Artigo de Revisão/Revision Article Perfil dos efeitos adversos e contraindicações dos fármacos moduladores do apetite: uma revisão sistemática Side effects and contraindications of anti-obesity drugs: a systematic review ABSTRACT NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Side effects and contraindications of anti-obesity drugs: a systematic review. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. Anti-obesity drugs such as mazindol and β-phenylethylamine derivatives induce their therapeutic effects by inhibiting noradrenaline and dopamine reuptake. In the hypothalamus, noradrenaline and dopamine play an important role in the control of appetite. Sibutramine reduces food intake due to a mechanism of action discretely distinct from β-phenylethylamine products. In fact, this drug also decreases serotonin reuptake, which is a neurotransmitter quite related to satiety. Rimonabant was considered a novelty on the treatment of obesity, mainly due to its quite new mechanism of action, which is based on the blockade of CB1 receptors. Thus, considering a recent increase in the consumption of such anti-obesity drugs, this study aimed to perform a systematic review about the safety of these drugs. Based on literature, this study concluded that β-phenylethylaminic drugs and mazindol show many side effects, mainly due to the activation of the sympathetic system (i.e. cardiovascular and gastrointestinal effects, and also central side effects, such as anxiety, and insomnia). Despite sibutramine is well tolerated by patients, clinical studies show that this drug is able to evoke similar sympathetic central and peripheral effects. Regarding rimonabant, the clinical use of this drug was linked to an increase in the incidence of major depression. In conclusion, despite most of the side effects evoked by anti-obesity drugs are classified as of low to moderate intensity, physicians must be aware of such effects upon prescription. In addition, they have to pay attention to the contraindications of such anti-obesity drugs in order to avoid health complications. IGOR ISRAEL FILGUEIRA DE NEGREIROS1; DANIEL CAVALCANTI DE OLIVEIRA1; MÁRCIO ROGERIO DE OLIVEIRA FIGUEREDO1; DIOGO LUIZ DE MAGALHÃES FERRAZ1; LISIANE DE SANTANA SOUZA1; JEVERSON MOREIRA1; ELAINE CRISTINA GAVIOLI1 1Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências Endereço para correspondência: Elaine Cristina Gavioli Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Biociências - Depto. de Biofísica e Farmacologia Campus Universitário – Lagoa Nova CEP 59072-970 Natal – RN – Brasil E-mail: [email protected] Keywords: Obesity. Appetite Depressants, adverse effects. Appetite Depressants, contraindications. 137 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 137 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. RESUMEN Los fármacos antiobesidad tales como el mazindol y los derivados de la β-feniletilamina actúan inhibiendo la recaptación de la noradrenalina y de la dopamina, neurotransmisores que en el hipotálamo desenvuelven papel importante en el control del apetito. La sibutramina presenta mecanismo de acción discretamente diferente porque disminuye también la recaptación de serotonina, lo cual es positivo porque la activación del sistema serotoninérgico provoca saciedad. El rimonabanto surgió como una novedad para el tratamiento de la obesidad debido a su mecanismo de acción por medio del bloqueo de receptores cannabinoides CB1. Así, considerando el uso creciente y indiscriminado de moduladores del apetito este estudio tiene como principal objetivo realizar una revisión sistemática de la literatura sobre los efectos adversos de estos fármacos. De acuerdo con la literatura, este estudio concluyó que los fármacos β-feniletilamínicos y el mazindol provocan varios efectos adversos derivados de la activación del sistema simpático, como son los efectos gastrointestinales y cardiovasculares, además de algunos efectos secundarios centrales, tales como ansiedad e insomnio. A pesar de la sibutramina ser mejor tolerada por los pacientes, los estudios clínicos muestran que este fármaco es responsable de varios efectos centrales y periféricos simpáticos. Con relación al rimonabanto, a pesar de la expectativa en relación a su mecanismo de acción innovador, su uso clínico demostró efectos adversos graves, como una depresión mayor. En conclusión, aun cuando la mayor parte de los efectos secundarios provocados por los fármacos anti-obesidad fueron clasificados como de baja o moderada intensidad, los médicos deben estar conscientes de tales