AÇÕES EM EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL (EAN): UMA PROPOSTA CRÍTICA FRENTE DE VALORIZAÇÃO DA CULTURA ALIMENTAR Autor (1) Antonio Carlos Barbosa da Silva; Co-autor (1); Vanessa Érica Rodrigues de Oliveira. Co-autor (2); Marina Coimbra Casadei Barbosa da Silva Universidade Estadual Paulista -UNESP-Assis. E-mail: [email protected]; Universidade Estadual Paulista - UNESP- Assis.. E-mail: [email protected]; Universidade Estadual Paulista – 407514/2012-0 UNESP - Marília. E-mail: [email protected] Financiamento: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome/CNPq/Sesan – Processo 407514/2012-0 Resumo: A produção e o consumo de alimentos industrializados tornaram-se marcas que definem nossa contemporaneidade. Apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores de frutas e hortaliças do mundo os brasileiros não possuem o hábito de comer vegetais diariamente e consumem cada vez mais alimentos produzidos industrialmente (ultra processados). A população infanto-juvenil é a que mais sofre com esse tipo de consumo e tende a perder o contato com alimentos in natura e com pratos da culinária brasileira A alimentação deve ser uma prática social resultante da integração das dimensões biológica, sociocultural, ambiental e econômica. na efetivação de uma Educação Alimentar e Nutricional. O trabalho objetivou resgatar elementos históricos, culturais que permeiam a alimentação do brasileiro, além aprofundar o debate em torno dos hábitos alimentares contemporâneos e suas implicações, tais como o hiperconsumismo de junk food e as doenças degenerativas advindas de uma alimentação deficitária. Trabalhamos com três grupos abertos de alunos entre 9 a 13 anos de uma escola pública. A educação problematizadora, ativa, não formal serviu para subsidiar oficinas de rodas de conversa, atividades lúdicas, oficinas culinárias, apresentações e discussão de animações que abordam a alimentação. O trabalho mostra que a EAN é um dos caminhos existentes para a promoção da saúde e para a reflexão sobre o comportamento alimentar. É possível desenvolver junto aos estudantes uma resistência frente a imposições alimentícias contemporâneas, ao valorizar concretamente e simbolicamente a cultura alimentar de seu país e a consolidação de suas práticas. Palavras-chave: educação, cultura alimentar, indústria alimentícia, infato-juvenil. INTRODUÇÃO A partir da década de 1990, pesquisas científicas apontaram que aumento de várias doenças crônicas degenerativas estaria relacionado aos hábitos alimentares da população, isso abria caminhos para a instalação de políticas públicas que postulassem a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) como medida necessária para a transformação da saúde populacional. Para Boog (1997) a promoção da EAN deve valorizar e resgatar elementos da cultura alimentar, considerando a segurança alimentar, respeitando e modificando crenças e atitudes em relação à alimentação. Dessa forma, os projetos nessa área devem considerar, além do aspecto do consumo biológico-saúde, o aspecto simbólico-cultural de alimentos. Esses processos são fundamentais para a promoção da alimentação adequada, saudável e consciente. A alimentação representa a manifestação da formação social e cultural de um povo, a chave simbólica dos costumes, um código subjetivo que registra, forja identidades, que denuncia e evidencia um modo de pensar o mundo. As observações sobre os diversos elementos simbólicos que cerceiam os alimentos facilitam a interpretação de conceitos construídos por diferentes sujeitos sociais, justificando seus hábitos alimentares e suas articulações concretas do cotidiano, enquanto estratégias de vida. Quando a EAN é postulada meramente como uma consulta parcial do tratamento, a-histórico e atemporal, independente de grupos sociais, desconsiderando as questões mencionadas, ela se torna um saber técnico, alienado, que não valoriza o sujeito e sua cultura alimentar e não o considera como capaz de transformar sua história. Para Valente (2002), ao considerarmos os processos históricos e sociais que estão por trás da nutrição e o possível fortalecimento dos movimentos populares na reivindicação de uma alimentação mais crítica e saudável, poderíamos estar criando um tipo de ação mais eficaz sobre a realidade da alimentação brasileira. Conforme Garcia (2003), em decorrência de novas demandas geradas pelo modo de vida urbano, ao comensal seria imposta a