ATUALIZAÇÃO Hepatite na Gravidez Hepatitis in the Pregnancy José Eduardo Chufalo* Patrícia Ramos Borges ** Sidinéa P. de Almeida** * Curso de Medicina da UNAERP ** Curso de Graduação em Medicina da UNAERP, Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) Resumo A hepatite, doença causada por cinco tipos diferentes de vírus, continua sendo alvo de grandes estudos, dada sua importância quanto à forma de transmissão, suas manifestações (clínica e subclínica) e alta morbidade. Assim, um diagnóstico precoce e adequadas medidas preventivas devem ser tomadas, tendo como alvo, principalmente, gestantes e fetos, devido à transmissão vertical através da placenta. Alguns relatos na literatura apontam para os efeitos deletérios de infecção pelo vírus da hepatite no feto. Entretanto, ainda se fazem necessários estudos mais pormenorizados relativos a esses efeitos durante a gestação, em razão de diversas contradições descritas. Destarte, serão abordados, a seguir, as formas virais, seus modos de transmissões, sintomas, diagnósticos e prevenção, ressaltando, sobretudo, o aspecto gestacional da doença. PALAVRAS-CHAVE: Hepatite. Gravidez. Prevenção. Introdução A hepatite viral é uma doença de distribuição mundial com alta morbidade, constituindo importante problema de saúde pública (Freitas, 2003). Ocupa o primeiro lugar entre as causas de icterícia no ciclo gravídico puerperal (Febrasgo, )HPLQD - Maio 2006 vol 34 nº 05 2001), além de poder apresentar-se de forma subclínica, inaparente, levando a uma subestimativa de sua ocorrência (Freitas, 2003). Pelo alto poder de morbidade para a mãe e para o feto cresce a importância de seu diagnóstico e do reconhecimento do estado de portadora da gestante, para adequada proteção do recém-nascido (Freitas, 2003), já que as gestantes infectadas transmitem o vírus por meio da placenta para o feto e durante o nascimento (Febrasgo, 2001), salvo exceções. As cinco formas de hepatite viral são clinicamente similares, mas podem ser distinguidas por ensaios sorológicos. As cinco causas conhecidas de hepatite aguda são o vírus da hepatite A (HAV), B (HBV), C (HCV), D ou Delta (HDV) e E (HEV). Existem casos de uma síndrome similar à hepatite viral aguda, cuja causa não pode ser vinculada a um vírus de hepatite conhecido, denominados hepatite não-A, não-B, não-C, não-D e não-E aguda ou hepatite aguda de causa desconhecida. Todos eles, exceto HBV são RNA (Cecil, 2005; Mincis, 2002). Dentre os vários tipos de hepatite as hepatites, B e C merecem abordagem rotineira durante a gestação, porque medidas importantes no decurso do ciclo gravídico-puerperal devem ser tomadas em cada situação. Além disso, em pacientes com sorologia positiva, os cuidados neonatais devem ser muito meticulosos. A transmissão intra-uterina do vírus da hepatite C é 50% mais alta que do vírus da hepatite B (estima-se que a transmissão maternofetal ocorra em 85% das gestações complicadas pelo HCV). Perdas fetais e neonatais estão relacionadas com a ocorrência de hepatite fulminante e morte materna (70% de perda). A hepatite não complica- da no terceiro trimestre aumenta em 2-3 vezes a incidência de prematuridade. Entretanto, a doença não é causa de CIUR ou de abortamento (Freitas, 2003). A hepatite viral aguda é uma doença comum, que afeta 0,5% a 1% da população nos EUA a cada ano. Em pesquisas populacionais, as causas virais de hepatite aguda são as seguintes: hepatite A em 48% dos casos, a hepatite B em 34% dos casos e hepatite C em 15% dos casos. É um grupo de pelo menos cinco doenças diferentes causadas por cinco ou mais vírus e não-relacionados, caracterizada clinicamente por