35 A SÍNDROME DE TURNER: ORIGENS, ASPECTOS FENOTÍPICOS27 E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS NA ESCOLA COMUM Michell Pedruzzi Mendes Araújo28 Dirlan de Oliveira Machado Bravo29 30 Rogério Drago 31 RESUMO: O presente artigo busca compreender as origens da Síndrome de Turner , que estão 32 relacionadas com o número de cromossomos sexuais . Descreve também o fenótipo dos indivíduos com essa síndrome e aborda o que por muito tempo foi negligenciado por alguns pesquisadores: o ouvir a voz desse indivíduo com uma síndrome rara, pautando as principais práticas pedagógicas que podem ser desenvolvidas com esse indivíduo na escola comum, haja vista que a grande maioria das pesquisas com essa síndrome se restringe à área da medicina e das ciências biológicas. Metodologicamente, a pesquisa se configura como qualitativa e bibliográfica. Será fundamentada em Vigotski, entendendo o ser humano como um ser social e cultural, fruto das relações com o meio. Como resultados parciais desse trabalho, destacam-se: a importância do diagnóstico precoce dos sujeitos dessa pesquisa e a necessidade de mais pesquisas na área da educação com indivíduos com síndromes raras. PALAVRAS-CHAVE:SÍNDROME DE TURNER. CROMOSSOMOS SEXUAIS. ASPECTOS FENOTÍPICOS. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS. 27 Referem-se à expressão do genótipo (informação genética), ou seja, são o resultado da interação do meio com os genes que o indivíduo possui. São os caracteres morfológicos, fisiológicos e comportamentais. 28 Mestrando da linha de pesquisa Diversidade e Práticas Educacionais Inclusivas (Mestrado em Educação) na Universidade Federal do Espírito Santo. Pós-graduado em Educação Inclusiva e em Gestão Escolar Integrada pelo Instituto Superior de Educação e Cultura Ulysses Boyd (ISECUB).Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo.. É bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES). 29 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, na linha de Pesquisa Diversidade e Práticas Inclusivas. Bolsista do programa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 30 Doutor em Ciências Humanas-Educação pela PUC-Rio, mestre em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo e graduado em pedagogia pela Universidade Federal do Espírito Santo. É professor adjunto do Centro de Educação e do Programa de Pós Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Espírito Santo. 31 Em alguns parágrafos, utilizaremos a sigla “ST” para nos referirmos à Síndrome de Turner. 32 São aqueles cromossomos que determinam os caracteres sexuais masculinos e femininos. Estão relacionados com as características sexuais secundárias (como presença de mais pelos em homens e desenvolvimento de mamas em mulheres) e com a produção de hormônios e de gametas. Dessa forma, qualquer alteração nesses cromossomos sexuais pode refletir em ausência de caracteres típicos de homens ou mulheres ou até levar à esterilidade. 36 ABSTRACT Thisarticle seeks to understandthe origins ofTurner syndrome,whichis related tothe number ofsex chromosomes. It also describesthe phenotypeof individualswith this syndromeandaddresses whathas long beenoverlookedby some researchers: the voiceoftheindividual witha rare syndrome, the mainguidingpedagogical practices thatcan be developedwiththis individualin thecommon school, thereviewthat the vastmajority of researchinthis syndromeis restrictedto the areaof medicineand biological sciences. Methodologically, the research is configured asqualitativeandliterature. It will bebased onVygotsky, understanding the human beingas a socialand culturalrelationswith thefruithalf.Aspartial resultsof thisworkare:the importanceof early diagnosisof the subjectsof this researchand the need formore researchin the areaof educationwithindividuals withrare syndromes. KEYWORDS:TURNER SYNDROME. ASPECTS.EDUCATIONALPRACTICES. SEXCHROMOSOMES. PHENOTYPIC INTRODUÇÃO O presente estudo faz parte de uma das pesquisas realizadas pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Inclusão, GEPEI, da