CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA Faculdade de Tecnologia de São Sebastião Curso Superior de Tecnologia em Gestão Empresarial MYRIAN TEIXEIRA MACEDO A ÉTICA NO MARKETING INVISÍVEL São Sebastião 2014 MYRIAN TEIXEIRA MACEDO A ÉTICA NO MARKETING INVISÍVEL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Tecnologia de São Sebastião, como exigência parcial para obtenção do título de Tecnólogo em Gestão Empresarial. Orientador: Profª Dra. Maria do Carmo Cataldi Muterle São Sebastião 2014 MYRIAN TEIXEIRA MACEDO A ÉTICA NO MARKETING INVISÍVEL Apresentação de Trabalho de Graduação à Faculdade de Tecnologia de São Sebastião, como condição parcial para a conclusão do curso de Tecnologia em Gestão Empresarial. São Sebastião, 09 de dezembro de 2014. BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________ PROFª DRA. MARIA DO CARMO CATALDI MUTERLE _________________________________________________________ PROF. ME. RICARDO DE LIMA RIBEIRO _________________________________________________________ PROF. ME. EDUARDO HIPÓLITO DO REGO MÉDIA FINAL: ___________________ Dedico este trabalho aos que sempre me apoiaram com todo o amor, carinho e dedicação para que eu buscasse e realizasse meus sonhos. Aos meus pais eu devo minhas maiores realizações e mesmo tendo partido, deixaram, além de uma saudade sem fim, o exemplo de vida que continua a guiar meus passos. AGRADECIMENTOS À minha orientadora Maria do Carmo, por toda a paciência, por ter me acolhido e por nunca ter me deixado desistir deste projeto. À minha irmã Marisa, por sempre estar ao meu lado me incentivando e me apoiando com carinho e admiração. À minha sobrinha Maíra por acreditar em mim, me ouvir nas horas de desânimo e me apoiar incondicionalmente. Ao professor Rafael Romero pelo apoio, incentivo e dedicação na elaboração deste trabalho. Ao professor Ricardo Ribeiro pelo suporte, correções e incentivo. À Veridiana e a todos da Biblioteca pelo apoio e pelo carinho que sempre me dedicaram. Aos meus colegas que compartilharam comigo estes 4 anos de aprendizado e crescimento. A esta instituição, todo seu corpo docente, funcionários, administração e direção que se dedicaram dia a dia para que tivéssemos o melhor aprendizado. A todos os meus amigos e alunos que compreenderam minha falta de tempo durante este período e nunca deixaram de me apoiar. Aos Srs. Jonathan Margolis e Patrick Garrigan, que gentilmente responderam ao meu email e deram tão importante contribuição a esta pesquisa. A todos que, de alguma forma, contribuíram para a finalização deste projeto. “Ama-se mais o que se conquista com esforço.” (Benjamin Disraeli) RESUMO Esta pesquisa tem como tema a discussão da ética do Marketing Invisível, diante da controvérsia entre a necessidade das empresas de continuar alcançando seu público-alvo e suas metas de venda, no cenário atual saturado de mensagens publicitárias, onde a propaganda tradicional não tem atingido o efeito esperado nos consumidores, e da utilização desse tipo de propaganda que, disfarçada, manipula e induz as pessoas ao consumo. Este estudo objetiva, através de pesquisas bibliográfica e documental e da análise dos princípios e preceitos éticos dos órgãos reguladores de publicidade e propaganda, refletir sobre a ética no Marketing Invisível e responder se esta estratégia se enquadra nos principais requisitos constantes dos códigos de ética. Com a análise através do confronto entre os casos expostos nesta pesquisa e os preceitos e princípios éticos dos órgãos reguladores de propaganda, constatou-se a natureza dúbia desta estratégia. Como resultado desta pesquisa, verificou-se que o Marketing Invisível não se enquadra nos princípios e preceitos de ética analisados, fazendo-se necessária uma reflexão, por parte das empresas, quanto à melhor estratégia de divulgação, que lhes proporcione atingir seus objetivos de venda, respeitando a ética e seus princípios. Palavras-chave: Marketing invisível. Propaganda. Ética. Empresa. ABSTRACT This research has as its theme the discussion of the Stealth Marketing ethics, due to the current controversy between companies that must keep reaching their public and their sales targets in a current saturated advertising scenario where traditional advertising has not been producing the expected effect on consumers as before, and the use of such ads that, disguised, manipulates and induces people to consumption. This study aims, through bibliographical and documentary research and analysis of the principles and precepts of institutions that control advertising and marketing, reflect on the ethics of Stealth Marketing and answer if this strategy fits the main requirements of their ethics codes. With the analysis through the confrontation between the cases presented in this study and the precepts and ethical principles of those institutions, the dubious nature of this strategy can be verified. The outcome of this research turned out that the stealth marketing does not meet the principles and precepts of the analyzed ethics codes, making necessary a reflection by the companies in order to find the best communication strategy, which will lead them to the achievement of their sales objectives, respecting the ethics and its principles. Key-words: Stealth Marketing. Advertising. Ethics. Company. LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Tipos de Mídia .................................................................................... 17 Quadro 2 – Vantagens e Desvantagens das Principais Mídias ......................... 19 Quadro 3 – Código de Ética da American Marketing Association .................... 33 Quadro 4 – Arts. 36, 37, seção III, do Código de Defesa do Consumidor ........ 36 Quadro 5 – Preceitos Básicos CONAR................................................................ 38 Quadro 6 – Princípios Gerais Código CONAR .................................................... 38 Quadro 7 – Cap. III, art. 5º item E, Código de Ética da ABM&N ......................... 42 Quadro 8 – Principais Características do Marketing Invisível .......................... 45 Quadro 9 – Preceitos e Princípios dos Orgãos Reguladores ............................ 46 Quadro 10 – Email do Sr. Patrick Garrigan ......................................................... 49 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Envelopes com Fotos de Amyr Klink ................................................ 29 Figura 2 – Publicidade do CONAR de 1984......................................................... 40 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 09 2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 13 2.1 MARKETING ................................................................................................................ 13 2.2 COMPOSTO DE MARKETING ................................................................................. 14 2.3 PROMOÇÃO E PROPAGANDA ............................................................................... 15 2.3.1 Conceitos e Definições ........................................................................................... 15 2.3.2 Ferramentas da Mídia Tradicional ....................................................................... 17 2.3.3 Marketing Inovador .................................................................................................. 20 2.4 MARKETING DE GUERRILHA ................................................................................. 21 2.4.1 Conceitos e Definições ........................................................................................... 21 2.4.2 “Armas”do Marketing de Guerrilha ..................................................................... 24 2.5 MARKETING INVISÍVEL ............................................................................................ 25 2.5.1 Conceitos e Definições ........................................................................................... 25 2.5.2 Exemplos e Casos Reais........................................................................................ 26 2.6 ÉTICA ............................................................................................................................ 29 2.6.1 Conceitos e Definições ........................................................................................... 29 2.6.2 Ética nas Organizações .......................................................................................... 30 2.6.3 Ética no Marketing ................................................................................................... 32 2.7 ÓRGÃOS REGULADORES ...................................................................................... 35 2.7.1 Fundação PROCON – Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor... 36 2.7.2 CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária .......... 37 2.7.3 ABAP – Associação Brasileira de Agências de Publicidade ........................ 41 2.7.4 ABM&N – Associação Brasileira de Marketing e Negócio ............................. 41 3 METODOLOGIA ................................................................................................ 43 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 45 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 50 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 52 ANEXO – Email original de Patrick Garrigan (em inglês) ............................. 54 9 1 INTRODUÇÃO Em um cenário já tomado pela propaganda tradicional, onde o consumidor é exposto diariamente a um bombardeio de anúncios, cartazes, comerciais, campanhas e promoções, e onde a indiferença por parte dos consumidores é um risco que uma empresa não pode correr, a criatividade se faz necessária para que se encontrem novas formas de transpor esta barreira entre a propaganda tradicional e a atenção dos consumidores já fartos desse tipo de abordagem. Com o propósito de fazer com que as empresas alcancem seus consumidores sem que estes percebam o apelo de venda, surge o Marketing Invisível, uma arma criativa e diferente para atrair os consumidores a uma marca/produto, sem que, no entanto pareça realmente uma publicidade. Diante desta problemática, esta pesquisa propõe uma discussão da ética na abordagem do Marketing Invisível, através de exemplos da sua aplicação e da análise dos códigos de ética dos órgãos reguladores de propaganda e marketing. 1.1 JUSTIFICATIVA DO TEMA Este tema é importante, pois no cenário atual em que um mercado extremamente competitivo exige das empresas diferentes estratégias de marketing cada vez mais avançadas para conseguir atingir todos os seus objetivos e captar a atenção dos seus potenciais consumidores, é necessário que a ética dessas estratégias seja analisada pelas empresas, a fim de que o consumidor seja sempre respeitado em qualquer tipo de ação de marketing e a empresa desenvolva uma filosofia de comportamento socialmente responsável e ético. 