Um Consenso Nacional sobre a Síndrome do Intestino Irritável Suraia Boaventura Barclay 16 “O ser humano deve esforçar-se por ter seus intestinos relaxados todos os dias da sua vida” – Moses Maimonides, 1135-1204 A.D. “Um bom conjunto de intestinos tem mais valor para um homem do que qualquer quantidade de cérebros.” – Josh Billings (Henry Wheeler Shaw), 18181885 A.D. INTRODUÇÃO O mesmo desenvolvimento científico e tecnológico que tem aumentado a longevidade permitiu a superação do modelo biomédico centrado na doença por uma abordagem biopsicossocial, centrada no indivíduo. O foco do conhecimento passou a abranger não apenas o conceito da preservação da vida em si, mas a concepção da qualidade de vida como um todo. Essa nova abordagem valoriza aspectos da fisiologia humana outrora incompreendidos e complexibiliza a classificação das doenças numa sofisticação que abandona o limite do orgânico e permite a inclusão de distúrbios da neuropsicofisiologia, ainda sem marcadores bioquímicos de doença, os assim chamados distúrbios funcionais. Embora as primeiras menções de diarréia datem de milhares de anos, uma clara distinção entre doenças intestinais funcionais e orgânicas só foi possível a partir do final do século XIX. A introdução da sigmoidoscopia permitiu a diferenciação entre afecções como a colite ulcerativa e a enterite infecciosa da então chamada diarréia nervosa1. Além de diarréia nervosa, a Síndome do Intestino Irritável (SII) recebeu outras denominações como cólon espástico, colite nervosa, colite funcional e cólon iritável, e foi, por muitos anos, atribuída basicamente a distúrbios emocionais. Surpreendentemente, a interpretação da SII como um distúrbio essencialmente emocional permaneceu por mais de 100 anos, até o final do século passado. A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II Assim é que, em 1989, Demling publicou um artigo de revisão intitulado “Cólon espástico (cólon irritável)” definindo a afecção como um “distúrbio da motilidade propulsiva gerado por fatores emocionais na presença de uma predisposicão genética ou adquirida”1. Sternon, em 1990, ainda utilizava a denominação “cólon espástico” e definia a SII como um distúrbio funcional “determinado por estresse emocional e dieta”3. Entretanto, já em 1988, um grupo de 30 pesquisadores internacionais reunia-se em Roma para desenvolver, num consenso, os critérios de definição das desordens gastrointestinais funcionais, fornecendo a primeira categorização de 25 distúrbios, do esôfago ao reto. Em referência ao local do encontro, estes critérios foram denominados Critérios de Roma e a versão revisada mais recente ficou sendo conhecida como Critérios de Roma II. Os resultados deste consenso têm alcançado uma posição respeitável no campo da gastroenterologia. Após 7 anos de trabalho, a partir da publicação dos resultados iniciais4 e da primeira edição do livro sobre os Critérios de Roma em 19945, o termo SII tem se consolidado e substituído as denominações anteriores. O termo “irritável” referese ao intestino e não apenas ao cólon, inadequadamente responsivo a eventos fisiológicos, como a passagem de gases ou líquidos ao longo de seu trajeto. A origem dos sintomas deve-se a alterações ainda não completamente elucidadas ao longo do eixo cérebro-intestinal que podem incluir dismotilidade, percepção de sintomas alterada, hipersensibilidade intestinal, disfunção sensorial aferente e autonômica, ativação cerebral alterada e anormalidades da mucosa e da psicofisiologia5. Embora a denominação Síndrome do Intestino Irritável tenha sido introduzida em 19466, a sua permanência deve-se provavelmente à inespecificidade do nome em relação ao tipo de comprometimento e ao estímulo causador da “irritação” e à sugestão de multiplicidade de sintomas dada pelo termo síndrome. UM CONSENSO BRASILEIRO A realização de consensos é uma forma de buscar uma linguagem comum à abordagem e condução de temas controversos como a SII. O racional para um Consenso Brasileiro originou-se da inexistência de informações nacionais sobre esta afecção. Sendo a SII uma das mais freqüentes motivações para os atendimentos médicos ambulatoriais, tornou-se necessária a uniformização de conceitos e a divulgação da experiência dos centros de estudos nacionais, possibilitando uma abordagem diagnóstica e terapêutica mais apropriada. O consenso representou uma etapa inicial importante na caracterização da SII do ponto de vista nacional e foi conduzido durante os anos de 1998 e 1999. Para o projeto e execução, reuniram-se, em São Paulo, 16 especialistas de várias universidades brasileiras, com experiência nesta área de conhecimento, incluindo representantes das