A SÍNDROME DE TURNER: ORIGENS, ASPECTOS

Propaganda
35
A SÍNDROME DE TURNER: ORIGENS, ASPECTOS FENOTÍPICOS27 E AS
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS NA ESCOLA COMUM
Michell Pedruzzi Mendes Araújo28
Dirlan de Oliveira Machado Bravo29
30
Rogério Drago
31
RESUMO: O presente artigo busca compreender as origens da Síndrome de Turner , que estão
32
relacionadas com o número de cromossomos sexuais . Descreve também o fenótipo dos indivíduos
com essa síndrome e aborda o que por muito tempo foi negligenciado por alguns pesquisadores: o
ouvir a voz desse indivíduo com uma síndrome rara, pautando as principais práticas pedagógicas que
podem ser desenvolvidas com esse indivíduo na escola comum, haja vista que a grande maioria das
pesquisas com essa síndrome se restringe à área da medicina e das ciências biológicas.
Metodologicamente, a pesquisa se configura como qualitativa e bibliográfica. Será fundamentada em
Vigotski, entendendo o ser humano como um ser social e cultural, fruto das relações com o meio.
Como resultados parciais desse trabalho, destacam-se: a importância do diagnóstico precoce dos
sujeitos dessa pesquisa e a necessidade de mais pesquisas na área da educação com indivíduos
com síndromes raras.
PALAVRAS-CHAVE:SÍNDROME
DE
TURNER.
CROMOSSOMOS
SEXUAIS.
ASPECTOS FENOTÍPICOS. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS.
27
Referem-se à expressão do genótipo (informação genética), ou seja, são o resultado da interação
do meio com os genes que o indivíduo possui. São os caracteres morfológicos, fisiológicos e
comportamentais.
28
Mestrando da linha de pesquisa Diversidade e Práticas Educacionais Inclusivas (Mestrado em
Educação) na Universidade Federal do Espírito Santo. Pós-graduado em Educação Inclusiva e em
Gestão Escolar Integrada pelo Instituto Superior de Educação e Cultura Ulysses Boyd
(ISECUB).Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo.. É bolsista
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES).
29
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito
Santo, na linha de Pesquisa Diversidade e Práticas Inclusivas. Bolsista do programa da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
30
Doutor em Ciências Humanas-Educação pela PUC-Rio, mestre em Educação pela Universidade
Federal do Espírito Santo e graduado em pedagogia pela Universidade Federal do Espírito Santo. É
professor adjunto do Centro de Educação e do Programa de Pós Graduação em Educação (PPGE)
da Universidade Federal do Espírito Santo.
31
Em alguns parágrafos, utilizaremos a sigla “ST” para nos referirmos à Síndrome de Turner.
32
São aqueles cromossomos que determinam os caracteres sexuais masculinos e femininos. Estão
relacionados com as características sexuais secundárias (como presença de mais pelos em homens
e desenvolvimento de mamas em mulheres) e com a produção de hormônios e de gametas. Dessa
forma, qualquer alteração nesses cromossomos sexuais pode refletir em ausência de caracteres
típicos de homens ou mulheres ou até levar à esterilidade.
36
ABSTRACT
Thisarticle seeks to understandthe origins ofTurner syndrome,whichis related tothe number
ofsex
chromosomes.
It
also
describesthe
phenotypeof
individualswith
this
syndromeandaddresses whathas long beenoverlookedby some researchers: the
voiceoftheindividual witha rare syndrome, the mainguidingpedagogical practices thatcan be
developedwiththis individualin thecommon school, thereviewthat the vastmajority of
researchinthis syndromeis restrictedto the areaof medicineand biological sciences.
Methodologically, the research is configured asqualitativeandliterature. It will bebased
onVygotsky, understanding the human beingas a socialand culturalrelationswith
thefruithalf.Aspartial resultsof thisworkare:the importanceof early diagnosisof the subjectsof
this researchand the need formore researchin the areaof educationwithindividuals withrare
syndromes.
KEYWORDS:TURNER
SYNDROME.
ASPECTS.EDUCATIONALPRACTICES.
SEXCHROMOSOMES.
