1 I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ Marketing: gestão do relacionamento com o cliente Ana Paula de Freitas Andrade Lima Administradora, Mestre em Sistemas de Gestão Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense [email protected] Luiz Perez Zotes Engenheiro, Doutor em Engenharia Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense [email protected] Resumo Dentro do ambiente globalizado as empresas têm retornado às origens no que diz respeito ao atendimento aos clientes, buscando atendê-los de maneira personalizada, isto é, um a um, porém, utilizando como ferramenta a Tecnologia da Informação. Nesse contexto o presente artigo tem como objetivo apresentar alguns conceitos de marketing segundo importantes pesquisadores, para assegurar o embasamento teórico acerca da Gestão do Relacionamento com os Clientes ou CRM – Customer Relationship Management. O texto abordará o CRM – considerando-o como o mais novo instrumento de obtenção de vantagem competitiva, pois mais do que a simples utilização de dados acumulados dos clientes escondidos nas bases de dados, está uma proposta de mudança de cultura organizacional para redirecionar os negócios e garantir sustentabilidade de longo prazo. Palavras Chave: Gestão do Relacionamento com os Clientes; CRM; Marketing. Seção 2 Apresentação: Oral 1. Introdução O marketing ostenta uma rica variedade de conceitos e ferramentas, e uma dessas ferramentas será abordada neste texto. Inicialmente é importante adotar o conceito clássico de Kotler (1993) que define: “Marketing é o processo social e gerencial através do qual indivíduos e grupos obtêm aquilo de que necessitam e desejam por meio da criação e troca de produtos e valores”. 1.1 Desejos, Necessidades e Demandas. 1 2 Kotler (1993) afirma que os conceitos básicos do marketing referem-se aos desejos e às necessidades humanas. Uma necessidade humana é um estado em que se percebe alguma privação. O estudo sobre as necessidades humanas remete a Maslow (1954), que afirma que elas motivam o comportamento humano. Para ele as necessidades humanas estão organizadas em níveis hierárquicos segundo seu valor e premência. As necessidades mais importantes ou prementes monopolizam a consciência do indivíduo e tendem automaticamente a organizar a mobilização das diversas faculdades do organismo. Outro conceito básico em marketing é o desejo humano, o qual é moldado pela cultura e pelas características individuais. Para Kotler (1993) os desejos são descritos em termos de objetos que satisfaçam as necessidades. Quanto mais as pessoas são expostas a objetos que despertam seu interesse e atenção, maior é a tentativa das empresas oferecerem produtos e serviços que satisfaçam os seus desejos. Outro elemento importante é a Demanda. As Demandas representam os desejos por produtos ou serviços específicos, mas que devem ser apoiadas na possibilidade de contrapartida. Isto significa que as empresas devem avaliar não somente o número de pessoas que desejam o produto, mas principalmente se estão dispostas e aptas a adquiri-lo. 1.2 Trocas, Transações e Mercados. Ainda recorrendo a Kotler (1993) o marketing ocorre quando as pessoas decidem satisfazer suas necessidades e desejos por meio de trocas. A troca se verifica quando o objeto desejado é adquirido e algo é oferecido como pagamento. Para que a troca ocorra é preciso que algumas condições sejam satisfeitas: pelo menos duas partes devem participar, sendo que cada uma deve possuir algo de valor para oferecer; cada uma deve querer negociar com a outra e ter liberdade de aceitar ou rejeitar a oferta; e, finalmente cada parte deve ser capaz de fornecer o objeto prometido. A transação é a unidade de medida do marketing e em geral é feita por meios monetários. Finalmente, o conceito de mercado diz respeito ao grupo de compradores reais e potenciais de um determinado produto. Diferentemente, Grönroos (1993) afirma que definir marketing de acordo com a abordagem do marketing mix (Quatro “Ps”: Produto, Posicionamento ou Praça, Preço e Promoção) utilizada por muitos autores, é como usar por definição uma lista de objetos, e tampouco aumentar no número de “Ps” proporciona uma melhoria fundamental à definição, ou seja, tal definição representa uma simplificação, que não se adapta aos tempos atuais. Para o autor é necessário que a abordagem do conceito gire em torno do relacionamento com o cliente, onde os objetivos das partes envolvidas se encontram através de vários tipos de promessa e troca. Os relacionamentos com o cliente são a chave desse conceito. Assim, “promessas sobre trocas que irão ocorrer são dadas mutuamente no relacionamento e essas promessas são realizadas e cumpridas com vários tipos de trocas que ocorrem”. 