Triângulo das incompatibilidades

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Triângulo das incompatibilidades
Dan M. Kraft
Advogado, Mestre em Direito Comercial (UFMG) e Internacional (Londres)
Economia e popularidade de governantes sempre andam juntos. Na bonança,
todos saúdam o soberano. Na penúria, todos lhe jogam tomates e ovos podres. Se uma
só pessoa ou governo não são responsáveis por todos os ventos favoráveis, que
beneficiam o cidadão, da mesma forma não o são em épocas de vacas magras. Se
espera, entretanto, que governantes ajam de forma corretiva, quando sinais perigosos se
avizinhem.
No campo da economia, todos nós somos um pouco estudantes e professores,
pois o Brasil é reconhecidamente um dos campos de prova mais complexos do mundo.
Para quem sobreviveu a hiperinflação, indexação e vários choques cambiais, somos os
contorcionistas mundiais em economia. Nosso povo e empresários são obrigados a
inventar fórmulas novas, criar, para sobreviverem aos sobressaltos internos e externos.
Além disso, somos descrentes, acreditamos que devemos aproveitar a bonança
rapidamente, pois esta sempre antecederá a fortes tempestades tropicais.
Parece que há um temporal no horizonte não muito longínquo, em nosso país. O
tsunami econômico se chama inflação. Ela é, como sempre, fruto da incapacidade
gerencial e do imobilismo que povoa a Esplanada dos Ministérios, na Capital federal. O
que fazer com uma economia aquecida, que faz a festa do povo, dos novos
consumidores, mas que está gerando um dragão?
A resposta está em um princípio econômico famoso, lançado pelos economistas
Marcus Fleming e Robert Mundell, na década de 1960, denominado de “Triângulo das
Incompatibilidades”. Por este princípio, um país jamais consegue possuir três atributos
ao mesmo tempo: regime de câmbio fixo, gestão autônoma da política de juros e
liberdade na circulação de capitais. Um deles deverá ser sacrificado, sob pena de crise
econômica. Eles simplesmente não coexistem ao mesmo tempo.
A dupla Presidente Dilma e Ministro Mantega estão como avestruzes, de cabeça
enterrada no chão. O Brasil queima uma fortuna (aproximadamente 50 bilhões de reais
por ano – sim, isso mesmo!) para manter o cambio fixo, ou seja, no patamar superior a
R$ 1,50 em relação ao dólar. Dizem que o câmbio é flutuante, mas se isso fosse
verdade, já teria despencado para a casa dos R$ 1,30, como vários agentes de mercado e
economistas sustentam. Para exportadores seria um desastre, mas o controle está
custando caríssimo.
Além disso, a Presidente Dilma quer juros baixos e o capital externo, que é
importante para que possamos atrair poupança externa e fazer os investimentos
necessários. Como o PAC empacou, os aeroportos não decolarão e os estádios da Copa
parecem bem atrasados, só com capital alheio seremos felizes.
Sobra a pergunta: e o câmbio? O preço que o Brasil está pagando para manter o
dólar ainda alto é a semente da velha conhecida crise fiscal e financeira. Caso se insista
nessa idéia, teremos que abrir mão da política de juros. Já estando altos, irão à
estratosfera. Os mágicos de Brasília, que tiram sempre belos coelhos da cartola,
constatarão que não dá para segurar até a próxima eleição.
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