PHENOTYPIC
INTRODUÇÃO
O presente estudo faz parte de uma das pesquisas realizadas pelo Grupo de
Estudos e Pesquisa em Educação e Inclusão, GEPEI, da Universidade Federal do
Espírito Santo, coordenado pelo professor Dr. Rogério Drago. No presente artigo,
dissertaremos sobre aspectos genotípicos e fenotípicos da síndrome de Turner e
traremos ao debate alguns resultados parciais obtidos de uma pesquisa
bibliográfica, principalmente em artigos da área médica. Elencaremos também,
possibilidades de práticas pedagógicas inclusivas e não apenas integralistas, que
valorizam as potencialidades dos sujeitos.
É importante dizer, a priori, que a síndrome de Turner envolve alterações
numéricas no conjunto de cromossomos de um indivíduo (cariótipo). Dessa forma, é
importante contextualizar com algumas noções básicas de genética, presentes na
dissertação de mestrado de Vasconcelos (2007). Nessa dissertação, é enfatizado
que o genoma humano apresenta aproximadamente cerca de 35.000genes, que são
unidades de informação genética distribuídos em locais exatos, numa molécula de
DNA (ácido desoxirribonucleico), e que, em conjuntos, estão compactados em um
aspecto de bastão denominados cromossomos. Os genes estão distribuídos em 23
pares de cromossomos, dos quais 22 pares são designados autossomos e dois são
sexuais, X e Y; uma mulher normal é representada pela notação 46,XX, e o homem,
37
pela notação 46,XY (VASCONCELOS, 2007)33. Sabendo que a síndrome de Turner
afeta o número de cromossomos de um indivíduo, pode-se dizer que alterações
morfológicas ou comportamentais ocorrerão nos indivíduos afetados.
Cabe ressaltar que a ST é a anormalidade dos cromossomos sexuais mais
comum nas mulheres, ocorrendo em 1 a cada 1.500-2.500 crianças do sexo
feminino nascidas-vivas. A constituição cromossômica pode ser ausência de um
cromossomo X (cariótipo 45,X), mosaicismo cromossômico (cariótipo 45,X/46,XX),
além de outras anomalias estruturais do cromossomo X34.
Nesse contexto, é importante salientar que a produção bibliográfica no nosso
país acerca da síndrome de Turner ainda é muito escassa. Isso é comprovado
quando se faz um levantamento de produção presente no banco de teses e
dissertações da Capes. De acordo com o levantamento por nós realizado,
diagnosticamos a existência de dez dissertações cuja temática aborda a síndrome
em estudo, mas cabe salientar que em nenhuma dessas produções os aspectos
concernentes ao ensino/ aprendizagem dos sujeitos com essa síndrome são foco do
estudo. Dessa forma, o presente artigo se justifica pela real necessidade de se
conhecer melhor o genótipo e fenótipo dos sujeitos com a Síndrome de Turner,
como também se discutir sobre as práticas pedagógicas possíveis35 de serem
desenvolvidas no contexto da escola comum.
Desta maneira, o ouvir a voz dos sujeitos com uma síndrome rara como a
síndrome de Turner é um dos objetivos do presente estudo, haja vista que estes
indivíduos com as síndromes estão inseridos na escola comum e precisam ser vistos
não somente como seres medicalizados, como a bibliografia biomédica os tratam
frequentemente, mas como sujeitos potenciais, detentores de direitos, deveres,
anseios e de uma voz que precisa ser percebida, ouvida e principalmente entendida.
33
VASCONCELOS, B. Estudo da frequência de aberrações cromossômicas nos pacientes
atendidos na Unidade de Genética do Instituto da Criança entre 1992 a 2002. 2007, 72p.
Dissertação (Mestrado em Ciências). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP.
34
Saenger P. Turner’s Syndrome. N Engl J Med. 1996;335(23):1749-54.
35
Não pensamos aqui em práticas pedagógicas engessadoras, que deverão ser aplicadas a todos os
indivíduos com ST. Pensamos cada sujeito com síndrome como um ser histórico e social e que
apresenta as suas potencialidades e subjetividades. Portanto, podemos pensar em diversas
ferramentas possíveis para que um sujeito internalize de fato uma determinada informação e que sua
subjetividade seja valorizada em todo o processo inclusivo. Nós autores, pensamos que uma prática
generalista é excludente. Não existe inclusão se houver generalização. A inclusão plena não ocorre
efetivamente em muitos espaços porque os sujeitos do processo são vistos, inúmeras vezes, como
meros seres biológicos e como apenas sujeitos medicalizados.