efectos secundarios en el momento de la prescripción de un fármaco anorexígeno. Además, deben estar atentos a las contraindicaciones de los tratamientos para la obesidad, a fin de evitar complicaciones mayores. Palabras clave: Obesidad. Depressores del apetito, efectos adversos. Depressores del apetito, contraindicaciones. RESUMO Fármacos anorexígenos como o mazindol e os derivados da β-feniletilamina agem inibindo a recaptação de noradrenalina e dopamina, cujos neurotransmissores estão envolvidos em nível hipotalâmico no controle do apetite. A sibutramina possui mecanismo de ação ligeiramente diverso, pois também inibe a recaptação de serotonina, sendo um ponto positivo, visto que a ativação do sistema serotoninérgico promove a saciedade. O rimonabanto despontou como uma novidade no tratamento da obesidade, graças ao seu mecanismo de ação baseado no bloqueio de receptores canabinoides CB1. Considerando o uso crescente e indiscriminado de moduladores do apetite, o presente estudo visa fazer uma revisão sistemática da literatura sobre os efeitos adversos e as contraindicações do uso desses fármacos. Com base na literatura, este estudo concluiu que os fármacos β-feniletilamínicos e o mazindol apresentam muitos efeitos adversos decorrentes da ativação do sistema simpático, como distúrbios gastrintestinais e cardiovasculares, além de alguns efeitos centrais, como ansiedade e insônia. Apesar de a sibutramina ser mais bem tolerada, os estudos clínicos mostram que este fármaco é também responsável por sintomas relacionados à ativação simpática periférica e a estimulação do sistema nervoso central. O rimonabanto, apesar das expectativas com relação ao seu mecanismo de ação inovador, mostrou efeitos adversos graves, como depressão maior. Em conclusão, muito embora os efeitos adversos fossem considerados de intensidade leve ou moderada, o médico precisa ter em mente tais situações no momento da prescrição de um fármaco anorexígeno. Além disso, deve estar atento às contraindicações dos tratamentos para obesidade, a fim de evitar maiores complicações. Palavras-chave: Obesidade. Depressões do apetite, efeitos adversos. Depressões do apetite, contraindicações. 138 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 138 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. INTRODUÇÃO A obesidade é uma doença crônica, de caráter multifatorial, envolvendo aspectos ambientais - fatores sociais/culturais - e genéticos, caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo. A crescente prevalência de obesidade na população mundial, bem como de comorbidades, tem motivado uma enorme transformação no que concerne à sua abordagem clínica. O progressivo incremento no peso tem sido observado atualmente em cerca de dois terços da população de países industrializados, sendo que a mudança do estilo de vida é o principal recurso para o tratamento desses quadros (BRAY, 2008; IDELEVICH; KIRCH; SCHINDLER, 2009). A abordagem terapêutica da obesidade tem sido objeto de profundas mudanças ao longo das últimas décadas, especialmente devido ao desenvolvimento de novos fármacos e propostas não farmacológicas de tratamento (BRAY, 2008). A terapia farmacológica da obesidade, nos dias atuais, está indicada nos casos em que os pacientes apresentam um índice de massa corporal (IMC) maior que 30. O IMC é obtido a partir da divisão do peso corpóreo do paciente, em quilogramas, pelo quadrado da altura, em metros. A indicação de tais fármacos também acontece quando o paciente sofre de doenças associadas ao excesso de peso com IMC superior a 27, nas quais a abordagem dietética, o aumento de atividades físicas e modificações comportamentais demonstraram ineficácia (BRAY; RYAN, 2007). Atualmente, os principais representantes dos fármacos anorexígenos disponíveis no Brasil são os derivados β-feniletilamínicos, ou anfetamínicos, como: anfepramona (também conhecido como dietilpropiona), femproporex e sibutramina. Além desses, há o mazindol que, do ponto de vista químico, é uma imidazolina (HALPERN; MANCINI, 2003). De maneira geral, estes fármacos agem inibindo o apetite, promovendo a saciedade ou aumentando a termogênese. Dentre os derivados anfetamínicos, a fenfluramina e a dexfenfluramina já tiveram destaque na clínica, mas devido ao elevado risco de causar valvulopatia cardíaca e hipertensão arterial pulmonar são atualmente considerados proscritos (MICHELAKIS; WEIR, 2001). A anfetamina é uma substância psicotrópica sintetizada pela primeira vez em 1887 na Alemanha. Nenhuma ação farmacológica havia sido encontrada para essa substância até 