necessidade de reequacionar sua vida segundo as condições das quais dispõe, como tempo, recursos financeiros, locais disponíveis para se alimentar, local e periodicidade das compras, entre outras. As soluções são capitalizadas pela indústria e comércio, apresentando alternativas adaptadas às condições urbanas e delineando novas modalidades no modo de comer, o que certamente contribuiu para mudanças no consumo alimentar das pessoas. Produto deste modus vivendi urbano, a comensalidade contemporânea se caracterizou pela escassez de tempo para o preparo e consumo de alimentos. A globalização da economia e a industrialização exercem um papel importante na alimentação humana, devido à gama de produtos e serviços distribuídos em escala mundial e ao suporte publicitário envolvido. Uma tendência crescente para o consumo de alimentos de maior concentração energética é promovida pela indústria através da produção abundante de alimentos saborosos, de alta densidade energética e de custo relativamente baixo. A difusão da ciência nos meios de comunicação e o uso do discurso científico na publicidade de alimentos também exercem seu papel no cenário das mudanças alimentares. De acordo com Ribeiro (2000), o vazio de nossa origem, relatada como país subalterno, dependente, colonizado, influi na definição de nossa identidade. Estamos sempre buscando um padrão novo. Freire Costa (2000) destaca a rapidez e a facilidade com que o brasileiro absorve itens das culturas americana e europeia por serem consideradas modos de vida “superiores” pelos que se julgam “inferiores”. Para Dória (2002) a nossa culinária, composta pelas culturas indígenas e pelas heranças negra e ocidental ibérica, são por analogia, três línguas diferentes, três sistemas culinários irredutíveis uns aos outros e ainda desconhecemos de fato nosso repertório culinário dos últimos 500 anos. Indo mais além de sua dimensão biológica, a alimentação humana como um ato social e cultural faz com que sejam produzidos diversos sistemas alimentares. Na constituição desses sistemas, intervêm fatores de ordem ecológica, histórica, cultural, social, psicológica e econômica que implicam representações e imaginários sociais envolvendo escolhas e classificações. Portanto, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), ao apontar a EAN como estratégia para maior consciência sobre nossa cultura alimentar e consequentemente melhorar a saúde nutricional dos brasileiros, também atribui aos educadores de diversos setores a responsabilidade em orientar seus alunos sobre o ato de alimentar-se a partir da sua cultura local e regional. A EAN é um dos caminhos existentes para a promoção da saúde, que leva a população a refletir sobre o seu comportamento alimentar a partir da conscientização sobre a importância da alimentação para a saúde, permitindo a transformação e o resgate dos hábitos alimentares tradicionais, além de introduzir vários pontos discutidos do meio ambiente, como o acesso à água, o uso de agrotóxicos, transgênicos, aditivos e a produção de resíduos, fazem parte do contexto da alimentação saudável devendo, portanto, ser integrados ao seu conteúdo. Para Boog (1997), a EAN, ao contrário das chamadas antigas Orientações Nutricionais, dá ênfase ao processo de modificar e melhorar o hábito alimentar a médio e longo prazo; preocupa-se com as representações sobre o comer e a comida, com os conhecimentos, as atitudes e valores da alimentação para a saúde, buscando sempre a autonomia do sujeito. Na sociedade contemporânea o consumo excessivo de alimentos disfuncionais, calóricos e supérfluos culmina no sobrepeso e na obesidade de parte da população. A alimentação excessiva e disfuncional tem contribuindo para que as doenças crônicas degenerativas seja uma das principais causas de morbidade e mortalidade no país, em todas as classes sociais. Educar no âmbito da alimentação e nutrição é a construção conjunta de processos permanentes e contínuos para aprimorar a produção, a distribuição, a seleção e o consumo de alimentos, de forma adequada, saudável e segura. A valorização de hábitos e tradições culturais de cada indivíduo e do seu grupo social de convívio, além da conscientização cidadã sobre o desperdício de alimentos e sua utilização integral devem estar presentes em propostas educativas em alimentação e nutrição. Quem trabalha em EAN, além de associá-la a uma Educação para a Saúde, deve focar suas questões educativas de