38
Pensando no que foi exposto até aqui, esse trabalho objetiva compreender as
origens da Síndrome de Turner36, que estão relacionadas com alterações genéticas
no número de cromossomos sexuais37. Descreve também o fenótipo dos indivíduos
com essa síndrome e aborda o que por muito tempo foi negligenciado por alguns
pesquisadores: o ouvir a voz desse indivíduo com uma síndrome rara, pautando as
principais práticas pedagógicas que podem ser desenvolvidas com esse indivíduo na
escola comum, uma vez que a maior parte das pesquisas com essa síndrome se
restringe à área biomédica.
Metodologicamente, para o alcance dos objetivos anteriormente expostos, a
pesquisa se configura como qualitativa e bibliográfica. Será fundamentada em
Vigotski, entendendo o ser humano como um ser social e cultural, fruto das relações
com o meio, não o generalizando apenas como um ser biológico.
ORIGENS DA SÍNDROME DE TURNER
A síndrome de Turner foi descrita em 1938 por Henry Turner. Suas descrições
tiveram por base a observação de pacientes do gênero feminino que apresentavam
estatura baixa (aproximadamente 1 metro e 40 centímetros) e ausência de
características sexuais secundárias femininas. Após 20 anos dessa descrição, Ford
et al. (1959) relataram que estas pacientes apresentavam uma monossomia do
cromossomo X (45, X), ou seja, apresentavam apenas 1 cromossomo sexual.
A prevalência do cariótipo 45,X é baixa comparada a de outras anomalias de
cromossomos sexuais afetando aproximadamente 1/2500 a 1/5000 nativivas38.
36
Em alguns parágrafos, utilizaremos a sigla “ST” para nos referirmos à Síndrome de Turner.
37
São aqueles cromossomos que determinam os caracteres sexuais masculinos e femininos. Estão
relacionados com as características sexuais secundárias (como presença de mais pelos em homens
e desenvolvimento de mamas em mulheres) e com a produção de hormônios e de gametas. Dessa
forma, qualquer alteração nesses cromossomos sexuais pode refletir em ausência de caracteres
típicos de homens ou mulheres ou até levar à esterilidade.
38
Crianças nascidas vivas.
39
De acordo com Leite39 (2012), “A ST ocorre em apenas 1 mulher entre 3.000
nascimentos, devido ao grande número de abortos que chega ao índice de 9097,5%”.
As origens dessa síndrome são exclusivamente genéticas. Nesse caso
específico, há uma erro na formação de gametas masculinos ou femininos, ou seja,
um erro na meiose40. Trata-se de uma alteração numérica cromossômica. Cabe
ressaltar que os cromossomos desempenham um papel relevante na transmissão da
informação genética de uma geração para a outra, assim
qualquer alteração no número de cromossomos ou na sequência de
seus genes produz uma inviabilidade celular, durante a meiose, na
formação dos gametas e/ou após a formação do embrião e, na
41
maioria das vezes, resulta em anomalias ao portador , que recebem
o nome de aberrações cromossômicas. (VASCONCELOS, 2007, p.
42
2) .
As mulheres com ST possuem 22 pares de cromossomos normais, mas ao
invés de possuírem um par sexual, XX, apresentam apenas um cromossomo sexual
X, o que acarreta em diversas alterações fenotípicas. Nesse contexto, é importante
dizer que por apresentarem apenas um cromossomo sexual, o X, esses sujeitos com
síndrome de Turner são somente do sexo feminino. Observe o cariótipo (Figura 01),
conjunto cromossômico, dos indivíduos com essa síndrome.
39
LEITE, L.Síndrome de Turner. Disponível em <http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm>.
Acesso em 02 Dez. 2012.
40
Processo de divisão celular que resulta em células-filhas com metade do número cromossômico da
célula-mãe. É importantíssimo para a formação de gametas em espécies de reprodução sexuada.