seguintes sociedades médicas nacionais: Federação Brasileira 270 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL de Gastroenterologia, Sociedade Brasileira de Coloproctologia, Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva e Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva. Os especialistas participantes foram os seguintes: 1. Antônio Atílio Laudanna, Carlos Fernando Magalhães Francisconi, Eduardo Lopes Pontes, Flávio Antonio Quilici, Fernando Cordeiro, Joffre Rezende Filho, José Alves de Freitas, Luiz F. Marcopito, Marcos Kleiner, Marcus Túlio Haddad, Maria do Carmo Friche Passos, Nelson Michelsohn, Rosa Leonora Salermo Soares, Suraia Boaventura Barclay, Ulysses G. Meneghelli, e Waldomiro Dantas. O suporte logístico e financeiro foi fornecido pela Byk Química e Indústria Farmacêutica. Foram convidados a participar do inquérito 21.863 médicos (16.529 clínicos gerais, 4.782 gastroenterologistas clínicos e cirúrgicos, e 552 coloproctologistas) no país. Estes estavam registrados no cadastro de visitação da indústria farmacêutica, o que permitiu uma vasta cobertura, e foram contactados por agentes de promoção dessa empresa. Aos médicos foram entregues dois tipos de formulários idealizados pelo comitê executivo: um questionário visando obter informações sobre a atividade profissional e conhecimento específico dos médicos sobre a SII, e duas fichas clínicas que deveriam ser preenchidas com informações sobre dois pacientes com diagnóstico estabelecido de SII, escolhidos aleatoriamente. Vale ressaltar que as questões referentes ao conhecimento e à prática profissional puderam ser validadas com as questões relativas à descrição dos pacientes, pois o questionário e as fichas clínicas seguiram a mesma seqüência. Uma firma especializada em pesquisa, assessoria e comunicação, seguindo instruções do comitê executivo, gerenciou a distribuição (iniciada em maio/ 1998) e o recebimento (encerrado em outubro/1998) dos formulários e processou os dados obtidos. Cada etapa entre a reunião inicial para o desenvolvimento dos formulários e as posteriores para a avaliação parcial dos dados obtidos até a reunião final de interpretação foi seguida da publicação e distribuição de boletins informativos. Estes boletins periódicos continham informações não apenas sobre a condução dos trabalhos para a obtenção de um consenso, mas também sobre a SII, com artigos atualizados sobre o tema, e foram distribuídos aos cerca de 22 mil médicos visitados pela indústria em todo o país, em congressos e eventos científicos. Após a coleta de dados, os profissionais que compuseram o comitê executivo foram divididos em cinco grupos (epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento) responsáveis pela interpretação e redação dos resultados com base nos conhecimentos recentes sobre a síndrome. A concretização deste trabalho resultou na publicação de um livro que expressa um consenso criado pelos profissionais mais envolvidos com o tema6. Da mesma forma, este livro foi distribuído a todos aqueles que participaram da coleta de dados, aos profissionais mais envolvidos com o tema e em congressos e eventos. 271 A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II RESULTADOS Foram recebidos preenchidos 1.194 questionários – correspondentes a cerca de 6% dos médicos contactados, procedentes das cinco grandes regiões do país. As informações prestadas por estes profissionais retratam o perfil dos médicos de vários níveis de atendimento bem como delineiam as características de 2.261 de seus pacientes. Vale ressaltar que não existe levantamento de tal magnitude no país. Perfil do médico A maioria (84,0%) dos médicos que responderam ao questionário era da região Sudeste e Sul do País; 44,6% deles com 15 a 24 anos de formados (média de 17,3 anos). A participação decaiu progressivamente entre os recém-formados (0-4 anos: 5%, 5-9: 14%) e os com mais de 25 anos de formatura (25-29: 9%; 30-34: 2%). No que se refere à área de atuação principal, 34,0% declararam ser clínicos gerais; 26,5%, clínicos gastroenterologistas; 12,3%, cirurgiões gastroenterologistas; e 5,5%, coloproctologistas. Quanto ao local de atendimento, 35,5% atuavam apenas em clínicas particulares; 16,8%, em convênios de saúde; 9,1%, em Universidades; 4,9%, apenas no Sistema Único de Saúde e o restante em atividades mistas. A maioria (66,0%) dos 1.194 médicos prestava atendimento ambulatorial de nível primário e secundário. Denominação mais utilizada para a SII Síndrome do Cólon Irritável foi a denominação mais conhecida entre os médicos que responderam ao questionário (58,5%) (Tabela 1). Tabela 1. Denominação mais utilizada para a SII Denominação Número % do total Síndrome do cólon irritável 699 58,5 Síndrome do intestino irritável 175 14,7 Distúrbio funcional do aparelho digestivo 156 13,1 Distúrbio neurovegetativo do intestino 15 1,3 Cólon espástico 10 0,8 Diarréia nervosa 2 0,2 Mais que uma das denominações acima 83 7,0 Outras denominações 54 4,5 1.194 100,0 Total 272 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Manifestações clínicas de valor diagnóstico No questionário foram oferecidas 18 opções contendo manifestações clínicas, para que o médico apontasse qual(is) considerava como de valor para o diagnóstico da SII. Houve respostas múltiplas, e o número de opções assinaladas (por médico) variou de 0 a 18, com média de 7,5. Entre as opções, os médicos foram também convidados a ordenar em cinco graus de importância as manifestações clínicas escolhidas (Tabela 2). Tabela 2. Manifestação clínica à qual foi atribuído o grau de maior importância para o diagnóstico Manifestação clínica Número Alternância de constipação com diarréia 361 Dor abdominal 317 Sintomas contínuos ou recidivantes por mais de 3 meses 117 Diarréia 115 Distensão abdominal 55 Sensação de distensão abdominal 54 Alteração da consistência das fezes 53 Ausência de sintomas noturnos 36 Eliminação de muco pelas fezes 20 Constipação 12 Intolerância alimentar 8 Sensação de evacuação incompleta 8 Alteração da forma das fezes 7 Plenitude pós-prandial 4 Náuseas ou vômitos 2 Pirose 1 Sintomas adicionais anorretais - Saciedade precoce - Alterações dos ruídos hidro-aéreos - Fisiose - Não responderam 24 Total 1.194 273 A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II Entre as sete manifestações clínicas mais freqüentes (dor abdominal, alternância de constipação com diarréia, distensão abdominal, sensação de distensão abdominal, sintomas contínuos ou recidivantes por mais de três meses, alteração da consistência das fezes, e sensação de evacuação incompleta), apenas três (alternância de constipação com diarréia, dor abdominal, e sintomas contínuos ou recidivantes por mais de três meses) permaneceram entre as quatro mais importantes para o diagnóstico. Essas quatro (das quais fizeram parte também a diarréia – que era a nona mais freqüente) detiveram 76,2% de “principal importância diagnóstica”. Chama a atenção a importância dada às manifestações clínicas “alternância de constipação com diarréia” e “dor abdominal” como elementos clínicos mais freqüentemente assinalados e de grau mais importante para o diagnóstico da SII. Mesmo em combinações múltiplas, a “dor abdominal” e a “alternância de constipação com diarréia” figuraram entre as cinco primeiras colocadas em grau de importância. Menção deve ser feita ao fato de quase dois terços (65,2%) dos médicos relatarem ser muito freqüente a presença de sintomas dispépticos em pacientes com diagnóstico de SII. Manifestações extradigestivas Foram oferecidas 18 opções com manifestações extradigestivas para assinalar (múltipla escolha) como “freqüentes” ou “não-freqüentes” (Tabela 3). Tabela 3. Manifestações extradigestivas consideradas freqüentes Manifestação extradigestiva Número de vezes assinaladas % do total de questionários Irritabilidade 1.079 90,4 Alterações do humor 1.045 87,5 Fadiga 758 63,5 Insônia 668 55,9 Cefaléia 641 53,7 Enxaqueca 621 52,0 Tonturas 585 49,0 Alterações psiquiátricas 422 35,3 Taquicardia 414 34,7 Dor lombar 377 31,6 274 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL (continuação) Sudorese 356 29,8 Sonolência 258 21,6 Tremores 225 18,8 Sintomas urinários 159 13,3 Dispareunia 155 13,0 Hipotensão 122 10,2 Disúria 118 9,9 Desmaio 32 2,7 1.194 100,0 Total de questionários Ocorrência da síndrome quanto ao sexo e à faixa etária Em relação ao conhecimento sobre “a prevalência aproximada da SII quanto ao sexo”, os médicos forneceram cifras que podem ser interpretadas como “distribuição percentual dos casos quanto ao sexo”. Esta variou de 5% a 99% no sexo feminino (média de 61%) e de 1% a 99% no masculino (média de 39%). Sobre “a faixa etária aproximada de maior ocorrência”, 45,5% dos médicos opinaram entre 31 e 40 anos. Diagnóstico A grande maioria dos médicos (88,9%) respondeu que o diagnóstico da SII é feito com base tanto nos aspectos clínicos quanto nos exames complementares. Quanto aos critérios diagnósticos utilizados na avaliação dos pacientes, a maioria (61,9%) respondeu que utiliza critérios próprios (Tabela 4). Quanto ao número de procedimentos rotineiramente utilizados para esclarecimento diagnóstico, variou de 0 a 11 (média = 4,0 e mediana = 4) (Tabela 5). A aceitação do paciente diante do diagnóstico de doença funcional foi apontada como “regular” por 57%, “boa” por 29% e ruim por 13% dos médicos. Diante de um paciente com quadro funcional compatível com a SII, no grupo de médicos clínicos gerais, 34,2% fizeram todo o tratamento, enquanto 57,3% deles tratavam primeiramente e só encaminhavam a outro profissional se não houvesse resposta. No grupo de gastroenterologitas, 80,1% realizaram todo o tratamento e 17% deles, quando não obtiveram resultados, encaminharam a outro profissional ou centro de referência. 