deficiencia intelectual a partir da abordagem historico

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DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A PARTIR DA ABORDAGEM HISTÓRICOCULTURAL
Mariana Cesar Verçosa Silva
Mestranda em Educação-UEL
[email protected]
Vitor Hugo de Oliveira
Graduando em Pedagogia-UEL
[email protected]
RESUMO
A pesquisa trata da deficiência intelectual a partir da abordagem históricocultural. É por meio desta temática que buscaremos compreender uma das
grandes questões da educação: a escolarização da pessoa com deficiência
intelectual. O objetivo do presente trabalho é compreender a deficiência
intelectual e sua relação com a perspectiva histórico-cultural. Tal proposta tem
como base metodológica o estudo sistemático das obras de Góes, Vygotsky,
Glat, Carvalho; com intuito de adquirir conhecimentos a respeito das suas
principais idéias e relacioná-las à educação de pessoas com deficiência
intelectual. Além disso, analisaremos as discussões de alguns autores que
tratam sobre a temática, como Bueno, documentos legais e políticos, Rego,
Januzzi, entre outros estudiosos. Enfim, a proposta do presente estudo é
enfatizar a contribuição de Vygotskiy na educação dos sujeitos com deficiência
intelectual, bem como, contribuir com melhoria da educação desta população
alvo.
Palavras-chave: Educação Especial, Deficiência Intelectual, Abordagem
histórico-cultural.
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa pretende discutir os principais estudos
realizados a respeito de deficiência intelectual a partir da abordagem históricocultural, na perspectiva de estado da arte, por meio de duas bases de dados:
Anped e Scielo.
A escolha da base de dados se deu pelo fato de que são
nestas fontes que se concentram os principais periódicos da área educacional.
Além, de ser um dos meios mais utilizados para publicação (grande produção
teórica) e divulgação de pesquisas acadêmicas de qualidade antigas e
recentes.
545
Os artigos foram selecionados com base no título, descritores e
resumos. Devido a pouca produção de artigos relacionados ao tema desejado,
todas as pesquisas que se aproximava da temática, a partir de descritores
como: Vygotsky e deficiência mental, Vygotsky, histórico-cultural, perspectiva
histórico cultural foram analisados.
Para a realização da proposta, cada artigo encontrado foi
examinado, por meio de, um roteiro de pesquisa baseado em NUNES, 1998.
Tal roteiro indica: periódico, ano, caráter do artigo, autor, objetivo, metodologia,
sujeito, público alvo, resultado e referência bibliográfica.
Com a utilização deste material de pesquisa foi possível
conhecer a produção teórica da área, bem como analisá-las e compará-las.
O presente estudo encontrou nas duas bases de dados: anped
e scielo um total de seiscentos e trinta e nove pesquisas (639). Destas
pesquisas seis (6) se aproximavam do tema: deficiência intelectual a partir da
perspectiva histórico-cultural, portanto, foram analisadas. Esta quantia
representa 0,9% do total.
Tais pesquisas concentram-se na área da educação, com
ênfase na educação especial.
4.1. Anped
A primeira fonte de pesquisa utilizada foi a Anped em que foi
analisado o grupo de trabalho –GT 15 de Educação Especial. Neste grupo de
trabalhos havia um total de cento e quarenta e três artigos, sendo que destes
apenas dois se aproximam da temática proposta, isto corresponde a 1,3% do
total de artigos encontrados no GTde educação especial da Anped.
Dentre as duas pesquisas selecionadas, todas são relatos de
pesquisas. Sendo que um analisa o brincar de crianças com síndrome de down
546
a partir da abordagem Vygotskiana, e a outra, os processos de ensino do
indivíduo com deficiência mental.
A pesquisa de Victor (2003) procurou analisar a brincadeira de
faz-de-conta das crianças com Síndrome de Down. Para explicitar a
importância do jogar/brincar para estes sujeitos, a autora utilizou entre o seu
referencial teórico a abordagem Vygotskyana.
Desse modo, abordou a necessidade do desenvolvimento
infantil, especialmente destas crianças, a partir da abordagem histórico-cultural,
evidenciando a importância das relações sociais e culturais estabelecidas.
Por fim, a autora relata as principais atividades (atividades
domésticas, papéis sociais, aventura, transporte e etc.) exercidas pela criança
com Síndrome de Down no momento do faz-de-conta. E, ressalva a
necessidade de mediar a brincadeira destes sujeitos com a realidade históricocultural.
O segundo e último artigo encontrado na base de dados da
Anped, foi o de Silva (2003), que trata dos processos de ensino na educação
dos sujeitos com deficiência mental.