41
Esse termo é utilizado nesse momento, pois se trata de um estudo da área médica, cuja utilização
desse termo é algo muito comum, assim como o termo “aberrações cromossômicas”. Não estamos,
nesse contexto, nos referindo à expressão já em desuso “portadores de necessidades especiais”,
mas referimo-nos a indivíduos com células portadoras de aberrações cromossômicas, que resultam
num fenótipo característico de síndrome. Cabe dizer que na literatura biomédica/ científica não há
restrição para o uso desse termo e nós o utilizamos apenas para fins de caracterização da síndrome.
42
VASCONCELOS, B. Estudo da frequência de aberrações cromossômicas nos pacientes
atendidos na Unidade de Genética do Instituto da Criança entre 1992 a 2002. 2007, 72p.
Dissertação (Mestrado em Ciências). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP.
40
Figura 01 - Cariótipo do indivíduo com ST
43
Fonte:Leite (2012)
Por fim, é importante destacar que a síndrome de Turner, como qualquer
outra síndrome, engloba um conjunto de alterações fenotípicas (físicas) e, nesse
caso específico, tem sua origem genotípica relacionada com alterações numéricas 44
dos cromossomos sexuais.
ASPECTOS FENOTÍPICOS
Neste tópico, abordar-se-ão os aspectos tangíveis à caracterização
morfológica e comportamental dos indivíduos com ST. Cabe dizer primariamente,
como principal característica fenotípica, que os sujeitos com essa síndrome são,
necessariamente, do sexo feminino pela ausência do cromossomo sexual Y.
Quando adultas apresentam geralmente baixa estatura, não mais que 150
cm45; linha posterior de implantação dos cabelos baixa (na nuca); pescoço alado
(praticamente não se dá para visualizá-lo); retardamento mental; genitálias
43
LEITE, L. Síndrome de Turner.Disponível em <http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm>.
Acesso em 02 Dez. 2012.
44
Referem-se a alterações no número de cromossomos de um indivíduo. No caso da espécie
humana, são alterações que resultam na contagem de um número inferior ou superior a 46
cromossomos no cariótipo.
45
Pacientes com síndrome de Turner, não tratadas com hormônios, apresentam altura média
45
na idade adulta de 136 a 147 cm .
41
permanecem juvenis; ovários são atrofiados e desprovidos de folículos, portanto,
essas mulheres não liberam ovócitos secundários para serem fecundados, exceto
em poucos casos relatados de Turner férteis; devido à deficiência de estrógenos
(hormônio feminino) elas não desenvolvem as características sexuais secundárias
ao atingir a puberdade, sendo, portanto, identificadas facilmente pela falta desses
caracteres; assim, por exemplo, elas não menstruam (possuem amenorreia
primária); grandes lábios despigmentados; pelos pubianos reduzidos ou ausentes;
desenvolvimento pequeno e amplamente espaçados das mamas ou mamas
ausentes; pelve androide, isto é, masculinizada; pele frouxa devido à escassez de
tecidos subcutâneos, o que lhe dá aparência senil; unhas estreitas; tórax largo em
forma de barril; anomalias renais, cardiovasculares e ósseas. No recém-nascido,
podem ocorrer edemas nas mãos e no dorso dos pés, que leva a suspeitar dessa
anomalia.
É importante destacar também que, geralmente, os sujeitos com a ST não
exibem desvios de personalidade, ou seja, sua identificação psicossocial não é
afetada, mas geralmente apresentam retardo metal que pode variar de leve a
severo(LEITE, 2012)46.
Observe a seguir a morfologia típica dos indivíduos com ST (Fig. 2):
Fig. 2- Pelos pubianos reduzidos ou ausentes, pescoço alado, baixa estatura e linha posterior
de implantação dos cabelos baixa (na nuca). Fonte:Leite47 (2012)
LEITE,
L.Síndrome
de
Turner.
Disponível
em
<http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm>.Acesso em 02 Dez. 2012.
47
LEITE, L.Síndrome de Turner. Disponível em <http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm>.
Acesso em 02 Dez. 2012.
46
42
POSSÍVEIS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA ESCOLA COMUM
Drago, Silveira e Bravo48 (2012, p. 177) nos afirmam que:
Com o advento das propostas de uma escola para todos, do
reconhecimento da escola comum como espaço de acesso aos bens
culturais, bem como a diversidade como uma condição própria da
humanidade, a escola passa a receber pessoas e a discutir suas
bases em uma proposta de educação que chamamos inclusiva.
