UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Departamento de Biologia Geral Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas ____________________________________________________________________ Brotamento assincrônico afeta a comunidade de insetos galhadores em Copaifera langsdorffii (Fabaceae) Renata Cristiane Ferreira Xavier Montes Claros – Minas Gerais 2014 RENATA CRISTIANE FERREIRA XAVIER Brotamento assincrônico afeta a comunidade de insetos galhadores em Copaifera langsdorffii (Fabaceae) Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Montes Claros, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de mestre em Ciências Biológicas. Orientador: Prof. Dr. MARCÍLIO FAGUNDES Montes Claros – Minas Gerais 2014 RENATA CRISTIANE FERREIRA XAVIER Brotamento assincrônico afeta a comunidade de insetos galhadores em Copaifera langsdorffii (Fabaceae) Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Montes Claros, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de mestre em Ciências Biológicas. Orientador: Prof. Dr. MARCÍLIO FAGUNDES Data: ______________ de ____________________ 2014 Orientador: _____________________________________________________ Dr. Marcílio Fagundes - UNIMONTES Examinadores: ___________________________________________________ Dr. Ronaldo Reis Júnior – UNIMONTES ___________________________________________________ Dr. Germano Leão Demolin Leite – ICA / UFMG Montes Claros – Minas Gerais 2014 A minha família DEDICO AGRADECIMENTOS À Deus, pelo dom da vida e pelas inúmeras vezes que me enxergou melhor do que sou. Ao meu orientador, Marcílio Fagundes, pela oportunidade, dedicação, disponibilidade, paciência e clareza na orientação. Obrigada pelos ensinamentos e confiança. Aos demais professores do PPGCB pelos ensinamentos, sugestões, ajuda e puxões de orelha. A Marina Beirão, Janete Silva e Marcia Martins pelo incentivo. À turma do Laboratório de Biologia da Conservação (Letícia, Vanessa, Kenedy, Matheus) pelo companheirismo, colaboração, apoio e ajuda. Em especial a Hellen, Camis que perderam seus dias de folga (Natal e Reveillon) para me acompanhar no campo. Aos amigos dos demais laboratórios, aos colegas e amigos da graduação e da pós, por tudo que compartilhamos nestes anos. Obrigada pelo companheirismo. Aos meus pais (Dimas e Milva) pelo amor incondicional, carinho, amizade, por compartilhar as horas de desconcentração e por vibrarem a cada conquista. Aos meus irmãos (Rodrigo, Fernanda e Daniel), a Luisa, Sabrina e Vinícius. A toda a minha família (os Ferreira e os Xavier), aos meus eternos amigos e companheiros de infância (Kendson, Fabrícia, Nanda Moura, Nanda Costa, Tássio, Dani, etc.), a dona Zizi e família, a todos que, mesmo distante, foram essenciais nesta etapa. Obrigada por tudo. Agradeço especialmente a William, Alessandra, João Vítor, Pedro Lucas e Mariana que me acolheram com muito carinho, não tenho palavras para expressar a imensa gratidão, obrigada pelo incentivo e apoio, sempre serei grata. RESUMO Os padrões de distribuição dos insetos galhadores nas plantas hospedeiras são fortemente dependentes da fenologia das mesmas. Este processo pode afetar a quantidade de recurso disponível tanto para o crescimento reprodutivo quanto para o vegetativo. Desse modo, a quantidade e a qualidade dos recursos alimentares determinam a ocorrência dos insetos galhadores. A espécie Copaifera langsdorffii (pau d’óleo) (FABACEAE), possui a mais rica fauna de insetos galhadores descrita para a região Neotropical, no entanto a relação da sincronização dos galhadores com a fenologia desta planta ainda não é bem conhecida. Diante disso, foi realizado um estudo em um fragmento de Cerrado sentido restrito, saída norte da cidade de Montes Claros – MG, para avaliar como a variação fenológica afeta a diversidade de insetos galhadores associados. Foram monitorados a cada dois dias, de agosto de 2012 a maio de 2013, 109 indivíduos de C. langsdorffii. Os indivíduos da população estudada apresentaram uma variação de 67 dias no tempo de brotamento, sugerindo assim uma variação fenológica assincrônica, padrão que pode estar relacionado com a variação climática local ou às diferenças no método de caracterização da fenologia das plantas em campo. Observouse também que o tempo de brotamento afeta a biomassa de folíolos, o número de folíolos e o comprimento dos ramos e não afeta o desenvolvimento vegetativo e a produção de fenóis totais. A riqueza de galhas foi afetada pelo tempo de brotamento das plantas e a abundância de galhas foi afetada pelo tempo de brotamento, pela fenologia, pelo comprimento dos ramos e pelo número de folíolos. Os insetos galhadores sincronizaram sua emergência com o aparecimento dos órgãos alvo (folhas novas) das hospedeiras. Sendo assim, insetos galhadores associados são influenciados pela fenologia, justificando a maior abundância e riqueza de galhas em plantas com brotação precoce. Palavras-chave: variação fenológica, sincronização, adaptação, formação de demes, alocação de recursos. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Variação temporal na emissão de folhas (brotamento) entre as plantas de Copaifera langsdorffii com diferentes investimentos reprodutivos.................... 13 Figura 2: Biomassa de Folíolos (A), Número de Folíolos (B), Comprimento dos Ramos (C), Biomassa dos Ramos (D), Compostos Fenólicos (E) em função do tempo de brotamento das plantas de Copaifera langsdorffii................................... 15 Figura 3: Relação entre a riqueza de galhas e o tempo de brotamento das plantas de Copaifera langsdorffii em uma área de Cerrado em Montes Claros – MG........ 18 Figura 4: Análise de Componentes Principais (PCA) mostrando as relações entre os morfotipos de galhas associadas à Copaifera langsdorffii e os dois primeiros eixos da análise.......................................................................................................... 19 Figura 5: Abundância total de galhas do grupo G1 presentes em Copaifera langsdorffii em relação ao tempo de brotamento (A) e ao comprimento dos ramos (B).............................................................................................................................. 20 Figura 6: Abundância total de galhas do grupo G2 em função do tempo de brotamento (A) e em função da biomassa total (ramos e folíolos) (B) em Copaifera langsdorffii.............................................................................................. 21 Figura 7: Abundância total de galhas do grupo G3 em função do tempo de brotamento e a fenologia de Copaifera langsdorffii................................................ 21 Figura 8: Abundancia total de galhas do grupo G4 em função do tempo de brotamento (A) e número de folíolos (B) das plantas de Copaifera langsdorffii...... 22 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Modelos mínimos adequados utilizados para avaliar o tempo de brotamento e o investimento e reprodutivo no desenvolvimento e produção de fenóis em Copaifera langsdorffii (n= 109) ............................................................ 14 Tabela 2: Modelos mínimos adequados utilizados para avaliar as respostas da fenologia de Copaifera langsdorffii sobre a riqueza e abundância de insetos galhadores associados em relação ao tempo de brotamento, biomassa total (ramos e folíolos), fenologia, número de folíolos, biomassa de folíolos, biomassa de ramos (n= 109) .......................................................................................................... 17 Tabela 3: Análise de Escalonamento Multidimensional Não Métrico (NMDS), baseado na matriz binária......................................................................................... 18 SUMÁRIO Introdução ............................................................................................................... 05 Material e Métodos ................................................................................................ 09 Área de estudo .......................................................................................................... 09 Trabalho de campo .................................................................................................. 09 Época de brotamento e Investimento Vegetativo e de Defesa ................................. 10 Riqueza e Abundância de Galhas ........................................................................... 11 Resultados ............................................................................................................... 13 Brotamento Assincrônico e Investimento Reprodutivo ............................................ 13 Brotamento Assincrônico vs Investimento Vegetativo e Produção de Fenóis ......... 14 Brotamento Assincrônico e Ataque de Insetos Galhadores em Copaifera langsdorffii ............................................................................................................ 15 Discussão ................................................................................................................ 22 Referências .............................................................................................................. 27 Anexo 1 ................................................................................................................... 