Evolução dos hábitos alimentares e a busca por alimentos

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EVOLUÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES E A BUSCA POR ALIMENTOS
SAUDÁVEIS EM CAMPO GRANDE / MS – IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS
E
POTENCIALIDADES
[email protected]
APRESENTACAO
ORAL-Comercialização,
Mercados
e
Preços
LEONARDO
OLIVEIRA
DRESCH;
ELISABETH
SOUZA
ANDRADE.
UFMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.
Evolução dos hábitos alimentares e a busca por alimentos saudáveis em
Campo Grande / MS – identificação de tendências e potencialidades
Grupo de Pesquisa: Comercialização, Mercados e Preços
Resumo
O mercado de alimentos saudáveis cresce ano após ano, à medida que a renda da
população aumenta. Este trabalho tem como objetivo verificar a tendência de mudança nos
hábitos alimentares brasileiros, com foco no consumo de alimentos tidos como saudáveis, e
como esta transformação está ocorrendo na cidade de Campo Grande / MS. O estudo é
exploratório e descritivo, restaurantes e lanchonetes foram visitadas entre os meses de
novembro e dezembro de 2009, além de pesquisas em fontes secundárias. Foram
analisados os hábitos de: alimentação fora do lar, consumo de carne vermelha com gordura
e consumo de frutas e hortaliças. Os resultados obtidos apontam que os negócios mais
estruturados já destinam espaço próprio em seus cardápios para alimentos saudáveis, tais
como franquias de fast food, porém na maioria dos estabelecimentos não tem a visão do
longo prazo, adaptando-se conforme o cliente. A tendência é de diminuição do consumo de
carne vermelha com gordura aparente e aumento de frutas e hortaliças na dieta campograndense.
Palavras-chaves: hábitos alimentares, saúde, segmentação de mercado
Abstract
The health food market is growing year after year, as the people's income increases. This
study aims to determine the trend of change in eating habits in Brazil, focusing on the
consumption of foods perceived as healthy, and how this transformation is occurring in the
city of Campo Grande. The study is exploratory and descriptive, restaurants and snack bars
were visited between the months of November and December 2009, and research in
secondary sources. We analyzed the habits: food outside the home, consumption of red
meat and fat consumption of fruits and vegetables. The results indicate that businesses are
more structured now designed their own space on their menus for healthy foods such as
fast food franchises, but in most establishments do not have the vision of the long term,
adapting as the client. The trend is of decreasing consumption of red meat and fat apparent
increase in fruit and vegetables in the diet campo-grandense.
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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Key Words: eating habits, health
01 - Introdução
O hábitos alimentares de uma população transcendem a necessidade de segurança
alimentar, tendo relevância também nos aspectos culturais. Porém nem sempre a
alimentação tida como melhor e mais cara é a mais saudável. O crescimento da renda das
famílias brasileiras, oriundos da estabilização econômica do país e aumento do produto
interno bruto, aliado modificação da estrutura familiar, com a maior inserção da mulher no
mercado de trabalho, modificou a tendência para o consumo de alimentos, dando
preferência aos alimentos industrializados de fácil preparo e sabor atrativo.
O trabalho tem como objetivo responder a seguinte questão: quais são as tendências
referentes aos hábitos alimentares da população brasileira e como esta realidade está se
desenvolvendo na cidade de Campo Grande? Quais oportunidades mercadológicas estão
surgindo diante deste novo cenário?
No início do século XIX, momento ainda anterior a revolução industrial, Thomaz
Malthus, economista inglês, lançou sociedade uma questão alarmadora quanto à escassez
iminente de alimentos. A lógica de Malthus baseava-se no crescimento geométrico da
população que superaria em um curto período de tempo a produção de alimentos, cuja
expansão se daria aritmeticamente. As variáveis não previstas, como a revolução verde,
que levou ao significativo aumento da produtividade, e a diminuição no ritmo do aumento
populacional convergiram para que o cenário profetizado por Malthus não acontecesse.
A realidade referente à disponibilidade de alimentos constituiu-se de extremos:
fome em alguns lugares do mundo, e regime de abundância em outros. A erradicação da
extrema pobreza e fome foi considerada pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento) como um dos objetivos para o desenvolvimento do milênio, o número
de pessoas subnutridas no mundo é de 963 milhões (FAO, 2008). Por outro lado a
obesidade e o sobrepeso assolam países desenvolvidos, sendo considerado pela OMS
(Organização das Nações Unidas) um fator de risco significativo para uma série de
doenças crônicas, incluindo diabetes, doenças cardiovasculares e câncer.