Universidade Federal do Espírito Santo, coordenado pelo professor Dr. Rogério Drago. No presente artigo, dissertaremos sobre aspectos genotípicos e fenotípicos da síndrome de Turner e traremos ao debate alguns resultados parciais obtidos de uma pesquisa bibliográfica, principalmente em artigos da área médica. Elencaremos também, possibilidades de práticas pedagógicas inclusivas e não apenas integralistas, que valorizam as potencialidades dos sujeitos. É importante dizer, a priori, que a síndrome de Turner envolve alterações numéricas no conjunto de cromossomos de um indivíduo (cariótipo). Dessa forma, é importante contextualizar com algumas noções básicas de genética, presentes na dissertação de mestrado de Vasconcelos (2007). Nessa dissertação, é enfatizado que o genoma humano apresenta aproximadamente cerca de 35.000genes, que são unidades de informação genética distribuídos em locais exatos, numa molécula de DNA (ácido desoxirribonucleico), e que, em conjuntos, estão compactados em um aspecto de bastão denominados cromossomos. Os genes estão distribuídos em 23 pares de cromossomos, dos quais 22 pares são designados autossomos e dois são sexuais, X e Y; uma mulher normal é representada pela notação 46,XX, e o homem, 37 pela notação 46,XY (VASCONCELOS, 2007)33. Sabendo que a síndrome de Turner afeta o número de cromossomos de um indivíduo, pode-se dizer que alterações morfológicas ou comportamentais ocorrerão nos indivíduos afetados. Cabe ressaltar que a ST é a anormalidade dos cromossomos sexuais mais comum nas mulheres, ocorrendo em 1 a cada 1.500-2.500 crianças do sexo feminino nascidas-vivas. A constituição cromossômica pode ser ausência de um cromossomo X (cariótipo 45,X), mosaicismo cromossômico (cariótipo 45,X/46,XX), além de outras anomalias estruturais do cromossomo X34. Nesse contexto, é importante salientar que a produção bibliográfica no nosso país acerca da síndrome de Turner ainda é muito escassa. Isso é comprovado quando se faz um levantamento de produção presente no banco de teses e dissertações da Capes. De acordo com o levantamento por nós realizado, diagnosticamos a existência de dez dissertações cuja temática aborda a síndrome em estudo, mas cabe salientar que em nenhuma dessas produções os aspectos concernentes ao ensino/ aprendizagem dos sujeitos com essa síndrome são foco do estudo. Dessa forma, o presente artigo se justifica pela real necessidade de se conhecer melhor o genótipo e fenótipo dos sujeitos com a Síndrome de Turner, como também se discutir sobre as práticas pedagógicas possíveis35 de serem desenvolvidas no contexto da escola comum. Desta maneira, o ouvir a voz dos sujeitos com uma síndrome rara como a síndrome de Turner é um dos objetivos do presente estudo, haja vista que estes indivíduos com as síndromes estão inseridos na escola comum e precisam ser vistos não somente como seres medicalizados, como a bibliografia biomédica os tratam frequentemente, mas como sujeitos potenciais, detentores de direitos, deveres, anseios e de uma voz que precisa ser percebida, ouvida e principalmente entendida. 33 VASCONCELOS, B. Estudo da frequência de aberrações cromossômicas nos pacientes atendidos na Unidade de Genética do Instituto da Criança entre 1992 a 2002. 2007, 72p. Dissertação (Mestrado em Ciências). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP. 34 Saenger P. Turner’s Syndrome. N Engl J Med. 1996;335(23):1749-54. 35 Não pensamos aqui em práticas pedagógicas engessadoras, que deverão ser aplicadas a todos os indivíduos com ST. Pensamos cada sujeito com síndrome como um ser histórico e social e que apresenta as suas potencialidades e subjetividades. Portanto, podemos pensar em diversas ferramentas possíveis para que um sujeito internalize de fato uma determinada informação e que sua subjetividade seja valorizada em todo o processo inclusivo. Nós autores, pensamos que uma prática generalista é excludente. Não existe inclusão se houver generalização. A inclusão plena não ocorre efetivamente em muitos espaços porque os sujeitos do processo são vistos, inúmeras vezes, como meros seres biológicos e como apenas sujeitos medicalizados. 