CONVÊNIOS CNPq/UFU & FAPEMIG/UFU Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA COMISSÃO INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2008 – UFU 30 anos O ENSINO DE GEOGRAFIA PARA ESTUDANTES COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE – TDAH FERREIRA, Carolina1 Universidade Federal de Uberlândia, Av João Naves de Ávila 2121- Campus Santa Mônica, [email protected] SAMPAIO, Adriany de Ávila Melo2 Universidade Federal de Uberlândia, Av João Naves de Ávila 2121- Campus Santa Mônica [email protected] Resumo: O presente artigo possui o objetivo em divulgar os resultados obtidos com a realização da pesquisa de iniciação científica realizada com o apoio do PIBIC - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica - do CNPq/UFU. Este estudo consta da discussão do processo de inclusão escolar das pessoas que possuem necessidades educativas especiais, além de analisar mais especificamente o caso dos alunos com TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. No decorrer do artigo, será abordada a questão da conceituação sobre os indivíduos com TDAH, a análise dos seus traços característicos de comportamento e conduta; as práticas pedagógicas utilizadas para o seu ensino, além de ser apresentado o resultado relativo à realização de um levantamento sobre o atendimento de crianças com TDAH no Ensino Fundamental das Escolas Públicas do município de Uberlândia. Há também o relato da vivência em uma Instituição Municipal de Ensino Fundamental no município de Uberlândia, a qual oferece um atendimento alternativo para estudantes com TDAH na perspectiva da educação inclusiva. Enfim, neste estudo, são analisadas as propostas e alternativas encontradas para a melhoria da formação dos graduandos em Geografia por meio de sugestões de práticas pedagógicas utilizadas para o ensino dos conteúdos da disciplina de Geografia, adequadas ao processo de aprendizagem dos alunos com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. PALAVRAS-CHAVE: Ensino – Inclusão – TDAH – Geografia 1 2 Acadêmica do curso de Geografia – bolsista do PIBIC UFU – 2007/2008 Orientadora.Profª.Drª.IG -UFU. 1 I. INTRODUÇÃO O presente artigo possui como principal objetivo apresentar os resultados e conclusões finais obtidos na realização do projeto de pesquisa de iniciação científica do PIBIC -Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica - do CNPq/UFU, com vigor no período de agosto de 2007 a julho de 2008. O projeto de pesquisa se refere ao plano de trabalho da Aluna intitulado de: O ensino de Geografia para alunos com necessidades educacionais especiais: O caso dos alunos hiperativos. As atividades do projeto são desenvolvidas no LEGEO - Laboratório de Ensino de Geografia, o qual está situado no IG - Instituto de Geografia da UFU - Universidade Federal de Uberlândia. Porém, a pesquisa de iniciação científica está pautada na análise da temática da educação inclusiva dos portadores de necessidades educacionais especiais, com ênfase no estudo dos alunos que possuem o TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção. No decorrer do artigo são discutidas propostas e alternativas encontradas para a melhoria da formação dos graduandos em Geografia, com o intuito de promover a preparação dos mesmos para lidarem com alunos com TDAH nas instituições de ensino regular, para, de acordo com a perspectiva da educação inclusiva, inserir esses alunos no âmbito escolar por meio do respeito às suas diferenças, do desenvolvimento de metodologias e técnicas de ensino adequadas ao seu atendimento. Os objetivos específicos da pesquisa contemplam a pesquisa e análise bibliográfica referente ao tema: Ensino de Geografia para estudantes com TDAH. Sendo importante, portanto, a identificação das possibilidades relacionadas ao ensino de Geografia para os discentes em questão; o levantamento sobre o atendimento às crianças com TDAH nas escolas públicas de Uberlândia de ensino fundamental; sugestão de metodologias e técnicas de ensino que possam complementar o ensino de Geografia para estudantes com TDAH e a capacitação dos graduandos do curso de Geografia, além da conscientização dos professores já formados, por meio de realização de oficinas destinadas ao ensino de Geografia inclusiva. II. O TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE - TDAH Entre as necessidades educativas especiais está o TDAH, sendo que a partir do século XIX ocorre