sintomas de mal-estar, náusea, falta de apetite, dor abdominal vaga e icterícia. Bioquimicamente, ocorrem elevações nos níveis séricos de bilirrubina e aminotransferases, enquanto que, sorologicamente, há presença de um genoma viral da hepatite no fígado e no soro, após desenvolvimento de anticorpo aos antígenos virais e, histologicamente, por graus variados de necrose hepatocelular e inflamação. Em geral, a hepatite viral aguda é autolimitada e regride completamente sem lesão hepática crônica. As hepatites A e E são infecciosas; disseminadas em grande parte pela via fecal-oral, associadas a condições sanitárias precárias, esporadicamente causam hepatite autolimitada. As hepatites B, C e D são formas séricas; disseminadas, em grande parte, pelas vias parenterais e, menos comumente, pela exposição íntima ou sexual; não são altamente contagiosas, de ocorrência esporádica; são capazes de levar à hepatite crônica e, por fim, à cirrose e ao carcinoma hepatocelular (Cecil, 2005). Tipos Atualmente, são reconhecidos seis tipos de hepatite viral: A, B, C, D, E. u Hepatite A – apresenta período de incubação de 25 a 40 dias. A infecção é transmitida via fecaloral; a transmissão materno-fetal não ocorre (Kennth et al., 1994) e não tem sido associada a complicações significativas na gravidez (Pawlotsky, 2005). Até duas semanas após exposição, está indicado o uso de imunoglobulina (0,02 mg/kg IM) (Freitas, 2003). O início dos sintomas não é insidioso e o aparecimento da icterícia associa-se a melhora rápida do quadro clínico (Kennth et al., 1994; Mincis, 2002). A infecção causada pelo vírus da hepatite A é diagnosticada através da demonstração da classe IgM contra ou vírus ou pelo isolamento de cultura do vírus a partir das fezes (Kennth et al., 1994). Geralmente, não se administra imunoglobulina para os contatos no lar fazendo-se exceção com mulheres grávidas (Febrasgo, 2001). u Hepatite B – O vírus causador da hepatite B (HBV) é um DNA, o qual possui em seu contexto fisiopatológico a possibilidade de cronificar-se. É o maior determinante de doença hepática aguda e crônica do mundo, especialmente se contraído por transmissão vertical (CDA, 1999). O período de incubação é de 50 a 80 dias (Kennth et al., 1994). O vírus, geralmente, é transmitido pela inoculação de sangue infectado e, está presente na saliva, sêmenes, secreções vaginais, podendo também ser transmitido durante relações sexuais tanto homo quanto heterossexual (uma das mais importantes formas de disseminação do vírus) e pelo leite materno (Freitas, 2003; Kennth et al., 1994; CDA, 1999). Em estudo publicado no British Journal of Obstetrics and Gynaecology em Junho de 2001, pesquisadores demonstraram que, apesar da baixa prevalência de infecção por HIV e hepatite B, casais submetidos à fertilização in vitro (IVF) devem ser triados para esses vírus (Hart, 2001); assim, o ginecologista tem um papel fundamental na prevenção da transmissão horizontal e vertical deste vírus (CDA, 1999). As gestantes infectadas transmitem o vírus através da placenta para o feto e durante o nascimento (Kennth et al., 1994), tem maior probabilidade de ocorrer na infecção aguda, especialmente no terceiro trimestre (Pawlotsky, 2005) que equivale a 75% dos casos e, em apenas 10% a transmissão ocorre para o feto quando a infecção ocorre mais precocemente (Kennth et al., 1994). A grande chance de transmissão, também acontece quando há presença de AgHB (Pawlotsky, 2005). No entanto, a transmissão vertical da hepatite B pode ser interrompida pela administração de imunoglobulina ao recém-nascido (Febrasgo, 2001). Lembramos que o risco de transmissão por