1929, quando o psicofarmacologista Gordon Allen a ressintetizou e a testou em si mesmo. Desde então, denotou-se uma ação estimulante semelhante a dos alcaloides derivados da planta efedra (Ephedra sinica Stapf), como a efedrina e a pseudoefedrina, que já eram conhecidas na época. Sabe-se, no entanto, que a anfetamina teve seu apogeu na Segunda Guerra Mundial, quando a busca por substâncias psicotrópicas com ação estimulante foi intensificada, principalmente porque essas drogas combatiam a fadiga e mantinham os soldados em estado de alerta (GREENE; KERR; BRAITBERG, 2008). Quimicamente, as anfetaminas são derivadas das feniletilaminas, que por sua vez são estruturalmente similares à adrenalina. Os fármacos derivados β-feniletilamínicos 139 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 139 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. e o mazindol influenciam a neurotransmissão noradrenérgica e dopaminérgica no sistema nervoso central e na periferia. Em princípio, pensou-se que o mecanismo de ação desses fármacos consistia no aumento da liberação de noradrenalina das vesículas sinápticas. No entanto, estudos mais recentes sugerem que eles agem primariamente inibindo a recaptação de noradrenalina e dopamina das terminações nervosas e, consequentemente, causando aumento da sinalização noradrenérgica e dopaminérgica (para revisão consulte: HALPERN; MANCINI, 2003; (Figura 1). Os fármacos derivados da β-feniletilamina e o mazindol não atuam apenas diminuindo o apetite, mas exercem ação estimulante central e no sistema cardiovascular (HALPERN; MANCINI, 2003). A sibutramina, que também é classificada como sendo um derivado da β-feniletilamina, foi inicialmente desenvolvida como uma medicação antidepressiva, porém os ensaios clínicos apontaram para a falta de eficácia deste fármaco em tratar a depressão (RYAN, 2004). Dos fármacos moderadores de apetite atualmente disponíveis, a sibutramina é o agente mais utilizado, tendo sido aprovado para uso clínico nos EUA em 1997 e na União Europeia em 1999 (PADWAL; MAJUMDAR, 2007). A sibutramina bloqueia a recaptação de serotonina, noradrenalina e, em menor grau, de dopamina em sinapses no sistema nervoso central (JACKSON et al., 1997) (Figura 1). Estudos experimentais em animais e humanos demonstraram que a sibutramina reduz o comportamento alimentar graças ao aumento da sensação de saciedade durante as refeições (LEAN, 2001). Há ainda a estimulação da termogênese, que contribui discretamente na perda ponderal (HANSEN et al., 1998), já que o acréscimo no gasto de energia é da ordem de 100kcal/dia. Muitos dos efeitos farmacológicos da sibutramina envolvem o sistema serotoninérgico. A estimulação de receptores de serotonina controla a quantidade de alimentos e macronutrientes ingeridos. Quando a estimulação desses receptores ocorre no núcleo paraventricular do hipotálamo, há a redução do consumo de alimentos gordurosos. No entanto, a redução do consumo de carboidratos e proteínas é comedida. Essa diminuição do consumo de gorduras é mediada principalmente pelo receptor serotoninérgico 5-HT2C (BRAY; TARTAGLIA, 2000). Além dos moderadores de apetite acima referidos, recentemente foi lançado na clínica o rimonabanto, que é capaz de causar perda de peso com mecanismo de ação inédito. Este fármaco pertence à família dos pirazóis e atua como um antagonista do receptor humano CB1. O sistema canabinoide endógeno compõe-se de dois receptores canabinoides (CB1 e CB2) e possui como ligantes endógenos já identificados a anandamida e o 2-araquidonilglicerol. O receptor CB1 é encontrado principalmente no sistema nervoso central (áreas mesolímbicas e hipotálamo) e em tecidos periféricos (adipócitos, pâncreas, intestino, fígado e músculo), enquanto que o receptor CB2 encontra-se expresso em células relacionadas com os processos de imunidade (para uma revisão consulte: PADWAL; MAJUMDAR, 2007). 140 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 140 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. ESTADO BASAL NEURÔNIO PRÉ-SINÁPTICO ANOREXÍGENOS ANFETAMÍNICOS + MAZINDOL VESÍCULA SINÁPTICA FENDA SINÁPTICA (-) (-) NEURÔNIO PRÉ-SINÁPTICO SIBUTRAMINA (-) (-) (=) LEGENDA: NORADRENALINA RECAPTADOR DE NORADRENALINA SEROTONINA RECAPTADOR DE SEROTONINA DOPAMINA RECAPTADOR DE DOPAMINA RECEPTOR DE NORADRENALINA ( – ) INIBIÇÃO RECEPTOR DE SEROTONINA RECEPTOR DE DOPAMINA ( = ) INIBIÇÃO FRACA Figura 1 – Esquema representativo do mecanismo de ação dos fármacos anorexígenos com exceção do rimonabanto. A) Estado basal da transmissão sináptica. B) Mecanismo de ação dos fármacos derivados