275 A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II Tabela 4. Critérios utilizados na avaliação dos pacientes com SII Critério Freqüência % do total Critério próprio 739 61,9 de Roma 213 17,8 de Manning et al. 108 9,0 de Roma e critério próprio 17 1,4 de Menning et al. e critério próprio 8 0,7 de Roma, de Manning et al. e critério próprio 8 0,7 de Roma e de Manning et al. 7 0,6 Não responderam 94 7,9 1.194 100,0 Total Tabela 5. Procedimentos rotineiramente utilizados para esclarecimento diagnóstico, na ordem de freqüência com que foram assinalados Procedimento rotineiramente utilizado Freqüência % de 1.164 questionários 1.054 90,5 Exames bioquímicos 779 66,9 Pesquisa de sangue oculto nas fezes 549 47,2 Retossigmoidoscopia 364 31,3 Enema opaco 354 30,4 Ultra-sonografia 336 28,9 Colonoscopia 325 27,9 Pesquisa de Helicobacter pylori 316 27,1 Endoscopia digestiva alta 294 25,3 Raios X simples de abdome 246 21,1 Teste de tolerância à lactose 66 5,7 Trânsito de delgado 62 5,3 Dosagem da D-xilose 37 3,2 Tomografia computadorizada de abdome 6 0,5 Biópsia de delgado 6 0,5 Exames protoparasitológicos 276 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL (continuação) Enteroscopia 4 0,3 Manometria anorretal 2 0,2 Aspiração jejunal – – Tratamento Os recursos terapêuticos listados no questionário de sondagem sobre o conhecimento médico foram classificados como de “uso rotineiro”, de uso “quando necessário” ou “nunca” utilizados (Tabela 6). Tabela 6. Recursos terapêuticos considerados como de uso rotineiro pelos médicos que responderam ao questionário Recurso terapêutico Freqüência assinalada Questionários válidos % dos questionários válidos Dieta rica em fibras 821 1.133 72,5 Brometo de pinavério 772 1.118 69,1 Incrementadores do bolo fecal 426 1.063 40,1 Cisaprida 435 1.107 39,3 Ansiolíticos fitoterápicos 306 1.081 28,3 Hioscina 276 1.075 25,7 Ansiolíticos não-fitoterápicos 190 1.074 17,7 Metoclopramida 125 1.053 11,9 Antidepressivos 123 1.089 11,3 Trimebutina 97 983 9,9 Domperidona 94 987 9,5 Loperamida 36 1.029 3,5 Laxante osmótico 28 1.023 2,7 Colestiramina 18 1.004 1,8 Diciclomina 15 930 1,6 Bisacodil 14 905 1,5 Alfa delta galactosidase (Beano) 8 902 0,9 Mebeverina 3 927 0,3 277 A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II Perfil dos pacientes descritos Como já salientado, solicitou-se a cada médico que prestasse informações sobre dois de seus pacientes com diagnóstico de SII, preenchendo as duas fichas clínicas. A idade dos pacientes relatados variou de 12 a 89 anos, com média de 44,2. A distribuição por faixa etária pode ser vista na figura 1. Quanto ao sexo, houve predomínio do feminino (58,6%) sobre o masculino (41,4%) entre os 2.249 pacientes em cujas fichas clínicas essa informação estava disponível. Figura 1. Distribuição por grupo etário de 2.237 (dos 2.261*) pacientes com diagnóstico de SII sobre quem foram prestadas informações. * Excluídos 24 sem informação sobre idade. Dor abdominal A dor abdominal foi relatada como presente na apresentação clínica de 2.152 (95,2%) dos 2.261 pacientes. Quanto ao local da dor, dentre quatro opções apresentadas (com possibilidade de resposta múltipla), predominou a dor de localização difusa (Tabela 7). Entre três opções oferecidas referentes aos fatores de exacerbação ou alívio da dor abdominal, a “melhora com as evacuações” foi a mais freqüente, seguida de “piora após as refeições” e “acorda o paciente”, dentre as 1.677 (de 2.261) fichas clínicas com resposta para este item (Tabela 8). A interpretação deve levar em consideração que 584 (25,8%) das fichas clínicas não continham essa informação. 