mães Ag-HBs+ que são Ag+ é de 90%; para mães Ag-/eAb- o risco é de 40% e para Ab+ é 10% (Pawlotsky, 2005). Apesar de o vírus existir no leite materno, parece não haver risco do RN ser amamentado, mesmo que a mãe seja HBS-e, principalmente naqueles RNs que receberam imunoglobulina da hepatite B (Febrasgo, 2001), não sendo necessário contra-indicar o aleitamento materno (CDA, 1999). As anormalidades congênitas não apresentam elevação da freqüência em crianças nascidas de mães infectadas (Kennth et al., 1994). )HPLQD - Maio 2006 vol 34 nº 05 Hepatite na Gravidez A doença aguda pode variar desde um quadro genérico de virose até sintomatologia clássica de hepatite com icterícia, náuseas, vômitos, fadiga, dor em hipocôndrio direito, febre e alterações das enzimas hepáticas (Freitas, 2003; Kennth et al., 1994; CDA, 1999; Cecil, 2005). Raramente irão ocorrer hepatite fulminante e morte. A doença crônica, cuja designação do termo é de doença com mais de seis meses de evolução, pode afetar aproximadamente 10% dos infectados em uma das seguintes formas: hepatite crônica assintomática (HbsAg+ e função hepática normal); hepatite crônica persistente (função hepática anormal); hepatite crônica ativa (com sintomas sistêmicos indistinguíveis da hepatite aguda). Os pacientes com hepatite crônica podem desenvolver cirrose hepática e carcinoma hepatocelular primário. O diagnóstico clínico é de difícil diferenciação em relação a outras doenças virais. Quando há sintomatologia sugestiva, o diagnóstico é feito por sorologia específica (CDA, 1999). O diagnóstico laboratorial da infecção pelo vírus usa marcadores sorológicos (HbsAg, HbeAg, anti-HbsAg, anti-HbcAg e anti-HbeAg) e é dada, principalmente, pela demonstração de antígeno de superfície do vírus (HBsAg) no soro e aumento nos títulos de anticorpos dirigidos contra o núcleo (HBcAc) e a superfície do vírus (HBsAc) (Tabela 1). O AgBe do vírus da hepatite B (HBeAg) encontra-se presente em soros HBsAg+ e sua persistência associa-se a quadro de hepatite crônica e infecciosidade elevada (Kennth et al., 1994; CDA, 1999). No pré-natal, todas as gestantes devem ser rastreadas rotineiramente para o HbsAg (Freitas, 2003) e para anti-HBc na primeira consulta. Se forem negativos, repetem o HbsAg no terceiro trimestre. Nas não rastreadas está indicada a testagem logo que possível após a admissão durante o trabalho de parto (Freitas, 2003). Para pacientes expostas a situações de risco (usuárias de drogas endovenosas, parceiras de usuários de drogas, parceiras de portadores de HBV, múltiplos parceiros, ocorrência de outras DST, profissionais de saúde e sob hemodiálise) o rastreamento deve ser realizado trimestralmente (CDA, 1999). Está indicado o uso de imunoglobulina hiperimune em gestante soro negativo que relata história de acidente com material contaminado, relações sexuais com parceiro em fase aguda ou em vítima de violência sexual (0,06 mg/kg IV) (Freitas, 2003). A gravidez não é contra-indicada para administração da vacina. A imunoglobulina contra a hepatite B (0,05-0,07 ml/kg), pode ser administrada em duas doses, iniciando sete dias após exposição e repetida 25-30 dias após a primeira dose (Kennth et al., 1994). As mulheres com hepatite crônica parecem não reativarem clinicamente a hepatite durante a gestação. A gravidade da doença pode ocasionar aborto espontâneo ou prematuridade (Febrasgo, 2001). A melhor prevenção é a vacinação na infância, uma vez que a infecção crônica por HBV e a doença hepática crônica ocorrem em 90% dos casos em indivíduos infectados até os cinco anos de idade. No adulto, a relação custo benefício da vacinação não