A atual tendência, em mercados estabilizados e onde a disponibilidade de alimentos
já está assegurada, é a conquista de consumidores através da estratégia de segmentação,
estruturando-se para melhor atender os anseios de grupos específicos. Os consumidores,
cada vez mais exigentes, não se limitam as propriedades organolépticas dos alimentos,
atentam-se também aos teores de colesterol, gorduras, calorias, açúcares, sódio, além dos
valores agregados como embalagem, vitaminas aditivadas e até mesmo a forma como
foram produzidos, antes de realizarem suas opções.
A tendência de alimentos associados à saúde já constituem um ramo significativo e
em ascensão, tanto que empresas multinacionais de alimentação, tais como Mc Donald’s e
Subway, já adotam medidas em seus planejamentos estratégicos com a finalidade de
acompanhar tais mudanças. Também estão em evidência entre os produtos saudáveis os
orgânicos, cultivados e produzidos sem agrotóxicos, que, nos Estados Unidos da América,
cresce 17% ao ano, conforme dados da Apex (Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos). São produtos cujo custo de produção é maior, e o cultivo
dificilmente se da no modelo plantation, fomentando e incentivando os pequenos
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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,
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agricultores, e conseqüentemente agregando o valor percebido pelos consumidores,
tendência que vai de encontro com o fair trade, cujo custo superior é admitido em virtude
de serem socialmente e economicamente corretos.
É evidente a estratégia de segmentação no Brasil, não em proporção e intensidade
dos países desenvolvidos, mas com relativa importância econômica e estratégica, uma vez
que as primeiras empresas que se posicionarem nesse sentido poderão usufruir da
vantagem do pioneirismo dentro mercado.
Alguns autores e instituições já discutiram o assunto no Brasil, tais como Neves,
Chaddad & Lazzarini (1899), Azevedo (2008), Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura e Organização Mundial da Saúde (2008), porém os estudos não
focam as mudanças de hábitos alimentares com as perspectivas e enfoques presentes neste
artigo. Auxiliam neste sentido também pesquisas, tais como POF (Pesquisa de Orçamento
Familiar) realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e Vigitel
(Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico), organizada pelo Ministério da Saúde, entre outras.
O artigo em questão visa verificar a tendência de mudança no Brasil e na cidade de
Campo Grande / MS, referente ao consumo de alimentos, com foco nos alimentos tidos
como saudáveis, e analisar um o mercado potencial. O estudo é de grande valia como
introdução para estudos mais aprofundados que venham a ser gerados na mesma área, bem
como para o poder público, que poderá utilizar a iminência da evolução com a finalidade
de preparar o setor produtivo da região para acompanhá-la.
02 – Metodologia e Pesquisa
A pesquisa tem caráter exploratório e analítico, exploratório como forma de obter
padrões sobre as tendências e hábitos alimentares saudáveis na cidade de Campo Grande /
MS, de acordo com Creswell (2005), o foco do estudo exploratório “é obter insights e
familiaridade com a área e o assunto para investigação mais rigorosa num estágio
posterior. Analítico, pois não se restringirá somente no conhecimento do assunto, e sim na
análise do por que e como os fatos estão acontecendo, e as relações causais entre eles”.
O método de coleta de dados será através fonte primária, através da observação de
organizações de alimentação fora do lar, bem como em fontes secundárias, baseada na
literatura disponível, na utilização de pesquisas realizadas com foco no assunto e pela
análise estatística dos dados disponíveis, tendendo por aplicação de paradigmas
fenomenológicos, na tentativa de entender o comportamento humano, (Collis & Hussey,
2005).
03 – Referencial teórico
3.1 – Hábitos alimentares e percepção de saúde
Segundo Franco (1995), os “hábitos alimentares têm raízes profundas na identidade
social dos indivíduos. São, por isso, os hábitos mais persistentes no processo de
aculturação dos imigrantes”, ainda segundo Franco, “são expressão de sua história, clima,
organização social e crenças religiosas”. Os hábitos alimentares superam a necessidade de
manutenção de segurança alimentar e nutricional, onde as mesmas já estão asseguradas,
tomando outras dimensões.