uma grande intensificação de estudos científicos relacionados ao diagnóstico e caracterização dos indivíduos que possuem o TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. Andrade (2006) comenta que entre 1960 e 1990 surgem diversas etimologias, tais como: Disfunção Cerebral Mínima, Síndrome de Strauss, Reação Hipercinética Infantil, Hiperatividade, Síndrome Hipercinética, Síndrome do Déficit de Atenção, Distúrbio de Déficit de Atenção com Hiperatividade e Transtorno Hipercinético. Todas essas etimologias eram utilizadas para se definir pessoas que tinham sintomas acentuados de falta de atenção, inquietude e impulsividade. De acordo com Andrade (2006) a partir da década de 1990 a Associação Americana de Psiquiatria adotou como etimologia padrão o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, sendo essa a etimologia científica mais utilizada atualmente, sendo que popularmente, o termo mais utilizado ainda é o de hiperatividade. Lisboa apud Barbosa (2000) relata que a primeira descrição clínica sobre o TDAH foi feita por Still em 1902, caracterizando crianças com esse Transtorno com os seguintes sintomas:inquietude, incapacidade de manter a atenção, fracasso escolar, entre outros, sendo que para Still esse quadro clínico está relacionado com fatores genéticos e ambientais, o que acabou por qualificar o TDAH como sendo um problema médico atribuído a lesão cerebral. 2 Benczik (2000) define o TDAH como um transtorno neurobiológico, de causas genéticas que aparece na infância e freqüentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade, que podem ser expressos na forma de deficiências em sustentar a atenção, inibir os impulsos e regular a atividade motora.O TDAH está associado à impulsividade e distingue a criança por estar em constante movimentação corporal durante a execução de uma atividade e por agir impulsivamente. O não tratamento pode causar prejuízos à vida social, familiar, acadêmica e profissional do indivíduo. Apesar de não ser um problema de aprendizado, mas a dificuldade em manter a atenção, a desorganização e a inquietude atrapalham bastante o rendimento nos estudos. As crianças com TDAH costumam relutar e não aceitam os métodos padronizados de ensino ou modelos educacionais rígidos, pois, anseiam por criatividade, flexibilidade, afetividade e, sobretudo, desejam ser tratadas como sujeitos responsáveis por seus processos de aprendizagem. De acordo com Freire and Pondé (2005) se estima que 5,5 a 8,5% das crianças em idade escolar sofram do Transtorno de Déficit de Atenção com hiperatividade, que é mais comum na infância. E, mais de 30% das crianças que possuem inquietude associada à desatenção e à impulsividade, sendo classificadas como TDAH, repetem um ano na escola, e até 56% delas precisam de acompanhamento pedagógico adicional. Silva (2003) relata que o comportamento de um indivíduo que possui TDAH é baseado em um trio de sintomas formado por alterações da atenção, impulsividade além da inquietude física e mental. Conforme a autora, o sintoma de alteração da atenção é representado pela forte tendência à dispersão com grande dificuldade de se manter a concentração em algo ou alguma coisa por menor tempo que seja. Já a impulsividade é caracterizada por ações impulsivas realizadas por estes indivíduos, em que pequenas coisas podem despertar grandes emoções e a força dessas emoções gera os atos de impulsividade. A autora cita exemplos de situações em que a criança com TDAH poderá se envolver como: brincadeiras perigosas, dizer o que lhes vem à cabeça, através da agressividade, descontrole alimentar, tagarelice incontrolável, dentre outros. A inquietude física existe quando a criança se mostra bastante agitada, se move sem parar em qualquer ambiente que esteja; já a inquietude mental ou psíquica se apresenta de uma forma mais sutil e pode ser entendida como um “chiado” cerebral que causa um desgaste bastante acentuado na mente dos hiperativos, sendo que a inquietude mental causa uma inaptidão social com problemas para se fazer e conservar amigos. Segundo Silva (2003) alguns dos principais traços de comportamento em crianças que sofrem de TDAH são: mexer com freqüência as mãos e os pés, remexer no assento e levantar da carteira; distrair-se facilmente com estímulos externos; dificuldade de esperar sua vez em brincadeiras ou em situações de grupo; com freqüência disparar respostas para perguntas que ainda