AVALIAÇÃO DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL INICIAL SAE/POLICLÍNICA OSWALDO CRUZ - PORTO VELHO/RO Alberto Saraiva Tibúrcio - Médico Infectologista INTRODUÇÃO A eficácia da terapia antirretroviral (TARV) melhorou muito nos últimos anos, com 80% dos indivíduos alcançando supressão viral máxima após um ano de tratamento com o primeiro esquema de medicamentos. No entanto, uma parcela dos pacientes experimenta falência terapêutica em decorrência de má-adesão, baixa potência do esquema, resistência viral primária ou interações farmacocinéticas.1 A falha virológica é o sinal mais precoce da falência terapêutica. Ela pode ser definida pela impossibilidade do alcance ou da manutenção de uma carga viral (CV) indetectável.1 CASUÍSTICA Cento e um pacientes do SAE da Policlínica Oswaldo Cruz em uso do primeiro esquema de TARV. O tempo de uso da TARV inicial em ausência de falha virológica variou de cinco a 109 meses. METODOLOGIA Estudo observacional transversal realizado nos meses de setembro a dezembro de 2009, através de pesquisa em todos os 594 prontuários do SAE. Os tempos de uso do primeiro esquema de TARV dos 101 pacientes foram estratificados nas seguintes categorias: até 12 meses, > 12-24 meses, > 24-36 meses, > 36-48 meses, > 48-60 meses e > 60 meses. Nos casos de falha virológica, a contagem do tempo de uso da TARV era interrompida (para fins deste estudo) e o paciente era chamado para uma reavaliação clínica e/ou genotipagem (se ainda não tivesse sido pedida). As falhas virológicas foram definidas como CV > 400 cópias/ml após 24 semanas de tratamento, > 50 cópias/ml após 48 semanas, ou por rebote após indetecção da CV. OBJETIVO Descrever o perfil de respostas terapêuticas dos pacientes do SAE aos primeiros esquemas de TARV. RESULTADOS O esquema de TARV mais utilizado foi AZT/3TC/EFV, seguido de esquemas contendo AZT/3TC (associados a LPV/r ou a NVP). Os outros esquemas são mostrados no gráfico 1. O gráfico 2 mostra as freqüências de pacientes de acordo com o tempo de uso de TARV inicial, e a quantidade de pacientes que se apresentavam/não se apresentavam com falha virológica. Vinte (20,2%) dos 101 pacientes ultrapassaram 60 meses sem apresentar carga viral detectável, sendo que um deles está em uso de AZT/3TC/NVP há 91 meses. Por outro lado, dos 26 pacientes que se apresentavam com falha virológica, 21 (80,8%) não tinham ultrapassado dois anos de tratamento; os outros cinco (19,2%) já estavam em uso da TARV há mais tempo. Sessenta e sete (66,3%) dos 101 pacientes atingiram carga viral indetectável após o primeiro ano de tratamento. Gráfico 1 - Esquemas terapêuticos utilizados inicialmente 101 pacientes AZT/3TC/IDV 1 DDI/3TC/EFV 1 D4T/3TC/LPV/r 1 TDF/3TC/LPV/r 2 TDF/3TC/EFV 3 AZT/3TC/NVP 5 AZT/3TC/LPV/r 5 83 AZT/3TC/EFV 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Gráfico 2 - Pacientes em primeiro esquema de TARV 101 pacientes 25 20 20 15 14 15 12 9 11 10 8 7 5 2 2 1 0 até 12 m >12-24m com falha virológica >24-36m >36-48 m >48-60 m >60 m sem falha virológica 90 DISCUSSÃO Ensaios clínicos publicados na literatura mostram a superioridade de esquemas contendo ITRNN (inibidor da transcriptase reversa não-nucleosídeo) ou IP/r (inibidor de protease com ritonavir) sobre esquemas terapêuticos que não os utilizam no tocante à supressão máxima do HIV.2 Apenas um paciente de nossa casuística vem utilizando IP (indinavir) não-reforçado há 88 meses, mantendo boas respostas virológica e imunológica. Surgimento de falha virológica em alguns dos pacientes desta casuística foi constatado ao longo de quase todos os intervalos de tempo de uso dos ARV. Embora importante na condução clínica dos casos, não foi objetivo deste estudo descrever os fatores causais destas falhas virológicas. Smith e cols mostraram a importância da aferição da CV quatro semanas após o início da TARV: dos pacientes com CV abaixo de 1.000 cópias/ml neste prazo, 84% apresentarão CV indetectável com 24 semanas, enquanto o mesmo ocorrerá com 24% dos pacientes cujas CV de quatro semanas sejam superiores a 100.000 cópias/ml.3 Vinte e cinco pacientes possuíam CV realizada com um mês de TARV: vinte apresentavam CV abaixo de 1.000 cópias/ml, dos quais dezessete (85,0%) com CV indetectável com 24 semanas de TARV. CONCLUSÃO Os resultados do presente estudo mostram que falha virológica aos ARV é uma possibilidade verificável precocemente. Deve-se realizar a detecção de potenciais fatores predisponentes para ocorrência desta falha antes mesmo do início da TARV, assim como a monitorização freqüente dos parâmetros laboratoriais após sua instituição, sobretudo nos primeiros meses. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Ministério da Saúde. Recomendações para terapia antirretroviral em adultos infectados pelo HIV 2007/2008. Brasília, 2008. 2. Bartlett JA et al. An updated systematic overview of triple combination in therapy in antirretroviral-naïve HIV-infected adults. AIDS 2006; 20(16): 2051-64. 3. Smith CJ et al. Use of viral load measured after 4 weeks of highly active antiretroviral therapy to predict virologic outcome at 24 weeks for HIV-1-positive individuals. J Acquir Immune Defic Syndr 2004; 37: 1155-9.