forma crítica e transformadora. Tal como Paulo Freire (1987) nos alertou: problematizar os elementos que cerceiam os processos educativos é um caminho para a formação da consciência crítica dos educandos, em oposição à educação tradicional, bancária, aprendida nas escolas, na qual os educadores estabelecem com os educandos uma relação de narração de conteúdo. Essa é à base da pedagogia libertadora. A educação libertadora possibilita ao sujeito encontrar condições para descobrirse e conquistar-se em sua própria história e capaz de sozinho controlar seus problemas, no caso do EAN, relacionados à alimentação, após o diálogo com os educadores. A educação problematizadora implica em um constante esclarecimento da realidade, resultando na inserção crítica e reflexiva na realidade dos sujeitos e na negação do homem abstrato, isolado, desligado do mundo. É um ato dialógico que possibilita a superação da contradição educador-educandos, no qual ambos educam e são educados, se tornando sujeitos do processo educativo. Desse modo, o educador refaz seu ato cognoscente, na cognoscitividade dos educandos, que são agora investigadores críticos em diálogo com o educador e não mais recipientes dóceis de depósitos de informações. Dessa forma, nosso trabalho teve como meta, a partir de uma ação educativa crítica, subsidiar grupos de alunos de uma comunidade escolar pública da cidade de Assis-SP na implementação de ações em educação alimentar e nutricional. Os objetivos gerais que nortearam nossas ações foram: desenvolver ações que resgatem elementos culturais que configuram a comida brasileira; e sensibilizar estudantes do ensino fundamental e médio, a escola sobre a importância da alimentação saudável e nutricionalmente adequada, além de pontuar criticamente as implicações de uma alimentação baseada em alimentos ultra processados, tais como o hiperconsumismo de junk food , a obesidade, sobrepeso, diabetes tipo II e as cardiopatias – doenças diretamente ligadas a uma alimentação deficitária. METODOLOGIA Nosso trabalho foi estruturado metodologicamente de forma a construir espaços reflexivos na escola e que levassem os alunos a se fortalecerem criticamente frente à EAN. Utilizamos as chamadas intervenções grupais em psicologia (discussões com grupos de alunos sendo coordenados pelos participantes da equipe) com respaldos teóricos (da psicologia institucional e da pedagogia libertadora) e práticos (desenvolvemos oficinas psicossociais que atendiam às demandas em torno da EAN). Atendemos semanalmente, durante o ano letivo de 2014, três grupos abertos com cerca de 10 alunos entre 9 a 13 anos de uma escola pública de Assis-S.P. A fim de tornar nossa ação mais atraente aos alunos construímos oficinas que focavam atividades lúdicas, rodas de conversa, oficinas culinárias, apresentações e discussão de animações que abordam a temática alimentação. RESULTADOS E DISCUSSÕES A equipe que desenvolveu as atividades contava com o coordenador do projeto (professor de Psicologia), uma pesquisadora em Educação, três estagiários de Psicologia, um estagiário de Nutrição, um Culinarista. Nas atividades apresentamos aos grupos alguns alimentos industrializados e debatemos sobre a quantidade de açúcar e ingredientes químicos contidos neles e o que eles podem causar ao organismo das pessoas. Logo em seguida, com a intenção de apontar um contraponto ao consumo desses alimentos, mostramos que muitas guloseimas podem ser confeccionadas em casa, com menos ingredientes prejudiciais à saúde. Assim, construímos com os grupos um saber culinário que rompia com a ideia de que, necessariamente, biscoitos e doces só são produzidos em fábricas. A parceria com profissionais de culinária e nutrição que fazem parte do projeto foi essencial, pois assim, em muitas atividades pudemos utilizar a cozinha da escola com segurança necessária. Intitulamos essas atividades de oficinas de culinária. Ainda sobre a composição dos alimentos, realizamos outra oficina cujo objetivo foi desenvolver reforçar o diálogo em torno dos ingredientes que estão presentes em diversos alimentos industrializados, tais como o açúcar, sódio, gorduras, corantes e conservantes. Nessa oficina apresentamos partes de dois vídeos (Além do Peso e Fed Up) que mostram a quantidade oculta de açúcar em alguns alimentos (refrigerantes, doce, salgados etc) e abordamos sobre a farsa dos sucos da caixinha que não são nada naturais. Depois fizemos um suco de morango