34 INTRODUÇÃO A fenologia é o estudo da ocorrência de eventos biológicos repetitivos e das causas de sua ocorrência em função de fatores bióticos e abióticos (D’Eça-Neves e Morellato 2004). Geralmente a precipitação, a temperatura, o fotoperíodo e as interações com predadores e dispersores influenciam diretamente a fenologia das plantas, determinando a época de brotamento, floração, frutificação e queda das folhas (Larcher, 2000; Hamann, 2004). Contudo, muitas plantas apresentam eventos fenológicos assincrônicos entre e dentro das populações e as causas destas variações ainda são pouco conhecidas (Dahlgren et al. 2007). A variação fenológica entre indivíduos de uma população de plantas afeta a quantidade e qualidade de recursos disponíveis para o crescimento vegetativo ou reprodutivo dos indivíduos (Ehrlén e Munzbergova 2009). Plantas com florescimento precoce podem não ter tempo para investir no crescimento vegetativo e acumular reservas suficientes para a formação dos frutos (Koptur et al. 2002; Elzinga et al. 2007). Por outro lado, indivíduos com florescimento tardio apresentarão maior desenvolvimento vegetativo e produzirão maior quantidade de frutos porque acumularão mais recursos durante a fase vegetativa prolongada (Koptur et al. 2002; Elzinga et al. 2007). A sincronia ou assincronia dos eventos fenológicos também determina a qualidade e quantidade de recursos alimentares disponíveis para os consumidores (Yukawa, 2000). Por exemplo, a sincronia na produção de folhas novas em uma população de plantas aumenta a quantidade de recurso para os herbívoros. Assim, as plantas regulam a herbivoria através da saciação dos herbívoros (Van Schaik et al. 1993; Coley e Barone 1996). Por outro lado, a falta de sincronia entre indivíduos de 5 uma população de plantas produz manchas temporais de recursos, permitindo que muitos indivíduos escapem do ataque de herbívoros (Coley e Barone 1996). Os padrões de distribuição no tempo e no espaço de insetos herbívoros são fortemente dependentes das suas plantas hospedeiras (Novotny e Basset 2000; Lewinsohn et al. 2005; Novotny et al. 2006). Muitos herbívoros têm seu estádio larval sincronizado com o aparecimento de órgãos-alvo na planta. Portanto, a sincronização dos herbívoros com a fenologia da planta hospedeira é um evento crítico para os herbívoros, porque falha na sincronia afeta a qualidade e quantidade dos recursos alimentares disponíveis e, consequentemente, a abundância desses organismos (Yukawa, 2000; Yukawa e Akimoto 2006). Os insetos herbívoros podem ser divididos em várias guildas alimentares (e.g. insetos galhadores, sugadores, mastigadores e predadores de sementes) com potencial para responderem de forma distinta a características da planta hospedeira (Neves et al. 2010; Fagundes e Fernandes 2011). Insetos herbívoros com hábito generalista são menos afetados pela fenologia das plantas, mas são dependentes de efeitos indiretos como variações na concentração de compostos de defesa em função da fenologia da planta (Fox et al. 1997). Por outro lado herbívoros com hábitos especialistas como os galhadores são dependentes de um determinado recurso da planta. Assim, a sincronização do seu ciclo de vida com o aparecimento do órgão-alvo das plantas é crucial para o sucesso destes herbívoros (Yukawa, 2000). Os insetos indutores de galhas são herbívoros altamente especializados (Fernandes et al. 2012). Esta guilda de herbívoros é pouco afetada pelos compostos de defesa produzidos pelas plantas porque os insetos galhadores manipulam as plantas a seu favor (Shorthouse et al. 2005; Ramalho e Silva 2010). Assim, ao induzir a formação de galhas, os insetos galhadores conseguem maior proteção e fonte de alimento de alta 6 qualidade (Araújo et al. 2006). Contudo, diversos estudos mostram que algumas características da planta hospedeira como arquitetura (Neves et al. 2010), taxa de crescimento (Price, 1991; Price e McGeoch 2004), concentração de recurso (Root, 1973; Costa et al. 2014) e fenologia (Fagundes, 2014) podem afetar a preferência e performance dos insetos galhadores. A fenologia da planta hospedeira afeta os insetos galhadores direta e indiretamente. De fato, a ocorrência de órgão alvo (e.g. gemas) é imprescindível para o sucesso dos galhadores, porque estes insetos ovipositam em tecidos meristemáticos indispensáveis para a formação das galhas (Fernandes, 1987; Harris, 2002; Yukawa, 2008). Variações temporais na ocorrência dos órgãos alvo afetam a qualidade dos tecidos da planta (Price, 1997; Ehrlén e Munzbergova 2009) e a performance dos insetos galhadores (Fernandes et al. 2000; Coyle et al. 2010). Por exemplo, plantas precoces geralmente apresentam maior desenvolvimento vegetativo porque possuem mais tempo para acumular reservas (Fox et al. 1997) e são mais atacadas por galhadores (Fox et al. 1997). A natureza e a dinâmica dos tecidos meristemáticos em uma população de plantas gera uma janela temporal de vulnerabilidade na qual os insetos galhadores realizam a oviposição e apresentam maior performance. Contudo, a natureza desta janela, seja ela estreita (plantas sincrônicas) ou larga (plantas assincrônicas) afeta diretamente a performance dos galhadores (Bernays e Chapiman 1994; Marquis, 2012; Trigo et al. 2012), abrindo uma oportunidade para a especialização e formação de demes de galhadores entre plantas precoces e tardias (Edmunds e Alstad 1978; Mopper, 2005; Egan e Ott 2007; Yukawa, 2008). 