Instituto Superior Técnico Departamento de Matemática Secção de Álgebra e Análise Exercı́cios Resolvidos Integral de Linha de um Campo Vectorial Exercı́cio 1 Considere o campo vectorial 2x 2y 2 F (x, y, z) = − 2 , , z . (x − y 2 )2 (x2 − y 2 )2 Z Calcule o integral de linha F onde C é a curva descrita pelo caminho C g(t) = (et , sen t, t) , 0≤t≤ π . 2 Resolução: O domı́nio do campo F é o conjunto R3 \ {(x, y, z) ∈ R3 : x = y} ∪ {(x, y, z) ∈ R3 : x = −y} que é a união de 4 conjuntos em estrela, limitados pelos planos x = y e x = −y, tal como se mostra na Figura 1, em que não se apresenta a dependência em z. Sendo et > | sen t| , t > 0, então a curva C está contida no conjunto em estrela S = {(x, y, z) ∈ R3 : x > |y|}. y x=y PSfrag replacements x x = −y Figura 1: Esboço do domı́nio do campo F Sendo F um campo fechado, já que ∂ 2x = − (x28xy ∂y − (x2 −y 2 )2 −y 2 )3 2x ∂ = 0 ∂z − (x2 −y 2 )2 2y ∂ = 0 ∂z (x2 −y 2 )2 = = = ∂ ∂x 2y (x2 −y 2 )2 ∂ ∂x ∂ ∂y z2 z2 , e sendo S um conjunto em estrela, concluimos que F é um campo gradiante em S. Portanto, pelo Teorema Fundamental do Cálculo, temos Z π F = V (g( )) − V (g(0)), 2 C em que V designa um potencial escalar para F em S. 1 Para determinar um potencial V (x, y, z) deveremos resolver a equação ∇V = F, ou seja, ∂V 2x = − (x2 −y 2 )2 ∂x 2y ∂V = (x2 −y 2 )2 ∂y ∂V = z 2. ∂z Da primeira equação obtemos, V (x, y, z) = Da segunda, 1 + k1 (y, z). x2 − y 2 ∂k1 (y, z) = 0 ⇔ k1 (y, z) = k2 (z). ∂y Finalmente, da terceira equação obtemos k20 (z) = z 2 ⇔ k2 (z) = z3 + k3 . 3 Portanto o potencial tem a forma V (x, y, z) = z3 1 + + k3 x2 − y 2 3 onde k3 é uma constante. Então, Z F C π = V (g( )) − V (g(0)) 2 π π 2 = V (e , 0, ) − V (1, 0, 0) 2 π3 −π = e + −1 24 Exercı́cio 2 Considere o campo definido em R2 \ {(0, 0)} por x y ,− 2 F (x, y) = . x2 + 4y 2 x + 4y 2 Calcule o integral de linha de F ao longo da circunferência de raio 1 centrada na origem e percorrida no sentido directo. Resolução: Se tentarmos calcular o integral de linha pela definição verificaremos imediatamente que não é uma tarefa fácil. Como alternativa podemos utilizar o Teorema de Green. Note-se que o campo F é fechado. De facto, temos ∂ ∂ y x2 − 4y 2 x = = 2 − 2 . ∂y x2 + 4y 2 (x + 4y 2 )2 ∂x x + 4y 2 Consideremos uma região S, limitada pela circunferência C, de raio 1, centrada na origem e percorrida no sentido directo e por outra linha L regular, fechada e percorrida no sentido directo, tal como se ilustra na Figura 2. 2 Sendo F um campo fechado, aplicando o Teorema de Green à região S, obtemos I Z I ∂F2 ∂F1 F, F− 0= ( − )dxdy = ∂y C S ∂x L ou seja, I F = C I F. L Portanto, em vez de calcular o integral de F em C podemos calcularH o integral de F em L. Assim, deveremos escolher L de tal forma que o cálculo do integral L F seja simples. y PSfrag replacements L C 2 1 4 x Figura 2: Esboço da região S limitada por C e por L A expressão do campo sugere que consideremos curvas onde x2 + 4y 2 seja constante, isto é, elipses. Consideremos, por exemplo, o caminho h(t) = (4 cos t, 2 sen t), 0 ≤ t ≤ 2π que descreve a elipse x2 + 4y 2 = 16, uma vez no sentido directo, tal como se mostra na Figura 2. Portanto, o integral de linha de F ao longo de L será dado por Z 2π I Z 2π 1 2 sen t 4 cos t ,− .