HEPATITES VIRAIS - Laboratório Humberto Abrão

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HEPATITES VIRAIS
Dra. Andréa F. Vale
A
s hepatites virais são doenças provocadas por diferentes
agentes etiológicos, com tropismo primário pelo tecido
hepático, que apresentam características epidemiológicas,
clínicas e laboratoriais semelhantes, porém com importantes
particularidades.
A distribuição das hepatites virais é universal, sendo
que a magnitude dos diferentes tipos varia de região para
região. No Brasil, também há grande variação regional na
prevalência de cada hepatite.
As hepatites virais tem grande importância pelo número
de indivíduos atingidos e pela possibilidade de complicações
das formas agudas e de
médio e longo prazo
quando da cronificação.
No Dia Mundial de Luta
Contra as Hepatites Virais,
o Ministério da Saúde
anunciou recentemente que
vai incluir a vacina contra
o vírus da hepatite A no
calendário nacional de
vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS). A imunização
vai ser direcionada à crianças de 1 ano até 1 ano e 11 meses.
O objetivo é prevenir e controlar a hepatite A e, dessa forma,
imunizar, gradativamente, toda a população.
Existem cinco tipos de hepatites virais: A, B, C, D e E.
Elas costumam causar inflamação no fígado e é comum
quem está ou esteve doente não saber, pois, por vezes, a
doença evolui sem sintomas ou sinais. As hepatites virais
são transmitidas por diferentes modos e cada uma pode ser
prevenida tomando-se alguns cuidados.
Os vírus A e E são transmissíveis pela via fecal-oral,
ou seja, ingestão destes vírus (água, alimentos e de
pessoa a pessoa) e os vírus B, D e C pela via parenteral,
(procedimentos perfuro-cortantes com instrumentos
contaminados por sangue, produtos hemoterápicos) e
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vertical (de mãe para filho). As hepatites virais crônicas podem levar
à doenças hepáticas como a cirrose e o câncer, após 15 a 30 anos de
infecção. Em ambos os casos, o tratamento é o transplante hepático.
As hepatite B e C são infecções frequentemente assintomáticas, ou
seja, não apresentam sintomas. A maioria das pessoas só descobre
que tem (ou teve) hepatite B ou C depois de alguns anos, muitas
vezes por acaso, através dos testes sorológicos para esses vírus.
Apesar de assintomáticas em muitos dos casos, as hepatites B e C
podem causar cansaço, dor no corpo, dor de estômago, olhos e pele
amarelada ou urina escura. O doente deve procurar uma unidade
de saúde e se submeter a um teste sanguíneo. Apenas o exame de
sangue confirma estes dois tipos da doença.
Embora dados clínicos possam sugerir diferenças, as hepatites
virais raramente são distinguíveis. Ensaios sorológicos sensíveis
e específicos permitem ao clínico identificar o determinante
antigênico envolvido, distinguir a fase aguda da crônica, avaliar
infectividade, prognóstico e ter acesso ao estado imune do paciente,
a ideia é reforçar a importância do diagnóstico precoce.
Uma importante forma de prevenção contra a hepatite B é a
vacinação. Ela já faz parte do calendário oficial e está disponível
nos postos de vacinação para todas as pessoas até 49 anos de idade.
A imunização é dividida em três doses, a última sendo seis meses
depois da primeira. Vale ressaltar que apenas o esquema vacinal
completo é eficaz.
Como se proteger das hepatites virais:
• Coloque em prática o sexo seguro: use camisinha. O caminho mais seguro de prevenir a transmissão sexual
de uma doença é usar preservativo.
• Em caso de uso de drogas, não compartilhe seringas e agulhas, pois são possíveis fontes de contaminação.
• Nunca compartilhe objetos que podem conter sangue, inclusive lâminas de barbear, alicates de unha,
escovas de dentes, pois são objetos de uso exclusivamente pessoal.
• Ao fazer tatuagem ou piercing, exija material esterilizado corretamente.