A pesquisa discute o currículo e o ensino ofertado aos
deficientes mentais em espaços especializados (sala de recursos e classes
especiais), a fim de analisar as práticas educativas cotidianas.
A concepção histórico-cultural foi trabalhada com doze
professores, em um período de dois anos, a fim de contribuir com o
planejamento educacional e com a ação escolar/ pedagógica.
As discussões realizadas com os professores visavam discutir
a: visão de homem e sociedade; concepção de linguagem; procedimentos
didáticos. Bem como a considerações que os mesmos tinham a respeito do
sujeitos com deficiência mental.
O objetivo do trabalho desenvolvido não era focar no
desenvolvimento individual do sujeito com deficiência mental, mas sim trazer
para o ambiente escolar questões sócio-culturais. Tal abordagem (histórico-
547
cultural) ilustra a complexidade do trabalho escolar, pois envolve o trabalho de
linguagem e pensamento.
Por fim, a pesquisadora conclui que ainda falta qualidade na
educação do indivíduo com deficiência mental. Desse modo, vê-se a
necessidade de buscar alternativas a melhoria deste ensino, a fim de garantir a
qualidade no ensino especial.
4.2. Scielo
O segundo banco de dados utilizado foi o Scielo, no qual,
foram analisadas duas revistas: Revista Brasileira de Educação; e Revista
Brasileira de Educação de Educação Especial. Além da pesquisa feita em
assunto: artigos, em que, foram utilizados os descritores: Vygotsky e
deficiência mental, Vygotsky, histórico-cultural, perspectiva histórico cultural.
Com relação à Revista Brasileira de Educação foram
verificados artigos desde o período de 2000-2011, totalizando trezentos e trinta
e dois (332) artigos, sendo que, nenhum destes possui relação com o tema.
Já a Revista Brasileira de Educação de Educação Especial
foram verificados artigos desde o período de 2005-2011, totalizando cento e
cinqüenta e nove (159) artigos, sendo destes apenas dois relacionados a
temática proposta, o que corresponde a 1,2% do total.
Outra fonte de pesquisa utilizada foi a busca feita em assunto:
artigos (scielo). Com os descritores: Vygotsky e deficiência mental; históricocultural e perspectiva histórico-cultural não foi possível encontrar nenhum
artigo.
Com o descritor: Vygotsky resultou em cinco artigos, sendo que
destes apenas dois fazem referência à perspectiva histórico-cultural, entretanto
548
sem nenhuma relação com sujeitos com deficiência mental. Desse modo, os
dois artigos que se aproximam da temática foram analisados.
O primeiro artigo encontrado na Revista Brasileira de Educação
Especial fala da educação especial a partir da abordagem de educadores da
educação especial como forma de contribuição à psicologia histórico-cultural.
Rossato et al (2010), relata como vem sendo ofertada a
educação de pessoas com deficiência mental nas APAEs do Estado do
Paraná, por meio, da entrevista feita com 21 educadores em três destas
instituições.
O resultado do estudo indicou expectativas positivas com
relação a educação deste alunado, entretanto, foi possível perceber algumas
atitudes contrárias aos fundamentos teóricos da perspectiva histórico-cultural
(centrada na irreversibilidade orgânica, a capacidade de aprender depende
somente do aluno e etc.).
Para as autoras faz-se necessário, permitir que estes
indivíduos, mesmo com suas especificidades, se tornem sujeitos eficientes,
considerando suas competências.
Já o segundo artigo da revista diz respeito à deficiência mental
e mediação social. Pinto et al (2006), relata a necessidade da imaginação e o
brincar para o desenvolvimento da criança com deficiência mental.
Foi a partir da abordagem histórico-cultural que foi realizado
um estudo com doze crianças de uma instituição especial entre as idades de 46 anos. Estes alunos apresentavam déficits de cognição, linguagem e
motricidade.
Desse modo, o objeto do estudo foi investigar o papel da
mediação (ação dos adultos e parceiros) no desenvolvimento destas crianças.
Os resultados mostram que quando estes sujeitos utilizam seus próprios
recursos no brincar, a criança não se mostra disposta.
Porém, quando estão envidadas em brincadeiras coletivas, por
meio da mediação, as mesmas se encontram em situação imaginárias
549
relativamente complexas, que favorecem o desenvolvimento intelectual das
mesmas.
O primeiro artigo a partir do descritor: Vygotsky traz reflexões
da psicologia histórico-cultural. Zanella (2005) fala da existência de diversas
teorias metodológicas na psicologia, entretanto, o seu estudo terá como base a
abordagem Vygotskyana.