1.2 PROBLEMA A problemática deste trabalho se encontra em definir se a estratégia do Marketing Invisível é eticamente aceitável para a captação da atenção de consumidores já tão impactados pela avalanche de propagandas tradicionais a que 10 são submetidos diariamente, seja pela internet, televisão, redes sociais, revistas, jornais, etc. 1.2.1 Hipótese Caso esta pesquisa revele que a estratégia do Marketing Invisível, fere os preceitos e princípios éticos constantes dos códigos de ética que regem a propaganda e o marketing, abre-se caminho para a identificação das melhores estratégias que levem as empresas a alcançar seus objetivos de venda, e a respeitar a capacidade de escolha, por parte dos consumidores, de um produto com inteligência e consciência. Por outro lado, ao chegar-se a conclusão de que o Marketing Invisível é uma estratégia que respeita os princípios da ética, com a satisfação dos consumidores, esse trabalho será importante para estimular novas discussões sobre a ética em vários outros segmentos. 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo geral Este trabalho tem como objetivo geral refletir sobre a ética na estratégia do Marketing Invisível através de uma incursão pelos códigos desenvolvidos por entidades reguladoras para instruir as empresas sobre importantes questões éticas e auxiliá-las a encontrar as soluções mais adequadas para a divulgação de uma marca ou um produto. 1.3.2 Objetivos específicos Esta pesquisa terá os seguintes objetivos específicos: • Entender os fundamentos e características do Marketing Invisível; 11 • Analisar os princípios éticos dos órgãos reguladores de publicidade e propaganda. 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A metodologia deste trabalho foi realizada em duas etapas. Primeira: pesquisa bibliográfica, onde foram definidos conceitos de marketing, marketing tradicional e marketing inovador. Também foi feita uma pesquisa de casos múltiplos do Marketing Invisível, objeto da pesquisa deste trabalho, para melhor análise deste tipo de ferramenta. Foram também definidos, através da pesquisa bibliográfica, os conceitos de ética, ética nas organizações e no próprio marketing. Segunda: uma pesquisa sobre os códigos de ética dos principais órgãos reguladores de propaganda e marketing, bem como seus princípios e preceitos, através de e-mails enviados a esses órgãos e posterior pesquisa em seus sites. 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Este trabalho está dividido em cinco capítulos sendo o primeiro, a introdução onde encontra-se uma síntese do que será tratado nos próximos quatro capítulos. O capítulo dois traz o referencial teórico que serviu de base para o levantamento dos dados que fundamentou esta pesquisa. Nele foram conceituados o marketing, o composto de marketing, a promoção e propaganda, o marketing de guerrilha, o Marketing Invisível e a ética. Também foram descritos os princípios e preceitos dos códigos de ética dos principais órgãos reguladores de propaganda e marketing. No capítulo três, metodologia, é abordada a forma como esta pesquisa foi realizada. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, o levantamento de casos diversos relacionados ao Marketing Invisível e a análise dos princípios e preceitos dos códigos de ética de entidades controladoras da propaganda e do marketing, através da consulta aos sites destas entidades e envio de emails solicitando informações adicionais sobre legislação que regula o Marketing Invisível ou que o cubra. 12 Os resultados e discussão, apresentados no capítulo quatro, trazem a análise dos dados levantados na busca pela resposta ao questionamento deste trabalho: se o Marketing Invisível é ou não ético. Por fim, o último capítulo traz a conclusão que se chegou após a análise dos dados levantados na pesquisa e uma reflexão de qual seria a melhor estratégia de marketing a ser adotada pelas empresas e que esteja de acordo com os códigos de ética discutidos. 13 2 REFERENCIAL TEÓRICO Na década de 50, após a Primeira Guerra Mundial, a competição entre as empresas e a disputa pelos mercados se acirrou devido ao avanço da industrialização mundial. De acordo com Dias (2003), isso trouxe novos desafios para as empresas, pois desenvolver e produzir produtos de qualidade e por um preço diferenciado já não era suficiente para a sobrevivência das empresas. Las Casas (2009) explica que era preciso que as empresas se esforçassem para produzir, divulgar e comercializar seus produtos de maneira mais eficaz. Porém, além da concorrência acirrada, percebeu-se que o comportamento do consumidor também havia mudado, assim como aponta Dias (2003, p. 2) onde: O cliente passa a contar com o poder de escolha, selecionando a alternativa que lhe proporcionasse a melhor relação entre custo e benefício. As empresas [...] passaram a adotar práticas como pesquisa e análise de mercado, adequação dos produtos segundo as características e necessidades dos clientes, comunicação dos benefícios do produto em veículos de massa, promoção de vendas, expansão e diversificação dos canais de distribuição. Como pode-se perceber, as empresas, além de produzir itens de qualidade que atendam a necessidade do cliente, devem comunicar com eficiência o diferencial que levará este cliente a tomar a decisão e fazer a escolha pelo seu produto. 2.1 MARKETING As definições de marketing, composto, ferramentas e marketing de guerrilha são apresentadas neste e nos capítulos a seguir como auxílio ao entendimento do conceito e utilização do Marketing Invisível, foco principal deste trabalho. O marketing possui várias definições, porém todas convergem no sentido de que ele é voltado para a satisfação das necessidades e anseios dos consumidores e para conquista dos objetivos estratégicos das empresas. Se primeiramente analisarmos Fraga (2006), a palavra marketing observada de forma objetiva, adota seu formato literal que é ‘mercado’. É um instrumento 14 administrativo que permite ao profissional a análise do rumo do ambiente mercadológico, buscando novas oportunidades, criando novos produtos que atendam as necessidades e desejos dos consumidores e também atendam aos propósitos das empresas no que tange as expectativas financeiras e estratégicas. Em um conceito mais moderno, segundo Kotler (apud COBRA, 2009, p. 4), marketing é um “processo social e gerencial”, onde o consumidor adquire o que precisa ou almeja com a elaboração, fabricação, oferecimento e troca de um produto oferecido por outrem. Cobra (2009), seguindo esta mesma linha, afirma que marketing é um sistema de troca de valor entre partes que tenham necessidades ou anseios a serem satisfeitos. Portanto, pode-se concluir em poucas palavras, que marketing “supre necessidades lucrativamente” (KOTLER; KELLER, 2006, p. 4). Em outra visão, que nos interessará mais adiante quando abordarmos o Marketing Invisível, o marketing tem como essência o “desenvolvimento de trocas em que organizações e clientes participam voluntariamente de transações destinadas a trazer benefícios para ambos” (CHURCHILL; PETER, 2007, p. 4). Embora, como vimos, o marketing seja definido de várias formas, a American Marketing Association (2013)1, o definiu finalmente como “uma atividade, conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, distribuir e efetuar a troca de ofertas que tenham valor para consumidores, clientes, parceiros e a sociedade como um todo.”. Em resumo, nos dias de hoje o marketing é visto como uma via de duas mãos, onde o consumidor tem seus desejos e necessidades satisfeitos e a empresa fornecedora do produto, tem, por sua vez, também seus objetivos de lucro, crescimento, consolidação da marca, entre outros, atingidos por um relacionamento de sucesso com o seu cliente. 2.2 COMPOSTO DE MARKETING Neste item veremos que, para a criação, comunicação e entrega de valor aos consumidores, a fim de atingir o relacionamento de sucesso com o cliente citado 1 Disponível em: https://www.ama.org/Pages/default.aspx> Acesso em: 20 nov. 2014. 15 anteriormente, é necessário planejar ações de marketing e organizar programas integralizados. (KOTLER; KELLER, 2006). Segundo Dias et al. (2003), as empresas agem incessantemente na busca dessa criação de valor para o consumidor, acarretando assim vantagem duradoura sobre a concorrência, através do gerenciamento estratégico do composto de marketing. “A interação de uma organização com o seu meio ambiente interno e externo”, segundo Cobra (2009, p.12), realiza-se através desse composto. Essa interação acontece por meio dos chamados 4 P’s, que são Produto, Preço, Promoção (comunicação) e Praça (distribuição), conforme McCarthy apud Cobra (2009). O composto de marketing é, portanto, o conjunto de ferramentas utilizado pelas empresas a fim de criar valor para seus clientes e alcançar seus objetivos organizacionais. (CHURCHILL; PETER, 2007). Resumindo, podemos citar Cobra (2009), que afirma que essas quatro variáveis são fundamentais para qualquer venda, pois os produtos devem ter qualidade; satisfazer gostos; ser atraentes e atender aos interesses dos consumidores. Porém, relevante para este trabalho será o P da promoção ou comunicação de um produto. 2.3 PROMOÇÃO E PROPAGANDA 2.3.1 Conceitos e Definições As estratégias de promoção (comunicação de marketing) tem a finalidade de levar o produto de uma empresa ao conhecimento do seu público alvo. Seu principal objetivo é fazer com que as pessoas que tenham necessidades, desejos ou mesmo problemas, se sintam encantadas, confiem, comprem e recomendem sua empresa, sua marca, seu produto. De acordo com Dias (2003, p. 272), a promoção tem como propósito “fixar o produto na mente do consumidor.”. 16 Já segundo Las Casas (2009), a promoção toma várias formas, que devem ser eficientes, para transmitir informações sobre seus produtos e formar, assim, a imagem da empresa perante seus consumidores. De uma forma geral, os marketeiros2 empregam a promoção para alcançar objetivos de aumento de vendas e lucro. Com essa comunicação, eles transmitem informação enquanto seduzem os consumidores a comprarem seus produtos. (CHURCHILL; PETER, 2007). O composto de comunicação é formado por vários elementos, que segundo Cobra (2009, p. 17) “envolve distribuição, logística, propaganda, promoção de vendas, merchandising, relações públicas, assessoria de imprensa e força de vendas.”. Dias (2003, p. 273) adiciona outras atividades a este composto que são: Propaganda; promoção de vendas; vendas; marketing direto; relações públicas, publicidade ou assessoria de imprensa; promoção de eventos; merchandising e comunicação no ponto-de-venda; atendimento ao cliente; comunicação pela Internet; embalagem. Para Las Casas (2009, p. 283) “as ferramentas de promoção são: propaganda, venda pessoal, promoção de vendas, merchandising, marketing direto e relações públicas.”