• Em caso de transfusão de sangue, assegure-se quanto à origem do produto hemoterápico e se foram
realizados todos os testes sorológicos exigidos.
• Faça o teste de hepatite durante o pré-natal. O diagnóstico precoce possibilita prevenção e o tratamento do
bebê, no caso da hepatite B, logo após o parto.
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MARCADORES SOROLÓGICOS PARA
O DIAGNÓSTICO DE HEPATITE
Hepatite A
• Anti HAV IgM
Anticorpo produzido contra proteínas do capsídeo viral. Surge
com os sintomas iniciais, aumenta por 4 a 6 semanas e então
declina gradualmente até níveis indetectáveis em 3 a 6 meses. O
achado de anti-HAV IgM positivo é indicativo de infecção aguda.
• Anti HAV IgG
Anticorpos IgG específicos são detectáveis no soro na fase
aguda ou convalescente precoce da infecção e permanecem por
toda a vida. Promove imunidade protetora contra a hepatite A.
• Anti-HBc total
(Anticorpos totais contra o
antígeno core do vírus B):
É o melhor marcador de exposição ao vírus
B. Está presente na infecção aguda, na infecção
crônica e em pacientes que se recuperaram
totalmente da doença, indicando contato prévio com
o vírus.
• HBeAg (Antígeno “e” do vírus B):
Seis marcadores sorológicos disponíveis rotineiramente podem
ser utilizados para o diagnóstico de hepatite B aguda e crônica,
para o acompanhamento dos pacientes, e para indicação e
monitorização do tratamento. Estes marcadores estão descritos
a seguir:
É um marcador de replicação viral, sendo sua positividade
indicativa de alta infecciosidade. Na infecção aguda autolimitada,
desaparece em cerca de 2 a 6 semanas. Sua persistência após 8 a
10 semanas sugere fortemente a possibilidade de evolução para
a forma crônica. Na infecção crônica, está presente enquanto
houver alta replicação viral, a não ser em casos em que uma
mutação impede a produção do HBeAg.
• HBsAg (Antígeno de superfície do vírus B):
• Anti-HBe (Anticorpo contra o antígeno “e” do vírus B):
Sua presença indica infecção em curso, sendo encontrado tanto
na forma aguda quanto na crônica. É o primeiro marcador a
aparecer, podendo ser detectado 1 a 2 semanas após a exposição
ao vírus. Na infecção aguda autolimitada, desaparece na fase de
convalescença, 2 a 4 meses após seu surgimento. A persistência do
HBsAg por mais de 24 semanas é indicativa de hepatite crônica.
Geralmente, é detectado após o desaparecimento do HBeAg,
sugerindo redução ou ausência de replicação viral, exceto nas
cepas com mutação pré-core (não produtoras da proteína
“e”). Persiste detectável por 1 a 2 anos. Alguns indivíduos não
desenvolvem níveis detectáveis de anti-HBe.
• Anti-HBs (Anticorpo contra o antígeno de superfície
do vírus B):
Hepatite C
Hepatite B
É um anticorpo protetor, neutralizante. Está presente, geralmente,
após o desaparecimento do HBsAg, indicando resolução da
infecção e imunidade. Este exame é usado como rastreamento de
anticorpos induzidos pela vacina, avaliando assim a sua eficácia e
imunização ao antígeno da hepatite B.
• Anti-HBc IgM (Anticorpo IgM contra o antígeno core
do vírus B):
Sua presença indica infecção aguda, sendo o primeiro anticorpo
detectável. É encontrado no soro até 32 semanas após a
infecção. O anti-HBc IgM e o anti-HBc total podem ser os
únicos marcadores detectados em pacientes com hepatite aguda
fulminante e no período entre o desaparecimento do HBsAg e o
aparecimento do anti-HBs.