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No Brasil, segundo Neves, Chaddad & Lazzarini (1899), a estabilização econômica
do plano real e a recuperação da renda dos consumidores provocaram mudanças nos
hábitos de consumo de alimentos e bebidas, gerando efeito “para trás” no Sistema
Agroalimentar (SAG), ou seja, o consumidor é tido como agente definidor do status quo da
oferta de alimentos, o mercado tende a estruturar-se para satisfazer as novas exigências. A
globalização e o neoliberalismo contribuem para que as fronteiras geográficas sejam
derrubadas em prol da preferência do consumidor.
O mercado consumidor brasileiro apresenta sinais de amadurecimento, tendendo a
aproximar-se dos mercados dos países mais desenvolvidos. Algumas transformações
provenientes desse processo podem ser citadas, tais como: aumento do consumo de
alimentos e bebidas fora do domicílio, código de defesa do consumidor, preocupação com
a segurança nos alimentos, aumento do mix de produtos para atender a segmentos,
aumento da renda e estrutura etária da população, entre outras.
Saúde, conforme definição da OMS (Organização Mundial da Saúde) “é um estado
de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”.
Conceito amplo, quando associado ao de valor para o consumidor, que consiste em
“percepção da preferência e avaliação de atributos de produto, atributos de funcionalidade
e as conseqüências de obtenção dos objetivos e propósitos do uso do produto”
(WOODRUFF, 1997 apud GIGLIO, 2005 p. 221), pode-se inferir que na perspectiva do
consumidor a “saúde” que transparece no produto não consiste nas propriedades reais, mas
nos valores inseridos na mente do consumidor.
Dentro dos aspectos citados e foco deste artigo, alimentos saudáveis e suas
potencialidades mercadológicas, poderemos considerar todos aqueles alimentos cujo
consumidor adquire e consome, percebendo-os como benéficos ao seu bem estar, e que
possuem mercado potencial a ser explorado.
O consumo de frutas, legumes e verduras é incentivado pela OMS (Organização
Mundial da Saúde), que recomenda consumo diário de mais de 400 gramas de frutas e
vegetais (excluindo batatas e outros tubérculos amiláceos) visando à proteção contra
doenças não contagiosas, prevenindo a deficiência de micro nutrientes, promovendo a
saúde e contribuindo a segurança alimentar. Também recomenda-se o consumo de frutas e
vegetais com finalidade de reduzir “a densidade energética e aumentando a quantidade de
alimento que pode ser consumida para um determinado nível de calorias” (BARRETO,
2005), de grande valia se associado ao combate de problemas de saúde como a obesidade.
Dentre estes podemos citar os produtos orgânicos, produzidos sem a presença de
agrotóxicos, que já se destacam no mundo. Segundo a IFOM (International Foundation for
Organic Agriculture) o mercado movimentou no mundo 46 bilhões de dólares americanos
em 2007, e no Brasil possui uma área plantada de 1,8 milhões de hectares. Nos Estados
Unidos já existe uma rede de supermercados, a Whole Foods, que é totalmente dedicada a
produtos orgânicos. É importante ressaltar que a certificação de produto orgânico é um
grave problema, muitos pequenos agricultores já utilizam sistema de produção, porém sem
a certificação, tendo esse valor agregado perdido.
Os produtos industrializados diets e lights, bem como aditivados com vitaminas e
substâncias benéficas ao organismo e o mercado de restaurantes e fast-food orientados para
alimentos saudáveis também se constituem para atender a este segmento de consumidores.
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3.2 – Segmentação e posicionamento de mercado
Em 1995 em sua análise sobre a agropecuária e agroindústria brasileira Belik
(1995, p.119), afirmava que a indústria agroalimentar no Brasil passava por profundas
transformações, desencadeada pela reestruturação industrial que passou o Brasil após a
década de 70, ainda que, alguns autores como Green e Rocha dos Santos afirmassem que o
Brasil ainda se encontrava em processo de reestruturação e que o modelo de produção
agrícola ainda se concentrava no modelo “fordista” voltado a exportação. Nesse sentido,
embora o setor agroalimentar tenha se reestruturado, o mercado de consumo interno é
altamente atrativo, uma vez que, se comparado com o mercado de alimentos dos países
europeus, muitos consumidores brasileiros encontram-se com suas opções de compra
“comoditizadas” a espera de produtos que satisfaçam a suas necessidades ainda nem
imaginadas.