da β-feniletilamina – anfepramona, fentermina e femproporex – e mazindol. C) Mecanismo de ação da sibutramina. Para fins didáticos, os neurotransmissores foram representados sofrendo exocitose na mesma vesícula, mas é sabido que tais neurotransmissores são estocados e liberados na fenda sináptica separadamente 141 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 141 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. Em estudos com animais, demonstrou-se que a ativação da área mesolímbica está envolvida na mediação do comportamento motivacional para encontrar e consumir alimentos e esta atividade pode ser inibida com o bloqueio de receptores CB1 (LI; JONES; PERSAUD, 2010). Em ratos obesos, analisando os tecidos periféricos, verificou-se que há um aumento da expressão de CB1 nos adipócitos, com diminuição da oxidação de ácidos graxos livres, redução da absorção de glicose mediada por insulina no músculo esquelético, aumento da neolipogênese no fígado. Outra informação obtida de estudos com animais foi que os níveis de anandamida aumentam no trato gastrintestinal durante a privação alimentar sugerindo um sinal periférico da fome e há aumento da secreção de insulina (LI; JONES; PERSAUD, 2010). Portanto, o rimonabanto, por ser um antagonista seletivo do receptor CB1, reduz a ativação exacerbada do sistema canabinoide endógeno em nível central e periférico, determinando redução do comportamento alimentar, regulando a secreção hormonal dos adipócitos, aumentando a saciedade e causando perda ponderal (Figura 2). Neolipogênese no fígado Saciedade no SNC RIMONABANTO Absorção de glicose no músculo esquelético Oxidação de ácidos graxos livres nos adipócitos Motilidade gastrintestinal Figura 2 – Esquema ilustrativo do mecanismo de ação do rimonabanto Porém, apesar do sucesso na terapia para redução de peso, o rimonabanto pode causar uma série de efeitos colaterais relevantes, que fizeram a ANVISA suspender a 142 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 142 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. venda e a manipulação deste medicamento no Brasil, (RDC nº 2.784, de 25 de agosto de 2006) (BRASIL, 2006). Em contrapartida, no ano de 2007 (RDC nº 1.574, de 5 de junho de 2007) (BRASIL, 2007b) sua manipulação foi novamente liberada, mas em novembro de 2008, a ANVISA suspendeu definitivamente a manipulação e a venda do rimonabanto no Brasil, após a decisão da suspensão temporária da comercialização do medicamento pelo laboratório Sanofi-Aventis. Sabe-se, no entanto, que o crescente número de obesos em nossa população e a busca incessante pelo corpo ideal tem contribuído enormemente pelo exagero no uso de fármacos anorexígenos, especialmente os derivados anfetamínicos e o mazindol, devido ao seu baixo custo. Estes fatos levaram a ANVISA em 2007 a publicar uma resolução (RDC nº 58, de 05 de setembro de 2007) (BRASIL, 2007a) que trata, especificamente, do uso e prescrição dos fármacos moduladores de apetite. Portanto, o uso de medicamentos ou fórmulas que contenham substâncias psicotrópicas anorexígenas, tais como: anfepramona; fentermina; femproporex e mazindol ficam sujeitas à notificação de receita tipo “B2”. Muito recentemente, a ANVISA decidiu restringir a venda da sibutramina, incluindo-a na lista dos medicamentos sujeitos à notificação de receita tipo “B2” (RDC n° 13, de 26 de março de 2010) (BRASIL, 2010). Determinou-se ainda que cada notificação de receita tipo “B2” deve ser usada para tratamento inferior ou igual a 30 dias e que as dosagens prescritas não devem ultrapassar a dose máxima diária prevista na resolução (RDC nº 58, de 05 de setembro de 2007) (BRASIL, 2007a). Esta restrição de venda da sibutramina deve-se a uma reanálise dos dados do ensaio clínico SCOUT (The Sibutramine Cardiovascular OUTcomes – SCOUT) que evidenciou o risco de desenvolvimento de problemas cardiovasculares em pacientes usuários deste fármaco (JAMES et al., 2010). Convém ainda destacar que a RDC nº 58 de 05 de setembro de 2007 (BRASIL, 2007a) veda a associação (em uma mesma fórmula ou uso conjunto) de substâncias anorexígenas entre si ou com as seguintes substâncias: ansiolíticos, antidepressivos, diuréticos, hormônios ou extratos hormonais, laxantes, simpaticolíticos ou parassimpaticolíticos, para fins de tratamento da obesidade, visto que estas associações promovem o incremento dos efeitos adversos sem qualquer comprovação científica da eficácia terapêutica. Com base no exposto acima, o presente estudo visa fazer uma revisão sistemática da literatura científica sobre os fármacos moduladores