natural com açúcar mascado, com açúcar refinado e sem açúcar; e o suco de morango em “pó” já açucarado. A experimentação dos sucos e os vídeos ampliaram o universo dos estudantes quanto às quantidades dos ingredientes nocivos nos alimentos, o que levou a uma maior reflexão sobre a quantidade de Em outra atividade apresentamos um episódio do seriado mundialmente conhecido Simpsons, no qual o personagem Bart fica dependente de açúcar. O desenho é crítico em mostra os efeitos negativos do excesso de açúcar no organismo. Logo após, foi feito uma discussão do vídeo e dos rótulos de biscoitos recheados, doces achocolatados, salgadinhos em pacotes, refrigerantes e gelatina. Nossa discussão centrou em apontar como podemos perder o controle ao consumir excessivamente alguns ingredientes e como esses são ocultados nos alimentos industrializados. A indústria alimentar tem como estratégia mascarar, através do rótulo, ingredientes que quando em excesso são notadamente prejudiciais à saúde. Assim, mascaram o excesso de açúcar no alimento sob o nome fantasia de maltodextrina, frutose, dextrose, etc. Em outra atividade resgatamos o conhecimento a respeito das frutas, verduras e legumes presentes em nossa região. Foram apresentadas réplicas em tamanho natural de legumes, verduras e frutas aos estudantes, cabendo a esses descobrir o nome do vegetal e sua função na alimentação humana. Foram também apresentados a eles frutas in natura para degustação, de forma ampliar o saber em relação totalidade da fruta. Através do diálogo os estudantes aprenderam que a maior parte das frutas que consumimos tem origem em outros países. Outro problema que apresentamos foi em relação a monocultura que inibe a produção de uma maior diversidade frutífera em nosso país. Conhecer novos sabores e texturas de novas comidas deram aos estudantes uma sensação prazerosa e as instigaram a buscar novas experimentações de alimentos in natura. Aqui vale a pena apontar que em uma sociedade célere, tecnológica, o tempo para comprar, encontrar alimentos in natura torna-se uma tarefa árdua. 90% dos alimentos de um supermercado são chamados de junk food (alimentos ultraprocessados)1 que apresentam excesso de ingredientes disfuncionais tais como o açúcar, o sal e a gordura e aditivos químicos, tais, como conservantes e corantes artificiais. Incentivamos também os estudantes a participarem de jogos que ampliavam o saber em torno da alimentação. Em um jogo de Advinha o objetivo foi descobrir os alimentos que fazem parte nossa culinária histórica e no que eles podem ser transformados. Destaque aqui para o resgate da mandioca e seus subprodutos. Uma planta originalmente brasileira que nos acompanha ao longo da história e que a cada dia perde lugar devido a sua substituição na mesa do brasileiro pelos produtos farináceos a base de trigo ou ao ultra processamento que indústria alimentar de junk food faz da mandioca, nos afastando de sua manipulação caseira (vide os biscoitos de polvilho, doces, massa de tapioca e pão de queijo que são vendidos prontos e não nos passa pela cabeça produzi-los em casa). Para ilustrar nossa atividade, fizemos junto com os estudantes uma receita de pão de queijo e polvilho. Dessa forma, fazendo uma receita de pão de queijo e polvilho, podemos falar sobre a importância histórica e cultural da mandioca e do queijo mineiro na alimentação dos brasileiros e como temos cultura suficiente para elaborar uma comida em vez de compra-la pronta em um supermercado. Uma das oficinas culinárias que abordou sobre a cultura dos tropeiros fora a oficina do feijão tropeiro, a qual tinha por objetivo proporcionar o resgate da história dos tropeiros e bandeirantes através de suas receitas e alimentação, tipicamente 1 A junk food pode ser traduzida comida e bebida disfuncional, geralmente acrescidas de excesso de sal, açúcar e gordura, que rapidamente torna-se viciante e prazerosa. Moss (2014). brasileiras. A receita foi preparada e servida aos estudantes, enquanto foi feita uma discussão e resgate histórico do alimento. Incentivamos também os alunos a construírem um espaço EAN dentro do pátio da escola, cuja finalidade era de criar um espaço na escola para que a população da instituição comece a interagir a fim de resgatar a cultura como forma de resistência do consumismo. Para isso os alunos fizeram a montagem do estande: cavalete da tela, mesa com condimentos tipicamente brasileiros, tintas, materiais para