. Embora haja uma pequena divergência entre os autores quanto ao que constitui o composto de promoção, todos concordam que um dos principais elementos ou ferramentas é a propaganda. A propaganda é, segundo Kotler e Keller (2006), a melhor forma de difundir uma informação, seja essa informação com intuito de promover educação ou fortalecer uma marca. De acordo com Cobra (2009, p. 298), “todos sabemos que a propaganda é a alma do negócio” e que auxilia as empresas a realizarem suas vendas. Afirma também que a propaganda, em longo prazo, tem a finalidade de “criar uma boa vontade para com a marca do anunciante”. Bennett apud Churchill e Peter (2007, p. 452), conceitua propaganda como “a veiculação de qualquer anúncio ou mensagem persuasiva nos meios de 2 Profissionais de Marketing 17 comunicação durante determinado período e num determinado espaço pagos ou doados por um indivíduo, companhia ou organização identificados.”. 2.3.2 Ferramentas da Mídia Tradicional É dentro do composto de comunicação (incluindo a propaganda), onde, segundo Churchill e Peter (2007), encontra-se o composto de mídias e este deve ser avaliado pelos profissionais de marketing quanto a qual mídia utilizar e a qual mensagem transmitir através desse meio. Ainda segundo os autores Churchill e Peter (2007, p. 452), as mídias podem ser “impressa, eletrônica, marketing direto ou outdoors.”. Já para Dias (2003, p. 294) os tipos de mídia são: televisão, rádio, revistas, jornais, internet, outdoors e mala direta. Las Casas (2009) inclui o cinema aos tipos de mídia utilizados para a divulgação de um produto. No Brasil a mídia tradicional é centralizada em televisão e revistas, seguidos de jornais e rádios. (COBRA, 2009). “A mídia é o veículo”, diz Las Casas (2009, p. 288). É através dele que se transmite a mensagem. Os tipos de mídia são variados, conforme Quadro 1. Quadro 1 – Tipos de Mídia Televisão Mídia nacional, de alta cobertura e alta frequência, que permite atingir um grande número de pessoas em pouco tempo. Porém, tem um custo por mil impactos elevado, exigindo grandes investimentos. Mídia mais adequada para atingir donas de casa e público infantil, que, em geral, são menos atingidos pelas outras mídias. Rádio Mídia pulverizada e regional, de baixa cobertura e baixa frequência, adequada para atingir homens e mulheres mais velhos ou de menor poder aquisitivo, bem como o público jovem e os residentes nas cidades pequenas. De caráter regional, exige ainda conteúdo e formato adequados às características dos ouvintes das rádios locais. Revistas Mídia segmentada, dirigida aos mais variados perfis demográficos e psicográficos, devido à grande variedade de títulos. Cobertura concentrada nas grandes cidades, com maior alcance do público feminino jovem. Permite dirigir a comunicação e segmentos de público mais específicos. Jornais Mídia regional, de cobertura concentrada nas grandes capitais. Maior alcance no 18 segmento de homens adultos, especialmente executivos, dirigentes de empresas e público de maior nível educacional. Internet Na rede mundial de computadores, as empresas podem combinar palavras, figuras e até som e imagens animadas a fim de impressionar os consumidores e compradores organizacionais. Quanto à localização, as empresas podem anunciar em sua própria página (home page), construir sites para produtos específicos ou patrocinar sites e anúncios em formato de cartazetes (banners). Ainda é uma mídia de baixa cobertura, já que, em 2000, apenas 4% da população brasileira tinham acesso a ela. A maior cobertura está no segmento de jovens de maior poder aquisitivo. Outdoors Mídia pulverizada, de cobertura local, de impacto rápido e imediato. Concentrada nos grandes centros urbanos, de difícil segmentação. A propaganda ao ar livre, além de outdoors, inclui painéis luminosos, cartazes, placas, balões, bandeiras, propagandas em ônibus, táxis, metrô e estações de metrô, distribuição de folhetos em locais públicos. Mala Direta Mídia dirigida, usada para atingir segmentos específicos de público. Em geral, utiliza material de comunicação impressa, enviada por correio para a residência do consumidor. Um anúncio por mala direta pode conter mais informações do que um comercial na TV ou um anúncio em revista e, por isso, o veículo é útil para divulgar produtos complexos ou de preço elevado. Fonte: Dias (2003) No Quadro 1, Dias (2003) afirma que a televisão era o meio com maior abrangência e frequência e que, em 2000, apenas 4% da população brasileira tinham acesso à internet. Porém, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em sua pesquisa “Acesso à Internet e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal” com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), mostra que quase a metade da população brasileira já tem acesso a ela. Segundo o levantamento, o acesso à internet cresceu e chegou a 46,5% da população em 2011, o que tem levado a internet a ser um veículo também de grande abrangência como a televisão.3 Segundo Kotler e Keller (2006), o profissional de marketing deve dominar as informações sobre os principais tipos de mídia, bem como suas vantagens e limitações. O Quadro 2 traz as vantagens e desvantagens das principais mídias, conforme Las Casas (2009, p. 289). 3 Fonte: SARAIVA, A.; MARTINS, D. IBGE: acesso à internet cresce e chega a 46,5% da população em 2011. Disponível em: < http://www.valor.com.br/brasil/3126418/ibge-acesso-internet-cresce-e-chega-465-dapopulacao-em-2011>. Acesso em: 21 jan. 2014. 19 Quadro 2 – Vantagens e Desvantagens das Principais Mídias Vantagens Jornais Desvantagens 1. Flexível 1. Vida curta 2. Cobertura intensa de mercados 2. Qualidade de impressão locais. geralmente inferior 3. Larga aceitação e uso 3. Leitura geralmente muito rápida 4. Boa credibilidade 4. Muitos anunciantes 5. Razoavelmente barato Rádio 1. Mais fácil para produzir/custo menor 2. Uso massificado (muitos 1. Recebe menor atenção do ouvinte 2. Apresentação somente via rádio, sendo a única mídia não visual aparelhos de rádios no 3. Vida curta mercado) 4. Grande concorrência da TV 3. Possibilidade de selecionar (Eventos Esportivos, Show, etc.) audiência (Regional) 4. Atinge melhor a população brasileira devido ao alto índice de analfabetismo 5. Pode atingir ouvintes enquanto estão fazendo outras coisas Outdoor 1. Flexível 2. Relativamente barato 3. Possibilidade de uso de cores chamativas 4. Exige pouco em termos de esforço e tempo de audiências Televisão 1. Combinação de som, vídeo e movimentos 1. Pode distrair motoristas e causar acidentes 2. Invade a natureza (outdoors em estradas) 3. Não tem possibilidade de selecionar audiência 1. Audiência não seletiva 2. Vida curta 2. Apela aos sentidos 3. Mídia cara 3. Cobertura em massa 4. Rápida passagem no vídeo 4. Pode causar maior impacto Revistas 1. Grande seletividade 1. Período maior para veiculação do demográfica e geográfica anúncio (preparo layout, 2. Possibilidade de usar boa impressão revistas, etc.) qualidade de reprodução 2. Comunicação com clientes 3. Audiência indireta somente eventualmente (revistas 4. Vida maior (revistas quinzenais, mensais, bimestrais, etc.) mensais, etc.) 5. Fidelidade à revista facilita 20 receptividade dos anúncios Mala Direta 1. Seletividade 1. Custo elevado por unidade de 2. Flexibilidade circulação 3. É personalizada 2. Sofre de baixo índice de interesse do leitor Cinema 1. Custo menor 1. Audiência limitada 2. Bom índice de atenção 2. Audiência crítica (olham 3. Possibilidades de causar bom impacto audiovisual comerciais com negativismo) 3. Maiores dificuldades em encontrar técnicos realmente habilitados para boas produções Fonte: Las Casas (2009) No quadro acima encontra-se, portanto, a síntese das vantagens e desvantagens das mídias tradicionais no que tange à sua vida útil, alcance, preço e efetividade. Entretanto, segundo Dias (2003), a tarefa de se comunicar com os consumidores, com o objetivo de torná-los usuários fiéis dos produtos de uma empresa tem se tornado cada vez mais difícil e desafiadora para os profissionais de marketing. Isso porque nos encontramos atualmente em um ambiente saturado onde a propaganda tradicional não mais tem surtido o efeito esperado nos consumidores. (MAIA, 2012) Portanto surgem, neste cenário desafiador, formas inovadoras de propaganda, onde a criatividade é o principal componente a ser utilizado para que a campanha de marketing tenha sucesso e para que o público-alvo seja efetivamente atingido. 2.3.3 Marketing Inovador Segundo Maia (2012) hoje é necessário o uso de criatividade e inovação para que esse público seja efetivamente alcançado, muitas vezes sem se dar conta de que se trata de uma ação de marketing. Outro fator que gerou a busca por mídias não convencionais foi o encarecimento da mídia tradicional, como TV, rádio, jornais e revistas. 21 Reforçando essa ideia, Ferreira e Trindade (2012), afirmam que o momento é de uma realidade onde as empresas tem que procurar cada vez mais modos inovadores e criativos para alcançar seu público-alvo, já que tal público se encontra cada vez mais exigente e seletivo, fomentando a competitividade. Ainda segundo os autores, outro indício de que a propaganda está com problemas e as empresas não estão conseguindo atingir seu alvo é a quantidade de informação que chega às pessoas todos os dias, fazendo com que simplesmente as propagandas não sejam mais notadas pelo público. Uma forma extremamente atual de se atingir o público-alvo é o marketing de guerrilha, que lança mão de ferramentas não convencionais, não altamente custosas e com um grande impacto. Portanto, com o marketing de guerrilha, as empresas alcançariam seus objetivos, principalmente de lucro, sem um investimento muito alto, como se daria na utilização de propaganda tradicional, como, por exemplo, inserções em programas de televisão. A diferença primordial entre o marketing de guerrilha e o marketing tradicional reside especificamente na comunicação, já que se vale de formas “inusitadas” de comunicação de marketing para posicionar produtos, serviços e marcas. A propaganda de guerrilha é justamente uma forma “inusitada” da comunicação. SANTOS (2010, p. 15). 2.4 MARKETING DE GUERRILHA 2.4.1 Conceitos e Definições O termo ‘marketing de guerrilha’ foi criado em 1982 pelo publicitário americano Jay Conrad Levinson, segundo Maia (2012), e tem sua origem na Guerra do Vietnã, que ocorreu no Sudeste Asiático entre os anos de 1955 e 19754. De um lado a República do Vietnã (Vietnã do Sul) e do outro os Estados Unidos, com participação não direta da Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia. A China, Coréia 4 GUERRA do Vietnã: história da guerra do Vietnã, fatos, causas, vietcongues, derrota dos Estados Unidos. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/historia/guerra_do_vietna.htm>. Acesso em: 12 ago. 2013. 