Na perspectiva desse autor, a especificidade humana decorre
da dupla relação que se estabelece com a realidade: via
atividade, o ser humano se apropria da cultura e
concomitantemente nela se objetiva, constituindo-se assim
como sujeito. Desse modo, a dimensão singular é
inexoravelmente constituída e construidora do social, o que
pode ser tematizado como alteridade, como a dimensão de um
outro ou das relações com os outros (ZANELLA, 2005, p. 1).
Já Sancovschi et al (2008) em seu trabalho focaliza o estudo
da cognição, a partir da abordagem enatista (F. Varela) e histórico-cultural (L.S.
Vigotsky),
a fim de
compará-las, vislumbrando
a aproximação
e o
distanciamento destas duas teorias.
Tal pesquisa se destacou a medida que proporcionou
contribuições ao entendimento do processo de aprendizagem, bem como
envolveu questionamentos a respeito de problemas e determinismos do meio
social.
Diante dos resultados encontrados na presente pesquisa,
percebe-se a existência de poucos trabalhos que tratam da deficiência
intelectual e suas relações com a abordagem histórico-cultural.
Diante dos resultados encontrados na presente pesquisa,
percebe-se a existência de poucos trabalhos que tratam da deficiência
intelectual e suas relações com a abordagem histórico-cultural.
Nota-se assim, a necessidade de mais estudos e publicações a
respeito da temática proposta, tendo em vista, que é preciso conhecer as
550
características e necessidades dos alunos com deficiência intelectual é
imprescindível para a realização de um trabalho educacional de qualidade.
Bem como, percebe-se a importância de que os profissionais
da educação saibam que a abordagem sócio-cultural de Vygotsky traz
inúmeras contribuições aos estudos realizados com sujeitos com deficiência
intelectual.
A partir destes resultados, o presente estudo tratará de discutir
esta temática, com o intuito de contribuir com as áreas da educação e
educação especial.
A
deficiência
intelectual
é
compreendida
como
uma
característica própria da criança de atraso no desenvolivmento cognitivo. Em
geral, os professores e a sociedade focalizam no indivíduo os problemas de
sua aprendizagem (CARNEIRO, 2006).
Tal concepção desconsidera a responsabilidade do meio
social. Diante disso, cabe ressaltar que no campo da educação a pespectiva
teórica histórico-cultural pode trazer inúmeras contribuições a respeito da
dificiência intelectual.
A abordagem histórico-cultural segue a linha de pensamento
de Vygotsky, que evidencia a relação entre desenvolvimento individual e o
social. Isto significa, que “ai se coloca uma possibilidade de se compreender a
deficiência mental como uma condição socialmente construída” (CARNEIRO,
2006, p. 141).
Carneiro (2006) ressalta que no Brasil, foi a partir dos anos 80,
que retoma-se os estudados de Vygotsky e seus colaboradores, possibilitando
assim, a valorização das interações sociais nos processos de desenvolvimento
humano (pespectiva histórico-cultural).
Para estes estudiosos (Vygotsky e colaboradores) não era
possivel separar o sujeito biológico, do social. Tendo em vista que o sujeito
singular, somente se singulariza na e pela cultura, ou seja, suas possibilidades
de desenvolvimento dependem de outros membros de sua cultura.
O desenvolvimento infantil inicia-se em um mundo já
551
humanizado, isto significa que este é social e historicamente constituido. Para
Rego (1995), as características individuais (valores, modos de agir, pensar,
sentir e os conhecimentos) são definidos pela interação do sujeito com o meio
físico e social.
Isto é, a criança se desenvolve pela educação, seja ela formal
ou informal. Para Carneiro apud Vygotsky (1999) “a educação não apenas influi
em alguns processos de desenvolvimento, mas reestrutura as funções do
comportamento em toda sua amplitude” (p.99).
Diante disso, cabe ressaltar que a educação, a interação
sujeito-meio é impresindivel no desenvolvimento de todos os indivíduos,
inclusive os que possuem deficiência. Marques (2009) a partir de Vygotsky
enfatiza que:
O aluno é considerado, acima de tudo, um ser ativo, capaz de
pleno desenvolvimento, desde que lhe sejam dadas condições
para tal. Assim, a educação deve ser encarada como um
quefazer humano, que ocorre num tempo/espaço específico e
principalmente entre homens em suas relações uns com os
outros (p.150).
