Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar CCIH/HUCFF/UFRJ Agosto 2013 MEDIDAS DE PRECAUÇÕES DE DOENÇAS TRANSMITIDAS PELO CONTATO, POR GOTÍCULAS, PELO AR, POR VEÍCULOS COMUNS E VETORES. I- Objetivo: Impedir a disseminação de um agente infeccioso do paciente, infectado ou colonizado, para outros indivíduos. A disseminação de infecção dentro do hospital depende de três elementos: uma fonte de microrganismo infectante, um hospedeiro suscetível e um meio de transmissão de microorganismo. A transmissão ocorre principalmente por: 1- CONTATO 1.1- Contato Direto - com a superfície corporal, com transferência do microrganismo entre o paciente infectado ou colonizado e o indivíduo suscetível. Exemplos: disseminação de microrganismos multirresistentes, Escabiose. 1.2- Contato Indireto - através da transferência do microrganismo de um objeto contaminado para um indivíduo suscetível. Exemplos: Uso comum de termômetro, esfigmomanômetro e estetoscópio, sem desinfecção, entre pacientes. 2- GOTÍCULAS - são produzidas através da fala, tosse, espirro e durante a realização de alguns procedimentos, tais como: aspiração traqueal e broncoscopia. A transmissão ocorre pela deposição destas gotículas em mucosa nasal ou oral, através de um contato muito próximo (< 90 cm) entre a fonte de infecção e o indivíduo suscetível. Estas gotículas não permanecem suspensas no ar. Exemplo: a transmissão da meningococcemia, caxumba, rubéola. 3- PELO AR - ocorre pela disseminação de micropartículas infectantes, geradas pela fala, tosse, espirro ou por procedimentos como aspiração traqueal e broncoscopia. Estas partículas alcançam rápida dispersão no ar e a maioria permanece em suspensão (aerosol) por períodos prolongados, podendo ser inaladas por um hospedeiro suscetível. As partículas de poeira suspensas por varredura a seco ou agitação de roupa também podem conter estas partículas infectantes. Exemplo: a transmissão de tuberculose pulmonar e laríngea, varicela e sarampo. 4- VEÍCULOS COMUNS - onde os microrganismos são transmitidos por veículos contaminados, tais como: alimentos, água, soluções endovenosas, medicamentos ou dispositivos invasivos. Exemplo: surto de diarréia por alimento ou água contaminada. 5- VETORES - ocorre quando vetores, tais como mosquitos, pássaros, ratos e outros, transmitem os microrganismos. 1 Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar CCIH/HUCFF/UFRJ Agosto 2013 II- Barreiras de Proteção 1- Lavagem das mãos É a medida isolada mais importante para evitar a transmissão de um microrganismo de um paciente a outro e de um sítio para outro no mesmo paciente. 2- Luvas São utilizadas para impedir a contaminação das mãos quando em contato com fluidos orgânicos, mucosa, pele não íntegra e para reduzir a transmissão de patógenos, de profissionais de saúde para pacientes e entre pacientes. As luvas devem ser trocadas após a manipulação de cada paciente e as mãos lavadas após sua retirada. O uso de luvas não substitui a lavagem das mãos, porque as luvas podem apresentar perfurações inaparentes, danificarem durante o uso ou haver contaminação das mãos durante sua retirada. Existem três tipos de luvas em ambiente hospitalar: luvas estéreis ou cirúrgicas, luvas de procedimentos (não estéreis) e as luvas de borracha-PVC. As luvas utilizadas em isolamento são as de procedimentos (não estéreis). 2 Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar CCIH/HUCFF/UFRJ Agosto 2013 3- Máscaras Devem ser usadas durante atividades com risco de respingos de material orgânico em mucosas nasal, oral e durante contato com pacientes portadores de doenças transmitidas por gotículas ou pelo ar. As máscaras utilizadas em isolamento podem ser de dois tipos, as cirúrgicas e as com proteção para micropartículas, chamadas de respiradores. As máscaras cirúrgicas são eficientes no isolamento de patologias transmitidas por gotículas. As máscaras com proteção para micropartículas são utilizadas na prevenção de transmissão aérea de microrganismos como: Mycobacterium tuberculosis, vírus do sarampo e da varicela. Estas máscaras devem ser capazes de filtrar partículas < 1,0 µm com eficiência de pelo menos 95% e serem moldadas para adaptar perfeitamente a face. As máscaras cirúrgicas não estão dentro desta especificação. Portanto, máscaras não cirúrgicas (máscara com proteção para micropartículas) serão utilizadas no isolamento de pacientes com tuberculose pulmonar e laríngea, sarampo e varicela. 