(−4 sen t, 2 cos t)dt = − dt = −π. F.dh = 16 16 2 0 L 0 Exercı́cio 3 Considere o campo vectorial f : R3 7→ R3 definido por f (x, y, z) = (yzexyz , xzexyz , xyexyz ). a) Sabendo que f define uma força conservativa, encontre um potencial φ para f. b) Calcule o trabalho de f ao longo da espiral descrita pelo caminho h πi . g(t) = (5 cos t , 5 sen t, t2 ) , t ∈ 0, 4 Resolução: a) O potencial φ satisfaz a condição ∇φ = f, ou seja, verifica as equações ∂φ ∂φ ∂φ = yzexyz , = xzexyz , = xyexyz . ∂x ∂y ∂z 3 Integrando a primeira equação, obtemos φ(x, y, z) = exyz + g(y, z). Substituindo na segunda e terceira equações, concluimos que ∂g ∂g = =0 ∂y ∂z e, portanto, g = k é uma constante. Assim, podemos tomar φ(x, y, z) = exyz + k, em que k é uma constante. Também é possı́vel determinar φ recorrendo ao Teorema Fundamental do Cálculo para integrais de linha, segundo o qual, sendo f conservativa e escolhendo-se um ponto base p 0 , se tem Z φ(p) = f, L onde o integral é calculado ao longo de um caminho diferenciável L qualquer que ligue p 0 a um ponto genérico p = (x, y, z). No nosso caso podemos escolher p0 = 0 e o caminho como sendo o segmento de recta entre p0 e p, definido por h(t) = (tx, ty, tz), com t ∈ [0, 1] . Obtemos então, Z 1 φ(x, y, z) = f (h(t)) · h0 (t)dt = 0 = = Z Z = e 1 (t2 yzet 3 xyz , t2 xzet 3 xyz , xyt2 et 3 0 1 3xyzt2 et 0 xyz 3 xyz xyz ) · (x, y, z)dt = dt = −1 que, a menos de uma constante, é o resultado obtido acima. b) Para calcular o trabalho de f ao longo da espiral vamos utilizar o Teorema Fundamental do Cálculo, Z Z π W = f dg = ∇φ = φ(g( )) − φ(g(0)) = 4 √ √ 2 2 π2 = φ(5 ,5 , ) − φ(5, 0, 0) = 2 2 16 = e 25π2 32 − 1. Note-se que seria muito mais difı́cil efectuar este cálculo directamente, utilizando a definição de trabalho. Exercı́cio 4 Considere o campo vectorial F : R2 \ {(0, 0), (0, 1)} → R2 definido por y−1 x x y − , + . F (x, y) = − 2 x + y2 x2 + (y − 1)2 x2 + y 2 x2 + (y − 1)2 Determine o integral de linha do campo F ao longo do caminho que descreve a fronteira do quadrado com vértices nos pontos (2, 2), (−2, 2), (−2, −2), (2, −2), no sentido directo. 4 Resolução: Designemos por γ o caminho que descreve a fronteira Γ do quadrado e sejam g1 : [0, 2π] → R2 e g2 : [0, 2π] → R2 os caminhos definidos por g1 (t) g2 (t) 1 1 = ( cos t, sen t) 4 4 1 1 = ( cos t, (sen t + 1)) 4 4 ou seja, g1 descreve a circunferência C1 de raio 1/4 e centro na origem no sentido positivo e g2 descreve a circunferência C2 de raio 1/4 e centro no ponto (0, 1) no sentido positivo, tal como se ilustra na Figura 3. y Γ C2 PSfrag replacements x C1 Figura 3: As linhas Γ, C1 , C2 O campo F pode ser decomposto na soma de dois campos F = F1 + F2 , em que x y , , F1 (x, y) = − 2 x + y 2 x2 + y 2 y−1 x F2 (x, y) = − 2 , . x + (y − 1)2 x2 + (y − 1)2 Facilmente se verifica que os campos F1 e F2 são fechados, ou seja, o campo F é fechado. Portanto, aplicando o Teorema de Green à região limitada pelas circunferências C 1 e C2 e pela fronteira Γ do quadrado, obtemos Z Z Z 0= F · dγ − F · dg1 − F · dg2 , Γ C1 C2 ou seja, Z Γ F · dγ = Z C1 (F1 + F2 ) · dg1 + Z C2 (F1 + F2 ) · dg2 . Por outro lado, o cı́rculo limitado pela circunferência C2 não contém a origem, pelo que Z F1 · dg2 = 0. C2 Do mesmo modo, o cı́rculo limitado pela cicunferência C1 não contém o ponto (0, 1) e, portanto, concluimos que Z F2 · dg1 = 0. C1 5 Assim, temos Z Γ F · dγ = Z C1 F1 · dg1 + Z