7 Copaifera langsdorffii é uma espécie arbórea que apresenta a maior riqueza de insetos galhadores descrita (Costa et al. 2014; Fagundes, 2014). A espécie apresenta frutificação supra-anual e deciduidade completa. Contudo, variações fenológicas intrapopulacional da espécie ainda é pouco conhecida em ambientes sazonais. Neste estudo nós caracterizamos a variação fenológica intra-anual e a diversidade de galhas em uma população de C. langsdorffii no semi-árido mineiro testando as hipóteses: (i) plantas com enfolhamento precoce apresentam maior desenvolvimento vegetativo e maior concentração de compostos fenólicos totais, e (ii) plantas com enfolhamento precoce são mais atacadas por insetos galhadores. 8 MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo O estudo foi desenvolvido em um fragmento de cerrado sentido restrito (16 o 40’26’’ S e 43o 48’44’’ W) localizado na saída norte da cidade de Montes Claros, norte do Estado de Minas Gerais, Brasil. A região encontra-se entre domínios do Cerrado e da Caatinga, apresenta clima semi-árido, com estações secas e chuvosas bem definidas. A temperatura média anual é de 23°C e a precipitação é aproximadamente 1.100 mm/ano, com verão quente e úmido e o inverno é frio e seco (Costa et al. 2011). O solo é distrófico apresentando árvores tortuosas de cascas grossas e folhas esclerófilas (Fagundes et al. 2013). Trabalho de Campo Durante o mês de março de 2012 foram marcados 109 indivíduos de C. langsdorffii na área de estudo. Estes indivíduos apresentavam de quatro a sete metros de altura e bom estado (copa abundante, ausência de lianas). Todas as plantas selecionadas para o estudo foram monitoradas a cada dois dias, de agosto de 2012 a maio de 2013, para determinação do período de emissão de folhas novas, flores e frutos, caracterizando assim a época exata do brotamento de cada planta. Estes indivíduos também foram divididos em três grupos de acordo com o investimento reprodutivo: (F1) indivíduos que não entraram em atividade reprodutiva; (F2) indivíduos que apresentaram flores e não frutificaram e (F3) indivíduos que apresentaram frutos. 9 Época de Brotamento e Investimento Vegetativo e de Defesa Durante o mês de maio de 2013 (período que antecede a queda de folhas), foram coletados dez ramos terminais (30 cm de comprimento) de cada árvore para se avaliar o efeito da época de brotamento no investimento vegetativo das plantas. Os ramos foram coletados em pontos diferentes da copa da árvore para obter amostras de todo o indivíduo e evitar possíveis efeitos do microhábitat no desenvolvimento dos ramos. Os ramos foram levados ao Laboratório de Biologia da Conservação, onde foram analisados os parâmetros: biomassa dos folíolos, número de folíolos, biomassa dos ramos e crescimento dos ramos. A biomassa dos folíolos e ramos foi determinada com o auxílio de balança analítica após secagem de todo o material vegetal em estufa a 90°C durante 72 horas. O crescimento dos ramos foi determinado dividindo-se o comprimento dos ramos pelo seu número de nós. Foi coletado um total de 50 folíolos por árvore para determinação da concentração de compostos fenólicos totais nos tecidos foliares. Essa quantificação foi realizada segundo metodologia proposta por Follin Ciocalteau e descrita por (Swain e Hillis 1959). Assim, foram preparadas amostras em tubos de ensaio com 3,5 mL de água destilada, aos quais foram acrescidos 500 μL do extrato (0,50 g de folhas moídas diluídos em 1 mL de metanol 50% deixados em descanso por 24 horas e depois centrifugados a 15000 RPM) e 250μL do reagente de Follin Ciocalteau. Após três minutos foram adicionados 500 μL de solução de carbonato de sódio (10%), e por fim 700 μL de água. Após uma hora as absorbâncias das soluções foram lidas em espectrofotômetro UV 2550 (Schmadzu) a 725nm, tendo como “branco” o metanol e todos os reagentes que foram utilizados, exceto o extrato. O teor de fenóis totais (FT) foi determinado por interpolação da absorbância das amostras e a curva de calibração. A 10 curva de calibração foi construída com a utilização do padrão ácido gálico (20, 30, 40, 60, 80μg/mL). A quantidade de compostos fenólicos foi expressa em mg de ácido gálico/g de matéria seca. Para avaliar os efeitos da época de brotamento do investimento reprodutivo das plantas no desenvolvimento vegetativo e na produção de compostos fenólicos foram construídos modelos lineares generalizados (GLM), onde o número de folíolos, a biomassa dos folíolos, a biomassa dos ramos, o crescimento dos ramos e a concentração de fenóis foliares totais foram usados como variáveis respostas e a época de brotamento e o investimento fenológico reprodutivo (folha, flor e fruto) foram