1.3 Clientes. 2 3 As definições que se encontram na literatura para designar clientes possuem um caráter muito amplo, a exemplo da definição de Kotler (1993): “clientes são organizações ou pessoas, internas ou externas à empresa que são impactadas pelos produtos”. Os clientes podem ser internos ou externos. Clientes externos não pertencem à organização, aqui se inclui o público em geral, outras organizações e os órgãos regulamentadores. Clientes internos são os que recebem, dentro da empresa, produtos e serviços de outros departamentos e de pessoas da própria empresa. Reconhecer a importância, e dar a devida atenção ao público interessado – leia-se clientes, funcionários, fornecedores, distribuidores; é o que, atualmente estão fazendo as empresas para alcançar os lucros desejados. Sem clientes não há negócios. Vale salientar que todos os Stakeholders são importantes e devem ser considerados como clientes. Não somente objetivando o lucro da empresa, mas sim, uma parceria lucrativa para todos os envolvidos. Isso é que sustentará a empresa. Segundo Whiteley (1992), os clientes são todos aqueles cujas decisões determinam se sua empresa irá prosperar. Pode tratar-se de um grupo complexo e de múltiplas camadas, mas é preciso conhecer e servir todos os seus componentes para garantir a prosperidade. Em uma empresa, a maioria das pessoas serve a três tipos de clientes: Clientes Finais: São pessoas que irão buscar seu produto no dia a dia e – conforme se espera – deverão ficar encantadas; Clientes Intermediários: Trata-se normalmente de distribuidores ou revendedores que tornam os produtos disponíveis para o cliente final; Clientes Internos: São pessoas na organização a quem são repassados os trabalhos concluídos para o desempenho da próxima função na direção de servir os clientes intermediários e finais. Por exemplo, para um montador, o cliente interno poderá ser o próximo colega da linha de montagem. Para Peppers & Rogers (1997), as empresas para tornarem-se competitivas devem atuar de forma que o foco principal deixe de ser os produtos ou serviços para passar a ser uma solução para os seus clientes. Isto exige uma profunda mudança de cultura e valores, pois ainda permanece a cultura e os hábitos dos treinamentos de muitos anos em que o foco central era apenas os próprios produtos ou serviços. Assim, para esses autores as empresas devem: Identificar seus clientes: Significa saber quem são os clientes, quais os clientes potenciais e qual o mercado e o negócio da organização. Aqui se devem relacionar todos que efetivamente fazem negócio com a empresa; Classificar os clientes: É necessário classificar os clientes segundo um critério que seja considerado relevante para a empresa, ou seja, é necessário classificar os clientes a partir de uma percepção interna e externa. A classificação interna deve esta baseada na estratificação dos clientes sob o ponto de vista do valor que os mesmos trazem para a empresa. Quanto à classificação interna, os tipos podem ser: 3 4 1. De maior potencial: São aqueles que, no momento não geram receita, por não adquirir diretamente ou não ter despertado interesse para as ofertas; 2. Fiéis: São os que adquirem tudo que é possível e dentro dos limites que possuem não há condições de haver expansão neste relacionamento, mas é de interesse sua manutenção como cliente; 3. Não interessantes: São clientes que não estão apresentando bons resultados e nem há perspectiva de melhorias. Significa que não devem ser eliminados, porém sem qualquer regra de tratamento diferenciado; 4. De maior valor: São aqueles que, no presente, geram larga margem de lucro, ou demandam grandes quantidades de produtos e serviços, o que justifica um tratamento diferenciado; 5. De maior valor vitalício: São aqueles que no momento podem não ser de maior valor, porém, dentro de uma projeção de relacionamento ao longo todo tempo, possuem um valor elevado, no médio e longo prazo; 6. De maior ou menor margem de lucro: são clientes que à