278 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Tabela 7. Número de vezes* que cada local de dor abdominal foi assinalado em 2.152 (de 2.261) fichas clínicas de pacientes com diagnóstico de SII Dor abdominal Número de vezes % do total de vezes 1.068 47,2 Hipogástrica 603 26,7 Periumbilical 550 24,3 Epigástrica 430 19,0 2.651 100,0 Difusa Total* * O total excede 2.152 devido a respostas múltiplas. Tabela 8. Freqüência com que cada fator que modifica a dor abdominal foi assinalado em 1.677 (de 2.261) fichas clínicas de pacientes com diagnóstico de SII Dor abdominal Freqüência % de 1.677 fichas clínicas 1.191 71,0 Piora após as refeições 931 55,5 Acorda o paciente 278 16,6 Melhora com as evacuações Forma e consistência das fezes Alteração na consistência das fezes foi assinalada em 2.207 (das 2.261) fichas clínicas. Havia quatro opções de respostas, tendo ocorrido casos de respostas múltiplas (Tabela 9). Alteração na forma das fezes ocorreu em apenas 28,7% dos 2.261 pacientes descritos. Tabela 9. Freqüência com que cada tipo de alteração da consistência das fezes foi assinalado em 2.207 (de 2.261) fichas clínicas de pacientes com diagnóstico de SII Consistência das fezes Freqüência % de 2.207 fichas clínicas Pastosa 966 43,8 Líquida 757 34,3 Endurecida 548 24,8 Cibalosa 283 12,8 279 A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II Hábito intestinal Quanto ao hábito intestinal dos pacientes com diagnóstico de SII, a tabela 10 mostra como foram classificadas as respostas existentes nas 2.261 fichas clínicas. Tabela 10. Forma de apresentação do hábito intestinal em 2.261 pacientes com diagnóstico de SII Hábito intestinal Número % do total Diarréia e constipação 921 40,7 Predomínio de diarréia 827 36,6 Predomínio de constipação 488 21,6 Não responderam 23 1,0 Resposta conflitante 2 0,1 2.261 100,0 Total Quanto à intensidade da diarréia e/ou da constipação, predominaram os quadros com intensidade leve/moderada, tanto da diarréia (87%) como da constipação (89,0% ) (Tabelas 11 e 12). Não houve diferença estatística (p = 0,836) com relação à intensidade entre os casos com predomínio de diarréia (720/825, ou 87,3%) e os casos mistos (588/671, ou 87,6%). Entretanto, o quadro foi significativamente mais leve a moderado entre os pacientes com predomínio de constipação do que entre os com quadro misto (422/488, ou 86,5% versus 564/ 620, ou 91,0%; p = 0,018). Tabela 11. Intensidade da diarréia, de acordo com a forma da síndrome, em 1.496 fichas clínicas analisáveis, provenientes de pacientes com diagnóstico de SII Forma da síndrome Diarréia Predominância de diarréia Mista: diarréia e constipação Total Leve/Moderada 720 588 1.308 Intensa/Grave 105 83 188 Total 825 671 1.496 χ21gl = 0,04 p = 0,836 280 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Tabela 12. Intensidade da constipação, de acordo com a forma da síndrome, em 1.108 fichas clínicas analisáveis, provenientes de pacientes com diagnóstico de SII Forma da síndrome Constipação Predominância de constipação Mista: diarréia e constipação Total Leve/Moderada 422 564 986 Intensa/Grave 66 56 122 Total 488 620 1.108 χ21gl = 5,62 p = 0,018 Sintomas e sinais digestivos associados Uma média de 4,1 sintomas/sinais digestivos entre 10 opções que poderiam estar associados à dor abdominal e à alteração do hábito intestinal foi apontada por paciente. A freqüência com que esses 10 sintomas/sinais digestivos foram assinalados nas 2.222 fichas clínicas com esse item preenchido pode ser observada na tabela 13. Tabela 13. Freqüência com que cada sintoma/sinal digestivo associado à dor abdominal e às alterações do hábito intestinal foi mencionado, em 2.222 (de 2.261) pacientes com diagnóstico de SII Sintoma/sinal Freqüência % de 2.222 fichas clínicas Desconforto abdominal 1.819 81,9 Distensão abdominal 1.528 68,8 Plenitude 1.189 53,5 Sensação de evacuação incompleta 1.212 54,5 Eliminação de muco pelas fezes 1.053 47,4 Intolerância alimentar 642 28,9 Pirose ou azia 528 23,8 Náuseas ou vômitos 495 22,3 Despertar noturno por sintomas 353 15,9 Sangue vivo nas fezes 266 12,0 281 A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II Os períodos de remissão entre os episódios sintomáticos foram apontados como variáveis (Tabela 14). Tabela 14. Período de remissão dos sintomas/sinais em 2.261 pacientes com diagnóstico de SII Período de remissão Número % do total De 3 meses a 1 ano 894 39,5 Acima de 1 ano 832 36,8 Menos de 3 meses 496 21,9 Não responderam 39 1,7 2.261 100,0 Total Manifestações extradigestivas Manifestações extradigestivas ocorreram em 84,3% dos pacientes incluídos no inquérito sem que tenha havido diferença estatística (p = 0,332) na sua distribuição quanto ao sexo (Tabela 15). Tabela 15. Freqüência com que cada manifestação extradigestiva foi mencionada, em 1.907 pacientes com diagnóstico de SII Manifestação extradigestiva Freqüência % de 1.907 fichas clínicas Alterações do humor 1.390 72,9 Irritabilidade 1.328 69,6 Insônia 853 44,7 Cefaléia 824 43,2 Fadiga 813 42,6 Tonturas 536 28,1 Enxaqueca 473 24,8 Sudorese 422 22,1 Taquicardia 394 20,7 Alterações psiquiátricas 311 16,3 Dor lombar 293 15,4 282 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL (continuação) Sonolência 249 13,1 Tremores 239 12,5 Sintomas urinários 200 10,5 Hipotensão 