não foram completadas; dificuldade em seguir instruções e ordens; dificuldade em manter a atenção em tarefas ou mesmo atividades lúdicas; freqüentemente mudar de uma atividade inacabada para outra; dificuldade em brincar em silêncio ou tranqüilamente; às vezes falar excessivamente; perder com freqüência itens necessários para tarefas ou atividades escolares; dentre outros. A partir do entendimento de alguns dos traços de comportamento de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, é possível inferir que a vida social e escolar dessas crianças fica bastante comprometida, na medida em que estes indivíduos possuem dificuldades em se relacionar com as pessoas, devido ao fato de comportamentos inadequados perante a sociedade expressos sob a forma de fortes alterações de atenção, impulsividade e inquietude física ou mental. Dessa forma as pessoas que convivem com esses indivíduos acabam por não aceitar ou reprimir tais tipos de comportamento. De acordo com Barkley (2002) o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade é caracterizado por um tipo de transtorno que atua no desenvolvimento do autocontrole pessoal, o que acarreta diretamente em problema com a atenção, com o controle do impulso e com o nível de atividade, dessa forma as crianças com TDAH possuem dificuldade em controlar seu próprio comportamento. 3 O diagnóstico das crianças com TDAH é bastante complexo e requer cuidados para que estas crianças não sejam diagnosticadas erroneamente, pois podem ser crianças muito agitadas e desatentas, que é um tipo de conduta freqüentemente encontrado em crianças consideradas com um padrão de comportamento normal. Neste aspecto, a diferença entre uma criança TDAH e outra que seja apenas agitada, seria exatamente o grau de intensidade dos três principais sintomas comportamentais, a desatenção, a impulsividade e a hiperatividade física e mental bastante intensificados nas crianças TDAH. Para Goldestein and Goldestein (1994) o diagnóstico de uma criança com TDAH envolve a avaliação do médico neurologista por meio de exames clínicos mentais, juntamente com o acompanhamento do histórico do desenvolvimento, do desempenho na escola, do relacionamento com os colegas, e da personalidade, sendo que essas informações relativas à vida da criança são fornecidas pelos pais e professores. Pode-se perceber então, a importância e contribuição dos educadores perante o diagnóstico dessas crianças, sendo que além de contribuir com o diagnóstico, os professores possuem ainda a tarefa vital de ajudar no desenvolvimento acadêmico dessas crianças, com atividades e práticas pedagógicas que prendam sua atenção e desenvolvam também o poder de concentração além de controlar mais seus sintomas de inquietude e impulsividade, para que então, esses alunos possam ter condições de assimilarem todos os conteúdos ministrados em sala de aula. III. O ATENDIMENTO ÀS CRIANÇAS HIPERATIVAS NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE UBERLÂNDIA - MG Durante o ano de 2008, realizou-se um levantamento sobre o atendimento às crianças com TDAH nas escolas públicas do município de Uberlândia - MG, especificamente no Ensino Fundamental, por meio de informações fornecidas pelo CEMEPE - Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz. De acordo com as informações obtidas, encontramos dezesseis escolas públicas do município de Uberlândia que possuem algum tipo de atendimento educacional especializado para alunos com necessidades educacionais especiais, porém, este número ainda é bastante pequeno tendo em vista que existem 48 escolas municipais de ensino fundamental. (UBERLÂNDIA,2008). É necessário ampliar o atendimento aos alunos que possuem necessidades educacionais especiais, por meio da expansão do número de escolas que forneçam esse tipo de atendimento, e assim, evitar que os estudantes que necessitem de recursos educacionais específicos fiquem sem um atendimento adequado. III.I. A Realidade Escolar de Um Aluno Hiperativo A instituição escolhida para a realização da vivência foi a Escola Municipal Profª Olga Del Fávero, localizada na Rua Jordânia 157, no bairro Laranjeiras, no município de Uberlândia- MG. A escola possui atendimento aos alunos que estão matriculados na terceira série do ensino fundamental e também um atendimento educacional extra-classe para crianças TDAH com atividades psicopedagógicas específicas para esses alunos. A primeira parte do estágio na escola foi realizada por meio do acompanhamento em sala de aula na terceira série do ensino fundamental, com a observação do aluno Lucas3 que possui o diagnóstico de TDAH. A segunda parte do estágio foi realizada no atendimento educacional extra-classe para crianças com TDAH, no qual foi realizado novamente o acompanhamento do aluno Lucas. 