Esta fala desses autores nos remete ao pensamento de Vigostki49 (2010)
quando, ao dissertar sobre as crianças fisicamente defeituosas, destaca que os
procedimentos educativos devem ser individualizados em função de cada caso
particular, e através do método da compensação, por um lado, e da adaptação, por
outro. Dessa maneira, o problema pode ser resolvido de forma indolor.
Nesse sentido, quando pensamos em escola e sujeitos com síndromes raras
como a ST, ou sobre algum ser com ou sem alguma deficiência, não poderíamos
deixar de pensar em quais práticas pedagógicas serão utilizadas para que
essessujeitos de direitos possam perceber e desenvolver suas potencialidades que
muitas vezes já as conhecem, porém não permitiu que os seus pares e até mesmo
seus familiares percebessem e enxergassem.
O professor deve perceber que seu trabalho junto aos seus alunos deve
apontar questões e desafios num contexto de ampliar o desenvolvimento, dando
verdadeiro significado aos momentos em que estes alunos estão na escola,
fazendo-os perceber que são pertencentes àquele ambiente.
Podemos dizer, através das nossas observações nas escolas, que mesmo
com os desafios postos cotidianamente, alguns profissionais demonstram perceber a
importância de se elaborar um planejamento a partir de trocas de experiências e
vivências compartilhadas por outros profissionais, revisitando, assim suas práticas
pedagógicas, contribuindo para que o processo inclusivo de sujeitos que apresentam
características muito peculiares passe a ser uma realidade no contexto da escola
48
DRAGO, R.; SILVEIRA, L.V.; BRAVO, D.O.M. Síndromes: planejando ações pedagógicas
inclusivas. In: DRAGO, R. (Org.). Síndromes: conhecer, planejar e incluir. Rio de Janeiro: WAK,
2012.
49
VIGOTSKI, L. S. Psicologia pedagógica. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
43
comum, como destacado em outros estudos já desenvolvidos com foco nessa
temática (BRAVO, 2012; DRAGO, SILVEIRA, BRAVO, 2012)50.
Neste estudo, quando falamos de práticas pedagógicas, não estamos
pensando em escrever fórmulas perfeitas ou várias receitas de como se trabalhar
com crianças com deficiência, mas sim mostrar que se o professor mudar sua
postura junto a estes sujeitos, suas ações darão certo, e que muitas vezes esses
profissionais já utilizam excelentes práticas, mas não se deixam ouvir a voz
daqueles sujeitos, com isso não percebem que aquele ser modificou e muitas vezes
desabrochou para a vida e para seus pares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a realização das nossas pesquisas com indivíduos com síndromes
raras, é importante dizer que até hoje, parece que a preocupação de inúmeros
pesquisadores se dá apenas na correção dos fenótipos diferenciados, que fogem ao
padrão de ser humano considerado. Isso porque a maioria dos estudos
vislumbrados até hoje tratam os indivíduos com a síndrome de Turner apenas como
seres biológicos e medicalizados, passíveis de serem curados e não incluídos nos
diversos espaços educativos formais, não formais e até não educativos. Dessa
forma, somos levados a concordar com Drago51(2012, p. 28), quando ele afirma que
“não é objetivo deste texto somente apresentar um sujeito medicalizado, mas, sim,
trazer à tona, ao debate, um sujeito que precisa ser pensado em sua constituição
subjetiva, ou seja, um sujeito de direitos”. Sujeito esse que tem voz e vez e que
geralmente não é ouvida/percebida.
Nesse sentido, é importante considerar que se fazem necessárias mais
pesquisas na área da educação que retratem um sujeito com deficiência como um
ser singular nas suas características morfológicas e subjetivas e que para se
constituir um ser humano que é singularizado por suas relações sociais e históricas
não é necessário mudar a sua aparência física. Portanto, o presente artigo não se
50
DRAGO,R.; SILVEIRA, L.V.; BRAVO, D.O.M. Síndromes: planejando ações pedagógicas inclusivas.
In: DRAGO, R. (Org.). Síndromes: conhecer, planejar e incluir. Rio de Janeiro: WAK, 2012.