Para Vygotsky (1997) a criança com deficiência possui um
funcionamento diferente, desse modo, “não é simplesmente uma criança
menos desenvolvida que seus coetâneos normais, mas desenvolvida de um
outro modo” VYGOTSKY (1997, p.12).
Segundo Vygotsky (1997) a educação de pessoas com
deficiência não deve ser minimalista, nem reducionista; ressaltando que:
As teorias pedagógicas minimalistas e pessimistas (...) tentam
na prática reduzir a educação da criança com atraso profundo
a um adestramento, é dizer, que tratam de passar do processo
de formação do homem ao adestramento de um semi animal.
A obediência é a exigência fundamental A obediência é a
condição fundamental que se coloca nesta criança. O
cumprimento automático de hábitos úteis se considera o ideal
de toda sua educação. VYGOTSKY (1997, p. 244)
Vygotsky (1997) evidencia que o processo de ensinoaprendizagem se dá desde a infância. Quando o ser humano nasce possui
552
apenas os recursos biológicos, e é a partir do meio social (cultura, valores,
crenças...) é que se concretiza o processo de humanização.
Maffezoli e Góes (2004) evidenciam que muitos sujeitos com
deficiência não agem de forma autônoma em relações pessoais e atividades,
pois continuamente agem a partir da tutela, do cuidado, da superproteção, da
subestimação e da infantilização. Isto significa que, em nossa sociedade há
uma tendência em cristalizar a imagem infantilizada do indivíduo com
deficiência.
Desse modo, Januzzi (1992) enfatiza que:
Também se tem observado que existe uma “infantilização” do
“deficiente”, tanto que é comum encontrar-se instituições
escolares que trabalham com adolescentes a prática de
cantos, e de atividades completamente em desacordo com os
muitas vezes robustos e desenvolvidos corpos. Isto também
ocorre com as famílias, e desta forma, embora de camadas
sociais que necessariamente ingressam mais cedo no
mercado de trabalho, em relação aos “deficientes”, há o
prolongamento da infância (p 56-57).
Vygotsky (1997) critica instituições especiais que procuram
segregar e minimizar o círculo social. Para ele, a educação deve ser mesma
tanto para pessoas com deficiência, quanto para as pessoas ditas “normais”.
Dessa forma, a educação consiste em incluir a criança com deficiência em um
determinado meio social e possibilitar a compensação de sua necessidade e
especificidades.
A
criança
com
deficiência
precisa
de
metodologias
diferenciada, para que ocorra o processo de ensino-aprendizagem, a fim de
obter um pensamento abstrato. (VYGOTSKY, 1997)
Para Vygotsky (1997) a deficiência não deve ser concebida
como um aspecto simplesmente orgânico, como um defeito. É preciso que as
crianças com deficiência perpassem por restrições contundentes no campo
social para que se desenvolvam. Ou seja, “as particularidades psicológicas da
criança com deficiência tem a base não só no núcleo biológico, e sim no
social.” (VYGOTSKY, 1997, p.81).
553
Cabe deste modo elucidar que, o papel da educação é
fundamental no processo de constituição do sujeito com deficiência, pois é este
que possibilita condições para que esse se humanize e aprenda.
De acordo com Carneiro (2006) é no espaço escolar que a
aprendizagem pode acontecer, por meio de outros instrumentos, metodologias
e estratégias. E, para a escolarização de pessoas com deficiência, é preciso
que estas sejam intensificadas, a fim de garantir a formação de funções
psicológicas superiores, fundamentais para o processo de desenvolvimento.
A plenitude do desenvolvimento humano realiza-se em um
determinado grupo social, pois somente assim, o individuo vivencia
experiência: conceitos, valores, idéias, concepção de mundo e etc. (REGO,
1995).
Para Vigotsky apud Rego (1995), as relações sociais ocupam
lugar de destaque na aprendizagem e desenvolvimento, sendo que o
desenvolvimento cognitivo do sujeito é para ele identificado a partir de dois
níveis: real e potencial.
O nível de desenvolvimento real refere-se às funções e
capacidades que o sujeito já aprendeu e domina. Já o nível de
desenvolvimento potencial refere-se a aquilo que o indivíduo é capaz de
resolver, a partir da mediação de um outro individuo mais experiente (REGO,
1995).
As
pessoas
com
desenvolvimento
cognitivo
limitado
(deficientes intelectuais) apesar das suas limitações podem evoluir a partir de
tais níveis. Assim, Carneiro (2006) diz que:
Não se trata de comparar o desenvolvimento desses sujeitos,
que possuem limites marcados biologicamente, com o de
sujeitos que trazem as possibilidades orgânicas integras, sem
comprometimentos, dentro do padrão considerado normal.