C2 F2 · dg2 . Da definição de integral de linha de um campo vectorial obtemos Z Z C1 C2 F1 · dg1 F2 · dg2 Logo, = = Z Z Z 2π (− sen t, cos t) · (− sen t, cos t)dt = 2π 0 2π 0 Γ (− sen t, cos t) · (− sen t, cos t)dt = 2π. F · dγ = 2π + 2π = 4π. Exercı́cio 5 Considere o campo vectorial 3(x − 1) x+1 3y −y + , + +x . f (x, y) = (x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + y 2 (x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + y 2 Calcule o trabalho de f ao longo da elipse definida pela equação directo. x2 25 2 + y16 = 1 percorrida no sentido Resolução: Para facilitar a análise, o campo f pode ser escrito na forma: f = h + g + l, em que −y x+1 , ), 2 2 (x + 1) + y (x + 1)2 + y 2 3y 3(x − 1) , ), g(x, y, z) = ( 2 2 (x − 1) + y (x − 1)2 + y 2 l(x, y, z) = (0, x). h(x, y, z) = ( O campo h é fechado, é singular no ponto (−1, 0) e não é um gradiante. De facto, seja C a circunferência de raio 1 centrada em (−1, 0). Por cálculo directo, facilmente se verifica que o trabalho de h ao longo de C, percorrida no sentido directo, é igual a 2π, ou seja, o campo h não é conservativo. y E C Γ PSfrag replacements x Figura 4: O campo g é radial com centro no ponto (1, 0), pelo que g é um gradiante em R 2 \ {(1, 0)}. 6 2 2 Seja E a elipse descrita pela equação x25 + y16 = 1 e percorrida no sentido directo. Aplicando o Teorema de Green à região contida entre as curvas C e E, sendo h um campo fechado, concluimos que Z Z h= E h = 2π. C Por outro lado, como g é gradiante em R2 \ {(1, 0)}, temos Z g = 0. E 1 O campo l = (0, x) é de classe C na região A limitada pela elipse E. Pelo Teorema de Green temos Z Z Z ∂l2 ∂l1 l= ( − )dxdy = dxdy = 20π, ∂y E A ∂x A pois o último integral representa a área da elipse. Portanto, Z Z Z Z l = 2π + 0 + 20π = 22π. g+ h+ f= E E E E Exercı́cio 6 Seja F : R2 \ {(−1, 0), (1, 1), (0, 0)} → R2 o campo vectorial F = (P, Q) definido por P (x, y) = y y−1 5x − +p 2 (x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + (y − 1)2 x + y2 Q(x, y) = − 1. Calcule o integral sentido directo. Z x−1 5y x+1 . + +p 2 (x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + (y − 1)2 x + y2 P dx + Qdy onde C é a elipse C x2 9 + y2 16 = 1 percorrida uma vez no 2. Decida, justificadamente, se o campo F é um gradiante no conjunto 1 1 S = R2 \ {(x, y) ∈ R2 : y = x + ; −1 ≤ x ≤ 1} ∪ {(0, 0)} . 2 2 Resolução: 1. Se definirmos F1 (x, y) = x+1 y ,− 2 2 (x + 1) + y (x + 1)2 + y 2 , então, x−1 y−1 , F2 (x, y) = − (x − 1)2 + (y − 1)2 (x − 1)2 + (y − 1)2 ! 5x 5y F3 (x, y) = p ,p , x2 + y 2 x2 + y 2 F = F1 + F2 + F3 e, portanto, I C F · dg = I C F1 · dg + 7 I C F2 · dg + I C F3 · dg. , O campo F3 é radial. De facto, sendo r = (x, y), temos F3 (r) = 5 r , |r| pelo que F3 é um campo gradiante com potencial V (x, y) = 5|r| = 5 Assim, temos I C p x2 + y 2 . F3 · dg = 0. O campo F1 obtem-se do campo G(x, y) = x y , − 2 x + y 2 x2 + y 2 fazendo a substituição x 7→ x − (−1) e multiplicando por −1, enquanto que F2 se obtem de G fazendo a substituição x 7→ x − 1, y 7→ y − 1. Portanto, tal como G, F1 e F2 são campos fechados mas não gradiantes. Para calcular o integral de F1 ao longo de C consideremos a região D = {(x, y) ∈ R2 : (x + 1)2 + y 2 ≥ 1, x2 y2 + ≤ 1} 9 16 que se encontra representada na Figura 5. y y C C PSfrag replacements C2 D C1 PSfrag replacements x 1 1 x C1 C2 D