51
DRAGO, R. Síndrome de Rett. In: DRAGO, R. Síndromes: Conhecer, planejar e incluir. Rio de
Janeiro: WAK, 2012. p. 27-38.
44
preocupa em elencar tratamentos curativos, ainda que esses sejam em muitos
casos indispensáveis para uma melhor vivência dos sujeitos com síndromeno
contexto atual, mas se preocupa com as possibilidades de incluir e não apenas
integrar um sujeito que possui diversas características que divergem do estereótipo
humano padrão no espaço da escola comum.
Cabe dizer que, com mais pesquisa na área da educação sobre síndromes
raras e por muitos ainda desconhecidas, abrem-se novas possibilidades para o
trabalho do docente que lida diretamente com esses sujeitos. Nesse contexto, as
práticas pedagógicas elencadas nesse artigo não se constituem como regras gerais
a serem aplicadas a todas as pessoas com a síndrome de Turner, mas representam
caminhos, indícios a serem tomados como referência para a elaboração de novas
possibilidades.
Por fim, é importante mensurar que através de nossas pesquisas realizadas e
mais especificamente desse trabalho desenvolvido com sujeitos com a síndrome de
Turner, corroboramos com Araújo52 (2012, p. 145) quando ele destaca que, no que
tange à importância do diagnóstico precoce de indivíduos com síndromes raras,
“verifica-se que quanto mais precoce e rico for o trabalho realizado, melhor será a
inclusão do indivíduo, a fim de que ele consiga viver normalmente, sem sequelas
advindas da sua divergência fenotípica física e comportamental”. Este mesmo autor
relata que éde suma importânciareconhecermos o fenótipo e o genótipo do indivíduo
com uma síndrome para que possamos batalhar para a superação de suas
restrições/ limitações e valorizar assuas potencialidades. Nesse sentido, vamos de
encontro à fala de Vigotski53 (2003), quando ele enfatiza que se faz necessário
conhecermos e compreendermos os mecanismos de aprendizagem de cada aluno,
pois somente dessa maneira deixaremos de nos fixar no déficit para favorecer as
possibilidades.
Em suma, como resultados parciais desse trabalho, destacam-se: a
importância do diagnóstico precoce dos sujeitos dessa pesquisa e a necessidade
demais pesquisas na área da educação com indivíduos com síndromes raras, a fim
de que os diversos profissionais que lidam diretamente com esses sujeitos possam
52
ARAÚJO, M. P. M.. Síndrome de Klinefelter. In: Rogério Drago. (Org.). Síndromes: Conhecer,
planejar e incluir. 1. ed. Rio de Janeiro: WAK, 2012.
53
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
45
conhecer melhor as peculiaridades fenotípicas e genotípicas dos mesmos, o que
facilita o planejamento de ações.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, M. P. M.. Síndrome de Klinefelter. In: Rogério Drago. (Org.). Síndromes: Conhecer,
planejar e incluir. 1. ed. Rio de Janeiro: WAK, 2012.
DRAGO, R. Síndrome de Rett. In: DRAGO, R. Síndromes: Conhecer, planejar e incluir. Rio de
Janeiro: WAK, 2012. p. 27-38.
DRAGO,R.; SILVEIRA, L.V.; BRAVO, D.O.M. Síndromes: planejando ações pedagógicas inclusivas.
In: DRAGO, R. (Org.). Síndromes: conhecer, planejar e incluir. Rio de Janeiro: WAK, 2012.
LEITE, L.Síndrome de Turner. Disponível em <http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm>.
Acesso em 02 Dez. 2012.
ROCHICCIOLI, P.; DAVID, M.; MALPUECH, G.; COLLE, M.; LIMAL, J.M.; BATTIN, J. et al. Study of
final height in Turner’s syndrome: ethnic and genetic influences. ActaPaediatr. 1994;83(3):305-8.
SAENGER, P. Turner’s Syndrome. N Engl J Med. 1996; 335(23):1749-54.
VASCONCELOS, B. Estudo da frequência de aberrações cromossômicas nos pacientes
atendidos na Unidade de Genética do Instituto da Criança entre 1992 a 2002. 2007, 72p.
Dissertação (Mestrado em Ciências). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
VIGOTSKI, L. S.Psicologia pedagógica. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
Download