143 7,5 Disúria 132 6,9 Dispareunia 130 6,8 Desmaio 98 5,1 A média de manifestações extradigestivas por paciente foi de 4,6. O número médio de manifestações extradigestivas por paciente não apresentou diferença estatística em relação à idade (p = 0,269), mas foi estatisticamente maior no sexo feminino (p < 0,001). Relação entre SII e eventos psicossociais A relação entre as manifestações clínicas da SII e os eventos psicossociais foi apontada na grande maioria (84,3%) dos 2.261 pacientes estudados, mas não houve diferença estatística (p = 0,400) entre os sexos. Quanto a tabagismo e etilismo, as 2.222 fichas clínicas analisáveis revelaram que 1.227 (55,2%) pacientes não eram etilistas nem tabagistas, 443 (19,9%) eram apenas tabagistas, 331 (14,9%) eram etilistas e tabagistas e 221 (9,9%) eram apenas etilistas. Exames complementares O número de exames complementares utilizados para o esclarecimento diagnóstico por paciente, entre as 16 opções listadas na ficha clínica, variou de 0 a 12, com média de 4,3 (Tabela 16). Estado geral dos pacientes descritos Ao exame físico, o estado geral dos pacientes foi descrito como bom na grande maioria dos casos (84,1%) e regular em 13,4%. Contudo, a porcentagem de "bom estado geral" decresceu de forma estatisticamente significante (p < 0,001) de 90,8% (no grupo com predomínio de constipação) para 80,9% (no grupo com a forma mista da síndrome). 283 A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II Tabela 16. Freqüência com que cada um dos exames complementares listados foi utilizado para confirmar o diagnóstico de cada um de 2.202 (de 2.261) pacientes com a SII Exames complementares Freqüência % de 2.202 fichas clínicas Exames protoparasitológicos 1.896 86,1 Exames bioquímicos 1.598 72,6 Pesquisa de sangue oculto nas fezes 1.099 49,9 Endoscopia digestiva alta 1.004 45,6 Enema opaco 994 45,1 Colonoscopia 911 41,4 Raios X simples de abdome 727 33,0 Retossigmoidoscopia 613 27,8 Trânsito de delgado 397 18,0 Avaliação psiquiátrica 259 11,8 Teste de tolerância à lactose 165 7,5 Dosagem da D-xilose 77 3,5 Enteroscopia 26 1,2 Biópsia de delgado 25 1,1 Manometria anorretal 8 0,4 Aspiração jejunal 3 0,1 Terapêutica já utilizada e em uso atual pelos pacientes descritos Havia na ficha clínica uma lista com 18 recursos terapêuticos para que o médico assinalasse quais os já utilizados nos pacientes selecionados. O número por paciente variou de 0 a 15, com média de 4,4 (Tabela 17). Quanto ao tratamento de uso atual pelos pacientes, a pergunta era de resposta aberta e os resultados podem ser vistos na tabela 18. Entre as 1.817 menções a agentes motores, o brometo de pinavério figurou em 1.328 (73,1%), e a cisaprida em 317 (17,4%). Esses dois medicamentos, somados, representaram 90,5% dos agentes motores. Sobre o total das 4.307 menções, o brometo de pinavério representa 30,8% e a cisaprida, 7,4%. 284 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Tabela 17. Freqüência com que cada um dos recursos terapêuticos listados já foi utilizado em cada um de 2.226* (de 2.261) pacientes com a SII Recurso terapêutico já utilizado Freqüência % de 2.226 fichas clínicas Brometo de pinavério 1.492 67,0 Dieta rica em fibras 1.381 62,0 Hioscina 1.166 52,4 Ansiolíticos não-fitoterápicos 1.085 48,7 Cisaprida 1.061 47,7 Ansiolíticos fitoterápicos 832 37,4 Incrementadores do bolo fecal 682 30,6 Metoclopramida 529 23,8 Antidepressivos tricíclicos 523 23,5 Loperamida 338 15,2 Domperidona 253 11,4 Laxante osmótico 231 10,4 Trimebutina 226 10,2 Colestiramina 90 4,0 Bisacodil 77 3,5 Diciclomina 34 1,5 Alfa-delta galactosidase (Beano) 11 0,5 Mebeverina 5 0,2 * Em 35 fichas clínicas não havia escolha de qualquer dos recursos terapêuticos acima. Tabela 18. Tratamento de uso atual, por classe, em 2.150* (dos 2.261) pacientes com a SII Tratamento atual Freqüência % de 2.150 fichas clínicas Agentes motores 1.817 84,5 Ansiolíticos 689 32,0 Dieta 294 13,7 Laxantes 320 14,9 * Excluídas 111 fichas clínicas sem resposta. 