medida que adquirem produtos ou serviços geram maior ou menor margem em função das características dos valores adquiridos que, por sua vez está diretamente relacionado com as suas características individuais. Por exemplo, um cliente que demanda por status é um cliente potencial para margens de lucros maiores, diferentemente de um outro que se traduz com um seguidor que somente adquire um produto após o mesmo já estar consagrado no mercado. A classificação externa deve ser baseada na estratificação dos clientes sob diversos pontos de vista de valor que podem trazer. Quanto à classificação externa Peppers & Rogers (1997) propõem os seguintes tipos: 1. Suspeitos: Aqueles que podem vir a comprar os produtos ou serviços; 2. Candidatos: Já conhecem ou ouviram falar da empresa e que são potenciais compradores; 3. Compradores: Aqueles que estão começando o relacionamento com a empresa agora ou há pouco tempo; 4. Clientes: Aqueles que voltam sempre e que merecem todo o esforço para mantê-los satisfeitos; 5. Fãs ou advogados da marca: Os produtos para esse tipo de cliente são vetor de sucesso e satisfação; 6. Finais e Intermediários: São aqueles que farão uso do produto ou serviço, ou aqueles que farão a intermediação até a chegada ao cliente final; 7. Afetado ou Impactado: São aqueles que no caso de uma descontinuidade ou problema com o produto ou serviço, não irá paralisar sua produção nem irá sofrer maiores perdas. Diferenciar os clientes: É necessário criar regras de negócio diferenciadas em função do valor e potencial que cada cliente proporciona para a empresa. Clientes especiais devem ter tratamento especial e clientes que não interessam devem ser induzidos a procurar a concorrência. Em outras obras dos mesmos autores, temos este passo da diferenciação incorporando o passo anteriormente apresentado da Classificação; 4 5 Interagir com os clientes e Personalizar o contato: Não deve ser somente a área de Marketing e Vendas a responsável pelo contato com a clientela. Todos devem interagir com os clientes. Neste ponto, a Tecnologia da Informação – TI tem um papel importante nessa interação, isto é, a conversa com o cliente deve começar a partir do seu último contato, independente de quando, onde, com quem, e do meio utilizado. A imagem da empresa, percebida pelo cliente, estará sendo passada a cada novo contato, necessitando uma individualização no relacionamento para que haja consistência na imagem passada e no seu fortalecimento com um valor para a empresa. Enquanto Peppers & Rogers (1997) classificam os clientes conforme os sete tipos descritos acima, considerando que as empresas devem proporcionar solução para os seus problemas, Raphel (1999) aprofunda a abordagem considerando que o processo de criação de valor para o cliente transforma-o num divulgador espontâneo do negócio. Assim, Raphel (1999) afirma que a lealdade do cliente deve ser “construída” segundo uma escala que ele denomina “Escala da Lealdade”. Para Raphel (1999) a Escala da Lealdade que pode ser utilizada para tornar um cliente fiel tem cinco níveis. A tarefa é trazer o consumidor da base para o topo da Escala da Lealdade. A seguir são descritos os cinco estágios da “Escala da Lealdade” bem como os elementos esclarecedores da cada um: Cliente potencial: interessado em comprar algo de sua empresa; Cliente pesquisador: visita seu estabelecimento pelo menos uma vez; Cliente eventual: compra algo ocasionalmente; Cliente assíduo: compra vários itens que o estabelecimento oferece e que ele possa utilizar; Cliente divulgador: compra vários itens que o estabelecimento oferece e ele possa utilizar e ainda convence outras pessoas a comprar lá. 1.4 Produto Além dos conceitos acima apresentados, é relevante mencionar o conceito de produto, pois é com ele que as pessoas satisfazem seus desejos e necessidades. Para a Fundação Prêmio Nacional da Qualidade - FPNQ (2002) produto é o resultado de atividades ou processos. O termo produto pode incluir serviços, materiais e equipamentos, informações ou uma combinação desses elementos; um produto poder ser tangível (como por exemplo, equipamentos ou materiais) ou intangível (por exemplo, conhecimento ou conceitos), ou uma combinação dos dois; e um produto pode ser intencional (por exemplo, oferta aos clientes) ou não-intencional (por exemplo, um poluente ou efeito indesejável). Para Kotler (1993): “Produto é qualquer coisa que pode ser oferecida a um mercado para aquisição, atenção, utilização ou consumo e que pode 5 6 satisfazer um desejo ou necessidade”. O desenvolvimento de um produto deve considerar três estágios: o primeiro diz respeito ao produto básico que é o núcleo do produto. Ele consiste nos serviços de solução de problemas ou benefícios que o consumidor obtém quando adquire, por exemplo, o comprador não adquire uma máquina de lavar roupas, mas sim, roupa lavada. A partir do produto básico tem-se o produto real. Produtos reais podem ter até cinco características: nível de qualidade, aspectos, estilo, nome de marca e embalagem. O terceiro estágio é o produto ampliado que significa a oferta de serviços e benefícios adicionais para a solução completa do problema do consumidor. 2 Marketing Um a Um O sistema de produção em massa que impulsionou a economia no século XX tornou-se o que Thomas Kuhn chamou de paradigma, não apenas na produção, mas também na gestão das organizações, inclusive a função marketing. Segundo Pine II (1994) o paradigma da produção em massa tem como componentes-chave dentro da função marketing: baixo custo, produtos padronizados vendidos a mercados homogêneos, resultando em demanda estável. Ocorre que o modelo de produção em massa vem apresentando sérios sinais de esgotamento, os quais podem ser explicados pelas: instabilidades nos insumos, mudanças demográficas, alterações nas necessidades e desejos, mercados saturados, ciclos econômicos, choques, incertezas e, finalmente choques nos produtos e processos tecnológicos. Nesse novo sistema que Pine II (1994) denomina “Customização Maciça” existe o compartilhamento das seguintes metas: desenvolvimento, produção, comercialização, e entrega de produtos e serviços disponíveis com suficiente variedade e personalização “para que quase todos encontrem exatamente o que eles querem”. Para melhor compreensão dessa mudança de paradigma o autor apresenta a seguinte tabela comparativa: PRODUÇÃO EM MASSA Foco CUSTOMIZAÇÃO MACIÇA Eficiência através de estabilidade e controle. Variedade e personalização através da flexibilidade e respostas rápidas. Meta Desenvolvimento, produção, Desenvolvimento, produção, comercialização e entrega de comercialização e entrega de mercadorias e serviços a produtos e serviços disponíveis preços suficientemente baixos com suficiente variedade e disponíveis a todos. personalização que atenderia a vontade de todos. Caracterí Demanda estável; Mercados fragmentados; sticasMercados grandes e Nichos heterogêneos; Chave homogêneos; Baixo custo, alta qualidade, Custos baixos, qualidade produtos e serviços consistente, produtos e personalizados; serviços padronizados; Ciclos pequenos de 6 7 Ciclos longos de desenvolvimento do produto; desenvolvimento dos Ciclos de vida de produto curtos produtos; Ciclos de vida de produto longos. Tabela 1: Customização Maciça confrontada com Produção em Massa Fonte: Adaptado de Pine II (1994) Pine II (1994) aduz que na produção em massa o foco estratégico da função marketing nas empresas produtoras em massa tem sido vender, a custos baixos, produtos padronizados para mercados homogêneos, e seu benefício primário para a empresa foi demanda estável e previsível. “Conseqüentemente, o marketing era realmente escravo da produção, não do consumidor. O marketing assumiu que aquilo que os consumidores mais queriam era um bom preço”. E isto provocou alguns efeitos prejudiciais, dentre os quais: Desconsideração de muitas necessidades e vontades dos consumidores; Consumidores desapontados e desleais; Abertura de nichos de mercado; Analisando a mesma questão, Peppers & Rogers (1994) afirmam que a partir da Revolução Industrial, os fabricantes de grandes quantidades de produtos padronizados, utilizaram a mídia de massa para fazer com que os consumidores adquirissem seus produtos. Assim surgiram as marcas e a propaganda que, somadas à concentração da demanda do consumidor em um produto produzido em massa, proporcionaram significativa e crescente rentabilidade. Porém, os tempos atuais passam por uma descontinuidade tecnológica de proporções épicas, e a maioria das pessoas não está preparada para tais mudanças. Para os autores: “O antigo paradigma, um sistema de produção em massa, mídia de massa e marketing de massa, está sendo substituído por um paradigma totalmente novo, um