Além disso, quando um determinado setor de mercado entra em estagnação,
necessitando de ampliação de mercado consumidor, uma das estratégias das empresas
desse mercado é se segmentar, de acordo com Neves e Zylbersztajn (2000), as empresas se
segmentam para explorar as diversas possibilidades de um mercado, todas as suas
potencialidades e idiossincrasias.
Um dos aspectos desse estudo será a utilização da segmentação como forma de
eliminar a informação incompleta, que consiste na identificação pelas empresas das
necessidades dos consumidores de determinados produtos, e a partir, a definição de suas
estratégias de posicionamento de mercado.
Nesse sentido, Neves e Zylbersztajn (2000), acrescentam que as empresas se
segmentam por três motivos: necessidade de ampliação de mercado e de consumo,
segmentar como disputa de preferência de consumidores frente à concorrência e eliminar
os problemas de informação incompleta que pode permitir uma maior apropriação de renda
dos consumidores.
Conforme Pignatari (2003), a informação está ligada a idéia de seleção e escolha,
sendo que, só pode haver informação onde há dúvida, e conseqüentemente a dúvida
implica a existência de alternativas, dessa forma, as empresas se especializam nas formas
de coleta de informações sobre o cliente, suas preferências e critérios de escolha de
produtos e serviços.
De acordo com Ries e Trout (2002, p.2) “posicionamento não é aquilo que você faz
com um produto. Posicionamento é aquilo que você provoca na mente do cliente
potencial”. Nesse sentido, em posse das informações do cliente, as empresas se concentram
no desafio de tornar as qualidades desejadas por eles perceptíveis.
Assim, Richers (2000, p.103) afirma que posicionamento é a operacionalização da
segmentação, sendo que, ele geralmente é conhecido como um “lugar” no mercado em que
um produto é colocado com o mínimo de interferência da concorrência.
Quando uma empresa define formas de sensibilizar o consumidor sobre os
benefícios de seus produtos está posicionando seus produtos na mente dos consumidores,
quando as empresas traçam estratégias de penetração em meandros de mercados, ela está
segmentando. É comum a confusão entre os dois termos, sendo que, a segmentação é a
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estratégia que sustenta a operacionalização do posicionamento, e ambos estão respaldados
nas informações sobre as necessidades do cliente.
05 – Mudança dos padrões de consumo de alimentos no Brasil em Campo Grande /
MS
Segundo Barreto (2005), a disponibilidade de alimentos no Brasil vem aumentando
nas últimas décadas. Em 1965 era de 2.330 kcal por pessoa/dia, já em 1997 aumentou para
2.960 kcal. O aumento da disponibilidade foi positivo em termos de garantia energética,
porém tal evolução no sentido da composição da alimentação não foi. No mesmo período
houve decréscimo na disponibilidade de cereais (de 36% para 31%) e leguminosas (de
12% para 6%), e aumento na disponibilidade de açúcar, carnes, óleos vegetais e leites e
ovos. Essa tendência fortalece o problema da obesidade e problemas de saúde advindos de
uma refeição desbalanceada.
A cidade de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, possui população de
724.524 habitantes (IBGE, 2007). A área territorial de 8.096.051 km2, representando
2,27% do estado. A região é desenvolvida, conforme PNUD (2000), o IDH-M (Índice de
Desenvolvimento Humano) é de 0,814. Suas principais atividades econômicas são
comércio e serviço.
A pesquisa Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas
por inquérito telefônico), que teve abrangência de 26 capitais e a capital do Distrito
Federal, com amostra 54.353 pessoas no Brasil, e 2.012 pessoas em Campo Grande, aliada
a pesquisa de fontes secundárias diversas, são utilizadas neste artigo como base para
investigação de mudanças nos padrões de consumo relacionados à saúde no Brasil e na
cidade de Campo Grande / MS. Dentre essas mudanças podemos citar: redução no
consumo de carne com gordura, aumento no consumo de frutas e hortaliças e crescimento
do mercado produtos orgânicos.