22 do Norte e União Soviética forneciam apoio à República do Vietnã, porém sem se envolverem diretamente. A guerra se deu em um contexto de conflitos entre os recém-separados países, Vietnã do Sul e do Norte, após o fim da Guerra da Indochina em 1954. Esses países eram, respectivamente, capitalista e comunista.5 Em 1959, tendo como aliado a União Soviética e sendo comandado por Ho Chi Minh, o Vietnã do Norte realiza um ataque a uma base norte-americana localizada no Vietnã do Sul, desencadeando assim a guerra.6 A princípio os Estados Unidos permaneceram afastados da guerra, até que em 1964 decidiram entrar definitivamente na batalha. Com uma tecnologia avançada e material bélico sofisticado, os americanos subestimaram o conhecimento e experiência dos vietcongues e também suas estratégias de guerrilha, como por exemplo, o "hit and run" (atacar e correr). Nesta estratégia, os vietcongues permitiam que os americanos dominassem a situação durante o dia para atacá-los durante a noite, período onde os americanos estariam em desvantagem devido a sua falta de experiência e desconhecimento do terreno e logo fugir encontrando abrigo na floresta.7 Portanto, no marketing de guerrilha, assim como nas estratégias usadas pelos vietcongues, o fator chave é a maneira criativa e inesperada de abordar o seu público-alvo. (MATTOS; ARAÚJO, 2010). Levinson apud Ferreira e Trindade (2012, p. 3) se refere ao marketing de guerrilha como uma estratégia capaz de “atingir as metas convencionais, tais como lucros e alegria, com métodos não convencionais, como investir energia em vez de dinheiro.”. As mídias tradicionais tem custo elevado, o que faz com que empresas de menor porte invistam em opções que custem menos, porém que levem as empresas a alcançarem os mesmos objetivos de visibilidade e posicionamento no mercado. (RODRIGUES, 2010). Como já mencionado anteriormente, foi o encarecimento da mídia tradicional, como TV, rádio, jornais e revistas um dos fatores que gerou a busca por mídias não convencionais, segundo Maia (2012). 5 Idem 3 Idem 3 7 Idem 3 6 23 Ainda segundo a autora, a vantagem do marketing de guerrilha está, principalmente, na redução de custo, porém também na otimização do tempo para criação, planejamento, desenvolvimento e execução de uma propaganda tradicional. Isto porque no marketing de guerrilha, as ações são relativamente menores e menos complexas. O marketing de guerrilha é uma ferramenta que utiliza ações audaciosas e diferentes do tradicional, em busca da atenção dos consumidores e do buzz entre o público. Segundo definição do Business.Dictionary.com8, buzz é um termo alternativo para propaganda boca-a-boca. Através do boca-a-boca, o marketing de guerrilha conquista a “mídia espontânea, a um custo muito inferior ao que a publicidade convencional demandaria para atingir o mesmo público.” (RODRIGUES, 2010, p. 49). Godin apud Rodrigues (2010, p. 57) comenta que: ... ao contrário da propaganda tradicional, caracterizada pela interrupção, seja de um programa de TV, rádio, matéria de revista, etc, e por enviar as mensagens aos consumidores tendo como mediação a mídia utilizada, a fomentação de boca a boca utiliza os próprios consumidores como transmissores espontâneos da mensagem, apoiando-se na estratégia criativa e na possível relevância da mesma para o público-alvo. Porém, não é somente pelo encarecimento da mídia tradicional que o marketing de guerrilha vem sendo uma ‘arma’ cada vez mais usada para fins de propaganda. O cenário atual de ‘saturação midiática’, em que a propaganda tradicional tem aumentado a ponto de deixar os consumidores insensíveis aos apelos de marketing, é outro fator que vem fazendo do marketing de guerrilha um aliado importante na luta das empresas em levar sua marca e/ou produto ao conhecimento dos consumidores (RODRIGUES, 2010, p. 57). Ferreira e Trindade (2012) afirmam que a propaganda está com problemas e as empresas não estão conseguindo atingir seu alvo pela quantidade de informação que chega às pessoas todos os dias, fazendo com que as propagandas simplesmente não sejam mais notadas pelo público. Uma forma extremamente atual de se atingir o público-alvo é então o marketing de guerrilha, que lança mão de ferramentas não convencionais, não altamente custosas e com um grande impacto. (CAVALCANTE, 2003). 8 Disponível em: <http://www.businessdictionary.com/definition/buzz-marketing.html>. Acesso em: 05 fev. 2014. 24 Santos (2010), citando Ries e Ries, comenta que somos cercados por anúncios desde a manhã até a noite, o que faz com que esses anúncios passem a ser ignorados e se tornem somente um ‘papel de parede’ ineficaz. E esse fato se dá, ainda segundo a autora, pelo número excessivo de propagandas e à grande variedade delas a que somos expostos. Diante desse cenário, “uma boa ação de guerrilha tem como função encontrar lugar no mercado congestionado de informações e posicionar a sua marca ali, de forma a chamar e cativar a atenção do consumidor”. (SANTOS, 2010, p. 13). 2.4.2 ‘Armas’ do Marketing de Guerrilha O Marketing de Guerrilha é composto por diversas ‘armas’, conforme descrito por Maia (2012, p. 6). Algumas delas são: ambusch marketing, PR- Stunt, astroturfing, marketing viral e o Marketing Invisível. Rodrigues (2010) descreve o Ambusch Marketing ou Marketing de Emboscada como uma ação planejada por uma companhia para se envolver não diretamente a um evento patrocinado por outra marca, com o intuito de promover a sua própria marca. E, obviamente, sem a autorização da marca patrocinadora e equipe organizadora, como ressalta Maia (2012). O PR- Stunt tem como objetivo a “potencialização de ações inusitadas e surpreendentes, que dialoguem de forma direta com o público-alvo, através de um trabalho de assessoria de imprensa”. (RODRIGUES, 2010, p. 64). Já por sua vez, a movimentação de grupos de pessoas com o objetivo de gerar a ideia de que uma causa está sendo defendida veementemente é a ferramenta do marketing de guerrilha chamada Astroturfing, como descreve Rodrigues (2010). O Marketing Viral, conforme descreve Maia (2012, p. 12), pretende promover “o rápido e amplo conhecimento de uma marca”, através de uma “mensagem institucional ou comercial pela Internet”. E, por ser uma mensagem diferente, interessante e criativa, ela é retransmitida pelos usuários para seus contatos na rede espontaneamente. 25 Estas são apenas alguns dos muitos artifícios do marketing de guerrilha nesta luta que as empresas travam diariamente na intenção de atingir seu público-alvo e divulgar sua marca/produto. Porém, este trabalho tem como objeto de estudo o Marketing Invisível, que é segundo Maia (2012), a forma mais discreta, porém também mais controversa, por ser uma propaganda disfarçada, onde o indivíduo não sabe que se trata de uma abordagem comercial. 2.5 MARKETING INVISÍVEL 2.5.1 Conceitos e Definições Para Kaikati e Kaikati (2004), o Marketing Invisível é a forma mais recente de uma empresa alcançar seus consumidores sem que estes percebam o apelo de venda. Os autores afirmam que esta ferramenta se tornará mais e mais popular, conforme o aumento da necessidade de atingir seu objetivo em um mercado já tomado pela propaganda convencional. De acordo com os autores, o Marketing Invisível promove um produto com atrativos que o tornam ‘legal’ e moderno, baseando-se fortemente na força do bocaa-boca, fazendo com que os consumidores tenham a impressão de que encontraram o produto por acaso. O principal objetivo é chegar à pessoa certa falando sobre o produto sem demonstrar fazer parte de uma campanha de marketing. Ainda segundo Kaikati e Kaikati (2004 p. 7), a mensagem do Marketing Invisível pode ser transmitida de várias formas. Uma delas é fazer com que celebridades ou qualquer outra pessoa que inspire moda sejam vistas usando o produto. Outra forma é a verbal, onde, em uma conversa corriqueira, alguém que faz parte da campanha de marketing sem que os outros saibam, simplesmente mencionam ou recomendam a marca ou serviço. Outra forma encontrada de transmissão do Marketing Invisível é a virtual, onde a mensagem é transmitida via internet, em salas de bate papo, grupos ou blogs. 26 O Marketing Invisível possui várias técnicas para transmitir a mensagem ao consumidor em potencial como, por exemplo, os Brand Pushers9, conforme mencionado por Kaikati e Kaikati (2004). Nessa técnica atrizes e atores novatos são contratados e se aproximam de pessoas em situações do dia-a-dia e pessoalmente passam mensagens comerciais em bares, lojas ou pontos turísticos. Esses atores são pessoas comunicativas e sociáveis na medida certa para serem confiáveis. A principal tarefa dessas pessoas é agir de forma amigável e colocar a marca ou produto bem ‘debaixo do nariz’ do consumidor em potencial. Kaikati e Kaikati (2004) mostram que os Brand Pushers representam uma ‘inteligente reencarnação’ de uma velha técnica. A origem desta tática pode ser encontrada nos anos 20 quando a Macy’s10 supostamente tentou vender um grande estoque parado de luvas longas brancas. A loja contratou 25 mulheres bem vestidas para usá-las no metrô. Os usuários ficavam curiosos e perguntavam às mulheres sobre as luvas. Levou apenas algumas semanas para que a loja vendesse todo o seu estoque. 2.5.2 Exemplos e casos reais Para que se possa realmente entender como funciona o Marketing Invisível, é necessária uma análise de casos de campanhas em que empresas de renome utilizaram esta ferramenta para atingir seu público-alvo. Osterhout (2010), repórter do NYDailyNews.com, citou alguns casos de campanhas do Marketing Invisível: • Caso Blackberry Para a divulgação do Blackberry Pearl, a empresa canadense Blackberry, que possui uma linha de smartphones e tablets, contratou mulheres para flertarem com homens em bares no centro de Nova Iorque. Em determinado momento, elas 9 Tradução literal de “Empurradores de Marca” 10 Macy’s Inc. é uma das principais varejistas dos EUA, operando as marcas Macy’s e Bloomingdale’s com cerca de 840 lojas em 45 estados e vendas de 27,9 bilhões de dólares no ano fiscal de 2013. Disponível em: <http://www.macysinc.com/about-us>. Acesso em: 19 nov. 2014. 27 entregavam o Blackberry Pearl para que eles gravassem o número de telefone com a promessa de que ligariam para marcar um encontro. Segundo a atriz Julia Royter, ela nunca telefonou para nenhum desses números. Tudo era apenas um astuto truque promocional do Marketing Invisível onde Royter estava sendo paga para flertar. Ela era parte de uma campanha de publicidade oculta da empresa BlackBerry que tentava despertar interesse em smartphones, colocando-os nas mãos de mulheres comunicativas que ‘empurravam’ o produto sem o conhecimento do público. A intenção era somente de que o público tivesse contato com o aparelho. Sem dúvida, esses homens iriam comentar com os amigos sobre o que havia acontecido e não deixariam de citar o Blackberry. Assim, a ação do Marketing Invisível alcançaria seu objetivo de atingir o público através da propaganda boca-a-boca. De acordo Osterhout (2010), a Blackberry não respondeu aos pedidos de comentários. Osterhout (2010) cita Van Trentlyon, presidente da Street Guerrilla Marketing (companhia de marketing baseada em Nova Iorque), que afirma que “a questão é conseguir imprensa" e “se você é capaz de obter a atenção da mídia sem deixar as pessoas bravas, tanto melhor.”. Por sua parte, Royter vê seu trabalho como uma extensão da sua carreira de atriz. "Esta é uma oportunidade de interpretar um personagem", diz ela. Porém, ela acrescenta: "É tudo muito maldoso. Você tem que ter cuidado nos dias de hoje. Nunca se sabe quem está tentando lhe vender algo.”