4- Óculos São utilizados durante procedimentos que possam gerar respingos de material orgânico e atingir a conjuntiva ocular. Devem ter anteparo na borda superior, lateral e inferior. 3 Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar CCIH/HUCFF/UFRJ Agosto 2013 5- Capote São utilizados para prevenir a contaminação das roupas e da pele dos profissionais de saúde, quando há risco de exposição a material orgânico. Devem ser de tecido impermeável e de mangas longas. Também são utilizados durante cuidado de pacientes em isolamento de contato, neste caso devem ser retirados com técnica adequada antes da saída do quarto. 6- Quarto Privativo O quarto privativo deve proporcionar facilidade para lavagem das mãos e banheiro. Quando o quarto privativo não for possível, os pacientes com a mesma patologia poderão ser internados na mesma enfermaria e cuidados pela mesma equipe, exceto os pacientes com tuberculose pulmonar e laríngea, sarampo e varicela. O quarto privativo está indicado para os pacientes nas seguintes situações: a- Pacientes com hábitos higiênicos precários, portadores de doenças transmissíveis. b- Pacientes que possivelmente não obedecerão as medidas de isolamento. Exemplo: Pacientes com estado mental alterado e crianças. c- Pacientes portadores de doenças de elevada transmissibilidade ou causadas por microrganismos epidemiologicamente importantes. Exemplos: Meningococcemia, Difteria. d- Pacientes portadores de tuberculose pulmonar ou laríngea, varicela e sarampo. e- Pacientes submetidos à transplante de órgãos. O quarto privativo para pacientes com patologias de transmissão pelo ar (tuberculose pulmonar e laríngea) deve ter mecanismos que reduzam a concentração de microrganismos em dispersão e evitem a sua disseminação para fora do quarto, como ventilação com 6 a 12 trocas de ar por hora, pressão negativa no interior do quarto e filtro HEPA (High Efficiency Particulate Air). Lembramos que a porta tem que permanecer fechada. 4 Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar CCIH/HUCFF/UFRJ Agosto 2013 7- Botas Freqüentemente são utilizadas durante a limpeza de piso e recolhimento de sacos de lixo. Está indicada também durante os procedimentos que possibilitem respingos de fluidos orgânicos nas pernas e dorso dos pés com pele lesada. Durante as outras atividades usar sapatos fechados, impermeáveis e resistentes. III - Recomendações: 1- O transporte de pacientes submetidos às medidas de isolamento deve ser limitado. Quando necessário é importante ressaltar que: • O profissional responsável pelo transporte deve estar paramentado de acordo com as recomendações das tabelas I e III. • O paciente a ser transportado deve estar paramentado de acordo com o descrito no item IV.(IV.2 - Precauções Específicas) • O setor que receberá o paciente deve ser notificado para que possa tomar as devidas precauções, evitando a disseminação de microrganismos. 2- O equipamento contaminado com material orgânico deve ser manuseado de forma a prevenir a transmissão de microrganismos para o profissional de saúde, outro paciente, familiares, mobiliários e o ambiente. Quando possível os equipamentos não críticos (aparelho de pressão, termômetro, estetoscópio) devem ser restritos a apenas um paciente. Se o uso de equipamento comum é inevitável, este deve ser desinfetado antes do uso em outro paciente. 3- As roupas utilizadas pelo paciente seguem as mesmas regras gerais para o manuseio, transporte, lavagem e estocagem estabelecidas pela Seção de Rouparia. 4- Os pratos, talheres, copos não necessitam de cuidados diferenciados além das recomendações gerais estabelecidas na rotina do Serviço de Nutrição e Dietética. 5- A limpeza do ambiente onde se encontra o paciente não necessita de cuidados especiais, exceto naqueles portadores de patologias transmissíveis pelo contato, quando uma desinfecção diária do mobiliário e equipamentos está indicada. IV - Categoria de Precaução. As categorias de isolamento foram simplificadas em dois tipos de precauções: as precauções padrão ou básicas e precauções específicas. O tipo de precaução baseia-se na forma de transmissão das doenças, portanto, nem toda patologia infecciosa necessita de precauções específicas. A categoria de isolamento protetor ou reverso foi abolida devido a sua ineficácia comprovada, além das desvantagens de piorar a qualidade de assistência, aumentando os custos e danos psicológicos. 