3 Nome fictício 4 Na primeira etapa da vivência, que consiste no acompanhamento em sala de aula da terceira série do ensino fundamental, foram feitas algumas observações, dentre elas: a. A sala possui cerca trinta alunos matriculados; b. As condições de infra-estrutura e conservação da sala de aula são ruins, com janelas quebradas e em mal estado de conservação; c. No aspecto geral, todos os estudantes são bastante agitados e a sala considerada como uma das mais indisciplinadas de toda a escola. Durante essa parte do estágio, os conteúdos estudados na disciplina de Geografia pelos estudantes foram referentes às práticas comerciais existentes; os conceitos de mercadoria, consumidores, comerciários, etc; a prática de importação e exportação de produtos promovida pelos países, o estudo dos órgãos existentes para a proteção dos consumidores, dentre outros. Ao acompanhar as aulas ministradas pela professora Clara4 , na terceira série do ensino fundamental, pode-se afirmar que o trabalho educacional desenvolvido pela professora é bastante produtivo, visto que há uma boa comunicação entre a professora e seus alunos, em consideração aos conhecimentos dos mesmos no processo ensino-aprendizagem, além das aulas dinâmicas em que as teorias são exemplificadas por meio de práticas cotidianas. Ao observar o comportamento do aluno Lucas que possui o diagnóstico de TDAH, a pesquisadora o considerou com um padrão de conduta atípico da maioria dos alunos que possuem esse tipo de transtorno, pois estes costumam se comportar de maneira bastante agitada e inquieta, sendo que este se mostrava com um comportamento bastante tranqüilo em sala de aula. Posteriormente, ao comentar tal situação com a pedagoga Rosana5, a qual possui contato com os alunos com TDAH na escola, a mesma relatou que o aluno costumava usar medicamentos para controlar os sintomas de TDAH nos períodos em que se encontra mais agitado, e provavelmente, o aluno estava em uso de algum remédio naquele período, por isso o motivo de se apresentar bastante calmo durante as aulas. A pesquisadora ainda observou que Lucas era uma criança questionadora e provocava debates em sala de aula com a professora e o restante dos alunos. Essa característica é típica de alunos com TDAH, pois como a maioria possui dificuldades em manter a atenção e um nível de agitação alto, necessitam falar, conversar, andar. Isso seria possível com atividades escolares que estimulem o diálogo, a mobilidade, a expressão emocional, sobretudo, atividades que consigam “prender” a sua atenção em sala de aula. A segunda parte do estágio foi realizada no atendimento educacional extra-classe para crianças com TDAH, em que o mesmo aluno era acompanhado por duas professoras, uma de arteterapia e outra de psicomotricidade do ensino alternativo. III.I.I. Atividades em Arteterapia A professora Cláudia6 é formada em psicologia e realiza um trabalho de arteterapia com este aluno. Segundo a professora, as atividades que executa têm a função de ajudá-lo a se socializar com os seus colegas e professores, para que o mesmo possa ter mais contato com a realidade, deixando de se fixar em pequenos detalhes, ou mesmo em fatos que estão fora de seu cotidiano de vida. Ao analisar o aluno, Cláudia diz que o mesmo apresenta um desenvolvimento físico normal, porém, com um desenvolvimento psicológico anormal. De acordo com a professora, Lucas é uma criança muito inquieta e apresenta indícios de TDAH, sendo que por vezes fica fixado em alguma atividade, ou seja, demora para se libertar, pois assim que consegue se desvencilhar do que lhe chamou a atenção logo prende sua atenção em outra atividade. Por 4 Nome fictício Nome fictício 6 Nome fictício 5 5 alguns momentos, a professora relata que o aluno se preocupa demais com pequenos acontecimentos e repete o mesmo assunto várias vezes. As atividades realizadas na aula de arteterapia são de relaxamento e socialização, o que busca promover um melhor relacionamento do aluno entre seus pares, o que é desenvolvido por meio do teatro, da dramatização e da expressividade