38 Pensando no que foi exposto até aqui, esse trabalho objetiva compreender as origens da Síndrome de Turner36, que estão relacionadas com alterações genéticas no número de cromossomos sexuais37. Descreve também o fenótipo dos indivíduos com essa síndrome e aborda o que por muito tempo foi negligenciado por alguns pesquisadores: o ouvir a voz desse indivíduo com uma síndrome rara, pautando as principais práticas pedagógicas que podem ser desenvolvidas com esse indivíduo na escola comum, uma vez que a maior parte das pesquisas com essa síndrome se restringe à área biomédica. Metodologicamente, para o alcance dos objetivos anteriormente expostos, a pesquisa se configura como qualitativa e bibliográfica. Será fundamentada em Vigotski, entendendo o ser humano como um ser social e cultural, fruto das relações com o meio, não o generalizando apenas como um ser biológico. ORIGENS DA SÍNDROME DE TURNER A síndrome de Turner foi descrita em 1938 por Henry Turner. Suas descrições tiveram por base a observação de pacientes do gênero feminino que apresentavam estatura baixa (aproximadamente 1 metro e 40 centímetros) e ausência de características sexuais secundárias femininas. Após 20 anos dessa descrição, Ford et al. (1959) relataram que estas pacientes apresentavam uma monossomia do cromossomo X (45, X), ou seja, apresentavam apenas 1 cromossomo sexual. A prevalência do cariótipo 45,X é baixa comparada a de outras anomalias de cromossomos sexuais afetando aproximadamente 1/2500 a 1/5000 nativivas38. 36 Em alguns parágrafos, utilizaremos a sigla “ST” para nos referirmos à Síndrome de Turner. 37 São aqueles cromossomos que determinam os caracteres sexuais masculinos e femininos. Estão relacionados com as características sexuais secundárias (como presença de mais pelos em homens e desenvolvimento de mamas em mulheres) e com a produção de hormônios e de gametas. Dessa forma, qualquer alteração nesses cromossomos sexuais pode refletir em ausência de caracteres típicos de homens ou mulheres ou até levar à esterilidade. 38 Crianças nascidas vivas. 39 De acordo com Leite39 (2012), “A ST ocorre em apenas 1 mulher entre 3.000 nascimentos, devido ao grande número de abortos que chega ao índice de 9097,5%”. As origens dessa síndrome são exclusivamente genéticas. Nesse caso específico, há uma erro na formação de gametas masculinos ou femininos, ou seja, um erro na meiose40. Trata-se de uma alteração numérica cromossômica. Cabe ressaltar que os cromossomos desempenham um papel relevante na transmissão da informação genética de uma geração para a outra, assim qualquer alteração no número de cromossomos ou na sequência de seus genes produz uma inviabilidade celular, durante a meiose, na formação dos gametas e/ou após a formação do embrião e, na 41 maioria das vezes, resulta em anomalias ao portador , que recebem o nome de aberrações cromossômicas. (VASCONCELOS, 2007, p. 42 2) . As mulheres com ST possuem 22 pares de cromossomos normais, mas ao invés de possuírem um par sexual, XX, apresentam apenas um cromossomo sexual X, o que acarreta em diversas alterações fenotípicas. Nesse contexto, é importante dizer que por apresentarem apenas um cromossomo sexual, o X, esses sujeitos com síndrome de Turner são somente do sexo feminino. Observe o cariótipo (Figura 01), conjunto cromossômico, dos indivíduos com essa síndrome. 39 LEITE, L.Síndrome de Turner. Disponível em <http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm>. Acesso em 02 Dez. 2012. 40 Processo de divisão celular que resulta em células-filhas com metade do número cromossômico da célula-mãe. É importantíssimo para a formação de gametas em espécies de reprodução sexuada. 