as variáveis explicativas. Para caracterizar o tempo de brotamento, a primeira planta a emitir folhas representou a data um e as demais plantas foram sequenciadas conforme a data de brotamento. Riqueza e abundância de Galhas A riqueza e abundância de galhas foram determinadas contando-se o número de galhas presentes nos dez ramos coletados das 109 árvores (veja acima). A determinação de cada morfotipo de galhas está de acordo com Costa et al. (2010) (Anexo 1). Os efeitos da época de brotamento e do investimento reprodutivo das plantas na riqueza de galhas foram testados com modelos lineares generalizados (GLM) onde a riqueza de galhas foi a variável resposta e a época de brotamento, o investimento fenológico reprodutivo (folha, flor e fruto) foram usados como variáveis explicativas. Posteriormente, o efeito da época de brotamento das plantas na composição de galhas associadas com C. langsdorffii foi avaliado através do escalonamento multidimensional não métrico (NMDS) seguido de Anosim. Neste caso, o índice de Jaccard foi usado para construir a matriz de similaridade a partir dos dados de presença e ausência de 11 galhas em três grupos de plantas (precoces, intermediárias e tardias). Os indivíduos com brotamento precoce brotaram entre o primeiro e o vigésimo segundo dia. Indivíduos caracterizados como intermediários brotaram entre o vigésimo terceiro e o quadragésimo quarto dia e as plantas tardias brotaram entre o quadragésimo quinto e o sexagésimo sétimo dia. Os efeitos da época de brotamento, da fenologia reprodutiva e do desenvolvimento reprodutivo das plantas na abundância de galhas foram testados com a construção de modelos lineares generalizados (GLM). Contudo, como as espécies de galhas podem responder diferentemente a estas variáveis explicativas, primeiramente foi realizada uma Análise de Componentes Principais (PCA) baseada na matriz de abundância de todos os 24 morfotipos de galhas coletados em C. lagsdorffii. Assim, pode-se agrupar estes morfotipos de galhas em quatro subgrupos (G1, G2, G3 e G4), de acordo com suas relações com os dois primeiros eixos da análise. Finalmente, pode-se construir os modelos lineares generalizados (GLM) para cada grupo de galhas em função de suas mais prováveis variáveis explicativas. Por exemplo, para a abundância de galhas de grupo G1 usou-se o tempo de brotamento, a fenologia e o crescimento dos ramos como variáveis explicativas porque estas galhas ocorrem em ramos. No modelo de galhas do grupo G2 usou-se o tempo de brotamento, a fenologia e a biomassa total como variáveis explicativas porque estas galhas podem ser encontradas nas folhas ou nos ramos. Finalmente, usou-se a data de brotamento, a fenologia e o número de folíolos dos ramos como variáveis explicativas para as plantas dos grupos G3 e G4 porque estas galhas são típicas das folhas. 12 RESULTADOS Brotamento Assincrônico e Investimento Vegetativo O tempo de emissão de folhas (brotamento) entre os 109 indivíduos da população de C. langsdorffii variou por um intervalo de 67 dias. Dentre estas 109 plantas, 42 não entraram em fase reprodutiva, 24 produziram flores, mas não produziram frutos e 43 produziram frutos. Além disso, observou também que a época de emissão de folhas não afetou o investimento reprodutivo das plantas. Assim, as plantas precoces ou tardias apresentaram a mesma probabilidade de entrar em fase reprodutiva, produzindo flores e/ou frutos (Fig.1). Flor Fruto Fenologia Folha 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (dias) Figura 1: Variação temporal na emissão de folhas (brotamento) entre as plantas de C. langsdorffii com diferentes investimentos reprodutivos (n=109). 13 Brotamento Assincrônico vs Investimento Vegetativo e Produção de Fenóis O tempo de brotamento afetou a biomassa de folíolos, o número de folíolos e o comprimento dos ramos das plantas de C. langsdorffii (Tab. 1). De fato, plantas com brotação precoce apresentaram menor biomassa de folíolos, menor número de folíolos e maior comprimento dos ramos (Fig. 2 A-C). Além disso, observou-se também que o investimento reprodutivo ou a interação tempo de brotamento vs investimento reprodutivo não afetou o desenvolvimento vegetativo (biomassa de ramos) ou a produção de compostos fenólicos pelas plantas (Tab. 1, Fig. 2 D-E). Tabela 1: Modelos mínimos adequados utilizados para avaliar o tempo de brotamento e o investimento vegetativo e reprodutivo no desenvolvimento e produção de fenóis em C. langsdorffii (n= 109). Variáveis Explicativas Fenologia Biomassa de Folíolos Tempo Fenologia * Tempo Fenologia Números de Folíolos Tempo Fenologia * Tempo Comprimento dos Ramos Fenologia Tempo Fenologia * Tempo Fenologia Biomassa dos Ramos Tempo Fenologia * Tempo Fenologia Compostos Fenólicos Tempo Variáveis Resposta Distribuição de Erro Normal Normal Normal Normal Normal P 0,971 0,030 0,541 0,994 