corporal. III.I.II. Atividades em Psicomotricidade A professora Ana7 possui pós-graduação em Educação Especial; trabalha com o aluno Lucas na área da psicomotricidade na qual são realizadas atividades que buscam promover a coordenação motora e fluidez ao movimento. Informa que o aluno possuía dificuldades para ler e escrever e, até pouco tempo, não conseguia se alfabetizar, por isso, não passava de ano no ensino regular, sendo então encaminhada ao Ensino Alternativo extra-classe em que finalmente conseguiu se alfabetizar com uma idade acima da média da escola comum. As atividades realizadas na psicomotricidade visam resolver tensões afetivas e estimular a criatividade do aluno; expressar diversas variações de sentimentos; ter a descrição da linguagem usual; compreender a linguagem do outro; fazer a interpretação oral e escrita; organizar o pensamento, entre outros. São trabalhadas com o aluno diversas atividades como: pintura e desenho livre com a apresentação de cartões com sequenciação dos fatos; modelagem com massa; jogos- fonovisuais e quebra cabeça de frases, histórias e fábulas que ajudam no crescimento e na reflexão do aluno sobre suas ações; descrição de cenas; atividades que envolvam o raciocínio lógico (área que Lucas apresenta bastante dificuldade) em que são trabalhados o bingo de tabuada; figuras geométricas com blocos lógicos; atividades em grupo – Com as quatro operações matemáticas; jogos de expressão; jogos que envolvam escolhas e expressão de suas próprias opiniões e de movimentos corporais. De acordo com as análises da professora, Lucas é uma criança bastante inquieta, com atitudes desorganizadas, sendo muito disperso, possuindo grande instabilidade emocional e ainda crises de pânico quando se percebe em situações difíceis. A professora comenta que houve necessidade de mudar o aluno de turno, devido a falta de adaptação do mesmo com a professora regente do ensino regular e com os colegas de classe. Sendo uma criança com muitas dificuldades de inter-relacionamento, demonstra confusão psíquica que acaba por atrapalhar e comprometer a sua expressividade motora. Ana conclui que o aluno necessita de um trabalho de relaxamento e auto-controle, que deve ser realizado por meio de atividades de dramatização e musicoterapia, jogos de concentração e socialização (regras e limites), além de muitos elogios e atenção especial para lhe dar mais auto-confiança em suas capacidades, visto que Lucas é inseguro e se apavora em realizar as atividades promovidas em sala de aula, pois, muitas vezes não consegue realizá-las. IV. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS UTILIZADAS NA DISCIPLINA DE GEOGRAFIA Ao analisar a importância da educação inclusiva para a sociedade Sassaki (1998) comenta que uma escola inclusiva se caracteriza não por um conjunto de práticas, mas pelo seu compromisso frente à diversidade do alunado. Podemos perceber a importância dos professores como principais agentes e parte fundamental no processo de inclusão dos indivíduos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino. 7 Nome fictício 6 A luta para que a inclusão educacional ocorra em todas as instituições de ensino esbarra ainda em muitos obstáculos que impedem a sua concretização, dentre eles, a falta de preparo e formação dos docentes. Constatamos, portanto, a importância de se desenvolver métodos e técnicas de ensino que auxiliem esses estudantes no seu processo de ensino-aprendizagem e possibilitem o atendimento educacional de qualidade do professor para com todos os seus alunos. De acordo com Winner (1998) os professores devem criar alternativas para auxiliar o ensino inclusivo do TDAH, dentre elas, propor seminários de discussão, nos quais cada aluno terá oportunidade para expor suas idéias, e assim, evitar que sempre os mesmos respondam aos questionamentos, tornando as aulas mais dinâmicas além de despertar mais interesse nos alunos, especialmente os alunos com TDAH, os quais são muito agitados e necessitam de atividades estimuladoras que prendam sua atenção. Andrade (2006) analisa algumas estratégias pedagógicas utilizadas por professores com os alunos com TDAH, aplicadas em todas disciplinas estudadas, especialmente na disciplina de Geografia. A primeira proposta analisada pela autora é a que ela chama de Indiferença, que consta do ato dos professores em ignorar as dificuldades de aprendizagem dos alunos e mandá-los se