41 Esse termo é utilizado nesse momento, pois se trata de um estudo da área médica, cuja utilização desse termo é algo muito comum, assim como o termo “aberrações cromossômicas”. Não estamos, nesse contexto, nos referindo à expressão já em desuso “portadores de necessidades especiais”, mas referimo-nos a indivíduos com células portadoras de aberrações cromossômicas, que resultam num fenótipo característico de síndrome. Cabe dizer que na literatura biomédica/ científica não há restrição para o uso desse termo e nós o utilizamos apenas para fins de caracterização da síndrome. 42 VASCONCELOS, B. Estudo da frequência de aberrações cromossômicas nos pacientes atendidos na Unidade de Genética do Instituto da Criança entre 1992 a 2002. 2007, 72p. Dissertação (Mestrado em Ciências). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP. 40 Figura 01 - Cariótipo do indivíduo com ST 43 Fonte:Leite (2012) Por fim, é importante destacar que a síndrome de Turner, como qualquer outra síndrome, engloba um conjunto de alterações fenotípicas (físicas) e, nesse caso específico, tem sua origem genotípica relacionada com alterações numéricas 44 dos cromossomos sexuais. ASPECTOS FENOTÍPICOS Neste tópico, abordar-se-ão os aspectos tangíveis à caracterização morfológica e comportamental dos indivíduos com ST. Cabe dizer primariamente, como principal característica fenotípica, que os sujeitos com essa síndrome são, necessariamente, do sexo feminino pela ausência do cromossomo sexual Y. Quando adultas apresentam geralmente baixa estatura, não mais que 150 cm45; linha posterior de implantação dos cabelos baixa (na nuca); pescoço alado (praticamente não se dá para visualizá-lo); retardamento mental; genitálias 43 LEITE, L. Síndrome de Turner.Disponível em <http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm>. Acesso em 02 Dez. 2012. 44 Referem-se a alterações no número de cromossomos de um indivíduo. No caso da espécie humana, são alterações que resultam na contagem de um número inferior ou superior a 46 cromossomos no cariótipo. 45 Pacientes com síndrome de Turner, não tratadas com hormônios, apresentam altura média 45 na idade adulta de 136 a 147 cm . 41 permanecem juvenis; ovários são atrofiados e desprovidos de folículos, portanto, essas mulheres não liberam ovócitos secundários para serem fecundados, exceto em poucos casos relatados de Turner férteis; devido à deficiência de estrógenos (hormônio feminino) elas não desenvolvem as características sexuais secundárias ao atingir a puberdade, sendo, portanto, identificadas facilmente pela falta desses caracteres; assim, por exemplo, elas não menstruam (possuem amenorreia primária); grandes lábios despigmentados; pelos pubianos reduzidos ou ausentes; desenvolvimento pequeno e amplamente espaçados das mamas ou mamas ausentes; pelve androide, isto é, masculinizada; pele frouxa devido à escassez de tecidos subcutâneos, o que lhe dá aparência senil; unhas estreitas; tórax largo em forma de barril; anomalias renais, cardiovasculares e ósseas. No recém-nascido, podem ocorrer edemas nas mãos e no dorso dos pés, que leva a suspeitar dessa anomalia. É importante destacar também que, geralmente, os sujeitos com a ST não exibem desvios de personalidade, ou seja, sua identificação psicossocial não é afetada, mas geralmente apresentam retardo metal que pode variar de leve a severo(LEITE, 2012)46. Observe a seguir a morfologia típica dos indivíduos com ST (Fig. 2): Fig. 2- Pelos pubianos reduzidos ou ausentes, pescoço alado, baixa estatura e linha posterior de implantação dos cabelos baixa (na nuca). Fonte:Leite47 (2012) LEITE, L.Síndrome de Turner. Disponível em <http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm>.Acesso em 02 Dez. 2012. 47 LEITE, L.Síndrome de Turner. Disponível em <http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm>. Acesso em 02 Dez. 2012. 