5.1 – Alimentação fora do lar
O setor de alimentação fora do lar, ou fora do domicílio, registra atualmente cerca
de um milhão de empresas entre bares, restaurantes, padarias e lanchonetes, sendo
responsável por 2,4% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Em 2008, o faturamento
total foi de cerca de R$ 50 bilhões, com crescimento de 5% em relação ao ano anterior. O
brasileiro destina em média 26% do orçamento destinado com alimentação fora do lar,
sendo esta uma das poucas atividades econômicas presentes em todos os municípios e
vilarejos do País. Dentro de 20 anos, este percentual deve superar os 40%. Nos Estados
Unidos, o número chega a 47% e, na Europa, mais de 45%. (ABRASEL, 2010).
A alimentação fora do lar pode se dar em estabelecimentos dos tipos: a la carte,
auto-serviço e alimentação rápida, sendo: a la carte, possui cardápio pré-definido de
alimentos que são produzidos conforme pedido do cliente; auto-serviço, cliente escolhem e
servem-se conforme sua vontade; e, por último, alimentação rápida, caracterizam-se por
cardápios prontos ou de fácil preparação para atender rapidamente a necessidade do
cliente.
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Em Campo Grande / MS existem as três modalidades de restaurantes citadas que
atendem com diferentes produtos e práticas de preços, visando agradar os mais diversos
grupos. Na área mais nobre e agitada da cidade, no período noturno, predominam os
negócios de alimentação rápida e a la carte, visando o público jovem de menor renda e os
de maior poder aquisitivo respectivamente. Já no período diurno prevalece o auto-serviço,
e em menor escala a alimentação rápida e a la carte.
O negócios de alimentação a la carte, em sua maioria, oferecem pratos grelhados e
assados, sem entretanto, apelar para a questão da saudabilidade dos alimentos, ocorrendo o
mesmo nos modelos auto-serviço e alimentação rápida, sendo a variedade o apelo mais
valorizado neste sentido. Spanhol et al (2008) destaca a prática possível de ser implantada
em restaurantes, tal qual é obrigatório e regulamentado em lei para produtos
industrializados, seria a divulgação dos valores nutricionais dos pratos comercializados.
Esta prática, no entanto, apesar de ser bem vista pelos clientes, como forma de respeitar e
aumentar a transparência incorre em custos provenientes da contratação de nutricionistas,
além das alterações de cardápios e material informativo. A adoção ou não de tal depende
do nível de exigência do público-alvo e do valor por eles agregado, ou seja, quanto maior a
prática de preços e a renda média dos clientes, maiores seriam os benefícios deste possível
diferencial. Com exceção de franquias de fast-food, a pesquisa não observou a existência
de negócios de alimentação fora do lar que adotem esta prática na cidade.
5.2 – Consumo de carne com gordura
O consumo de carne com excesso de gordura, que inclui carne vermelha gordurosa
ou frango com pele, foi investigado pela Vigitel, sendo constado em 2006, que 51% dos
entrevistados possuíam hábito de consumo, com diferenças significativas entre homens e
mulheres, que segundo a pesquisa totalizam 62,5% e 40,6% respectivamente. Em 2008, foi
verificada diminuição para 48,8% dos entrevistados com o hábito do consumo de carne
com gordura sendo verificado em 59,3% dos homens e 39,2% das mulheres.
Nos dados sobre o consumo de carne com excesso de gordura, tendência de
consumo maior em pessoas mais jovens e com menor grau de escolaridade, que decresce à
medida que existe o aumento da idade dos pesquisados e aumento do nível de escolaridade,
conforme quadro referente à tendência nacional abaixo.
Tabela 1 – Percentual de indivíduos adultos (>18) que costumam consumir carnes
com excesso de gordura, segundo sexo, idade e escolaridade.
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Fonte: Vigitel 2008
Baseado em dados históricos referentes ao consumo de carne de frango, bovina e
suína, o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) projeta um
crescimento médio anual de 2,57% para carne de frango, 2,22% para carne bovina e 1,79%
para carne suína.
5.3 – Consumo de frutas e hortaliças
A pesquisa Vigitel (2006) constatou a seguinte realidade na cidade de Campo
Grande (MS): 28,9% da amostra consumiam frutas e hortaliças regularmente (cinco ou
mais vezes na semana), tendência essa que muda entre os sexos masculinos e femininos,
com 20,8% e 36,4% respectivamente. Na pesquisa Vigitel (2008) foi constado aumento no
consumo de frutas e hortaliças, que chegou a 32,1% (3,2% superior ao encontrado na
amostra anterior), sendo 22,9% para homens e 40,3% mulheres.
