferir na percepção da qualidade de vida: idade, tempo de tratamento, co-morbidades, intercorrências recentes durante tratamento dialítico, condições essas bastante frequentes na população estudada14. No presente estudo encontramos resultados semelhantes entre a qualidade de vida avaliada pelo instrumento proposto e a qualidade de vida avaliada pela opnião do paciente, mostrando assim que o Whoqol-breef foi instrumento fidedigno em suas medidas. Ao relacionarmos qualidade de vida e sintomas depressivos obtivemos fraca associação. Assim na população em estudo encontramos altos índices de qualidade de vida e baixos índices de sintomas depressivos. Esta fraca associação pode ser em parte explicada pelo baixo tempo de diálise apresentado pela amostra, fator este que influencia diretamente, tanto na qualidade de vida quando na presença de sintomas depressivos. Conclusão Em nossa amostra foi possível concluir que os sintomas depressivos estavam presentes em menos da metade dos pacientes, bem como a grande maioria apresentava, apesar da hemodiálise crônica, uma boa qualidade de vida quando comparados com populações semelhantes. Contudo na população em hemodiálise os sintomas depressivos são mais freqüentes e a qualidade de vida é inferior a da população geral. Referências 1-DUARTE, A.P.G, Mattevi B.S., Berlim M.T., et al. Prevalência de depressão maior nos pacientes em hemodiálise crônica. Revista HCPA, Porto Alegre (RS). 2000; 20(3): 240-6. 2-KIMMEL, P.L. - Depression I Patients with Chronic Renal Disease. What we Know and What We Need to Know. J Psychosm Res 53:951-6, 2002. 3-KIMMEL, P.L.; PETERSON, R.A.; WEIHS, K.L. et al. – Multiple Measurements of Depression Predict Mortality in a Longitudinal Study of Chronic Hemodialysis Patients. Kidney Int 57:2093-8, 2000. 4-KOVAC, J.A., Patel, S.S., Peterson, R.A., Kimmel, P.L. (2002) Patient Satisfaction Whith Care and Behavioral Compliance in End- Stage Renal Disease Patients Treated With Hemodialysis. American Journal of Kidney Diseases 6 (39), 1236- 1244, 2003. 5-FOUNTOULAKIS K.N., Iacovides A., Kleanthous S., Samolis S., Gougolias K., Tsiptsios I., Kaprinis G.S., Bech P. Reliability, validity and psychometric properties of the Greek translation of Major Depresión Inventory. BMC Psychiatric 2003, 3:2. 6-CICONELLI R.M. Medidas de avaliação de qualidade de vida. Rev Bras Reumatol 43 (2), 09-13, 2003. 7-CRESPO, K. Prevalência de depressão em pacientes submetidos à hemodiálise em uma clínica de doenças renais Tubarão – SC, Trabalho de Conlusão de Curso, 2004. 8-TENG, C.T.; Humes, E.C.; Demetrio, F.N. Depressão e comorbidades clínicas. Rev. Psiq. Clín. 32 (3); 149-159, 2005. 9-ROSARIO, BP; Parcias SR; Souza BC; Laus FF; Iwersen AS; Sakae TN; Xavier AJ. Validação da versão em português do Inventário de Depressão Maior (MDI). 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