sistema econômico individualizado. [Esse sistema é] caracterizado pela produção personalizada, uma mídia individualmente abordável, um marketing individualizado, mudando totalmente as regras da concorrência e do crescimento comerciais”. No marketing um-a-um a única vantagem competitiva real é a informação obtida do cliente e que os concorrentes não têm. Essas informações têm de vir do cliente por meio de constante diálogo. Cada nova conversa é baseada na anterior, construindo um longo e único diálogo. Independentemente do meio utilizado pelo cliente para contatar - pessoalmente, através do telefone, do caixa eletrônico ou Internet – é necessário resgatar detalhadamente as interações e transações passadas. A razão para isso é muito simples: o cliente se lembra de tudo, e se ele se lembra, nós também temos de nos lembrar. Lembrar-se do que o cliente disse é simplesmente nunca fazer com que o cliente lhe diga a mesma coisa mais de uma vez! Peppers & Rogers (2001) acrescentam: 7 8 “Nesse tipo de relação, os interesses do cliente sempre têm de ser preservados. Afinal, se incentivamos o cliente a nos dar informações sobre si e sobre sua vida, temos de garantir que algo será fornecido em troca. Todas as nossas ações têm de estar alinhadas às necessidades do cliente para que ele perceba que houve valor no fornecimento das informações e que vale a pena continuar investindo na relação, fornecendo mais informações. É preciso deixar muito claro o benefício oferecido”. 2.1 Estratégias do Marketing Um a Um Segundo Peppers & Rogers (2001) existem estabelecer uma relação um-a-um com o cliente: quatro estratégias para Identificação: Identifique seus clientes e tenha, para cada um deles, diversos dados, bem como os disponibilize em todos os pontos de contato do cliente: a) História e transações; b) Receita e lucratividade; c) Reclamações; d) Canal de comunicação preferido; e) Momento da vida; f) Valor (real, potencial e estratégico); g) Potencial de crescimento; h) Risco. Diferenciação: Os clientes são diferentes e como já foi dito, ignorar ou desconhecer essas diferenças não os faz iguais. Os clientes são diferentes em seu valor para a empresa e em suas necessidades. O objetivo da diferenciação de clientes é encontrar os Clientes de Maior Valor (CMV) e os Clientes de Maior Potencial (CMP). Os tipos de diferenciação podem ser: por Valor e por Necessidades: a) Diferenciação por Valor: A diferenciação por valor nada mais é que o LifeTime Value - LTV, que é o valor que o cliente tem em toda sua história transacional com a empresa, as referências que ele fez e que se transformaram em vendas etc. Deve sempre exprimir em termos de lucratividade. Deve-se também medir o custo para atender cada um dos clientes, pelo simples fato de que os custos são diferentes de cliente para cliente. Sempre pensando em LTV, o valor do cliente pode ser medido em termos reais, ou seja, toda a lucratividade do cliente ao longo de sua relação com a empresa, e em termos potenciais, ou seja, a lucratividade dos negócios futuros que o cliente pode realizar com a empresa. O valor real é simplesmente a soma de toda a lucratividade gerada pelo cliente em suas transações com a empresa e os negócios gerados por sua referência. Esses dados geralmente estão armazenados nos sistemas contábeis da empresa (pelo menos os dados de receita) e servem para iniciar o processo de diferenciação dos clientes. O valor potencial é mais difícil de ser medido, pois envolve dados externos à empresa, além de inferências estatísticas. Porém ele existe e deve ser medido. Uma forma objetiva de medi-lo é saber quantas vezes o cliente comprou ou utilizou os serviços de um concorrente; 8 9 b) Diferenciação por Necessidade: Quanto maior o número de necessidades conhecidas, maior a oportunidade de participar no cliente. É possível diferenciar os clientes tendo como base necessidades inferidas, para depois, idealmente, chegar no nível individual. Descobrir novas necessidades é descobrir novas oportunidades. Quanto mais se sabe sobre as necessidades dos clientes, maior é o valor adquirido. Quanto mais se entende e se responde a essas necessidades, mais os serviços são percebidos como diferenciados. Interação: Para os Clientes de Maior Valor – CMV – se devem implementar programas de retenção. Programas de reconhecimento e de possibilidade de utilização de canais