retirar da sala de aula freqüentemente devido ao seu comportamento muito agitado e ao desinteresse em prestar a atenção na aula e nas atividades propostas; isto faz com que esses alunos percam as atividades realizadas na classe e comprometam também a sua aprendizagem. A autora observa que essa estratégia é extremamente prejudicial para o desenvolvimento acadêmico do aluno, sendo que a melhor alternativa é a do professor planejar aulas mais dinâmicas e interessantes para que possa chamar a atenção desses alunos e os manter mais quietos em sala de aula. A segunda estratégia utilizada pelos professores é colocar os alunos com TDAH nas cadeiras da frente para que esses alunos se mantenham mais concentrados nas atividades mediante o controle do professor. A autora acredita que essa estratégia é eficaz, mas pode incomodar a alguns alunos que podem se sentir vigiados a todo o momento pelo professor. A ludicidade é, segundo a autora, a estratégia mais eficaz, pois as atividades lúdicas conseguem prender bastante a atenção de todos os estudantes, inclusive dos alunos com TDAH. Essas atividades ainda estimulam a criatividade das crianças e promovem um maior aprendizado dos conteúdos devido a atenção e o interesse que as crianças têm por esse tipo de atividade, além de poder ser realizada por meio da musicalidade, contação de histórias, jogos e brinquedos educativos, dentre outros. Pode-se comprovar a eficácia da ludicidade no processo de ensino-aprendizagem por meio das palavras de Vygotsky (1994) ao dizer que as atividades lúdicas fazem com que a criança se comporte de maneira mais avançada para a sua idade, pois ao brincar a estrutura cognitiva básica é transformada, faz com que a criança atribua significado aos objetos e personagens da brincadeira, sistematize e elabore os conhecimentos. A quarta estratégia pedagógica bastante interessante e também muito eficaz é a realização de trabalhos em grupo em sala de aula, pois permite que haja uma maior cooperação e convívio entre os alunos. Na disciplina de Geografia, as atividades em que são aplicadas estas estratégias pedagógicas possibilitam o maior interesse do aluno com TDAH e conseqüentemente sua melhor aprendizagem e desenvolvimento, pois estão adequadas ao seu perfil de comportamento, tornando para esse aluno, formas de aprendizagem consideradas atrativas e prazerosas, pois, despertam sua atenção e vontade de aprender. É importante ressaltar que as estratégias pedagógicas destinadas aos alunos com TDAH podem perfeitamente serem aplicadas ao restante da classe, pois a maioria das crianças geralmente têm um comportamento agitado e inquieto, a diferença é que os alunos com TDAH possuem essas características em um grau bem mais elevado, indicando que as atividades pedagógicas para esses alunos será também bastante útil para toda a classe. 7 Os alunos com TDAH necessitam de atividades de ensino que sejam dinâmicas, questionadoras, que façam com que eles utilizem o seu raciocínio e pensamento. Na disciplina de Geografia podem ser utilizadas discussões feitas em sala de aula sobre as temáticas estudadas; atividades práticas que envolvam o desenho e a pintura por meio da confecção de mapas; trabalhos de campo que são atividades dinâmicas e que possibilitam a transposição da teoria para a prática; seminários que são atividades práticas e que permitem ao aluno expor sua forma de “ver” o conteúdo e suas opiniões. V- CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer da pesquisa foi possível constatar que os métodos de ensino tradicional não promovem uma adequada estimulação dos talentos dos estudantes com TDAH. Torna-se, portanto, necessário que o professor de Geografia desenvolva ou adapte uma metodologia pedagógica de ensino ao aluno com TDAH para que possa ocorrer seu desenvolvimento educacional pleno. A experiência de vivência em uma instituição de ensino com o estudante Lucas , o qual possui o diagnóstico de TDAH, foi enriquecedora para a execução do projeto de pesquisa, pois permitiu que a teoria analisada no material bibliográfico selecionado fosse verificada diretamente com a realidade de um estudante com este distúrbio. Durante a execução de todas as etapas da pesquisa pode-se constatar que para se ministrar uma aula de qualidade, seja para uma classe de alunos ditos normais ou para alunos com necessidades educacionais especiais, é necessário que se tenha todo um suporte material e