. (OSTERHOUT, 2010) • Caso Sony Ainda segundo o repórter, a Sony também lançou uma campanha de Marketing Invisível quando a empresa surgiu com um celular com câmera em 2002. De acordo com a reportagem, ela contratou atores em 10 cidades para fingir serem turistas que paravam transeuntes e pediam para terem suas fotos tiradas. Dee Dutta, na época vice-presidente de marketing global da Sony Ericsson, considerou a falsa campanha turística um sucesso, devido principalmente à atenção que a façanha alcançou na mídia em programas como ‘60 Minutes’ e ‘ABC News’. 28 • Caso Walmart Mesmo o Wal-Mart, conforme Osterhout (2010) foi pego usando táticas do Marketing Invisível quando lançou o Walmarting Across America - um blog falso que supostamente contava a viagem de um casal através dos EUA em uma van que frequentemente era estacionada em estacionamentos do Wal-Mart. • Caso Sunsilk Em 2007, um vídeo supostamente mostrando uma noiva chateada no dia do casamento cortando seu cabelo se espalhou pela internet e foi visto quase 3 milhões de vezes em duas semanas11. O vídeo acabou por ser uma propaganda da Sunsilk produtos para o cabelo (Seda no Brasil), mesmo que o produto não tenha sido mostrado uma só vez no clipe. (OSTERHOUT, 2010) • Caso Amyr Klink Maia (2012) cita outro exemplo de campanhas do Marketing Invisível que foi a que o canal National Geographic utilizou para divulgar o lançamento do documentário ‘O Continente Gelado’ sobre a viagem à Antártida de Amyr Klink. Nessa campanha, 5.000 envelopes com fotos foram ‘esquecidos’. Nos envelopes, deixados em vários lugares de São Paulo, duas semanas antes do lançamento do documentário, havia anotações com o nome de Amyr Klink e um número de telefone. Quem os encontrava, ligava para o telefone para tentar devolver as fotos. No entanto, a ligação era direcionada a uma caixa postal na qual se ouvia uma mensagem na voz de Amyr Klink, dizendo que ele estava viajando a fim de finalizar o documentário que iria ao ar no dia 7 de março na National Geographic. 11 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=_nFDnC8SSWQ>. Acesso em: 30 jan. 2014. 29 Figura 1 – Envelopes com fotos de Amyr Klink Fonte: Maia (2012) Tendo em vista os exemplos citados, a problemática se encontra em definir se a estratégia do Marketing Invisível, é eticamente aceitável para a captação da atenção de consumidores já tão impactados pela avalanche de propagandas tradicionais a que são submetidos diariamente, seja pela internet, televisão, redes sociais, revistas, jornais, etc. Faz-se necessária, portanto, uma análise para definir se é realmente aceitável lançar mão de uma propaganda disfarçada que manipula e induz as pessoas ao consumo sem que essas tenham conhecimento que participam de uma campanha de marketing. 2.6 ÉTICA 2.6.1 Conceitos e Definições Para que se possa analisar a questão ética da utilização do Marketing Invisível, e assim responder à questão levantada por este trabalho, devemos primeiramente definir o que é ética. Existe uma grande variedade de definições quando se trata de ética e moral. Porém, o filósofo britânico, Moore (1975), que dedicou grande parte de seus estudos em Dulwich College (escola pública em Dulwich, subúrbio de Londres) ao latim e ao grego, esclarece de maneira simples tal diferença. O filósofo explica que a palavra 30 ética tem origem grega, e se divide em dois prováveis significados. Um deles pode ser traduzido por costume e vem da palavra grega éthos, com e curto e é a base para a palavra que conhecemos como Moral. Por outro lado, a mesma palavra éthos, porém com e longo, pode ser traduzida como “propriedade do caráter” e deu origem ao que hoje chamamos de Ética. Por fim, o filósofo resume a Ética em uma “investigação geral sobre aquilo que é bom” (MOORE,1975, p. 4). Nessa investigação e busca pelo que é bom, as sociedades instituem normas, ou seja, nomeiam o que é correto e o que é incorreto, o que é lícito e o que é ilícito, e essas normas devem ser seguidas pelos membros dessa sociedade. (CHAUI, 2008). Sob o mesmo ponto de vista, o escritor, professor universitário e filósofo contemporâneo, o brasileiro Mário Sérgio Cortella, em entrevista a um programa de televisão12, conceitua a ética como “um conjunto de valores e princípios que são usados para se decidir as três grandes questões da vida que são: quero, devo, posso.” Ou seja, existem coisas que as pessoas querem, mas não devem; coisas que devem, mas não podem e coisas que podem, mas não querem. Reforçando a visão de Chaui (2008) de que os membros de uma sociedade devem seguir normas criadas para buscar o que é correto, o filósofo afirma que a ética é definida “através do modular, do exemplar, através de princípios da sociedade, sendo religiosos ou não, através de normatizações.”. 2.6.2 Ética nas Organizações E, por que há a necessidade de as empresas fazerem uma reflexão ética no momento de decidirem como captar a atenção de seus clientes? Segundo Srour (2005), sobretudo a reputação de uma empresa é afetada caso a ética seja ignorada. Além dos ativos materiais, que são as instalações, os equipamentos e o seus recursos financeiros, as empresas possuem algo que é extremamente de mais valia que são os seus ativos não materiais ou intangíveis. São estes os seus segredos de negócio, seu capital intelectual, as habilidades do 12 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=vjKaWlEvyvU>. Acesso em: 20 fev. 2014. 31 seu pessoal e sua marca. Esses ativos intangíveis, de acordo com o autor, chegam a valer até 70% do valor da empresa. Sendo assim, os consumidores não compram somente produtos pelas necessidades materiais que estes preenchem. Os atributos, benefícios ou preço não são as únicas motivações que levam ao consumo. Produtos são comprados e consumidos pelas “associações imaginárias” que satisfazem. (Srour, 2005, p. 319). As emoções que o produto desperta, os grupos que o produto leva as pessoas a pertencerem, os sonhos que realiza ou provoca, o prestígio ou estilo de vida almejado a que dá acesso. As pessoas compram e estão dispostas muitas vezes a pagar mais simplesmente pela marca. E a marca, nada mais é do que a reputação de uma empresa. Em seu livro, Srour (2005) cita um exemplo no Brasil onde o Grupo OK, que era formado por 18 empresas, 4 mil funcionários e um faturamento de R$ 250 milhões no ano de 2000, passou em 2003 para somente 350 funcionários e um faturamento de R$ 12 milhões. Tal colapso foi devido a um eficaz boicote após a cassação, por falta de decoro parlamentar, de seu proprietário. O senador Luiz Estevão, foi acusado de envolvimento em um escândalo de superfaturamento na construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Outro exemplo citado foi de Gerald Ratner, que em 1984 assumiu a presidência de uma rede de joalherias composta de 130 lojas. Decidido a dar novos ares ao negócio, passou a comercializar joias baratas de baixa qualidade e investiu em marketing através de promoções, pagamentos facilitados, etc. Em 1992 a rede já possuía 2.500 joalherias, 25 mil funcionários e um faturamento anual de 1,2 bilhão de Euros. Porém, quando foi convidado a proferir uma palestra no Royal Albert Hall para 6 mil executivos de alto padrão, Ratner cometeu o erro que destruiria seu negócio. Além de dizer que “os brincos que vendia custavam menos do que um sanduíche de camarão”, ele finalizou dizendo que as suas joias eram total crap, ou seja, completa porcaria. Suas palavras impensadas tiveram um resultado desastroso, onde a marca perdeu toda a credibilidade. Ratner então renunciou à presidência da empresa, perdeu 500 milhões de Euros e finalmente, a rede se desfez. O consumidor contemporâneo tem muito poder nas mãos no que diz respeito à capacidade de retaliar uma empresa caso esta seja considerada socialmente e/ou eticamente irresponsável. Isto, de acordo com Srour (2005), se dá pela facilidade 32 com que os consumidores podem passar a comprar da concorrência. Outro fator é o direito que o consumidor possui de buscar os órgãos de defesa do consumidor e de recorrer à justiça caso se sinta lesado. Ainda um terceiro fator é a mídia atual que questionando fatos considerados ofensivos ou que causaram danos aos consumidores, podem destruir reputações, imagens e marcas sem que seja possível uma recuperação da credibilidade. Embora, segundo Ferrel e Hartline (2009), uma empresa não possa controlar diretamente sua própria reputação, suas decisões, escolhas e ações influenciarão diretamente em como o consumidor enxerga sua marca. 2.6.3 Ética no Marketing Como vimos anteriormente, o consumidor tem hoje o poder nas mãos, e, segundo Kotler e Armstrong (2007, p. 516), as “empresas responsáveis descobrem o que os consumidores querem e oferecem os produtos certos que criem valor... a fim de obter valor em troca.” Essa troca de valores mútua é o que prega a orientação de marketing. Porém, o marketing tem sido avaliado e muitas vezes julgado pelo fato de algumas empresas não seguirem essa orientação, empregando ações de marketing duvidosas que são prejudiciais aos consumidores, à sociedade e inclusive, às outras empresas. (KOTLER; ARMSTRONG, 2007) Este fato se dá porque, segundo os autores, nem sempre é óbvio o que é correto ou não fazer e, ao passo que não se pode contar com o senso de ética de todos os indivíduos, foi necessária a criação de critérios gerais a serem seguidos pelas empresas e profissionais de marketing. A criação de tais critérios corrobora com a afirmação do filósofo Cortella exposta no Capítulo 2.6.1, onde a ética é definida pelo modular, através de normatizações. Neste sentido, a AMA, desenvolveu o código de ética apresentado na íntegra no quadro abaixo, onde define normas e valores éticos para as empresas. 33 Quadro 3 – Código de Ética da American Marketing Association PROLÓGO A American Marketing Association se compromete com a promoção dos mais altos padrões possíveis; valores e normas éticas profissionais para seus membros. Normas são padrões de conduta esperados e mantidos por organizações profissionais e/ou societárias. Valores representam a concepção coletiva do que as pessoas consideram desejável, importante e moralmente adequado. Os valores servem de critério para a avaliação das ações dos outros. Os profissionais de marketing devem reconhecer que não apenas servem suas empresas, mas também atuam como orientadores da sociedade ao criar, facilitar e executar transações eficientes e eficazes que são parte de uma economia mais ampla. Nessa função, os profissionais de marketing devem adotar as mais elevadas normas éticas e os valores éticos implícitos em sua responsabilidade no que se refere às partes interessadas (como clientes, funcionários, investidores, membros do canal, legisladores e comunidade). Normas gerais Os profissionais de marketing não devem causar danos. Isso significa realizar o trabalho para o qual são adequadamente treinados ou experientes de modo que possam agregar valor às suas organizações e aos clientes. Também significa seguir todas as leis e regulamentações aplicáveis e incorporar altos padrões éticos nas escolhas que fazem. Os profissionais de marketing devem cultivar a confiança no sistema de marketing. Isso significa que os produtos devem ser adequados para as utilizações que se pretende dar a eles e que são promovidas. Requer que as comunicações de marketing referentes aos bens e serviços não sejam intencionalmente enganosas e ilusórias. Sugere construir relacionamentos que proporcionem ajustes honestos e/ou reparação de problemas causados ao cliente. Implica lutar pela boa-fé e a negociação justa de modo que se contribua para a eficácia do processo de troca. Os profissionais de marketing devem adotar, comunicar e praticar os valores éticos fundamentais que aumentarão a confiança do consumidor na integridade do sistema de marketing. Esses valores são intencionalmente aspirativos e incluem a honestidade, a responsabilidade, a justiça, o respeito, a transparência e a cidadania. VALORES ÉTICOS Honestidade – ser confiável e direto nas negociações com clientes e partes interessadas. - Diremos a verdade em todas as situações e em todos os momentos. - Ofereceremos produtos de valor que farão o que afirmamos em nossas comunicações. - Assumiremos a responsabilidade por nossos produtos se deixarem de entregar os benefícios afirmados. 