do apetite, tendo o objetivo de enfatizar os efeitos adversos e as contraindicações do uso relacionado ao emprego clínico destes fármacos, bem como apontar para as limitações do uso desses fármacos, em especial: anfepramona, fenproporex, mazindol, fentermina, sibutramina e rimonabanto. METODOLOGIA O presente artigo trata-se de uma revisão sistemática da literatura, feita através de levantamento bibliográfico, utilizando-se a Bireme como bases de dados. Foram utilizados como descritores de assunto para a localização das referências: “anfepramona”, “fentermina”, “mazindol” e “ciclobutanos” (sibutramina). Foram utilizados como palavras 143 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 143 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. de busca, pois não apresentam descritores de assunto específicos: “femproporex”, “fenproporex” e “rimonabant”. Associou-se o descritor “obesidade” à palavra de busca “rimonabant” devido à grande quantidade de artigos não relacionados ao tema estudado. Os aspectos: “/efeitos adversos” e “/contraindicações” foram associados aos descritores ou palavras de busca dos fármacos estudados. Os critérios de inclusão foram: 1) Artigos publicados de 1996 até 2010; 2) Escritos nas línguas: português, inglês ou espanhol; 3) Tipo de publicação: ensaio clínico, ensaio clínico controlado, estudo comparativo, metanálise ou revisão; 4) estudos em humanos. Os critérios de exclusão foram: 1) Artigos que relacionam os fármacos estudados a outras condições clínicas que não obesidade; 2) Artigos que abordam associações de medicamentos; 3) Artigos que enfocam outros fármacos que não sibutramina, fentermina, femproporex, mazindol, dietilpropiona e rimonabanto; 4) Artigos que tratam de outras terapias para obesidade como: fármacos fitoterápicos, cirurgia, terapia comportamental; 5) Artigos que não contemplem efeitos adversos ou contraindicações dos fármacos estudados. RESULTADOS Os resultados encontrados para efeitos adversos e contraindicações dos fármacos estudados estão sumariamente ilustrados nas tabelas 1, 2 e 3. Tabela 1 – Principais efeitos adversos e contraindicações dos fármacos derivados da β-feniletilamina e mazindol, cujo mecanismo de ação baseia-se na inibição da recaptação de noradrenalina e dopamina da fenda sináptica Fármacos Nome Comercial Apresentações 75mg, 20 cp. Dualid S® 75mg, 30 cp. 25mg, 20 cp Hipofagin S® 75mg, 20 cp Anfepramona 25mg, 20 cp Inibex S® 50mg, 20 cp XR Efeitos Adversos HPP1 Palpitações Diarreia Boca Seca Constipação Episódios Psicóticos Nervosismo Insônia Depressão Disfunção Erétil Poliúria Contraindicações Referências Aterosclerose Avançada Hipertireoidismo Hipersensibilidade às Aminas Glaucoma HAS2 Severa Agitação História prévia de dependência química IMAO3 Crianças < 12 Anos Epilepsia Gravidez Lactação Bray e Ryan (2007) Halpern e Mancini (2003) Michelakis e Weir (2001) Glazer (2001) Behar (2002) Poston et al. (1998) Li et al. (2005) Carrasco (2000) Fernstrom e Choi (2008) 75mg, 20 cp XR (continua...) 144 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 144 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. (conclusão) Nome Comercial Fármacos Femproporex Desobesi-M® Fentermina Mazindol 1Hipertensão Apresentações 25mg, 20 cp Adipex® Não é comercializado no Brasil Ionamin® Não é comercializado no Brasil Duromine® Não é comercializado no Brasil Absten S® 1mg, 10 cp Fagolipo® 2mg,20 cp Moderine® 1,5mg, 20 cp Efeitos Adversos Taquicardia HPP1 Náuseas Vômitos Boca Seca Constipação Nervosismo Insônia Ansiedade Cefaleia Vertigem Glaucoma Taquicardia HPP1 Boca Seca Insônia Ansiedade Nervosismo Debilidade Irritabilidade HPP1 Taquicardia Náuseas Arritmias Lipotímia Síncope Vômitos Boca Seca Constipação Diarreia Digeusia Nervosismo Insônia Cefaleia Hiperidrose Contraindicações Referências Enfermidades cardiovasculares sintomáticas Alcoolismo Instabilidade emocional Transtornos psiquiátricos Aterosclerose avançada Hipertireoidismo Glaucoma HAS2 Severa História prévia de dependência química Gravidez Aterosclerose Avançada Hipertireoidismo Glaucoma HAS2 severa Enfermidade Cardiovascular Sintomática História prévia de dependência química IMAO3 Gravidez Halpern e Mancini (2003) Michelakis e Weir (2001) Behar (2002) Barcella e Montanari (2008) Carrasco (2000) Glazer (2001) Enfermidade Cardiovascular Sintomática História prévia de dependência química Glaucoma HAS2 severa Crianças < 12 Anos Agitação Uremia Glazer (2001) Halpern e Mancini (2003) Behar (2002) Michelakis e Weir (2001) Carrasco (2000) Bray e Ryan (2007) Halpern e Mancini (2003) Michelakis