justifica o uso indiscriminado, sendo esta limitada aos casos de maior risco (exemplo profissional da saúde). A doença durante a gestação deve ser tratada visando a nutrição, a estabilidade metabólica e aos distúrbios metabólicos (Febrasgo, 2001). u Hepatite C – vírus causador da hepatite C (HCV) é um flavivírus (RNA) (CDA, 1999), cujo período de incubação é, em média, de oito semanas (Cecil, 2005; Mincis, 2002). A transmissão semelhante da hepatite B (Febrasgo, 2001), entretanto, causa menos doença aguda que esta, mas a mortalidade é maior (Febrasgo, 2001). A transmissão ocorre em grande parte por via endovenosa, afetando principalmente Tabela 1 - Teste diagnóstico de hepatite B. Significa HBeAg anti-HBe HBV DNA IgM anti-HBC anti-HBs Infecção aguda Alta infectividade + + - + + - Pós-vacinal - - - - - + Infecção prévia - - - - - - Baixa infectividade + - + - - - Alta infectividade + + - + - - IgG anti-HBC+ (+): positivo; (-): negativo Kennth et al., 1994 )HPLQD - Maio 2006 vol 34 nº 05 Hepatite na Gravidez usuários de drogas ilícitas injetáveis, bem como por via sexual (CDA, 1999). Pesquisadores demonstram que o risco de transmissão mãe-filho do vírus da hepatite C (HCV) é associado à presença de viremia materna pelo HCV no parto e com à alta carga viral da mãe, ou seja, a transmissão vertical parece ser diretamente proporcional à carga viral (> 1 milhão de cópias/ml) (Tajiri, 2001; Borges, 2000). Esse tipo de transmissão (estimada em 6%) pode ocorrer nos casos de gestante com infecção crônica (2-3%) ou infecção aguda no 3º trimestre. Em estudo publicado em 9 de setembro de 2000, pesquisadores afirmam que a transmissão vertical do vírus da hepatite C parece ocorrer principalmente na ocasião do parto e isto pode ser prevenido pela cesariana antes da ruptura das membranas. De acordo com os resultados da reação de cadeia de polimerase para o HCV RNA, 7,7% das crianças nascidas por parto vaginal foram infectadas, comparadas a 5,9% daquelas nascidas por cesariana de urgência. Nenhuma das crianças nascidas por cesariana sem ruptura das membranas tornou-se infectadas. Vale ressaltar, ainda, que alguns estudos recentes sugerem que a infecção pelo HIV aumenta a eficácia da transmissão vertical do HCV (passa de 3% para 36%) (CDA, 1999) e a amamentação não exerceu efeito na transmissão (Gibb, 2000). O período de incubação é, em média, oito semanas. Na doença aguda a infecção é, na maioria das vezes, assintomática e, em 75% dos casos, anictérica. Podem surgir sintomas leves como cefaléia, mialgia, artralgia e febre (CDA, 1999). Cerca de 80% das crianças infectadas desenvolvem hepatite crônica (função hepática anormal), 20-30% cirrose e carcinoma. Gestantes expostas a materiais contaminados devem receber imunoglobulina sérica (Febrasgo, 2001; CDA, 1999). O diagnóstico clínico é de difícil diferenciação com outras viroses; é clínico-laboratorial, pois a presença do anticorpo específico não significa que a doença esteja em progressão (CDA, 1999). O diagnóstico laboratorial se faz pela detecção do anti-HCV (ELISA ou RIA, confirmadas pela RIBA). Pesquisadores notaram que a sensibilidade do PCR foi dependente da idade, sendo de 22% antes do primeiro mês e 97% depois. O PCR qualitativo confirma o diagnóstico de doença em atividade e o PCR quantitativo indica carga viral e orienta a terapêutica (Gibb, 2000). No pré-natal, a sorologia deve ser limitada às pacientes de risco (usuário e/ou parceiras de usuários de drogas ilícitas por intravenosa). u Hepatite D – é infectante quando ativado pela presença de HBV. Está associado ao uso de drogas endovenosas, mas pode afetar todos os grupos de