34 - Honraremos nossos comprometimentos e promessas explícitos e implícitos. Responsabilidade – aceitar as consequências de nossas decisões e estratégias de marketing. - Buscaremos atender às necessidades de nossos clientes. - Evitaremos a utilização de coerção sobre todas as partes interessadas. - Reconheceremos as obrigações sociais com todos os interessados, obrigações estas que acompanham um marketing mais intenso e um maior poder econômico. - Reconheceremos nossos comprometimentos especiais a segmentos economicamente vulneráveis do mercado, como crianças, idosos e outros, que podem apresentar desvantagens substanciais. Justiça – tentar equilibrar de maneira justa as necessidades do comprador com os interesses do vendedor. - Representaremos nossos produtos de maneira clara nas vendas, propaganda e outras formas de comunicação. Isso inclui excluir a promoção enganosa, ilusória e falsa. - Rejeitaremos manipulações e táticas de vendas que prejudiquem a confiança do cliente. - Não nos envolveremos em determinação conjunta de preços (em cartel) nem em práticas de preços predatórios, preços extorsivos ou preços isca. - Tentaremos não participar conscientemente de conflitos de interesse materiais. Respeito – reconhecer a dignidade humana básica de todos os interessados. - Valorizaremos as diferenças individuais evitando estereotipar cliente ou retratar grupos demográficos (como sexo, raça, preferência sexual) de maneira negativa ou desumana em nossas promoções. - Procuraremos conhecer as necessidades de nossos clientes e faremos todos os esforços razoáveis para monitorar e melhorar continuamente sua satisfação. - Faremos esforços especiais para entender os fornecedores, intermediários e distribuidores de outras culturas. - Reconheceremos de maneira adequada as contribuições dos outros, como consultores, funcionários e colegas, para nossos empreendimentos de marketing. Transparência – promover a transparência em nossas operações de marketing. - Buscaremos nos comunicar claramente com todos os interessados. - Aceitaremos as críticas construtivas de nossos clientes e outros interessados. - Explicaremos os riscos significativos de produtos ou serviços, substituições de componentes e outras eventualidades previsíveis que poderiam afetar os clientes ou sua percepção da decisão de compra. - Revelaremos plenamente os preços de lista e os termos de financiamento bem como as promoções e ajustes de preços disponíveis. Cidadania – aceitar plenamente as responsabilidades econômicas, legais, filantrópicas e sociais que atendem as partes interessadas de maneira estratégica. 35 - Buscaremos proteger o ambiente natural na execução das campanhas de marketing. - Devolveremos valor à comunidade por meio do voluntariado e de doações de caridade. - Trabalharemos para contribuir para a melhoria geral do marketing e sua reputação. - Incentivaremos os membros da cadeia de suprimento a garantir que o comércio seja justo para todos os participantes, incluindo produtores de países em desenvolvimento. Implementação Finalmente, reconheceremos que cada indústria, setor e subdisciplina do marketing (como pesquisa de marketing, comércio eletrônico, vendas diretas, marketing direto, propaganda) tem suas próprias questões éticas específicas que requerem políticas e comentários. Esses códigos podem ser acessados por meio de links no site Web da American Marketing Association. Incentivamos todos esses grupos a desenvolver e/ou refinar seus códigos de ética específicos para a indústria e para a área a fim de que complementem estas normas e valores gerais. Fonte: Reproduzido com permissão da American Marketing Association Fonte: Kotler; Armstrong (2007) Como pode-se notar no Quadro 3, a AMA abriu espaço para que os diversos grupos ligados ao marketing desenvolvessem e aprimorassem seus códigos de ética. No próximo capítulo, serão analisados os órgãos reguladores de propaganda e marketing existentes no Brasil, seus códigos de ética, princípios e preceitos, elaborados no intuito de “orientar as empresas e os administradores de marketing nas questões de ética.” (KOTLER; ARMSTRONG, 2007, p. 5). 2.7 ÓRGÃOS REGULADORES Com o propósito de responder ao problema levantado por esta pesquisa, este trabalho propõe a análise, além do Código de Ética da American Marketing Association, exposto no capítulo anterior, também os princípios e preceitos dos códigos de ética dos órgãos que regulam a propaganda e marketing no Brasil. 36 2.7.1 Fundação PROCON – Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor Em resposta ao email enviado à Fundação PROCON, onde foram solicitadas informações a respeito dos princípios e preceitos éticos relativos à propaganda e Marketing Invisível, obteve-se como resposta que a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor – PROCON/SP tem por objetivo elaborar e executar a política de proteção e defesa dos consumidores do Estado de São Paulo e que para tanto conta com o apoio de um grupo técnico multidisciplinar que desenvolve atividades nas mais diversas áreas de atuação, tais como (PROCON, 2014)13: • Educação para o consumo; • Recebimento e processamento de reclamações na esfera administrativa, individuais e coletivas, contra fornecedores de bens ou serviços; Orientação aos consumidores e fornecedores acerca de seus direitos e • obrigações nas relações de consumo; Fiscalização do mercado consumidor para fazer cumprir as determinações da • legislação de defesa do consumidor. Sobre o questionamento a respeito dos princípios éticos da propaganda de acordo com o código da Fundação, foi esclarecido que os arts. 36 e 37, seção III, do Código de Defesa do Consumidor estabelecem normas de proteção e defesa ligada à Publicidade. Quadro 4 – Arts. 36 e 37, seção III, do Código de Defesa do Consumidor Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem. Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência 13 Disponível em: <https://www.procon.sp.gov.br>. Acesso em: 20 nov. 2014. 37 da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. § 4° (Vetado). Fonte: Código de Defesa do Consumidor 14 No quadro acima, se observam as normas a serem seguidas pelos profissionais de marketing de acordo com o Código do Consumidor. Porém também, aplicam-se às propagandas e marketing as regras do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, publicado pelo CONAR - Conselho Nacional de Auto Regulação Publicitária. As informações constantes deste capítulo foram gentilmente enviadas em resposta ao email de 20 de fevereiro de 2014, pela Sra. Fátima Caetano da Diretoria de Estudos e Pesquisas da Fundação PROCON do estado de São Paulo. 2.7.2 CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária De acordo com pesquisa realizada através do site do Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária – CONAR15, vê-se que ao final dos anos 80, a fim de evitar abusos na propaganda e defender os interesses dos anunciantes, agências, veículos de comunicação e consumidores, o governo federal pensou em aprovar uma lei que censuraria previamente a propaganda. Com essa lei, qualquer propaganda seria submetida a uma análise que definiria sua aprovação ou não. Com a finalidade de defender a liberdade de expressão da publicidade e os interesses dos envolvidos, foi criado em 1978 o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. Não muito depois, em 1980, foi fundado o CONAR - Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. O CONAR tem como missão principal atender a denúncias feitas por consumidores, autoridades, associados, etc. Estas denúncias são então julgadas pelo Conselho de Ética com total direito de defesa dos denunciados e, uma vez, provada a veracidade da denúncia, os responsáveis pelo 14 15 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm>. Acesso em: 20 nov. 2014. Disponível em: <http://www.conar.org.br>. Acesso em: 20 nov. 2014. 38 anúncio devem alterá-lo ou até mesmo suspender sua veiculação. Os preceitos básicos que definem a ética publicitária são: Quadro 5 – Preceitos Básicos Conar - todo anúncio deve ser honesto e verdadeiro e respeitar as leis do país, - deve ser preparado com o devido senso de responsabilidade social, evitando acentuar diferenciações sociais, - deve ter presente a responsabilidade da cadeia de produção junto ao consumidor, - deve respeitar o princípio da leal concorrência e - deve respeitar a atividade publicitária e não desmerecer a confiança do público nos serviços que a publicidade presta. Fonte: Código de Ética Conar 16 Além dos preceitos básicos do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, é de suma importância a análise dos princípios gerais que foram eleitos como os mais pertinentes a este trabalho: Quadro 6 – Princípios Gerais Código Conar - Respeitabilidade Artigo 19 – Toda atividade publicitária deve caracterizar-se pelo respeito à dignidade da pessoa humana, à intimidade, ao interesse social, às instituições e símbolos nacionais, às autoridades constituídas e ao núcleo familiar. - Honestidade Artigo 23 – Os anúncios devem ser realizados de forma a não abusar da confiança do consumidor, não explorar sua falta de experiência ou de conhecimento e não se beneficiar de sua credulidade. Artigo 28 – O anúncio deve ser claramente distinguido como tal, seja qual for a sua forma ou meio de veiculação. Fonte: Código de Ética Conar 16 Idem 13 17 Idem 13 17 39 Caso haja interesse do leitor a respeito dos demais preceitos básicos do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, esses se encontram disponíveis para consulta no site do CONAR.18 Por fim, a Figura 2 resume a missão e objetivo do CONAR que, segundo o site, são combater a propaganda enganosa e garantir o direito dos consumidores de receber mensagens honestas. 