Figura 5: Aplicando o Teorema de Green à região D, concluimos que o integral de F 1 ao longo de C coincide com o integral de F1 ao longo da circunferência C1 de raio 1, centrada em (−1, 0), percorrida no sentido directo e descrita pelo caminho g(t) = (−1 + cos t, sin t), 0 ≤ t ≤ 2π. Portanto, I C F1 · dg = Z = Z 2π F1 (−1 + cos t, sin t) · (− sin t, cos t)dt 0 2π 0 −1 dt = −2π. 8 Da mesma maneira, podemos aplicar o Teorema de Green para concluir que o integral de F2 ao longo de C coincide com o integral de F2 ao longo da circunferência C2 de centro em (1, 1) e de raio 1 percorrida no sentido directo, tal como se mostra na Figura 5. Logo, sendo g(t) = (1 + cos t, 1 + sin t), 0 ≤ t ≤ 2π, o caminho que descreve essa circunferência, teremos I C F2 · dg = Z = Z 2π F2 (1 + cos t, 1 + sin t) · (− sin t, cos t)dt 0 2π 1dt = 2π. 0 Assim, obtemos I C P dx + Qdy = −2π + 2π + 0 = 0. 2. O campo F é um gradiante no conjunto S se e só se Z α F · dg = 0 para qualquer curva fechada α contida em S. Podemos, como na alı́nea anterior, escrever F = F1 + F2 + F3 , e uma vez que F3 é um gradiante, basta decidir que F1 + F2 é um gradiante em S. Note-se que F1 + F2 está definido e é fechado no conjunto S ∪ {(0, 0)} = R2 \ {(x, y) ∈ R2 : y = x 1 + , −1 ≤ x ≤ 1}. 2 2 Seja R o segmento de recta definido por R = {(x, y) ∈ R2 : y = x 1 + , −1 ≤ x ≤ 1} 2 2 e representado na Figura 6. y C R PSfrag replacements −1 1 x Figura 6: Sendo F1 + F2 um campo fechado, o integral de F1 + F2 ao longo de uma curva α será nulo desde que o segmento de recta R não esteja contido no interior do conjunto limitado por α. Note-se que as singularidades de F1 + F2 estão em R. 9 Se o segmento de recta R estiver contido no conjunto limitado pela curva α, então, pelo Teorema de Green, teremos I I (F1 + F2 ) = (F1 + F2 ) = 0. α C Portanto, F1 + F2 é um gradiante em S ∪ {(0, 0)}, o que, por sua vez, implica que F é um gradiante em S. Exercı́cio 7 Considere o campo vectorial F = G + H, sendo y z x , − , − G(x, y, z) = − 2 (x + y 2 + z 2 )3/2 (x2 + y 2 + z 2 )3/2 (x2 + y 2 + z 2 )3/2 x z , 0, 2 . H(x, y, z) = − 2 x + z2 x + z2 Determine o trabalho realizado pelo campo F ao longo da linha Γ = {(x, y, z) ∈ R3 : y = 2 ; |x| = 1 ; |z| ≤ 1} ∪ {(x, y, z) ∈ R3 : y = 2 ; |x| ≤ 1 ; |z| = 1}, percorrida uma vez no sentido positivo quando vista do ponto (0, −10, 0). Resolução: É claro que o domı́nio de F é o conjunto D = R3 \ {(0, y, 0) : y ∈ R}. Facilmente se verifica que os campos G e H são fechados em D. O campo G é radial e, portanto, é gradiante em R3 \ {(0, 0, 0)}, ou seja, G = ∇φ, e o respectivo potencial φ é a função definida por φ(x, y, z) = − p 1 x2 + y2 + z 2 . Assim, o trabalho realizado pelo campo G ao longo de qualquer linha fechada em D é nulo e, portanto, Z Z H · dγ, F · dγ = Γ Γ em que γ designa uma parametrização de Γ. A linha Γ pode ser deformada em D de modo a obter-se a circunferência C de raio um, centrada sobre o eixo Oy, C = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + z 2 = 1 ; y = 0}, percorrida uma vez e parametrizada por g(t) = (cos t, 0, sen t) , 0 ≤ t ≤ 2π, ou seja, Γ e C são homotópicas em D. Note-se que Γ e C devem ser percorridas no sentido directo quando vistas do ponto (0, −10, 0). Então, Z Γ F · dγ = Z Γ H · dγ = Z C H · dg = Z 2π 0 (− sen t, 0, cos t) · (− sen t, 0, cos t) dt = 2π. 10