didático-pedagógico. É necessário acesso à consulta de livros sobre o tema e principalmente o empenho do professor em realizar um processo de ensino e aprendizagem, que possa atender às necessidades de todos os seus alunos. Para a disciplina de Geografia, o professor inclusivo deve ministrar aulas que consigam despertar o interesse dos alunos, e não somente aulas expositivas com posterior cópia dos conteúdos no caderno e exercícios do livro didático feitos pelos estudantes. Os conteúdos devem ser ministrados com o objetivo de enfatizar os conhecimentos prévios dos alunos, problematizar os conteúdos novos e relacioná-los com a realidade das crianças, em que são construídos os conceitos junto com os próprios alunos. É necessário que os cursos de graduação em licenciaturas invistam mais em disciplinas especializadas no atendimento desses alunos, que os professores se dediquem mais no sentido de procurar sempre fazer cursos de formação continuada com a proposta de proporcionar um processo de ensino-aprendizagem adequado para todos os seus alunos, para que então possam ter verdadeiras escolas inclusivas que proporcionem a todos os alunos, com necessidade especial ou não, um ensino pleno e de qualidade. VI. AGRADECIMENTOS São feitos agradecimentos à agência de fomento do CNPQ/PIBIC da UFU pela bolsa de iniciação científica no período de 2007 a 2008, em foi desenvolvida a presente pesquisa. VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrade, M. da C. de O., “A Prática Pedagógica de Professores de Alunos com Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade.”, RIO GRANDE DO NORTE. Barbosa, G. A., 1995, “Infanto”. Revista de Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência, Vol.3, pp13. Barkley, R. A., 2002, “Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH)”, Artmed, PORTO ALEGRE. 8 Freire, A. C. C. and Pondé, M. P., 2005, “Estudo piloto da prevalência do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade entre crianças escolares na cidade do Salvador, Bahia, Brasil”, Arquivos de Neuro-Psiquiatria, Vol. 63, pp10. Goldstein, Sam. and Goldestain, Michael., 1994 ,“Hiperatividade: Como desenvolver a Capacidade de Atenção da Criança”, Papirus, CAMPINAS. Lisboa, M.D., 2000 ,“Hiperatividade e Aprendizagem:a Criança Hiperativa na Escola – Estudo de um Caso”,Instituto Presbiteriano Mackenzie, SÃO PAULO. Sassaki, R. K., 2000,“Inclusão dá trabalho”, Armazém de Idéias, BELO HORIZONTE. Vygotsky, L. S., 1994, “A formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores”, Martins Fontes, SÃO PAULO. Winner, E., 1998,“Crianças superdotadas, Mitos e realidade”, Artes médicas,PORTO ALEGRE THE TEACHING OF GEOGRAPHY FOR STUDENTS WITH UPSET OF DEFICIT OF ATTENTION WITH HIPERATIVIDADE – TDAH FERREIRA,Carolina Federal university of Uberlândia, Av João Naves of Ávila 2121 – Campus Santa Mônica, [email protected] SAMPAIO, Adriany of Ávila Melo Federal university of Uberlândia, Av João Naves of Ávila 2121 – Campus Santa Mônica [email protected] Abstract: This article has the objective to disseminate the results obtained in carrying out research into basic scientific research conducted with the support of PIBIC - Institutional Program of Undergraduate Exchange - the CNPq / UFU. This study is the discussion of the process of inclusion of school people who have special educational needs, and analyzing more specifically the case of students with TDAH Trouble, with Attention Deficit-Hyperactivity. During the article, the issue will be addressed on the concept of individuals with TDAH, the analysis of its characteristic features of behavior and conduct, the teaching practices used for their education, and the outcome be made regarding the implementation of a survey on the care of children with TDAH in elementary school of Public Schools of the city of Uberlandia. There is also the story of living in an institution of municipal elementary school in the city of Uberlandia, which offers an alternative care for students with TDAH in view of inclusive education. Finally, in this study, are considered proposals and alternatives found for improving the training of students in geography through suggestions of educational practices used for teaching the content of the discipline of geography, appropriate to the learning process of students with deficit of Trouble Attention, with Hyperactivity. Keywords: Teaching – Inclusion – TDAH – Geography. 9