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• Anti-HCV
Aparece de 4 a 32 semanas após o início da doença (em média,
15 semanas)ou de 10 a 30 semanas após a transfusão (em
média, 22 semanas). Os testes de segunda geração, atualmente
utilizados, tem uma positividade de 65% na fase aguda e
sensibilidade de 90% na fase crônica. Entretanto este teste
apresenta algumas restrições:
1. Longo período de “janela imunológica” de até 6 meses entre
infecção e soroconversão;
2. Pacientes imunodeprimidos, como receptores de
transplante renal, ocasionalmente têm infecção pelo HCV
sem anticorpos detectáveis;
3. Há possibilidade de reações falso-positivas na presença de
doenças autoimunes, infecções por outros flavivírus, como a
febre amarela e dengue.
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• PCR para HCV
Devido à limitação dos testes que detectam anticorpos anti-HCV,
a demonstração da viremia pode ser necessária. A amplificação do
ácido nuclêico viral (RNA) pela reação em cadeia da polimerase
(PCR) é um método efetivo para detecção direta de vírus circulante.
As indicações mais freqüentes para realização deste exame são:
1. Confirmação da infecção em indivíduos com anti-HCV (ELISA
ou RIBA) positivos ou indeterminados;
2. Diagnóstico precoce em pacientes com hepatite aguda;
3. Monitorização da hepatite perinatal;
REFERÊNCIAS
Álter MJ, et al. Risk factors for acute non-A,
non-B hepatitis in the United States and assotiation with hepatitis C virus infection. JAMA
1990;264:2231-5.
Aragna, et al. Serological response to the
hepatitis delta virus in hepatitis D. Lancet
1987;1:478.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
Vigilância em Saúde. A, B, C, D, E de hepatites para comunicadores. Brasília, 2005.
4. Monitorização do tratamento com Interferon da hepatite C.
Barbara JAJ, Contreras M. Non-A, non-B
heptitis and anti-HCV assay. Vox Sang
1991;60:1-7.
Hepatite D
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
Vigilância em Saúde. Hepatites virais: o Brasil
está atento. 3. ed. Brasília, 2008.
• Anti-HDV
Anticorpos da classe IgM Delta, surgem 5 a 7 semanas após o início
da infecção, enquanto anticorpos IgG aparecem apenas na fase de
convalescencia, em títulos baixos. Podem estar presentes tanto na fase
aguda como na crônica da hepatite B. Uma maneira prática para saber
se há co-infecção ou superinfecção é fazer o anti-HBc: sendo positivo o
anti-HBc IgM, será coinfecção, e sendo positivo apenas o anti-HBc IgG,
será superinfecção.Quando o HDV instala-se, consome o HBsAg, cujo
título cai, podendo até negativar-se. Neste caso, curando-se a hepatite
delta, o HBsAg volta a ser detectado.
O diagnóstico precoce é a melhor defesa. Podemos salvar
milhões de vidas se os testes forem feitos e as pessoas
tratadas a tempo.
Erichsen ES, Viana LG, Faria RMD, Santos
SME. Medicina Laboratorial para o Clínico.
Belo Horizonte: Coopmed, 2009.
Hepatites virais: o Brasil está atento/
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância
Epidemiológica. 3.ed. Brasília: Ministério da
Saúde, 2008.
Mc Pherson RA. Laboratory diagnosis of
human hepatitis viruses. J Clin Lab Analysis
1994;8:369-77.
Mendes, Amanda. Governo inclui vacina
contra hepatite A no calendário de vacinação
do SUS. Portal da Saúde – Brasília. Ministério
da Saúde, 2014. Disponível em: <www.saude.
gov.br>. Acesso: Julho, 2014.
Dra. Andréa Cristiane Fonseca do Vale.
Biomédica - Setor de Hormônios.
O conjunto de recomendações emitidas neste artigo, de forma geral, reflete as evidências científicas de efetividade das intervenções. Sua finalidade é orientar os profissionais da saúde e público em geral, no atendimento de portadores de hepatites, objetivando prevenir ou reduzir
as suas complicações. O documento não aborda, de forma sistemática, análises de custo-efetividade, não devendo ser encarado como guia
global absoluto para serviços preventivos de saúde pública. Consulte seu médico.
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