de comunicação exclusivos são formas de recompensar os melhores clientes. Porém, é através da relação de aprendizado e da personalização que tornam cada vez mais forte a relação com esses clientes. Os Clientes de Maior Potencial – CMP – necessitam de tratamento distinto. Deve-se desenvolver esses clientes através de incentivos, como concessão prematura de privilégios, cross selling e up selling. O investimento é no sentido de entendê-los, buscando assim participar cada vez mais nesses clientes, embora façam negócios com os concorrentes, têm um potencial ainda a ser desenvolvido. Quanto aos BZs (below zero), aqueles que dão prejuízo? É preciso pelo menos cobrar o valor real dos serviços prestado. Seus nomes devem ser suprimidos das listas de mala direta e de outras iniciativas de contato, sem, entretanto eliminar seus nomes da base de dados. Em resumo, devem ser atendidos, cobrando-se o valor dos serviços, sem incentivos a continuar. Uma coisa que deve ser ressaltada em relação aos BZs, é que eles têm valor real e estratégico abaixo do custo de atendimento, ou seja, não há perspectiva de lucratividade. A interação é a única forma de conhecer cada vez mais os clientes. Com esses clientes, o objetivo final é desenvolver uma relação de aprendizado, onde cada vez mais os serviços e produtos são personalizados para que o cliente veja conveniência em continuar nessa condição. Há uma relação íntima entre a interação e a diferenciação. Na realidade essas duas estratégias caminham juntas, pois uma depende da outra. Personalização: É bem simples quando se conhecem as necessidades e as preferências do cliente, mas exige muita flexibilidade da empresa e treinamento adequado das pessoas que têm contato com ele. Elas devem estar preparadas para mudar o comportamento de acordo com cada cliente. Quanto mais bem-sucedida for a personalização, mais simples e conveniente para o cliente é fazer negócio. Para personalizar, a empresa deve estar ciente da necessidade de desenvolvimento do back office, para que ela possa produzir e entregar produtos como o cliente deseja. 2.2 Customer Relationship Management – CRM O final da década de 80 e os anos 90 podem ser caracterizados pelas mudanças radicais nos negócios ocasionadas pela revolução da informação, a dissolução do mercado de massa, as transformações sociais, a desregulamentação, e intersecção entre os setores, a competição internacional e os avanços tecnológicos contribuíram para o fortalecimento 9 10 das pequenas empresas e, ao mesmo tempo, devastaram as grandes empresas, rígidas e avessas a mudanças. (McKenna: 1993). Para McKenna (1993) essas transformações ocorreram com tanta rapidez que a previsibilidade dos padrões de comportamento não tinham sustentação duradoura. Nesse período a competição apresentou os seguintes elementos relevantes: Aumento da diversidade de produtos e serviços, mesmo em pequenos segmentos de mercado; Competição em nível mundial; Mercados hiper-segmentados tornando os nichos soberanos; Pouca nitidez na distinção dos produtos; Aceleração dos ciclos de vida dos produtos; Fluxo constante dos canais de distribuição, causando dificuldades no diálogo com o cliente; Amplificação do nível de barulho na utilização da mídia tradicional, provocando confusão e falta de clareza na transmissão das mensagens; As organizações se reestruturam (downsizing) e buscam novas formas de fazer negócio; O ambiente dos negócios torna-se turbulento e imprevisível; A previsão e as pesquisas não proporcionam mais um caminho nítido. O marketing de transação se preocupa com, no máximo, os três primeiros tipos de produtos. Mas é o produto potencial, aquele que é inesperado pelo cliente que estabelece relacionamentos de longo prazo mais rentáveis. Sendo assim, é possível definir o que é marketing de relacionamento, que alguns autores chamam de CRM. Em uma primeira instância o marketing de relacionamento pode ser considerado como a atração, manutenção e - em organizações multi-serviços - o aumento de relacionamento com clientes. A atração de novos clientes passa a ser uma etapa, tendo como objetivo final à solidificação de relacionamentos, transformando clientes indiferentes em leais. Mas no contexto de relacionamento, deve-se ter quatro atitudes sempre como orientação: Compreender as necessidades dos clientes; Tratar os clientes como parceiros; Assegurar que