risco para o HBV. Vale ressaltar que a vacinação para hepatite B torna o receptor imune ao HBV e o protege contra infecção pelo HDV (Cecil, 2005; Mincis, 2002). u Hepatite E – apresenta maior mortalidade na gestação dentre todos os tipos de hepatites virais: no 1º trimestre, 1,5%; no 2º trimestre, 8,5%; no 3º trimestre 21% (Uchida, 1992). É semelhante à hepatite A e, portanto, a transmissão é também fecal-oral. A doença instala-se de forma abrupta e, na maioria dos casos, é ictérica não havendo cronificação (Cecil, 2005; Mincis, 2002). u Hepatite G – o vírus é da família flaviviridae e foi encontrado em 1 a2% dos doadores de sangue nos EUA. Não parece ser um patógeno perigoso para o ser humano e não provoca cronicidade (Mincis, 2002). Quadro Clínico Geral O quadro clínico da hepatite varia de assintomático com alterações laboratoriais isoladas à doença fulminante, com coma e morte. Os vários tipos de hepatite produzem manifestações clínicas semelhantes e é impossível o diagnóstico baseado somente em parâmetros clínicos, sendo essenciais os testes sorológicos específicos para a determinação do tipo viral (Tabela 2). Tabela 2 Diagnóstico geral para os vários tipos de hepatite. Vírus Teste solicitado Significado VHA Anti-VHA IgM Infecção aguda/ recente Anti-VHA IgG Imunidade HBsAg Portador/ infectividade HBeAg Alta infectividade Anti-HBe Pouca infectividade Anti-HBc Convalescência parcial Anti-HBs Recuperação/ imunidade Anti-HCV Infecção atual ou prévia VHB VHC Aumento da enzima hepática Infecção ativa VHD HDV Ag Infecção aguda crônica Anti-HDV IgM Doença aguda VHE Anti-HDV IgG PCR (em investigação) Infecção prévia ou em atividade Infecção prévia ou em atividade VHG PCR (em investigação Em investigação Kennth et al., 1994 )HPLQD - Maio 2006 vol 34 nº 05 Hepatite na Gravidez De início, geralmente insidioso, os sintomas são específicos e muitos se confundem com queixas comuns e próprias da gestação como fadiga, mal-estar, inapetência, náusea e vômito. (Kennth et al., 1994; Freitas, 2003; Cecil, 2005). Na fase inicial da doença aguda, alguns sintomas como coriza, tosse, fotofobia, cefaléia e mialgias podem ocorrer (Kennth et al., 1994; Cecil, 2005). Todos os sintomas mencionados tendem a diminuir ou mesmo desaparecer com o surgimento da icterícia, sendo que o prurido pode aparecer como aumento do quadro ictérico (Kennth et al., 1994). Ao exame físico, geralmente pouco expressivo, pode-se encontrar um fígado palpável abaixo do rebordo costal. Diagnóstico laboratorial: além da identificação do vírus, pode ocorrer uma alteração bioquímica caracterizada pelo aumento das transaminases hepáticas, que pode variar de 500-5000Ul e não sofrem interferência importante pelo estado gravídico. O aumento dos níveis séricos das bilirrubinas e FA deve ser visto com cautela se isolado, pois as primeiras estão aumentadas em aproximadamente 10% das gestantes normais e a última também é produzida pela placenta. O diagnóstico diferencial deve ser feito com icterícia colestática, colelitíase, síndrome HELLP, fígado gorduroso agudo da gestação e farmacotoxicidade (Kennth et al., 1994). Autores concluem que é importante testar casais antes da concepção assistida, de modo que possam ser tomadas decisões sobre a continuação do tratamento. Entretanto, estudos sobre as implicações psicológicas dos testes mandatórios da triagem do casal devem ser realizados (Hart, 2001). oferecerão técnicas de reprodução assistida a casais com doenças genéticas ou infecto-contagiosas, como HIV e hepatite B. Nesses casos, a assistência terá como objetivo evitar a transmissão das doenças para os bebês e/ou para os