0,004 0,856 0,369 0,017 0,337 0,188 0,759 0,210 0,901 0,731 14 18 300 B A 16 250 Número de Folíolos Biomassa de Folíolos (g) 14 12 10 8 200 150 6 100 4 2 50 0 10 20 30 40 50 60 70 0 10 20 Tempo (dias) 3.0 40 50 60 70 Tempo (dias) 14 C D 12 Biomassa de Ramos (g) 2.5 Comprimento dos Ramos (cm) 30 2.0 1.5 10 8 6 1.0 4 0.5 2 0 10 20 30 40 50 60 0 70 10 20 Temp o (dias) 85 30 40 50 60 Tempo (dias) E Compostos Fenólicos (mg/g) 80 75 70 65 60 55 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (dias) Figura 2: Biomassa de Folíolos (A), Número de Folíolos (B), Comprimento dos Ramos (C), Biomassa dos Ramos (D), Compostos Fenólicos (E) em função do tempo de brotamento das plantas de Copaifera langsdorffii (n= 109). Brotamento Assincrônico e Ataque de Insetos Galhadores em Copaifera langsdorffii Neste estudo foi amostrado um total de 5421 galhas distribuídas entre 24 morfotipos (Anexo 1). Os morfotipos mais abundantes foram 13, 3, 21 e 5 enquanto os menos 15 70 abundantes foram 18, 19, 22, 12. As galhas associadas com C. langasdorffii podem ser encontradas nas folhas (morfotipos 1, 2, 4, 7, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 18, 20, 21, 22, 23, 24), ramos (morfotipos 3, 5, 6, 10, 16, 17) ou em folha e ramos (morfotipos 3, 5, 6, 16). A riqueza de galhas associadas com C. langsdorffii foi afetada apenas pelo tempo de emissão de folhas (Tab. 2). De fato, observou-se uma relação negativa entre a riqueza de galhas por planta e o tempo de emissão de folhas (brotamento), indicando que plantas que emitiram folhas precocemente foram atacadas por um maior número de insetos galhadores (Fig. 3). 16 Tabela 2: Modelos mínimos adequados utilizados para avaliar as respostas da fenologia de C. langsdorffii sobre a riqueza e abundância de insetos galhadores associados em relação ao tempo de brotamento, biomassa total (ramos e folíolos), fenologia, número de folíolos, biomassa de folíolos, biomassa de ramos (n= 109). Variáveis Resposta Variáveis Explicativas Riqueza de Galhas Fenologia Tempo Fenologia*Tempo Fenologia Tempo Comprimento Fenologia*Tempo Fenologia*Comprimento Tempo*Comprimento Fenologia*Tempo*Comprimento Fenologia Tempo Biomassa Total Fenologia*Tempo Fenologia*Biomassa Total Tempo*Biomassa Total Fenologia Tempo Fenologia*Tempo Fenologia Tempo Número de Folíolos Fenologia*Tempo Fenologia*Número de Folíolos Tempo*Número de Folíolos Abundância de Galhas (G1) Abundância de Galhas (G2) Abundância de Galhas (G3) Abundância de Galhas (G4) Distribuição de Erro Normal Normal Normal Normal Normal P 0,453 0,001 0,795 0,010 0,046 0,004 0,010 0,026 0,038 0,013 0,763 0,023 0,087 0,157 0,881 0,038 0,001 0,001 0,009 0,836 0,002 0,150 0,661 0,785 0,005 17 18 16 Riqueza de Galhas 14 12 10 8 6 4 2 0 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (dias) Figura 3: Relação entre a riqueza de galhas e o tempo de brotamento das plantas de Copaifera langsdorffii em uma área de Cerrado em Montes Claros – MG. O resultado da análise de Escalonamento Multidimensional Não Métrico (NMDS), baseada na matriz binária de dados, sugere que a composição da comunidade de galhas muda em função do tempo de brotamento das plantas (Stress= 0,325, p= 0,086). Contudo, esta diferença ocorreu apenas entre as plantas com fenologia precoce e tardia (Tab. 3). Tabela 3: Análise de Escalonamento Multidimensional Não Métrico (NMDS), baseado na matriz binária Forma de Brotação Precoce x Intermediária Intermediária x Tardio Tardio x Precoce P value 0.1472 0.9981 **0.0016 R 0.048 0.085 0.085 18 A análise de Componentes Principais (PCA), baseada nas relações entre a abundância de galhas e os dois principais eixos da análise, sugere a formação de quatro grupos de galhas: G1, G2, G3 e G4 (Fig. 5). As galhas do grupo G1 são formadas pelos morfotipos (3, 5, 6, 24) e caracterizam-se por ocorrem principalmente em ramos. As galhas do grupo G2 são formadas pelos morfotipos (10, 15, 16, 17, 22, 23) caracterizam-se por serem galhas típicas de ramos e folhas. O grupo G3 é formado pelos morfotipos (4, 7, 8, 11, 14, 18, 20) e são tipicamente de folhas. As galhas que formam o grupo G4 (1, 2, 9, 12, 13, 19, 21) também são galhas foliares, mas apresentam dimensões menores comparativamente às galhas do grupo G3. 0.8 G3 0.6 4 0.4 14 24 20 18 11 0.0 21 3 5 7 8 0.2 Fator 2 G1 6 12 2 22 19 9 1 -0.2 16 15 17 23 10 -0.4 13 -0.6 G4 -0.8 -0.8 -0.6 G2 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 Fator 1 Figura 4: Análise de Componentes Principais (PCA) mostrando as relações entre os morfotipos de galhas associadas à Copaifera langsdorffii e os dois primeiros eixos da análise. A abundância total de galhas do grupo G1 foi afetada pelo tempo de emissão de folhas (brotamento), pela fenologia e pelo crescimento dos ramos. Além disso, as 19 interações entre estas variáveis também afetaram a abundância de galhas do grupo G1 (Tab. 2). Por exemplo, as galhas do grupo G1 foram mais abundantes em plantas que frutificaram, produziram folhas tardiamente e apresentaram menor comprimento de ramos (Fig. 5). 