18 Idem 13 40 Figura 2 – Publicidade do Conar de 1984 Fonte: Conar 19 Idem 13 19 41 2.7.3 ABAP – Associação Brasileira de Agências de Publicidade A Associação Brasileira de Agências de Publicidade, de acordo com seu site20, fundada em 1º de Agosto de 1949, é uma associação sem fins lucrativos que tem por objetivo “defender e divulgar os interesses de agências brasileiras associadas à indústria de comunicação”. Porém, apesar de, como mencionado acima, ter como objetivo defender e divulgar interesses das agências de publicidade, no seu Código de Ética das Agências Associadas (pag. 3), onde cita os “consumidores”, a ABAP reconhece ser de suma importância para todos os envolvidos, que as pessoas tenham uma imagem positiva da publicidade e que se sintam respeitados como indivíduos, grupos e consumidores. O Conselho de Ética da ABAP acredita que, para o pleno desenvolvimento e perpetuação de qualquer área, é fundamental que sejam adotados altos princípios éticos. A ABAP, como entidade que representa as agências de publicidade, tem o objetivo de estabelecer e incentivar princípios éticos que norteiam as ações de suas associadas. 2.7.4 ABM&N – Associação Brasileira de Marketing e Negócio A Associação Brasileira de Marketing e Negócio21, criada no início dos anos 70, é, assim como as citadas anteriormente, uma entidade sem fins lucrativos que tem como missão mediar e incentivar os novos conceitos e práticas do Marketing & Negócios. Seus esforços são voltados aos profissionais atuantes e aos que ainda se encontram na academia, no sentido de que esses possam reflexionar e progredir baseados em informações, casos de sucesso e assuntos relevantes identificados e divulgados pela ABM&N. 20 21 Disponível em: <http://www.abapnacional.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2014 Disponível em: <http://www.abmn.com.br/ABMN/Institucional/index.php>. Acesso em: 20 nov. 2014. 42 A troca de experiências e o conhecimento de novas ideias se dão a partir de uma tripla visão: a dos anunciantes, a das agências de publicidade e propaganda e a dos veículos de comunicação. Apesar de não encontrarmos o consumidor nesta tríade, vemos que, em seu código de ética, no Capítulo III, art. 5º item E, a ABM&N cita como deve ser feita a promoção ou comunicação de venda de modo a não prejudicar o consumidor por: Quadro 7 – Cap. III, art. 5º, item E, Código de Ética da ABM&N. • Não utilizar qualquer forma de venda, promoção ou comunicação que possa induzir um erro seja por omissão de dados relevantes, seja pela apresentação falsa ou distorcida de informações e dados. 22 Fonte: Código de Ética ABM&N 22 Disponível em: <http://www.abmn.com.br/upload/arquivos/Codigo_de_Etica30042014040426/30042014040415Codigo_de_Eti ca.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2014. 43 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa é um processo reflexivo, minucioso, controlado e avaliador, que não importando a área de conhecimento, propicia a descoberta de eventos ou informações singulares, explicações ou preceitos. (RAMPAZZO, 2005). Na busca pela resposta ao problema proposto nesta pesquisa, foi necessária a reflexão sobre as características do objeto deste trabalho, o Marketing Invisível, e a ética. O primeiro passo para coletar informações relevantes para esta reflexão, foi a pesquisa bibliográfica que é, conforme Severino (2007, p. 122) afirma: ... aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Para Manzo (apud LAKATOS; MARCONI, 2009), a bibliografia relevante propicia formas para descrever, solucionar, investigar, estudar e entender diferentes campos onde essas questões ainda não estão devidamente consolidadas. A pesquisa bibliográfica também não é somente uma reprodução do que já foi anteriormente escrito a respeito de um assunto e sim uma forma de permitir uma análise desse assunto sob outro prisma que poderá levar a descobertas e conclusões revolucionárias. (LAKATOS; MARCONI, 2009). Esta primeira etapa também incluiu a busca por diversos casos em que o Marketing Invisível foi utilizado e o levantamento de suas principais características para posterior análise e confronto com os preceitos e princípios éticos. Segundo passo: entrar em contato, através de emails, com os órgãos reguladores de propaganda e marketing, solicitando informações sobre legislação que regulasse o Marketing Invisível ou que o cobrisse. A maioria dos órgãos contatados nos orientou a procurar o CONAR - Conselho Nacional de Auto Regulação Publicitária, por ser o órgão que disciplina as normas éticas na propaganda. Infelizmente, o CONAR foi a única instituição procurada a não retornar os emails enviados, apesar de diversas tentativas de contato. Portanto, os preceitos e princípios éticos foram analisados através dos sites de tais órgãos, sendo assim realizada uma pesquisa documental visando analisar as normas éticas vigentes. A pesquisa denominada documental parte de documentos de fonte primária, ou seja, 44 dados primários procedentes de órgãos públicos ou privados. (RAMPAZZO, 2005). Pesquisas dessa natureza “são importantes não porque respondem definitivamente a um problema, mas porque proporcionam melhor visão desse problema.” (RAMPAZZO, 2005, p. 52). Nesta busca por informações e opiniões a respeito da ética no Marketing Invisível, foram enviados emails aos profissionais renomados de marketing nos Estados Unidos, como o Sr. Jonathan Margolis, co-autor do livro Marketing de Guerrilha para Iniciantes (Guerrilla Marketing For Dummies, 2008), Sr. Jason Van Trentlyon, especialista em Marketing de Guerrilha e o Sr. Martin Lindstrom, autor do livro Lavado em Marcas - Truques que as Empresas Usam para Manipular Nossa Mente a Nos Persuadir a Comprar (Brandwashed – Tricks Companies Use to Manipulate Our Minds and Persuade Us to Buy,2011. Dos profissionais de marketing contatados, o Sr. Patrick Garrigan, co-autor do livro Marketing de Guerrilha para Iniciantes e colega de trabalho do Sr. Jonathan Margolis, gentilmente respondeu à solicitação e forneceu grande contribuição para esta pesquisa, expressando sua opinião à respeito do Marketing Invisível. Finalmente, foi feita uma análise através do confronto entre as principais características do Marketing Invisível e os preceitos e princípios éticos dos órgãos reguladores de propaganda, bem como a análise das observações feitas pelo Sr. Patrick Garrigan, a fim de responder à questão chave deste trabalho. 45 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO No intuito de responder ao questionamento proposto por este trabalho: se o Marketing Invisível é ou não ético, faz-se necessário o confronto das características do Marketing Invisível e dos princípios e preceitos éticos pesquisados. Os quadros a seguir apresentam uma síntese dessas principais características e dos princípios e preceitos que constam nos códigos de ética dos órgãos reguladores de propaganda e marketing, com base na pesquisa que forneceu o embasamento necessário para a construção deste trabalho. Quadro 8: Características do Marketing Invisível - Promoção de um produto com atrativos que o tornam “legal” e “moderno”; - Baseia-se fortemente no boca-a-boca; - Faz com que os consumidores tenham a impressão de que encontraram o produto por acaso; - Discrição; - Não demonstra fazer parte de uma campanha de marketing; - A mensagem chega ao público-alvo sem que este saiba que se trata de uma propaganda; - Faz com que as recomendações sejam encaradas como um conselho gentil e já chegam com o selo de aprovação; - Fator chave é a maneira criativa e inesperada de abordar o seu público-alvo; - Menor investimento; - Otimização do tempo para criação, planejamento, desenvolvimento e execução; - Ações relativamente menores e menos complexas. Fonte: Elaborado pela autora 46 Quadro 9: Preceitos e Princípios dos Órgãos Reguladores ORGÃOS REGULADORES PRECEITOS American - Os profissionais de marketing não devem causar danos; - Incorporar altos padrões éticos nas escolhas que fazem; - Que as comunicações de marketing referentes aos bens e serviços não sejam intencionalmente enganosas e ilusórias; - Os profissionais de marketing devem adotar, comunicar e praticar os valores éticos fundamentais que aumentarão a confiança do consumidor na integridade do sistema de marketing. Marketing Association Fundação PROCON CONAR ABAP ABM&N - A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. - Proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. - Todo anúncio deve ser honesto e verdadeiro e respeitar as leis do país; - Deve ser preparado com o devido senso de responsabilidade social, evitando acentuar diferenciações sociais; - Deve ter presente a responsabilidade da cadeia de produção junto ao consumidor; - Deve respeitar o princípio da leal concorrência e - Deve respeitar a atividade publicitária e não desmerecer a confiança do público nos serviços que a publicidade presta. - É de suma importância para todos os envolvidos, que as pessoas tenham uma imagem positiva da publicidade e que se sintam respeitados como indivíduos, grupos e consumidores. - Fundamental que sejam adotados altos princípios éticos. - Não utilizar qualquer forma de venda, promoção ou comunicação que possa induzir um erro seja por omissão de dados relevantes, seja pela apresentação falsa ou distorcida de informações e dados. Fonte: Elaborado pela autora PRINCÍPIOS - Honestidade - Responsabilidade - Justiça - Respeito - Transparência - Cidadania - Transparência* - Respeitabilidade - Honestidade - Respeito* - Transparência* - Transparência* - Honestidade* 47 Os órgãos reguladores como a AMA e o Conar trazem preceitos e princípios em seus códigos de ética. Os demais princípios contantes do Quadro 9, foram interpretados pela autora, de acordo com a análise dos preceitos apresentados nos códigos de ética da Fundação PROCON, da ABAP e da ABM&N. Iniciando-se a análise dos Quadros 8 e 9, primeiramente, nota-se que o Marketing Invisível traz características positivas como atratividade, criatividade, economia, entre outras. Como nota-se anteriormente, no cenário atual onde somos inundados por anúncios nas ruas, televisão, internet, revistas, jornais e em todos os demais meios de comunição, é fundamental por parte das empresas a busca por uma modalidade de estratégia de promoção que possua tais características: • Atratividade para captar a atenção dos consumidores, já praticamente imunes às propagandas que lhes são impostas diariamente. • Criatividade para que a ação de marketing surpreenda e fixe a marca do produto na mente do consumidor. • Economia em comparação ao alto custo da mídia tradicional para que o mesmo público alvo seja atingido. Por outro lado, pode-se notar que em sua essência, o Marketing Invisível é uma propaganda disfarçada com a intenção de divulgar um produto sem, no entanto, demonstrar que na realidade se trata de uma campanha de comunicação. Sendo assim, com base na análise dos dados coletados, podemos verificar que o Marketing Invisível não respeita o preceito constante do código de ética da AMA que diz que as comunicações de marketing não devem ser propositalmente falsas e enganadoras. O caso Amyr Klink, a respeito dos 5.000 envelopes distribuídos para divulgação de um documentário, mostra como intencionalmente se atribuiu ao velejador a posse das fotos para induzir as pessoas a assistirem ao programa. Já o caso Sony, demonstra a fraude através da contratação de atores para fingirem-se de turistas e levar as pessoas a acreditar em uma situação corriqueira que, na verdade, se tratava de uma estratégia de divulgação de um produto. Os casos Walmart e Sunsilk também evidenciam tanto a apresentação falsa de informações, como a omissão de dados relevantes sobre o produto ou a marca. 