A tendência nacional no consumo freqüente de frutas e hortaliças foi verificada de
forma crescente em relação ao aumento da idade e nível de escolaridade, esta reincidente
nos anos de 2006 e 2008. O perfil de tendência máxima constatada foi em mulheres, com
65 anos ou mais e com 12 ou mais anos de escolaridade.
Tabela 2 – Percentual de indivíduos adultos (>18) que consomem frutas e
hortaliças cinco ou mais dias na semana, segundo sexo, idade e escolaridade.
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Fonte: Vigitel 2008
5.3.1 – Produtos orgânicos
Os produtos orgânicos atendem a um segmento de consumidores de nível mais alto
de renda, segundo reportagem da Folha (2009), apresentam custo de 15% a 100%
superiores dos produtos convencionais, e segundo dados do Grupo Pão de Açucar e WalMart, obtiveram taxas de crescimento correspondente a 40% e 20%, respectivamente, no
primeiro trimestre de 2009, em relação ao mesmo período de 2008. Os principais produtos
orgânicos comercializados são os hortifrútis, seguidos de mercearia e carne.
O mercado de produtos orgânicos, apesar de ainda discreto no Brasil, apresenta
altas taxas de crescimento, acima das estabelecidas em mercados já estabilizados, atraindo
atenção não só para o mercado interno como o mundial. Segundo a IFOAM (2008), os
principais mercados consumidores de produtos orgânicos são Estados Unidos da América e
Europa.
O governo brasileiro já atentou-se as oportunidades do mercado orgânico,
assinando no dia 28 de maio de 2009 três instruções normativas que estabelecem “normas
técnicas para os produtos processados, a certificação para o extrativismo sustentável
orgânico e os mecanismos de controle para esses alimentos”. (AGÊNCIA BRASIL, 2009).
Cumprindo os requisitos o produtor poderá ir ao mercado com o produto certificado.
Segundo dados do Pró-orgânico, programa do MAPA, 91% de todo pasto cultivado
de forma orgânica no Brasil está na região centro-oeste e 39% da área total da agropecuária
orgânica certificada.
06 – Identificação de potencialidades para o Agronegócio
Dados extraídos da POF (2003) indicam que o brasileiro consome em média 132
gramas diárias de frutas e vegetais, contra 400 gramas recomendados pela OMS. Em
valores anuais no Brasil se consome 48,18 quilos, contra 146 quilos recomendados,
consumo aquém em aproximadamente 66,8%.
Tabela 3 – Aumento do mercado de Frutas e Hortaliças com base na tendência de
aumento de consumo em Campo Grande / MS
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1 – População adula (≥19) em Campo Grande / MS, segundo Censo (2000), constituiu-se em
aproximadamente 61%. O valor foi extrapolado para a população do Censo (2007).
2 – Conforme dados baseados na POF (2003), consumo médio de frutas e vegetais é de 132 gramas por dia.
Segundo parâmetros referentes à Vigitel (2006 e 2008) o mercado de frutas e
hortaliças, relacionados com dados da POF (2003) e IBGE, estimariam um crescimento de
681,4 toneladas ao ano. Não foram considerados fatores tais como: variação populacional
(de difícil mensuração em virtude de divergência entre as estimativas e o censo feito pelo
IBGE), tendência de aumento da renda per capta, envelhecimento da população e acesso a
educação. O aumento relativo representa 0,61% do total de 110.505 toneladas de
hortigranjeiros comercializados pela CEASA/MS em 2007.
O aumento é discreto, porém como tendência se faz presente. O aspecto de
aproximar o padrão de consumo brasileiro dos recomendados pela OMS é mais promissor
em um curto período de tempo, podendo elevar a demanda natural do mercado em até três
vezes.
Segundo a Hortibrasil, as hortaliças, e em menor grau as frutas, estão prontas para
consumo no momento da colheita, e são perecíveis por possuírem taxa metabólica intensa,
perdendo umidade e frescor em pouco tempo, por esse motivo, geralmente o custo com
conservação, armazenamento e transporte é muitas vezes superior ao custo de produção em
si, sendo a proximidade do mercado consumidor uma vantagem competitiva significante.