e Weir (2001) Hirsch, Mackintosh e Aronne (2000) Glazer (2001) Fernstrom e Choi (2008) Behar (2002) Kim et al. (2006) Loke, Derry e PritchardCopley (2002) Seghatol e Rigolin (2002) Poston et al. (1998) Li et al. (2005) Carrasco (2000) Torretta e Schumann (1997) Kaplan (2005) Elks (1996) pulmonar primária; 2Hipertensão arterial sistêmica; 3Inibidor da MAO. 145 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 145 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. Tabela 2 – Principais efeitos adversos e contraindicações da sibutramina Fármaco Nome ApresenEfeitos Adversos comercial tações Sistema Cardiovascular Arritmias Palpitações Taquicardia Elevação da FC1 Lipotímia Formas não fatais de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral Sistema Gastrintestinal Náuseas Vômitos Boca Seca Constipação Sibutramina Plenty® Reductil® 10mg, 30cp Sistema Nervoso Central Ansiedade Insônia Vertigem Nervosismo Cefaleia Irritabilidade Convulsões Parestesia Alterações do humor Sistema Respiratório Rinussinusite Obstrução nasal IVAS2 Faringite 1Frequência Contraindicações Referências Hipertensão Idelevich, Kirch e Arterial Schindler (2009) Sistêmica severa Bray e Ryan (2007) Halpern e Mancini Uso de IMAO3 (2003) Ryan (2004) Enfermidades Padwal e Majumdar cardiovasculares (2007) sintomáticas Bray e Tartaglia (2000) Glaucoma Hirsch, Mackintosh e Aronne (2000) História de Glazer (2001) dependência Fernstrom e Choi química (2008) Behar (2002) Arritmia Michelakis (2002) cardíaca Halpern e Mancini (2005) Gravidez Bray et al. (1999) Guimarães et al. Crianças (2006) < 12 anos Nisoli e Carruba (2000) Epilepsia Maggioni, Caterson e Coutinho (2008) Insuficiência Florentin, renal Liberopoulos e Elisaf (2008) Insuficiência Nisoli e Carruba hepática (2003) Daniels et al. (2007) Transtornos Poston et al. (1998) psiquiátricos Li et al. (2005) Kaplan (2005) Leung et al. (2003) Berkowitz et al. (2006) Porter et al. (2004) James et al. (2010) Kim et al. (2003) Fanghänel et al. (2003) Sramek et al. (2002) McMahon et al. (2002) Fanghänel et al. (2000, 2001) Luque e Rey (1999) Apfelbaum et al. (1999) Hanotin et al. (1998) Kaplan (2005) Linné e Rössner (2004) Lean e Mullan (2007) Freemark (2007) Powers e Bruty (2009) Danielsson et al. (2007) Chaput e Tremblay (2006) Reisler et al. (2006) Wang et al. (2005) Godoy-Matos e Carraro (2005) Derosa et al. (2005) Klein (2004) Gomis Barbará (2004) Narkiewicz (2002) Cardíaca; 2Infecção de Vias Aéreas Superiores; 3Inibidor da MAO. 146 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 146 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. Tabela 3 – Principais efeitos adversos e contraindicações do rimonabanto Nome comercial Fármaco Apresentações Efeitos Adversos Sistema Gastrintestinal Náuseas Vômitos Diarreia Rimonabanto Acomplia® Não é comercializado no Brasil Sistema Nervoso Central Humor depressivo Depressão Ansiedade Insônia Vertigem Nervosismo Cefaleia Contraindicações Gravidez Lactação Idade < 18 anos Doenças renais graves Doenças hepáticas graves Doenças neurológicas Transtornos psiquiátricos Transtorno depressivo maior Uso de antidepressivos Referências Idelevich, Kirch e Schindler (2009) Bray e Ryan (2007) Halpern e Mancini (2003) Padwal e Majumdar (2007) Bray e Tartaglia (2000) Bronander e Bloch (2007) Van Gaal et al. (2008) Van Gaal et al. (2005) Scheen (2008) Mitchell e Morris (2007) Scheen (2009) Després et al. (2009) Lean e Mullan (2007) Freemark (2007) Powers e Bruty (2009) Pi-Sunyer et al. (2006) Hollander (2007) Christensen et al. (2007) Isoldi e Aronne (2008) Patel e Pathak (2007) Curioni e André (2006) Després et al. (2005) DISCUSSÃO FÁRMACOS β-FENILETILAMÍNICOS E MAZINDOL Os fámacos β-feniletilamínicos, tais como anfepramona e femproporex, e o mazindol apresentam similaridade quanto ao mecanismo de ação, efeitos clínicos, efeitos adversos e contraindicações. Grande parte dessa semelhança ocorre em virtude do aumento da biodisponibilidade orgânica das aminas biogênicas, principalmente noradrenalina, adrenalina e dopamina, o que promove estimulação do sistema nervoso periférico – aumento do tônus simpático (HIRSCH; MACKINTOSH; ARONNE, 2000) – e do sistema nervoso central (GLAZER, 2001; HALPERN; MANCINI, 2003). Esse aumento do tônus simpático causado por tais fármacos é responsável diretamente pelo efeito anorexígeno dessa classe, mas também pelos efeitos adversos, toxicidade sistêmica e contraindicações. 