48 Ainda analisando o código de ética da AMA, vemos que não são devidamente respeitados os princípios da honestidade, onde é fundamental a comunicação da realidade em todas as situações; justiça, pois os profissionais de marketing devem representar seus produtos com clareza nas vendas, propaganda e qualquer outra forma de comunicação e que descarte a promoção enganadora e falsa e o da transparência. Continuando a análise do princípio da transparência, os preceitos éticos da Fundação PROCON, estabelecem que a veiculação da propaganda deve ser imediata e facilmente entendida e reconhecida como tal, sendo proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. Sob o mesmo ponto de vista, a ABM&N determina que não seja utilizada propaganda que induza ao erro por omissão, falsidade ou distorção de informações e dados. Outro exemplo, o caso Blackberry, mostra que essa estratégia também não é consonante com o princípio ético da respeitabilidade estabelecido pelo CONAR, principal órgão regulador de propaganda e marketing do Brasil, pois a dignidade e intimidade de todo indivíduo deve ser respeitada por qualquer atividade publicitária. Similarmente, não foi observado o princípio da honestidade do CONAR, já que o anúncio foi realizado se beneficiando da credulidade dos pretensos consumidores abordados. Em síntese, todos os exemplos tratados neste trabalho, evidenciam a discordância entre o Marketing Invisível e os princípios e preceitos éticos da propaganda e do marketing. Finalmente, estas campanhas que desrespeitam os princípios éticos criam uma imagem negativa das empresas que as utilizam, o que nos leva ao último órgão regulador, porém não menos importante, ABAP, que estabelece em seus preceitos a importância de que as pessoas tenham um conceito positivo da propaganda e que se sintam respeitadas por ela. Nesta busca pela resposta ao problema proposto, além da análise das informações contidas nos sites dos órgãos reguladores da propaganda e marketing, dos casos múltiplos e da bibliografia estudada, este trabalho foi além, buscando a opinião direta de profissionais do marketing como Jonathan Margolis e Patrick Garrigan, autores do livro Marketing de Guerrilha para Iniciantes (Guerrilla Marketing For Dummies, 2008). 49 Através de uma entrevista via email, o Sr. Patrick Garrigan, em 06 de janeiro deste ano, gentilmente expressou sua opinião a respeito da pergunta proposta por este trabalho. Abaixo segue sua importante contribuição feita a esta pesquisa. Quadro 10: Email de Patrick Garrigan “Em resposta a sua consulta, parece haver duas perguntas sobre o Marketing Invisível: 1. Será que alcança o objetivo do marketing? 2. É ético? Com relação à primeira pergunta, um argumento que poderia ser dado é de que ele é uma ferramenta eficaz para se conectar com os consumidores, pois contorna todo o ruído e desordem da propaganda tradicional para se conectar com os consumidores-alvo diretamente. Então, você poderia dizer que sim, em alguns casos, ele sim alcança o objetivo de marketing. A grande questão, no entanto, é se a prática é ou não ética. A meu ver - e essas são opiniões próprias - não é ético porque atinge as metas estabelecidas por meio de engano e desonestidade. O desafio de bons marqueteiros é contar uma história fantástica - como um negociante transparente e honesto, sobre quem você é e o que o seu produto é - e levar os consumidores em uma viagem na qual eles entram voluntariamente porque querem fazer parte da experiência. É o trabalho do marqueteiro, fazer a narrativa do produto, de modo tão dinâmico, que é a mensagem, não necessariamente o método, que faz as pessoas querem se envolver. O Marketing Invisível é o mesmo que um jogo de trapaça. Enquanto alguns ainda o praticam, a tática é geralmente desaprovada, dadas às preocupações éticas descritas anteriormente, e também aos graves prejuízos que ela pode trazer para a percepção de uma marca e seus princípios fundamentais. Além de ser antiético, usar o Marketing Invisível pode ter implicações de relações públicas de longa duração que, dependendo da escala da fraude, a marca pode nunca se recuperar.” Fonte: Traduzido pela autora 23 Observa-se, portanto, que a opinião exposta pelo Sr. Patrick Garrigan corrobora com a análise feita por este trabalho e com a conclusão a que se chegou sobre a problemática entre o Marketing Invisível e a ética. 23 Email original se encontra em inglês e na íntegra, na página 54 como Anexo à esta pesquisa. 50 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve início com o propósito de refletir, através de pesquisa bibliográfica, estudo de múltiplos casos e análise dos princípios e preceitos éticos, se o Marketing Invisível atende ao que é definido como eticamente correto pelos códigos de ética das entidades que regem a propaganda. Isto porque, conforme nota-se, a ética é definida através de normatização e para que uma sociedade vá em busca do que é correto, é necessário que preceitos e princípios sejam estabelecidos. Para que essa pesquisa chegasse a uma conclusão, os objetivos específicos de entender os fundamentos e características do Marketing Invisível e analisar os princípios éticos dos órgãos reguladores de publicidade e propaganda foram devidamente atingidos. Após a pesquisa e análise dos dados coletados, a problemática desta pesquisa foi respondida uma vez que pôde-se concluir que o Marketing Invisível fere os principais princípios e preceitos da ética propostos por tais entidades, que foram estabelecidos a fim de nortear os profissionais de marketing quanto ao melhor caminho a seguir na busca pela estratégia mais adequada para a comunicação de uma marca ou de um produto. Princípios como honestidade, transparência e respeitabilidade não são levados em conta quando uma empresa opta por este tipo de propaganda. Através dos exemplos explorados, esta pesquisa concluiu que o Marketing Invisível engana quando induz o consumidor a acreditar em uma história não verdadeira. O Marketing Invisível é então, conforme bem colocado por Patrick Garrigan, um ‘jogo de trapaça’. Apesar de incontestável o fato de que as empresas necessitam captar a atenção de seus consumidores a fim de apresentar seus produtos, fortalecer e fixar a imagem das suas marcas, é também indispensável que essas empresas utilizem estratégias de marketing que respeitem o consumidor e suas escolhas. Para isso, a forma de comunicação de um produto deve ser clara, fazendo com que o consumidor tenha sempre plena consciência de que se trata de uma propaganda, conforme esclarecido pelo art. 36, seção III, do Código de Defesa do Consumidor. 51 Portanto, sendo constatada a hipótese de que o Marketing Invisível fere os preceitos e princípios éticos constantes dos códigos de ética que regem a propaganda e o marketing, cabe às empresas identificarem as melhores estratégias que as levem a alcançar seus objetivos de venda, respeitando o consumidor, na sua capacidade de escolher um produto com inteligência e consciência. Similarmente, tendo em vista todos os aspectos aqui estudados e tendo-se concluído que o Marketing Invisível não é uma prática ética de propaganda, a identificação de estratégias que não firam a ética e não desrespeitem o consumidor evitará que uma marca sofra danos irreparáveis, conforme visto no exemplo de Gerald Ratner e nas considerações de Patrick Garrigan. Por fim, a conclusão a que este trabalho chegou, responde o problema proposto, porém não fecha a questão e sim, estimula e abre espaço para novas discussões sobre a ética em diferentes áreas do marketing, bem como analisar as opções legais de defesa do consumidor que se sentir lesado ou afetado pelo Marketing Invisível. 52 REFERÊNCIAS CAVALCANTE, F. Faça marketing de guerrilha: soluções criativas, baratas e eficazes para o sucesso da pequena empresa. Belém: Labor, 2003. CHAUI, M. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2008. CHURCHILL JR., G. A.; PETER, J. P. Marketing: criando valor para os clientes. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. COBRA, M. Administração de marketing no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. CÓDIGO de Ética das Agências Associadas / Código / Os Consumidores. Disponível em:<http://www.abapnacional.com.br/pdfs/codigoetica.pdf>. Acesso em: 17 set. 2014. DEFINIÇÃO de Marketing. 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Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 54 ANEXOS Em Segunda-feira, 6 de Janeiro de 2014 19:36, Patrick Garrigan <[email protected]> Hello Myrian, Thanks for your email – Jonathan passed on your request to me as I am a colleague of his and he and I co-authored Guerrilla Marketing for Dummies with him. In response to your query, there seems to be two questions that you have regarding stealth marketing: 1. Does it achieve the purpose of marketing – “to connect the benefits of the product to people’s needs”? 2. Is it ethical? With regards to the first question, an argument could be made that it is an effective tool to connect with consumers by, as you outline, circumventing all the noise and clutter to connect with target consumers directly. So you could say that yes, in some instances it does achieve the purpose of marketing. It is the larger question, however, is whether or not the practice is ethical . As I see it – and these opinions are my own – it is not ethical because it achieves the stated goals through deceit and dishonesty. The challenge of good marketers is to tell a fantastic story - as a plain and honest dealer about who you are and what your product is - and take consumers on a journey that they enter into voluntarily because they want to be part of the experience. It’s the job as a marketer(s) to make the narrative of the product so dynamic that it is the message, not necessarily the method, that makes people want to engage. Stealth marketing is tantamount to a con game. While a few still practice it, industry-wide the tactic is generally frowned upon given the ethical concerns previously outlined, and also the grave damage that it can do to the perception of a brand and its core principles. Aside from being unethical, using stealth marketing can have long-lasting PR implications that depending on the scale of the fraud, the brand may never recover from. I hope this is helpful, sincerely appreciate your outreach and wish you all the best in your studies. Kind regards, Patrick patrick garrigan • vice president the michael alan group