desenhar etc. Foi oferecido aos participantes da oficina doces típicos caseiros da culinária nacional, como de doce de batata, rapadura, pé de moleque, paçoca, que servem para atiçarmos na memória a história de nossa culinária e ao mesmo tempo mostrar que o Brasil tem uma rica história na doçaria caseira. Cascudo (1983). A partir das oficinas, pudemos perceber a carência de informação que os alunos e toda equipe da educação têm sobre alimentação adequada. Muitos alunos desconhecem o nome de frutas, verduras e legumes e os problemas relacionados ao excesso de açúcar, gordura e sal na alimentação. CONCLUSÃO A presente proposta contribuiu para a efetivação de uma Educação Alimentar e Nutricional que resgatou e aprofundou os elementos históricos, culturais e sociais que permeiam a nutrição e alimentação do brasileiro. Além disso, o debate em torno dos hábitos alimentares adquirido na contemporaneidade serviu para oferecer aos estudantes elementos críticos que as capacitaram a lidar com a cultura de massa e a indústria alimentícia e marqueteira e suas implicações, como o hiperconsumismo e uma alimentação à base de junk food. Apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores de frutas e hortaliças os brasileiros não possuem o hábito de comer vegetais diariamente e a cada dia mais cede a uma alimentação baseada em alimentos ultra processados. A produção e o consumo de alimentos industrializados tornaram-se marcas que definem nossa contemporaneidade. A construção histórica e cultural em torno de nossa alimentação está sendo aniquilada pela indústria alimentar que praticamente coloca o alimento pronto ou semi pronto em nossos lares. Cerca de 90% de todos os alimentos de um supermercado são ultra processados e elaborados de forma que ofereça o mínimo de esforço para digeri-lo e o máximo de sabor ao degustá-lo. A indústria consegue tal feito ao misturar no alimento industrializados proporções generosas e palatáveis de ingredientes que, reconhecidamente, são extremamente prazerosos e que iniciam o processo de digestão já na boca. Assim, os salgadinhos em pacote, as bolachas recheadas, as proteínas ultra processadas, os pães entre outros são misturas de sal, açúcar e gordura (ingredientes reconhecidamente viciantes) que derretem na boca. Nesse cenário, a camada populacional infanto-juvenil é a que mais sofre com essa uniformização dos novos hábitos alimentares. Por ser uma camada que está mais propensa a acreditar naquilo que é veiculado pelos meios de comunicação e com paladar facilmente adocicado cede rapidamente aos caprichos da indústria alimentícia e seu agressivo marketing. Isso leva os sujeitos a perderem o contato com alimentos in natura e com a cultura tradicional alimentar brasileira. Atualmente, é comum a população infato-juvenil apresentar doenças que até então eram desenvolvidas somente em adultos, tais como, a obesidade, sobrepeso, diabetes tipo II e as cardiopatias – doenças diretamente ligadas a uma alimentação deficitária. Dessa forma, a adoção de uma educação alimentar e nutricional, parece ser uma medida necessária para enfrentar uma sociedade que é movida pelas determinações inerentes a uma postura consumista da vida neoliberal. A Educação Alimentar e Nutricional contribui de forma efetiva para o sujeito melhorar sua saúde e identificar possíveis alimentos que podem ser prejudiciais ao desenvolvimento físico e emocional do sujeito. A partir das oficinas, pudemos perceber a carência de informação que as pessoas têm sobre nossa história e cultura alimentar, além da escassez de informações sobre a alimentação adequada e dos componentes prejudiciais que compõem os alimentos industrializados. Nossas atividades dentro do projeto financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome/CNPq/Sesan – Processo 407514/2012-0 teve o mérito de resgatar a cultura e história de nossa comida e de mostrar como esses são elementos relevantes para a constituição da identidade brasileira. Além, disso, esse tipo de ação serve de alerta para reforçarmos políticas públicas em educação alimentar. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOOG, M.C.F. Educação nutricional: passado, presente, futuro. Revista de Nutrição. PUCCAMP, Campinas, v.10, n.1, p. 5-19, 1997. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Série B. Textos Básicos de Saúde, Brasília, 2ª edição revista, 48p. 2003. CASCUDO, C. 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