46 42 POSSÍVEIS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA ESCOLA COMUM Drago, Silveira e Bravo48 (2012, p. 177) nos afirmam que: Com o advento das propostas de uma escola para todos, do reconhecimento da escola comum como espaço de acesso aos bens culturais, bem como a diversidade como uma condição própria da humanidade, a escola passa a receber pessoas e a discutir suas bases em uma proposta de educação que chamamos inclusiva. Esta fala desses autores nos remete ao pensamento de Vigostki49 (2010) quando, ao dissertar sobre as crianças fisicamente defeituosas, destaca que os procedimentos educativos devem ser individualizados em função de cada caso particular, e através do método da compensação, por um lado, e da adaptação, por outro. Dessa maneira, o problema pode ser resolvido de forma indolor. Nesse sentido, quando pensamos em escola e sujeitos com síndromes raras como a ST, ou sobre algum ser com ou sem alguma deficiência, não poderíamos deixar de pensar em quais práticas pedagógicas serão utilizadas para que essessujeitos de direitos possam perceber e desenvolver suas potencialidades que muitas vezes já as conhecem, porém não permitiu que os seus pares e até mesmo seus familiares percebessem e enxergassem. O professor deve perceber que seu trabalho junto aos seus alunos deve apontar questões e desafios num contexto de ampliar o desenvolvimento, dando verdadeiro significado aos momentos em que estes alunos estão na escola, fazendo-os perceber que são pertencentes àquele ambiente. Podemos dizer, através das nossas observações nas escolas, que mesmo com os desafios postos cotidianamente, alguns profissionais demonstram perceber a importância de se elaborar um planejamento a partir de trocas de experiências e vivências compartilhadas por outros profissionais, revisitando, assim suas práticas pedagógicas, contribuindo para que o processo inclusivo de sujeitos que apresentam características muito peculiares passe a ser uma realidade no contexto da escola 48 DRAGO, R.; SILVEIRA, L.V.; BRAVO, D.O.M. Síndromes: planejando ações pedagógicas inclusivas. In: DRAGO, R. (Org.). Síndromes: conhecer, planejar e incluir. Rio de Janeiro: WAK, 2012. 49 VIGOTSKI, L. S. Psicologia pedagógica. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010. 43 comum, como destacado em outros estudos já desenvolvidos com foco nessa temática (BRAVO, 2012; DRAGO, SILVEIRA, BRAVO, 2012)50. Neste estudo, quando falamos de práticas pedagógicas, não estamos pensando em escrever fórmulas perfeitas ou várias receitas de como se trabalhar com crianças com deficiência, mas sim mostrar que se o professor mudar sua postura junto a estes sujeitos, suas ações darão certo, e que muitas vezes esses profissionais já utilizam excelentes práticas, mas não se deixam ouvir a voz daqueles sujeitos, com isso não percebem que aquele ser modificou e muitas vezes desabrochou para a vida e para seus pares. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante a realização das nossas pesquisas com indivíduos com síndromes raras, é importante dizer que até hoje, parece que a preocupação de inúmeros pesquisadores se dá apenas na correção dos fenótipos diferenciados, que fogem ao padrão de ser humano considerado. Isso porque a maioria dos estudos vislumbrados até hoje tratam os indivíduos com a síndrome de Turner apenas como seres biológicos e medicalizados, passíveis de serem curados e não incluídos nos diversos espaços educativos formais, não formais e até não educativos. Dessa forma, somos levados a concordar com Drago51(2012, p. 28), quando ele afirma que “não é objetivo deste texto somente apresentar um sujeito medicalizado, mas, sim, trazer à tona, ao debate, um sujeito que precisa ser pensado em sua constituição subjetiva, ou seja, um sujeito de direitos”. Sujeito esse que tem voz e vez e que geralmente não é ouvida/percebida. Nesse sentido, é importante considerar que se fazem necessárias mais pesquisas na área da educação que retratem um sujeito com deficiência como um ser singular nas suas características morfológicas e subjetivas e que para se constituir um ser humano que é singularizado por suas relações sociais e históricas não é necessário mudar a sua aparência física. Portanto, o presente artigo não se 50 DRAGO,R.; SILVEIRA, L.V.; BRAVO, D.O.M. Síndromes: planejando ações pedagógicas inclusivas. In: DRAGO, R. (Org.). Síndromes: conhecer, planejar e incluir. Rio de Janeiro: WAK, 2012. 