147 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 147 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. Os efeitos adversos mais frequentes dos fármacos mazindol e derivados da β-feniletilamina estão relacionados aos sistemas cardiovascular, gastrintestinal e nervoso, a citar: elevação da pressão arterial sistólica e diastólica, taquicardia, palpitações, xerostomia, constipação, náuseas, vômitos, insônia, ansiedade, cefaleia e vertigem (para referências consulte a tabela 1). Em indivíduos sob tratamento com derivados da β-feniletilamina ou mazindol, a ativação noradrenérgica causa insônia, agitação e ansiedade, enquanto que o aumento da dopamina na via mesolímbica está associado a sintomas psicóticos e a ativação dos receptores D2 pela dopamina na zona quimiorreceptora do gatilho induz náuseas e vômitos. Interessantemente, estes sintomas igualmente estão presentes em pacientes em tratamento com sibutramina, visto que a ativação de receptores serotoninérgicos 5-HT3 na zona do gatilho também é responsável pelo aparecimento de náuseas e vômitos. No glaucoma, o uso de substâncias simpaticomiméticas é contraindicado, em virtude do aumento da pressão ocular e da diminuição da drenagem do humor aquoso (para revisão consulte: HALPERN; MANCINI, 2003). Outra informação relevante é a capacidade dos fármacos mazindol e derivados da β-feniletilamina de induzirem tolerância, podendo levar à dependência física e psicológica, característica que impede seu uso por tempo prolongado e, também, em indivíduos com história de dependência química (FERNSTROM; CHOI, 2008). Os fármacos derivados da β-feniletilamina e o mazindol são contraindicados durante a gestação, lactação e em crianças com idade inferior a doze anos. Outras contraindicações são doenças cardiovasculares sintomáticas (insuficiência coronariana, aterosclerose avançada, insuficiência cardíaca), hipertensão arterial grave, transtornos psiquiátricos, hipertireoidismo, epilepsia, glaucoma e uso concomitante com inibidores do monoaminoxidase (IMAO) (BEHAR, 2002; KIM et al., 2006; LOKE; DERRY; PRITCHARD-COPLEY, 2002; MICHELAKIS, 2002; SEGHATOL; RIGOLIN, 2002). Em caso de pacientes fazendo uso de medicamentos antidepressivos, os mesmos devem ser suspensos no mínimo 14 dias antes do início do tratamento com mazindol ou um derivado feniletilamínico (BEHAR, 2002). Com relação às contraindicações, aconselha-se analisar o risco-benefício do uso de fármacos derivados β-feniletilamínicos e o mazindol em pacientes com diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica leve e histórico de psicoses (HALPERN; MANCINI, 2003, 2005). Com base na literatura científica consultada, foram revisados os efeitos adversos e as contraindicações dos fármacos derivados da β-feniletilamina: anfepramona, femproporex, fentermina e sibutramina. O mazindol, apesar de ser um derivado tricíclico, será discutido em conjunto com os derivados feniletilamínicos, devido às suas semelhanças quanto ao mecanismo de ação. Vale ressaltar que pouquíssimos estudos clínicos realizados com os derivados da β-feniletilamina e o mazindol foram publicados no período de abrangência desta revisão (entre 1996 e 2010), fato este que limita a discussão mais aprofundada dos dados. Portanto, a fim de atender aos objetivos da presente revisão, ressaltamos nas linhas abaixo, os efeitos colaterais e as contraindicações mais significativas dos fármacos derivados da β-feniletilamina e o mazindol. 148 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 148 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. Anfepramona As dosagens de anfepramona utilizadas para o tratamento da obesidade variaram entre 25 e 75mg por dia. Dentre os efeitos adversos observados, podemos destacar: (i) sistema cardiovascular: hipertensão arterial sistêmica, hipertensão pulmonar primária e palpitações; (ii) sistema gastrintestinal: diarreia, boca seca e constipação; (iii) sistema nervoso central: episódios psicóticos, nervosismo, insônia e depressão; (iv) trato genitourinário: disfunção erétil e poliúria. Também foram encontradas citações sobre tolerância após o uso da anfepramona. Já a suspensão abrupta desse fármaco pode provocar fadiga extrema, depressão e alterações no eletrocardiograma. Apenas três artigos se referiam às contraindicações, sendo citadas: aterosclerose avançada, hipertireoidismo, hipersensibilidade às aminas, glaucoma, hipertensão arterial sistêmica severa, agitação, história prévia de abuso de drogas, uso concomitante com IMAO, população pediátrica abaixo de 12 anos, epilepsia, gravidez e lactação (para referências consulte a tabela 1). Femproporex A dose habitual de uso do fenproporex foi de 20 a 40mg por dia. Os efeitos adversos citados para este