100 Folha Flor Fruto 100 A B 80 Abundância Total (G1) Abundância Total (G1) 80 Folha Flor Fruto 60 40 20 60 40 20 0 0 0 10 20 30 40 50 Tempo (dias) 60 70 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 Comprimento dos Ramos (cm) Figura 5: Abundância total de galhas do grupo G1 presentes em C. langsdorffii em relação ao tempo de brotamento (A) e ao comprimento dos ramos (B). A abundância de galhas do grupo G2 foi afetada pelo tempo de brotamento das plantas e pela interação tempo de brotamento vs biomassa total (ramos e folíolos) (Tab. 2). Assim, plantas que brotaram tardiamente e apresentaram maior biomassa foram mais atacadas por este grupo de galhas (Fig. 6). 20 60 60 B A 50 Abundância Total (G2) Abundância Total (G2) 50 40 30 20 10 40 30 20 10 0 0 0 10 20 30 40 50 60 70 6 8 10 12 Tempo (dias) 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 Biomassa Total (g) Figura 6: Abundância total de galhas do grupo G2 em função do tempo de brotamento (A) e em função da biomassa total (ramos e folíolos) (B) em Copaifera langsdorffii. A abundância total de galhas do grupo G3 presentes em Copaifera langsdorffii variou em função da interação entre tempo de brotamento vs fenologia (Tab. 2). Assim, plantas que emitiram folhas tardiamente e não frutificaram foram menos atacadas pelas galhas do grupo G3 (Fig. 7). 80 Folha Flor Fruto 70 Abundância Total (G3) 60 50 40 30 20 10 0 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (dias) 21 Figura 7: Abundância total de galhas do grupo G3 em função do tempo de brotamento e a fenologia de Copaifera langsdorffii. A abundância total de galhas do grupo G4 variou em função do tempo de brotamento das plantas e da interação tempo de brotamento vs número de folíolos (Tab. 2). Com isso, plantas que brotaram precocemente e produziram maior número de folíolos apresentaram maior abundância de galhas deste grupo G4 (Fig. 8). 110 A 100 100 90 90 80 80 Abundância Total (G4) Abundância Total (G4) 110 70 60 50 40 30 B 70 60 50 40 30 20 20 10 10 0 0 0 10 20 30 40 50 60 70 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 Tempo (dias) Número de Folíolos Figura 8: Abundancia total de galhas do grupo G4 em função do tempo de brotamento (A) e número de folíolos (B) das plantas de Copaifera langsdorffii. 22 DISCUSSÃO Estudo anterior realizado em uma floresta semidecídua indicou que C. langsdorffii possui fenologia sincrônica (Pedroni et al. 2002). Neste estudo, a emissão de folhas pelas plantas de C. langsdorffii variou por um período de 67 dias, sugerindo uma assincronia no brotamento entre os indivíduos da mesma população. Provavelmente esta discrepância está relacionada com as variações climáticas locais ou às diferenças no método de caracterização da fenologia das plantas em campo. No estudo realizado por Pedroni e colaboradores (2002), a observação da fenologia ocorreu de quinze em quinze dias em uma floresta semidecídua, e, neste estudo a fenologia foi observada a cada dois dias em um fragmento de Cerrado, obtendo assim o tempo exato da emissão de folhas pela espécie. Dentro de uma população, plantas com enfolhamento precoce geralmente acumulam mais recursos e apresentaram maior desenvolvimento vegetativo e reprodutivo (Elzinga et al. 2007). Neste estudo observou-se que plantas precoces apresentaram menor número de folíolos, menor biomassa foliar e maior comprimento de ramos. Assim, plantas precoces apresentaram maior estiolamento dos ramos que é contrabalançado pela menor produção de folíolos, evidenciando um trade-off entre alongamento e produção de folíolos. Portanto nossos resultados não suportam a hipótese que plantas precoces apresentam maior desenvolvimento vegetativo. Este estudo também sugere que plantas precoces ou tardias apresentaram a mesma probabilidade de entrar em fase reprodutiva, produzindo ou não frutos. Além disto, observou-se que o investimento em caracteres vegetativos (crescimento e biomassa de folhas e ramos) não variou entre plantas que investiram diferentemente em reprodução. Resultados similares foram observados por Costa et al. (2014) quando 23 notaram que a biomassa vegetativa das plantas de C. langsdorffii não variou entre anos de alto e baixo investimento reprodutivo. Assim, é provável que as plantas invistam prioritariamente no desenvolvimento vegetativo e em caso de alta disponibilidade de recurso ocorre o desencadeamento da floração e frutificação. Variações fenológicas podem afetar direta ou indiretamente a performance dos herbívoros. Diretamente, o sincronismo entre a produção de órgãos alvo pelas plantas e a emergência dos insetos galhadores é fundamental para o sucesso reprodutivo dos insetos (Fernandes et al. 2000; Yukawa, 