Quero é ressaltar que é possível mudar a relação com estes
sujeitos. Partindo do principio de que todo ser humano pode
aprender, podemos afirmar que todos, ainda que com
condições físicas, mentais, sensoriais, neurológicas ou
emocionais significativamente diferentes, podem desenvolver
sua inteligência (p. 145).
554
Cabe dessa forma elucidar que tais sujeitos necessitam de
uma outra forma de aprender, é preciso um maior estimulo, acesso aos signos,
desafios que possibilitem a elaboração de funções psicológicas superiores
(CARNEIRO, 2006).
Vygotsky apud Carneiro (2006) fala de dois tipos de deficiência:
primária e secundária. A primária diz respeito a lesões orgânicas, cerebrais,
malformação orgânica, alterações cromossômicas, ou seja, se refere à
características físicas que interferem no desenvolvimento humano. Já a
deficiência secundária diz respeito ao desenvolvimento social destes indivíduos
e não a partir de suas limitações. Entende-se, desse modo que, a primária
pode ou não converter-se em secundária.
A autora diz que a deficiência intelectual é sempre secundária,
pois:
Não se trata de negar a existência da deficiência mental como
condição
apresentada
por
sujeitos
com
algum
comprometimento orgânico ou não. Trata-se de compreender
que esta condição não está dada inicialmente em nenhum
sujeito; mas que vai se constituindo ma medida que não se
possibilita condições de desenvolvimento de acordo com suas
peculiaridades. Além disso, é preciso considerar o quanto se
oferece a estes sujeitos ambientes e práticas simplificadas,
adaptadas à condição inicial apresentada pelo sujeito
(CARNEIRO, 2006, p. 146-147).
Para Vygotsky (1991) o ensino da criança com deficiência
mental deve visar a superação das dificuldades inatas, isto significa que, é
preciso a todo momento impulsioná-las a desenvolver o pesamento abstrato e
aprimorar
nestes
sujeitos
aquilo
que
está
faltando
no
seu
próprio
desenvolvimento.
É preciso oportunizar um avanço elevado e intensificado aos
indivíduos com deficiência intelectual, a partir da criatividade, a fim de que
estes estimulos os levem a compensação.
Desse modo, Anache (2010) relata que:
Na abordagem histórico-cultural, as funções da aprendizagem
não são funções específicas limitadas à aquisição de
habilidades. Elas contêm uma organização intelectual que
permite a transferência de um princípio geral descoberto
durante a solução de uma situação para outras tarefas ou
555
situações, o que implica a articulação entre os aspectos
interpsíquico e intrapsíquico (p.53).
Isto significa que o desenvolvimento incompleto das funções
psicológicas superiores não estão diretamente relacionadas a deficiência
intelectual, isto pois, decorrem de uma complicação que emerge da relação
social. Ou seja, os indivíduos aprendem e interagem em um determinado grupo
social, estabelecendo relação entre o seu “eu” e o social (ANACHE, 2010).
A falta de educação a estes sujeitos pode trazer grandes
prejuizos ao seu desenvolvimento. A educação da criança com deficiência
intelectual deve extrapolar a ideia de “sujeitos incapazes”, mas sim considerar
a força motriz deste sujeito, ou seja, “essa proposta procura anular o significado do
defeito intelectual, destacando a força das dimenssões afetivas ao explicar a natureza
da debilidade mental (ANACHE, 2010, p. 49).
Vygotsky reconhece a imporatância da unidade entre afeto e
intelecto, pois estes permitem o avanço do sujeito com deficiência mental à
aprendizagem e ao pensamento abstrato.
Anache (2010) evidencia que para Vygotsky a aprendizagem é
essencilamente social, condicionada pela relação sujeito-ambiente. Isto é:
A aprendizagem é um processo partilhado, relacional, que
ocorre nas condições concretas da vida das pessoas,
possibilitando a constituição dos sistemas funcionais cerebrais.
O desenvolvimento psicológico resulta da síntese entre os
aspectos biológicos e psicossociais, admitindo a plasticidade
cerebral, transformando os sujeitos envolvidos por meio das
suas diferentes formas de relações sociais. Os seres humanos,
por intermédio das mediações estabelecidas no curso de sua
vida, desenvolvem alternativas de ação que podem resultar no
desenvolvimento de sua personalidade (p.54).
Enfim, somente a educação social da criança com deficiência
intelectual conduz a mesma a um processo de formação humana (VYGOTSKY,
1997).
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