51 DRAGO, R. Síndrome de Rett. In: DRAGO, R. Síndromes: Conhecer, planejar e incluir. Rio de Janeiro: WAK, 2012. p. 27-38. 44 preocupa em elencar tratamentos curativos, ainda que esses sejam em muitos casos indispensáveis para uma melhor vivência dos sujeitos com síndromeno contexto atual, mas se preocupa com as possibilidades de incluir e não apenas integrar um sujeito que possui diversas características que divergem do estereótipo humano padrão no espaço da escola comum. Cabe dizer que, com mais pesquisa na área da educação sobre síndromes raras e por muitos ainda desconhecidas, abrem-se novas possibilidades para o trabalho do docente que lida diretamente com esses sujeitos. Nesse contexto, as práticas pedagógicas elencadas nesse artigo não se constituem como regras gerais a serem aplicadas a todas as pessoas com a síndrome de Turner, mas representam caminhos, indícios a serem tomados como referência para a elaboração de novas possibilidades. Por fim, é importante mensurar que através de nossas pesquisas realizadas e mais especificamente desse trabalho desenvolvido com sujeitos com a síndrome de Turner, corroboramos com Araújo52 (2012, p. 145) quando ele destaca que, no que tange à importância do diagnóstico precoce de indivíduos com síndromes raras, “verifica-se que quanto mais precoce e rico for o trabalho realizado, melhor será a inclusão do indivíduo, a fim de que ele consiga viver normalmente, sem sequelas advindas da sua divergência fenotípica física e comportamental”. Este mesmo autor relata que éde suma importânciareconhecermos o fenótipo e o genótipo do indivíduo com uma síndrome para que possamos batalhar para a superação de suas restrições/ limitações e valorizar assuas potencialidades. Nesse sentido, vamos de encontro à fala de Vigotski53 (2003), quando ele enfatiza que se faz necessário conhecermos e compreendermos os mecanismos de aprendizagem de cada aluno, pois somente dessa maneira deixaremos de nos fixar no déficit para favorecer as possibilidades. Em suma, como resultados parciais desse trabalho, destacam-se: a importância do diagnóstico precoce dos sujeitos dessa pesquisa e a necessidade demais pesquisas na área da educação com indivíduos com síndromes raras, a fim de que os diversos profissionais que lidam diretamente com esses sujeitos possam 52 ARAÚJO, M. P. M.. Síndrome de Klinefelter. In: Rogério Drago. (Org.). Síndromes: Conhecer, planejar e incluir. 1. ed. Rio de Janeiro: WAK, 2012. 53 VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 45 conhecer melhor as peculiaridades fenotípicas e genotípicas dos mesmos, o que facilita o planejamento de ações. REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. P. M.. Síndrome de Klinefelter. In: Rogério Drago. (Org.). Síndromes: Conhecer, planejar e incluir. 1. ed. Rio de Janeiro: WAK, 2012. DRAGO, R. Síndrome de Rett. In: DRAGO, R. Síndromes: Conhecer, planejar e incluir. Rio de Janeiro: WAK, 2012. p. 27-38. DRAGO,R.; SILVEIRA, L.V.; BRAVO, D.O.M. Síndromes: planejando ações pedagógicas inclusivas. In: DRAGO, R. (Org.). Síndromes: conhecer, planejar e incluir. Rio de Janeiro: WAK, 2012. LEITE, L.Síndrome de Turner. Disponível em <http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm>. Acesso em 02 Dez. 2012. ROCHICCIOLI, P.; DAVID, M.; MALPUECH, G.; COLLE, M.; LIMAL, J.M.; BATTIN, J. et al. Study of final height in Turner’s syndrome: ethnic and genetic influences. ActaPaediatr. 1994;83(3):305-8. SAENGER, P. Turner’s Syndrome. N Engl J Med. 1996; 335(23):1749-54. VASCONCELOS, B. Estudo da frequência de aberrações cromossômicas nos pacientes atendidos na Unidade de Genética do Instituto da Criança entre 1992 a 2002. 2007, 72p. Dissertação (Mestrado em Ciências). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP. VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2003. VIGOTSKI, L. S.Psicologia pedagógica. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.