parceiros. Além de representantes do Ministério da Saúde, integram o grupo de trabalho representantes da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana; do Núcleo Brasileiro de Embriologistas em Medicina Reprodutiva, entre outros (Brasil, 2005). A gestação não favorece o aparecimento da infecção e não agrava o curso da doença em pacientes previamente hígidos. Devemos estar atentos para a possibilidade de alguns sintomas próprios da gestação mimetizar os sintomas da hepatite (Freitas, 2003). O diagnóstico pré-natal da infecção materna é de extrema importância, direcionando o tratamento imediato do recém nato para que se possam diminuir as chances deste se tornar um portador crônico, o que representa um sério risco de desenvolvimento de carcinoma hepatocelular e/ou cirrose hepática (Febrasgo, 2001). Alguns estudos afirmam que não há efeito teratogênico de qualquer tipo de hepatite viral (Freitas, 2003). Em contrapartida, outros alegam existir, citando fenda palatina, hidrocefalia, cardiopatia, atresia intestinal, anencefalia, outros (Febrasgo, 2001). Levando em consideração que são opiniões conflitantes, o importante a ressaltar é que, do ponto de vista clínico e epidemiológico, a maior complicação da hepatite materna é a transmissão viral para o feto. Abstract Considerações Finais A hepatite é uma infecção endêmica no Brasil e com maior prevalência em população de baixo nível socioeconômico (Freitas, 2003). Tem-se uma especial importância para a hepatite B, pois neonatos infectados pelo vírus têm 90% de chance de se tornarem portadores crônicos e desenvolverem hepatopatia crônica (25 a 40% dos casos), além disso, tornam-se propagadores do vírus por toda a vida (Freitas, 2003; Mincis, 2002). O ministério da Saúde instituiu, em agosto de 2004, um grupo de trabalho com o intuito de elaborar uma política nacional para atenção integral em reprodução humana assistida na rede SUS, tendo como alvo casais com algum problema de infertilidade (8 a 15% dos casais segundo a Organização Mundial da Saúde e sociedades científicas) os serviços também )HPLQD - Maio 2006 vol 34 nº 05 The hepatitis, illness caused by five different types of virus, has been the object of great studies, given its importance related to the transmission form, to its manifestations (clinical and subclinical) and to the high morbidity. Thus, a precocious diagnosis and adjusted prevent acts must be taken, having as target, specially, pregnants and fetus, due to the vertical transmission through the placenta. Some reports in literature point to the deleterious effect of infection by the virus of the hepatitis in the fetus. However, more detailed studies are still required related to these effects during the gestation due to contradictions. Hence, the viral types, its ways of transmissions, symptoms, diagnosis and prevention will be observed, especially the gestacional aspect of the illness. KEYWORDS: Hepatitis. Pregnancy. Prevention. Hepatite na Gravidez Leituras Suplementares 1. Borges DR. Diagnóstico etiológico das hepatites, Revista Brasileira de Medicina, Edição: V 57 N 11, 2000. 2. Brasil. Ministério da Saúde; Introdução de reprodução humana assistida no SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 3. Cecil. Tratado de medicina interna. 22º ed., Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. 4. Consenso DST/AIDS. Manual de doenças sexualmente transmissíveis em gestantes 1999. 5. FEBRASGO. Tratado de obstetrícia. Rio de Janeiro: Revinter; 2001. 6. Freitas F et al. Rotinas em obstetrícia. 4º ed., São Paulo: Ed Art Méd; 2003. 7. Gibb DM. 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