285 A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II (continuação) Antiespasmódicos 310 14,4 Antidepressivos 235 10,9 Constipantes 93 4,3 Antifiséticos 45 2,1 Psicoterapia 21 1,0 Outros 345 16,0 Nenhum 138 6,4 Os médicos também foram convidados a mencionar o nome dos medicamentos que não induziram melhora clínica e os resultados podem ser vistos na tabela 19. Tabela 19. Medicamentos que não provocaram resposta clínica em 708 pacientes com a SII Não houve resposta clínica a Número % de 708 fichas clínicas Cisaprida 183 25,8 Hioscina 126 17,8 Brometo de pinavério 92 13,0 Ansiolíticos fitoterápicos 80 11,3 Metoclopramida 58 8,2 Loperamida 47 6,6 Ansiolíticos (não especificados) 42 5,9 Ansiolíticos não-fitoterápicos 42 5,9 Dieta rica em fibras 38 5,4 Domperidona 36 5,1 Trimebutina 31 4,4 Incrementadores do bolo fecal 31 4,4 Todos já experimentados 31 4,4 286 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL (continuação) Antidepressivos tricíclicos 25 3,5 Laxante osmótico 19 2,7 Antidepressivos (não especificados) 12 1,7 Colestiramina 11 1,6 Bisacodil 8 1,1 Outros 154 21,8 Ignorado 42 5,9 CONCLUSÕES A condução dos trabalhos referentes ao consenso não foi tarefa isenta de percalços. Alguns questionamentos foram feitos já de início sobre a metodologia empregada na obtenção das informações e a ausência de randomização. Visando à correta interpretação dos dados obtidos, o Dr. Luiz F. Marcopito, epidemiologista clínico da Escola Paulista de Medicina, responsabilizou-se pela organização e análise dos resultados. O pôster apresentado pelo professor Carlos Francisconi, PUC de POA, no DDW de 99, mereceu a atenção e elogios de membros do comitê executivo do Consenso de Roma, como o professor Douglas A. Drossman, inclusive em relação ao grande número de pacientes alcançados com o levantamento, ainda que numa amostra não randomizada da população. Dificuldades metodológicas são um ponto comum dos trabalhos publicados em SII. Grande parte dos estudos se baseia em questionários preenchidos pelos próprios indivíduos como meio de detectar a prevalência de sintomas intestinais funcionais na comunidade. O estudo de Talley et al.7 foi realizado numa população predominantemente branca (com ancestrais do norte da Europa). O levantamento de Drossman et al.8 objetivou a representação da população adulta dos Estados Unidos, porém, sub-representou negros e super-representou idosos. Os estudos realizados por Heaton et al.9 e Jones and Lydeard10 sub-representaram minorias populacionais. O estudo de Kay et al.11 foi projetado com randomização das amostras e deve ser representativo de dinamarqueses que vivem em áreas suburbanas. As amostras populacionais de Taub et al.12 e de Zuckerman et al.13, a exemplo do consenso brasileiro, não foram selecionadas por randomização. 287 A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II Taub et al. avaliaram estudantes de um colégio americano; Zuckerman et al.13 estudaram hispânicos e brancos, e a amostra do Consenso Brasileiro6 foi selecionada de consultórios de gastroenterologistas e clínicos gerais, embora represente a terceira maior casuística entre os estudos acima mencionados, que são, até o momento, os mais expressivos da literatura. Desde que o Consenso Nacional foi feito com base em pacientes já estudados (submetidos, em sua maioria, à avaliação laboratorial por métodos de imagem e a tratamento clínico, reportados pelos seus respectivos médicos), seus resultados em relação à caracterização clínica dos pacientes afetados são mais fidedignos do que os estudos randomizados baseados apenas em respostas de indivíduos selecionados da população geral em relação exclusivamente aos sintomas da SII, sem comprovação diagnóstica a posteriori. Este fato se reveste de importância quando se considera a significativa sobreposição entre os sintomas da SII e os das doenças gastrointestinais orgânicas, como a diverticulose colônica e a doença inflamatória intestinal. É interessante observar que os médicos brasileiros usaram de maneira intuitiva critérios internacionais para o diagnóstico da SII. Os Critérios de Roma em sua versão original tinham por objetivo principal facilitar a comunicação médica entre pesquisadores. A análise das fichas clínicas dos pacientes reportados no inquérito permitiu-nos constatar que as características epidemiológicas e a apresentação clínica dos pacientes descritos coincidem com o relatado na literatura7-13. Alguns aspectos, entretanto, merecem consideração. A alteração do hábito intestinal mais freqüente foi a diarréia, relatada em 78% dos casos, o que está concordante com a literatura 4,14. Entretanto, a alternância de constipação e diarréia não é uma manifestação clínica que conste dos critérios internacionais para o diagnóstico de SII, e foi relatada com uma freqüência bastante elevada no presente inquérito (Tabela 10). Houve estreita relação entre as manifestações clínicas da síndrome e os eventos psicossociais na grande maioria dos 2.261 pacientes estudados (84,3%), mas não se observou qualquer diferença estatisticamente significativa entre esta relação e o sexo feminino ou masculino (p = 0,400), como sugerem alguns autores15,16. Chama a atenção a grande quantidade de exames subsidiários solicitada por paciente neste inquérito. Embora a permanência do conceito de que doença funcional deva ser um critério