5 Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar CCIH/HUCFF/UFRJ Agosto 2013 IV.1 - Precauções Padrão ou Básicas ⇒ Denominadas anteriormente como precauções universais. São indicadas para todos os pacientes, independente do seu diagnóstico suspeito ou confirmado inclusive pacientes submetidos à transplante de órgãos. Aplicam-se ao contato com pele não íntegra e mucosa, sangue e todos os fluidos corporais, secreções, excreções. Compreende: a lavagem de mãos, o uso de luvas, capotes impermeáveis, máscaras e óculos de proteção de acordo com as orientações do item II (Barreiras de Proteção). Os cuidados dispensados aos materiais pérfuro-cortantes encontram-se dentro desta categoria. IV.2 - Precauções Específicas ⇒ São baseadas no mecanismo de transmissão das doenças. Estas precauções devem ser adotadas a partir da suspeita ou confirmação diagnóstica, dividese em três tipos: IV.2.1 - Precauções de Disseminação Aérea (PA) Indicadas em patologias transmitidas pelo ar. É obrigatório o uso de máscara não cirúrgica (respiradores), colocá-la antes de entrar no quarto. É obrigatório o quarto privativo. Quando transportado, o paciente deve usar máscara cirúrgica. Não utilizar capote, óculos, luvas, exceto nas situações com indicação de precauções padrão ou básicas (IV.1). IV.2.2 - Precauções de Disseminação por Gotículas (PG) Indicadas em patologias transmitidas por gotículas. Usar máscara cirúrgica ao aproximar-se do paciente a distância ≤ a 1 metro. Quando o quarto privativo não é disponível, a distância entre o paciente infectado e os outros pacientes deve ser no mínimo de 1,20m. Quando transportado, o paciente. deve utilizar máscara cirúrgica. Não utilizar capote, óculos, luvas, exceto nas situações com indicação de precauções padrão ou básicas (IV. 1). IV.2.3 - Precauções de Disseminação por Contato(PC) Indicadas em patologias transmitidas pelo contato. Utilizar luvas, não estéreis, quando manusear o paciente ou mobiliário. Retirá-las antes de deixar o quarto e lavar as mãos em seguida. Utilizar capote limpo, não estéril, de mangas longas, quando houver a possibilidade de contato corporal com o paciente ou mobiliário. Removê-lo antes de sair do quarto com técnica adequada. Observações: Materiais de uso com o paciente tais como aparelho de pressão, termômetro, AMBU, estetoscópio, devem ser individuais. Caso isto não seja possível, estes materiais devem ser desinfetados antes de serem usados em outro paciente. Recomendamos a limpeza e desinfecção diária da unidade (mobiliários e equipamentos) de pacientes em precauções de contato. 6 Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar CCIH/HUCFF/UFRJ Agosto 2013 Os aparelhos de diagnóstico por imagem, cmo Ultrassom e Ecocardiograma devem seguir as rotinas descritas a seguir para os pacientes internados nas unidades críticas ou com bactérias multirresistentes: - Envolver o transdutor com filme transparente. - Vestir capote e luvas não estéreis. - Posicionar o paciente para o exame. - Retirar a luva da mão que manipulará o teclado - No fim do exame lavar as mãos com água e sabão ou usar álcool gel. As medidas de precauções específicas (PA, PG, PC) devem ser utilizadas sempre em associação com as precauções básicas (PB). Uma patologia pode ter diferentes mecanismos de transmissão, portanto necessitando de dois tipos de precauções específicas. Relacionamos a seguir tabelas com as infecções mais freqüentes, as precauções a serem adotadas e a duração destas medidas. Tabela I - Doenças infecciosas que necessitam de precauções específicas associadas as precauções básicas. Doenças Precauções Duração das medidas específicas Abscesso ou celulite com drenagem PC Até melhorar drenagem Abundante, incontida pelo curativo Adenovirose PC, PG Duração do quadro clínico Conjutivite viral Colite por Clostridium difficile Coqueluche Colonização ou Infecção por microrganismos multirresistente. Caxumba Difteria Epiglotite por Haemophilus influenzae Escarlatina GaGastroenterite em paciente com incontinência fecal ou em crianças ≤ 6 anos de idade Herpes simples neonatal Herpes simples mucocutânea, disseminado ou primário severo. Herpes Zoster disseminado ou localizado em PC PC PG PC PG PC, PG PG PG PC PC PC PA, PC Duração do quadro clínico Duração do quadro clínico Até 5 dias de tratamento Término do tratamento com antibiótico, melhora clínica, culturas negativas ou alta Até 9 dias após o início do aumento das parótidas Até término do antibiótico e após duas culturas negativas de oro ou nasofaringe com intervalo de 24 horas entre elas Até 24 horas de tratamento Até 24 horas de tratamento Duração do quadro clínico Para crianças de mães com infecção ativa. Manter a precaução no recém nato assintomático até 03 semanas de vida. No recém nato sintomático, manter a precaução durante a erupção. A mãe deve usar capote durante contato com a criança. Duração do quadro clínico Duração do quadro clínico imunodeficiente. 