Na cidade de Campo Grande, dados da CEASA/MS (Centrais de Abastecimento),
indicam que do total de produtos comercializados pela mesma, apenas 18,09% são
produzidas dentro do estado, sendo 81,91% são importados de outros estados, os principais
são: São Paulo, Paraná e Santa Catarina (CEASA/MS, 2007). O mercado “informal”,
estruturado na venda em feiras e estabelecimentos pequenos, alimentados principalmente
por pequenas propriedades rurais consistem em uma lacuna a ser estudada
Referente aos produtos orgânicos observa-se na cidade de Campo Grande / MS o
aumento de estabelecimentos de auto-serviço com espaço dedicado a produtos orgânicos,
exemplos são Extra, do Grupo Pão de Açúcar e Wal-Mart. Não existem números
divulgados sobre os valores movimentos especificamente em Campo Grande, porém a
proliferação por si só já é indicador do aumento do mercado.
No ramo de lanchonetes e restaurantes, o Mc Donald´s e Subway, empresas cujas
estratégias incluem alimentos “saudáveis”, possuem na cidade 3 e 2 estabelecimentos
respectivamente. O Mc Donald´s movimenta aproximadamente 40% de todo mercado de
serviço rápido de alimentação do país (MC DONALDs, 2008), e inaugurou o primeiro
restaurante ecológico da América Latina, em Bertioga, Literal de São Paulo, conforme
critérios construtivos da US Green Building Council. A mensagem de sustentabilidade
ambiental funde-se a patrocínios a esportes e lançamento de novos produtos tais como
saladas e sanduíches com pães integrais, explorando as tendências de “consciência
ambiental” e “alimentos saudáveis”. O Subway também está consolidado na região com a
oferta de sanduíches personalizáveis. Não existem experiências de restaurantes que
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utilizem o apelo de “alimentos saudáveis”, sendo os mesmos geralmente oferecidos ao
público juntamente alimentos diversos.
Práticas positivas em relação à comercialização de carne vermelha sem gordura ão
mais complicadas, entretanto existem. Um exemplo são as bandejas de carne
comercializadas em cujas percentuais máximos de gordura em relação ao peso total são
impressos, tal prática poderia ser adotada também nas embalagens a vácuo.
Todas práticas sugeridas tem potencial estratégico, como precursor de um
diferencial de mercado e acompanhando uma tendência futura, que, porém devem ter a
relação custo / beneficio mensurada de acordo com o perfil do mercado consumidor
preocupado com saúde, ou seja, potencial máximo em mulheres, com mais de 65 anos, e
12 anos ou mais de escolaridade.
Conclusão
A tendência de elevação da renda da população brasileira, atrelado ao aumento da
faixa etária, assemelhando-se aos padrões existentes em países desenvolvidos, é inegável, e
juntamente com essa tendência a evolução dos hábitos alimentares, que procuram tornar-se
mais saudáveis.
Existe um mercado em potencial na região para produção de frutas e hortaliças,
uma vez que a maior parte do comercializado pela CEASA/MS é proveniente de outros
estados, e os custos agregados com transporte, armazenamento e impostos são fatores
favoráveis aos produtores de Mato Grosso do Sul, se estes estruturarem-se para a
competição.
Referente a produtos orgânicos, na região centro-oeste, já predomina a pecuária
extensiva e pouco tecnificada, além da produção de pequenos agricultores sem a utilização
de insumos e defensivos agrícolas, fato esse que demonstra que só falta a certificação para
agregar valor aos produtos do estado. Os movimentos sindicais no sentido de divulgar essa
modalidade, bem como a vontade política, podem tornar o estado auto-suficiente, com
possibilidades futuras para abastecimento do mercado interno e até mesmo participar das
exportações.
O ramo de alimentação fora do lar também poderá adotar estratégias apelando para
a alimentação saudável, preferencialmente em público alvo de maior idade e escolaridade,
sendo por este a idéia melhor aceita.
Para trabalhos futuros sugere-se a estimativa dos valores movimentados na região
por este mercado e a aferição do impacto do investimento com publicidade e adaptação das
práticas de produção e comercialização, em relação ao retorno financeiro através do valor
agregado ao produto. As dificuldades encontradas neste trabalho consistiram na ausência
de estudos anteriores com esse enfoque, bem como inexistência de estatísticas para o setor.
Referências
Agência Brasil - Governo regulamenta orgânicos – Disponível
<http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/05/28/materia.2009-0528.5716395120/view> - Acesso em 10 de julho de 2009
em:
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