os empregados satisfaçam as necessidades dos consumidores; Prover os consumidores com a melhor qualidade possível relativa às qualidades individuais. De acordo com Peppers & Rogers (2001) o termo CRM nunca foi formalmente definido. Assim, muitos fornecedores de software principalmente, aproveitando o movimento do mercado nessa direção, chamam suas aplicações de CRM (as mesmas que já existem há algum tempo). Pode-se 10 11 dizer que CRM é a infra-estrutura para implementar-se a filosofia one to one de relacionamento com os clientes. Mesmo o Gartner Group, considerada uma referência em Tecnologia da Informação, apud Peppers & Rogers (2001), define o CRM como uma estratégia de negócio e não um conjunto de ferramentas como a seguir: “CRM é uma estratégia de negócio voltada ao entendimento e à antecipação das necessidades dos clientes atuais e potenciais de uma empresa. Do ponto de vista tecnológico, CRM envolve capturar os dados do cliente ao longo de toda a empresa, consolidar todos os dados capturados interna e externamente em um banco de dados central, analisar os dados consolidados, distribuir os resultados dessa análise aos vários pontos de contato com o cliente e usar essa informação ao interagir com o cliente através de qualquer ponto de contado com a empresa”. A partir dessa definição conclui-se que CRM tem a ver com a captura, processamento, análise e distribuição de dados (o que ocorre em todos os tipos de sistemas), mas com total preocupação com o cliente (o que não ocorre nos sistemas tradicionais). O cliente é agora o centro do modelo de dados. Isso definitivamente traz implicações relevantes. Nos sistemas e processos que são concebidos à luz do CRM, o cliente é o centro, e todos os relatórios e consultas têm o cliente como “porta de entrada”. Do ponto de vista dos sistemas, CRM é a integração dos módulos de automatização de vendas (SFA), gerência de vendas, telemarketing e televendas, serviço de atendimento e suporte ao cliente (SAC), automação de marketing, ferramentas para informações gerenciais, e comércio eletrônico. O processo de gestão de relacionamento com os clientes significa muito mais que a implantação de uma nova tecnologia. Trata-se de uma mudança de cultura que transcende à reorganização dos processos e tecnologia para suportar essa nova forma de gestão. Segundo Peppers & Rogers (2001) esse processo engloba três dimensões: Operacional: Essa dimensão está relacionada à interligação dos diversos ambientes empresariais de apoio que são fundamentais para a entrega dos produtos e serviços aos clientes, como por exemplo, os sistemas de backoffice, front-office e mobile-office. Os sistemas de back-office estão ligados aos Sistemas Integrados de Gestão – ERP, aos Sistemas de Gestão de Fornecedores – SCM e aos sistemas legados. Os sistemas de front-office relacionam-se à automação de atendimento aos clientes - SAC e automação de vendas – SFA. Os sistemas de mobile-office dizem respeito aos sistemas móveis de atendimento aos clientes e automação de campo com o uso de equipamentos móveis, como os laptops e PDA – Personal Digital Assistant; Colaborativa: esta dimensão está relacionada à interação com os clientes, tais como sistemas de voz, telefone, tele-conferência, e-mail, faz ou qualquer outro mecanismo que permita interação direta com o cliente; o Analítica: esta dimensão está relacionada à inteligência do sistema, com objetivo de prospectar o conhecimento, identificando diferenciais 11 12 competitivos para a gestão dos negócios, assim como orientar a organização, baseado na análise de fatos e dados organizados em datawarehouse. Importante ressaltar que Peppers & Rogers (2001) frisam que esta última dimensão é a mais importante de todo o processo e a que deve ser atacada prioritariamente. O database de marketing é o núcleo de toda a estratégia e táticas do CRM. Sendo assim, sem uma boa base de dados analíticos e individuais de clientes, os esforços das dimensões colaborativa e operacional podem resultar em efeitos individuais na relação com o cliente absolutamente contrários aos objetivos fundamentais de uma estratégia de CRM. A figura a seguir apresenta a arquitetura genérica de um processo de gestão de relacionamento com os clientes – CRM: Figura 1: A Arquitetura de gestão do relacionamento com os Clientes – CRM Fonte: Adaptado de Peppers & Rogers (2001) Peppers & Rogers (2003) recomendam que, a partir dos dados de criteriosas pesquisas e experiência adquirida no relacionamento, as empresas devem seguir dez recomendações: Cada empresa precisa definir sua estratégia e suas metas específicas de relacionamento com os clientes e comunicá-las para toda a organização. Todos devem saber o que vai ser feito e como ganharão com isso, junto com a empresa; 12 13 CRM não é um mega-projeto a ser digerido e justificado financeiramente de uma só vez. Esperar por um estudo de caso incontestável com cronogramas de vários anos e investimentos de muitos milhões pode ser fatal; Tornar a empresa centrada no cliente é uma jornada de transformação. Iniciativas planejadas, coordenadas e executadas de forma incremental de acordo com um programa levam a organização a seus objetivos com mais agilidade e segurança; Cada iniciativa tem de ser avaliada por critérios claramente mensuráveis. O retorno tangível e em prazo definido viabiliza o lançamento, a manutenção e o crescimento de programas de relacionamento; Por outro lado, ao longo da jornada, a empresa deve saber valorizar os ganhos intangíveis: quanto vale o desenvolvimento de um produto vencedor surgido a partir da interação com o cliente? Gerir clientes em vez de apenas produtos exige novas disciplinas na companhia. A maioria das empresas sabe calcular com precisão o custo de cada produto, mas não quanto custa, por exemplo, atender um cliente; As organizações já estão percebendo que satisfação e fidelidade são indicadores indiretos. A tendência é clara: o que interessa é medir lucratividade individual, participação no cliente e retenção dos clientes mais rentáveis; Os desafios do CRM estão longe de serem tecnológicos. Organização, remuneração, criação de novos processos em finanças, vendas, produtos e marketing, políticas de gestão de dados e privacidade, obtenção de permissões de clientes são fatores cruciais, freqüentemente esquecidos; A estratégia de relacionamento com o cliente afeta toda a organização, inclusive seu modelo de negócio. Por isso, tal estratégia somente será bemsucedida se for patrocinada pelo nível mais alto da companhia segundo uma linha conceitual bem definida; A real vantagem competitiva de uma empresa consiste em ter informação sobre seus clientes que a concorrência não tem e ser capaz de transformar rapidamente esse conhecimento em ação. Ganha quem consegue estabelecer relacionamentos dominantes em seu mercado. 3. Conclusões O marketing de relacionamento é uma via de mão dupla. A empresa aprende de forma contínua com seus clientes e o relacionamento se enriquece com o aumento do valor agregado ao produto que é percebido pelo cliente. Cabe apenas ressaltar que os clientes não são todos iguais: por isso, é impossível ter relacionamentos especiais com todos. A vantagem de entender o ciclo de 13 14 vida do cliente, saindo do modelo transacional e identificando os clientes e seus comportamentos mais rentáveis é que se pode agir sobre estes grupos e não só mantê-los, como ampliar seus relacionamentos. 4. Referências bibliográficas FUNDAÇÃO PARA O PREMIO NACIONAL DA QUALIDADE. Critério de Excelência: 2002. Disponível em < www.fpnq.org.br > Acesso em julho de 2002. GRÖMROOS, C; Marketing: Gerenciamento e Serviços. Rio de Janeiro: Campus, 1993. KOTLER, P; Princípios de marketing. Rio de Janeiro: Prentice-Hall, 1993. MASLOW, A. H.; Motivation and Personality. New York: Harper, 1954. McKENNA, R.; Marketing de relacionamento: Estratégia bem-sucedidas para a era do cliente. Rio de Janeiro: Campus, 1993. PEPPERS & ROGERS GROUP. Estudo Brasil: CRM ganha força no país. Disponível em < www.hsmmanagement.com.br > , n. 38, maio/junho de 2003. Acesso em julho de 2004. PEPPERS, D; ROGERS, M; Marketing um a um: Marketing individualizado na era do cliente. Rio de Janeiro: Campus, 1994. ______; Empresa 1:1 – Instrumentos para competir na era da interatividade. Rio de Janeiro: Campus, 1997. ______; CRM Séries: Marketing 1 to 1. São Paulo: São Paulo: Makron Books, 2001. PINE II, B. J; Personalizando produtos e serviços: Customização maciça. São Paulo: Makron Books, 1994. RAPHEL, M; A escala da lealdade. Disponível em < www.hsmmanagement.com.br > , n. 13, março/abril de 1999. Acesso em julho de 2003. WHITELEY, R. C; A empresa totalmente voltada para o cliente. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 14