de exclusão possa justificar o número elevado de procedimentos realizados, a amostragem deve ser interpretada com cautela. O número de médicos especialistas que responderam ao questionário e que trabalham em ambiente secundário e terciário provavelmente colabora para que o número de exames realizados por paciente seja relativamente alto. Entretanto, dentro de uma realidade de atendimento em nível primário, em se tratando de 288 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL pacientes jovens sem sintomas ou sinais de alarme ou pacientes com história e exames físicos fortemente sugestivos de SII, a investigação primária na maioria das vezes deve se limitar ao hemograma e à velocidade de hemossedimentação e ao exame parasitológico de fezes. Baseado nos dados obtidos, na experiência dos profissionais participantes do inquérito e no conhecimento sobre a SII, o comitê executivo sumarizou as recomendações que se seguem, como forma de orientar a abordagem prática dos pacientes com SII no nosso meio. A. Que o diagnóstico da SII seja feito de maneira positiva, através de uma história e exame físico cuidadosamente realizados, no contexto de uma relação médico-paciente com a melhor qualidade possível. O comitê executivo responsável pela elaboração e avaliação deste inquérito considera que os seguintes elementos clínicos podem ser usados numa abordagem positiva para o diagnóstico da SII (Quadro 1). Quadro 1. Elementos clínicos para o diagnóstico da Síndrome do Intestino Irritável Sintomas cardinais Dor abdominal, mais caracteristicamente difusa, que alivia com a defecação e/ou piora com as refeições Alteração da freqüência ou da consistência das evacuações (diarréia e/ou constipação) Sintomas secundários Desconforto abdominal Flatulência ou sensação de distensão e/ou plenitude abdominal Esforço, urgência ou sensação de evacuação incompleta Evacuação com muco O diagnóstico da SII deve ser considerado positivamente na presença de: a) sintomas cardinais associados ou não aos sintomas secundários b) sintomas, contínuos ou descontínuos, com duração acima de 3 meses no último ano c) sintomas contínuos ou recidivantes d) ausência de sinais ou sintomas de alarme: emagrecimento não justificado, evacuação de fezes com sangue, febre, mucosas descoradas, organomegalias ou massas palpáveis 289 A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II Doenças intestinais orgânicas deverão ser afastadas pela história e exame físico cuidadosos e, quando necessário, utilizando-se dos exames complementares cabíveis. B. Que a investigação clínica seja sempre realizada com prudência, com cuidado de custo-efetividade dentro da realidade econômica e cultural em que o exercício profissional ocorre. C. Que o médico escolha de maneira judiciosa a intervenção terapêutica no seu paciente. É importante saber que até o presente momento não existem drogas que ajam de maneira inequivocamente positiva nos pacientes com SII. A atenção do médico ao seu paciente parece ser um elemento muito importante no desfecho clínico de cada caso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. Baron JH. Inflammatory bowel disease up to 1932. Mt Sinai J Med 2000; 67(3):174-89. Demling L. [Spastic colon (irritable colon)]. Fortschr Med 1989; 107(20):439-42. Sternon J. [Spastic colon: a multi-factorial pathology, a polyvalent therapy]. Rev Med Brux 1990; 11(7):285-92 Torsoli A et al. Working Team Reports. Gastroenterol Internat 1991; 4:189-190. 4. Drossman DA, Richter JE, Talley NJ, Thompson WG, Corazziari E, Whitehead WE. 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Symptoms of irritable bowel syndrome in a British urban community: consulters and nonconsulters. Gastroenterology 1992; 102:1962-7. 10. Jones R, Lydeard S. Irritable bowel syndrome in the general population. Br Med J 1992; 304:87-90. 11. Kay L, Jorgensen T, Jensen KH. The epidemiology of irritable bowel syndrome in a random population: prevalence, incidence, natural history and risk factors. J Intern Med 1994; 236:23-30. 290 UM CONSENSO NACIONAL SOBRE A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL 12. Taub E, Cuevas JL, Cook EW, Crowell M, Whitehead WE. Irritable bowel syndrome defined by factor analysis: gender and race comparisons. Dig Dis Sci 1995; 40:2647-55. 13. Zuckerman MJ, Guerra LG, Drossman DA, Foland JA, Gregory GG. Comparison of bowel patterns in hispanics and non-hispanic whites. Dig Dis Sci 1995; 40:1761-9. 14. Haddad MT. Síndrome do Cólon Irritável. In: Dani R. (1 ed.) Gastroenterologia Essencial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998; 309-15. 15. Phillips SE, Wingate DL. 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