7 Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar CCIH/HUCFF/UFRJ Agosto 2013 imunodeficiente. Doenças Impetigo Influenza (gripe) Virose Hemorrágica pelo vírus Ebola Infecção por vírus respiratória sincicial em crianças e adultos imunodeficientes Menigococcemia Meningite por Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzae Precauções específicos PC PG PC Até 24 horas de tratamento com antibióticos Duração do quadro clínico Enquanto durar a doença PC PG Duração do quadro clínico Até 24 horas de tratamento PG Até 24 horas de tratamento Duração de hospitalização ⇒ quando a doença crônica ocorre em imunodeficiente. Até 7 dias de doença ⇒ quando ocorrer em pacientes com crise aplástica transitória Até 24 horas de terapia efetiva Até 3 dias de tratamento Duração de quadro clínico Até 24 horas Parvovirose B19 Pediculose Peste Pneumônica Pneumonia por Mycoplasma pneumoniae Pneumonia por Haemophylus influenzae em crianças ≤ 4 anos Rubéola não congênita PG Rubéola congênita Sarampo Tuberculose pulmonar ou laríngea PC PA PA Tuberculose pulmonar ou laríngea causada por Mycobacterium tuberculosis multiresistente PA Varicela Duração de medidas PG PC PG PG PG PA, PC Até 7 dias após o início do exantema Até a criança atingir um ano de idade, exceto aqueles acima de 03 meses com cultura de urina e nasofaringe negativas para o vírus Até 7 dias após o início do exantema Paciente em tratamento, com melhora clínica e/ou com 03 BAAR consecutivos negativos no escarro, coletados em dias diferentes ou 01 BAAR do lavado broncoalveolar negativo. Paciente em tratamento com melhora clínica e 3 culturas de escarro negativos, coletados em dias diferentes. Até todas as lesões se tornarem crostas Tabela II - Doenças infecciosas que necessitam de precauções básicas Abscesso com drenagem mínima AIDS Conjutivite bacteriana Cólera Gangrena Gasosa Gonorréia e outras doenças sexualmente transmissíveis Hanseníase Hantavirose Hepatite viral Herpes simples mucocutâneo recorrente* Herpes zoster em paciente imunocompetente 8 Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar CCIH/HUCFF/UFRJ Agosto 2013 Leptospirose Micobactéria não tuberculose Pneumonia por Pneumocystis carinii** Síndrome da pele escaldada Tétano Tuberculose ganglionar * Mães com lesões ativas de Herpes labial devem usar máscara cirúrgica durante o manuseio da criança. ** Evitar compartilhar o quarto com outros pacientes imunocomprometidos. Tabela III - Síndromes Clínicas com Indicação para Precauções Específicas até Confirmação do Diagnóstico Síndrome Meningites Precauções PG Exantemas Generalizados Petequial/equimótico com febre PG Vesicular PA, PC Maculo papular com coriza e febre PA Infecções Respiratórias Pacientes com AIDS (diagnóstico clínico confirmado ou não por exame sorológico) presença de sintomatologia respiratória e/ou presença de alteração do parênquima pulmonar de qualquer natureza, observada no exame radiológico do tórax. Pacientes sem AIDS (incluindo o portador assintomático do HIV) - imagem de hipotransparência no terço superior do pulmão ou no segmento 6, com ou sem cavitação, ou ainda presença de infiltrado miliar, observados no exame radiológico do tórax.. Tosse intensa ou paroxística Infecção respiratória em crianças ≤ 4 anos PA PA PG PG Infecção por Microrganismo Multirresistente Pacientes com história de infecção ou colonização por microrganismos multirresistentes PC 9 Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar CCIH/HUCFF/UFRJ Agosto 2013 • Recomendações para pacientes submetidos à transplante de órgãos: - preferir escalar um profissional específico da enfermagem para prestar assistência ao paciente - afastar o contato de pessoas com quadro de sintomas respiratórios, caso não seja possível usar máscara cirúrgica. - evitar o excesso de manipulação do paciente por vários profissionais de saúde - providenciar a retirada de cateteres, assim que for possível. - encaminhar o paciente com máscara cirúrgica para fazer exames fora da Unidade - manter o paciente, se possível, em quarto privativo. 10