2000; Yukawa e Akimoto, 2006). Indiretamente, variações fenológicas afetam a performance dos herbívoros porque plantas precoces ou tardias diferem na qualidade dos tecidos. Por exemplo, plantas precoces apresentam maior crescimento vegetativo porque tem mais tempo para crescer, acumulando maior quantidade de recurso e geralmente são mais atacadas por insetos galhadores (Yukawa e Akimoto, 2006; Coyle et al. 2010). A comunidade de insetos galhadores associadas com C. langsdorffii variou em função da época de brotação das plantas. De fato, a análise de composição de espécies de galhas indicou a formação de dois grupos de galhas que ocorrem em plantas com enfolhamento precoce ou tardio. Além disto, as galhas dos Grupos G1 e G2 apresentaram relação positiva com o tempo de produção de folhas enquanto as galhas dos grupos G3 e G4 (tipicamente de folhas) apresentaram relação negativa com a época de brotamento das plantas. Assim, é plausível considerar que o primeiro eixo da PCA representa o tempo de brotamento das plantas, explicando a maior parte da variação observada da distribuição de galhas em C. langsdorffii. Contudo, não foram observadas relações entre variações fenológicas reprodutivas, a produção de compostos fenólicos pelas plantas e o ataque dos insetos galhadores. 24 A grande riqueza de galhas associadas com C. langsdorffii permite classificar a espécie como super-hospedeira de insetos galhadores (Costa et al. 2010). A distribuição geográfica (Carvalho, 2003), o tamanho e a idade do gênero ou família (Lima et al. 2008; Maia, 2013), e a arquitetura (Araújo et al. 2006; Neves et al. 2010) da planta hospedeira tem sido usada para explicar a existência de espécies super-hospedeiras de galhas. Estudos recentes (e.g. Mopper 2005; Yukawa e Akimoto, 2006; Egan e Ott, 2007) mostraram que variação fenológica intrapopulacional na emissão de folhas pela planta hospedeira também promove a especiação de galhadores. Assim, nós sugerimos que a assincronia na emissão de folhas também deve ser considerada como fator que afeta a organização da comunidade de insetos galhadores em suas plantas. Insetos galhadores apresentam alto grau de especificidade a determinados órgãos das plantas hospedeiras, o que confirma a especificidade de C. langsdorffii (Raman et al. 2005). Segundo Isaias e colaboradores (2008), a interação de C. langsdorffii e seus diferentes galhadores associados, permite verificar como os tecidos da hospedeira respondem tanto a presença quanto a atividade alimentar dos galhadores. Cada galhador utiliza, de maneira peculiar, as amplas potencialidades morfogênicas da hospedeira, resultando em morfotipos distintos, devido às divergências qualitativas nas repostas teciduais (Mani, 1992). Mecanismos de interação mecânica e química pode ser a chave para entender o porquê desta divergência entre os organismos envolvidos (Isaias et al. 2008). As folhas são os órgãos mais atacados por ser um recurso abundante e renovável apresentam a maior incidência de galhas em todas as regiões zoogeográficas do mundo, seguidos de caules e gemas, resultados encontrados em todos os inventários de Minas Gerais (Maia, 2013). A estratégia de reprodução em indivíduos com maior número de 25 folhas diminui os riscos de ataque de inimigos naturais e parasitoides, e apresentam maior disponibilidade de sítios de oviposição (Vrcibradic, 2000). Evidências experimentais indicam que os insetos galhadores manipulam a alocação de recursos da planta hospedeira para sua própria vantagem (Stone & Schönrogge, 2003). É importante que os galhadores sincronizem seu desenvolvimento com o de suas plantas hospedeiras, podendo adaptar-se rapidamente as mudanças na fenologia (Dixon, 2003). Populações de insetos galhadores têm sido propostas como localmente adaptadas a plantas hospedeiras (Zovi et al. 2008). Foi demonstrado por Nitão e colaboradores (1991), que uma ampla variação geográfica da hospedeira leva a formação de demes regionais de insetos fitófagos. Estes insetos estão sujeitos a forte pressão de seleções múltiplas que podem leva-los a adaptar-se localmente (Zovi et al. 2008). Nossos resultados não apoiam a hipótese que plantas com enfolhamento precoce apresentam maior desenvolvimento vegetativos, e, confirmam a hipótese que plantas precoces são mais atacadas por insetos galhadores, pois apresentam mais meristemas ativos quando comparadas as plantas com enfolhamento tardio. 26 REFERÊNCIAS Araújo APA, Fernandes GW & Carneiro, MAA (2003) Efeitos do sexo, do vigor e do tamanho da planta hospedeira sobre a distribuição de insetos indutores de galhas em Baccharis camporum DC (Asteraceae). Revista Brasileira de Entomologia 47: 483– 490. Araújo APA, Paula JD, Carneiro MAA & Schoereder JH (2006) Effects of host plant architecture on colonization by galling insects. 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