Quem tem medo do genético

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Quem tem medo dos OGMs?
População precisa saber que esses produtos são submetidos a vários testes,
de caráter científico, antes de serem colocados no mercado
O consumidor está no supermercado e corre as prateleiras em
busca de produtos que já conhece. Vai pegando aqueles de que
precisa e de marcas nas quais confia, mas sempre dá uma
“olhadinha” nas novidades para ver se lhe interessam.
Nas prateleiras com alimentos, o comportamento é o mesmo,
mas o cuidado com produtos novos é maior. Afinal, consumir esses
produtos significa “enguli-los”. Quem atua na área de alimentos
geneticamente modificados tem plena consciência dessa
preocupação e sabe que é justificada. Por isso, uma das
providências mais importantes no setor é promover a segurança
alimentar, cuidando para que os produtos não causem prejuízo à
saúde humana e mesmo animal.
Antes de mais nada, vamos esclarecer que os alimentos
geneticamente modificados (GMs) foram desenvolvidos e
comercializados por apresentarem vantagens ao produtor e/ou
consumidor, tais como menor custo de produção, menor preço,
maior valor nutricional e durabilidade do produto.
Falando em credibilidade, porém, temos de reconhecer,
infelizmente, que há certa manipulação da mídia e de diversas
organizações não-governamentais, aliada à falta de informação da
população em geral. Tudo isso resultou numa grande distorção
com relação aos riscos e benefícios advindos desta nova
tecnologia.
A polêmica sobre os organismos geneticamente modificados,
e/ou organismos transgênicos, começou no Brasil em 1995,
quando da promulgação da Lei Nacional de Biossegurança. O
Brasil foi um dos pioneiros na regulamentação de OGMs, incluindo
os transgênicos, e tem sido um exemplo que vem sendo seguido
em todo o mundo pelos países que querem regulamentar a
manipulação, o consumo, a experimentação, o transporte e o
descarte desses organismos e seus derivados.
Muitos produtos agrícolas têm sido geneticamente
modificados por meio da transferência de genes que, normalmente,
não estão presentes no organismo original (parental). Os alimentos
contêm milhares de proteínas, mas poucas delas são alergênicas,
ou seja, que causam alergia. A propriedade estrutural das
proteínas que causam reações alérgicas não está bem
caracterizada. Qualquer tipo de alimento é potencialmente
alergênico, independentemente de ser geneticamente modificado
ou não. A maioria das reações alérgicas é causada por um
pequeno grupo (leite, castanhas, legumes, ovos e frutos do mar).
Os alergenos são proteínas ou químicos capazes de
causarem uma reação alérgica. Esta manifestação é iniciada por
um processo silencioso chamado de “sensibilização” que ocorre
durante o primeiro contato com o alergeno. Um indivíduo que já
tenha sido sensibilizado e tiver um contato subseqüente com o
alergeno poderá apresentar os sintomas da alergia, que levam à
broncoconstrição, dilatação dos vasos sanguíneos, aumento da
permeabilidade vascular etc.
A avaliação da segurança alimentar do que é produzido por
técnicas convencionais ou geneticamente modificado é fácil de ser
realizada quando o potencial causador de alergia do organismo de
origem do gene é conhecida. A maior dificuldade está na avaliação
do efeito da transferência de um gene de uma proteína
desconhecida. Não há um procedimento pré-estabelecido para
definir ou predizer sua alergenicidade. Portanto é essencial que os
procedimentos de avaliação dessa característica em alimentos
GMs estejam bem estabelecidos e que testes sejam desenvolvidos
para garantir sua segurança. Não há evidências de que novas
proteínas, presentes em alimentos GMs, sejam mais alergênicas
que as proteínas tradicionais. Evidências sugerem que a grande
maioria dessas proteínas é segura para o consumo. No entanto, se
algum alimento GM causar uma reação alérgica séria, a confiança
da população com relação aos alimentos transgênicos ficará
extremamente abalada.
Os elementos comuns entre avaliação de segurança de
alimentos produzidos por métodos convencionais e a de alimentos
GMs inclui a comparação do produto final com um que tenha um
padrão de segurança já determinado, geralmente o produto similar
convencional. A alergenicidade dos alimentos GMs pode ser
avaliada por alguns métodos. Estudos relativos à toxicidade e seus
efeitos agudos ou crônicos também são realizados.
É investigado também o impacto do novo produto nos níveis
de ingestão e seu processamento, além de suas propriedades
fisico-químicas e bioquímicas, tais como a estabilidade ao calor,
resistência ao processamento, resistência à digestão, percentual
de proteína com relação ao conteúdo total são comparadas com as
propriedades apresentadas por proteínas alergênicas conhecidas.
Enfim, inúmeros testes são realizados, prévios à liberação
comercial desses produtos para garantir, da melhor forma possível,
e com os conhecimentos científicos disponíveis, que esses
alimentos não ponham em risco a saúde humana e animal.
Devemos lembrar que, graças a essa nova tecnologia,
inúmeras pessoas têm se beneficiado e nunca houve dúvidas com
relação aos medicamentos produzidos desta forma. Certamente
esses
novos
medicamentos,
chamados
de
proteínas
recombinantes, trouxeram benefícios imensuráveis ao pacientes
que podem ser tratados com essas novas drogas. O emprego
dessas novas tecnologias, aliado ao alto grau de segurança
imposto pela Lei Nacional de Biossegurança, permitirá o
desenvolvimento de novos medicamentos, vacinas e insumos,
trazendo melhor qualidade de vida ao cidadão.
Denise Cantarelli Machado é professora do Instituto de Pesquisas Biomédicas, da Faculdade de
Medicina no Hospital São Lucas da PUC-RS
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