fármaco foram: hipertensão arterial sistêmica, taquicardia, hipertensão pulmonar, náuseas, vômitos, boca seca, constipação, nervosismo, insônia, ansiedade, cefaleia, vertigem e glaucoma (para referências consulte a tabela 1). As contraindicações descritas na literatura estudada são: aterosclerose avançada, hipertireoidismo, glaucoma, hipertensão arterial sistêmica severa, enfermidades cardiovasculares sintomáticas, alcoolismo, história prévia de abuso de drogas, instabilidade emocional, diagnóstico de transtornos psiquiátricos e gravidez (Tabela 1). Uma particularidade em relação ao femproporex é o fato deste medicamento ter provocado modificações na reprodução humana por meio da interferência no processo de nidação do blastocisto, aconselhando-se, portanto, empregar de forma limitada em mulheres em idade reprodutiva (BARCELLA; MONTANARI, 2008). Fentermina A dose deste fármaco habitualmente empregada para o tratamento da obesidade varia de 15 a 37,5mg por dia. Dentre os efeitos adversos observados, podemos destacar: (i) sistema cardiovascular: hipertensão arterial sistêmica, taquicardia e hipertensão pulmonar; (ii) trato gastrintestinal: boca seca; (iii) sistema nervoso central: insônia, nervosismo, ansiedade, debilidade e irritabilidade. As contraindicações referidas nos artigos consultados foram: aterosclerose avançada, hipertireoidismo, glaucoma, hipertensão arterial severa, enfermidade cardiovascular sintomática, história de abuso de drogas, uso de IMAO e gravidez (para referências consulte a tabela 1). Em um ensaio clínico controlado, feito na Coreia do Sul, foram administrados 37,5mg de cloridrato de fentermina, uma vez ao dia, em pacientes com IMC maior ou 149 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 149 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. igual a 25kg/m2 e verificou-se que os efeitos adversos são de leve a moderados no grupo com fentermina, em comparação ao grupo placebo. Os efeitos colaterais mais relevantes observados neste estudo foram xerostomia e insônia (KIM et al., 2006). A fentermina está associada ao surgimento de doença valvular cardíaca, existindo, entretanto, controvérsias na literatura quanto ao grau de surgimento dessa enfermidade. Em estudos da agência regulatória americana de alimentos e medicamentos (do inglês, Food and Drug Administration, FDA), mostrou-se uma prevalência de 32% de valvulopatia, o que contrasta com o estudo de Loke, Derry e Pritchard-Copley (2002), que evidenciou uma taxa de aproximadamente 20%. Outros estudos, através de critérios ecocardiográficos, mostraram alterações patológicas em menos de 6% (MICHELAKIS, 2002; SEGHATOL; RIGOLIN, 2002). As lesões valvulares mais frequentes são a regurgitação aórtica ou mitral (LOKE; DERRY; PRITCHARD-COPLEY, 2002). Uma desvantagem com relação ao uso da fentermina é o fato da aquisição de tolerância ao efeito anorexígeno dentro de 6 a 12 semanas de tratamento, sendo, por isso, necessário seu emprego por curtos períodos (FERNSTROM; CHOI, 2008). Mazindol Nessa pesquisa foram encontrados poucos artigos sobre o mazindol, sendo estes publicados entre os anos 2000 e 2003. A dose empregada de mazindol foi de 1 a 3mg por dia. O efeito adverso mais encontrado para este fármaco foi hipertensão pulmonar (HALPERN; MANCINI, 2003). Outros efeitos adversos encontrados que se destacam: arritmias, taquicardia, lipotímia e posterior síncope, náuseas, vômitos, diarreia, boca seca, digeusia, constipação, nervosismo, insônia, cefaleia e aumento da sudorese. As contraindicações observadas foram: enfermidades cardiovasculares sintomáticas, glaucoma, hipertensão arterial sistêmica severa, agitação, história de abuso de drogas, uremia e população pediátrica abaixo de 12 anos (para referências consulte a tabela 1). Sibutramina A sibutramina foi o fármaco encontrado com maior frequência nos artigos consultados. Estes artigos foram publicados na última década, quando os estudos com esse fármaco foram expressivos. Nos dias atuais, no entanto, poucos estudos voltam-se isoladamente para a sibutramina, a exceção dos ensaios clínicos que discutem os efeitos cardiovasculares deste fármaco. As doses de sibutramina utilizadas para o tratamento da obesidade variaram de 1 a 30mg por dia, sendo 5, 10 e 15mg, as doses mais frequentemente usadas. Um aspecto interessante descrito por Bray et al. (1999) foi que o tratamento da obesidade com sibutramina em longo prazo (24 semanas) causou redução de peso dose-dependente, sendo mais eficaz nas doses de 15, 20 e 30mg. Os principais efeitos adversos referidos na literatura ocorrem sobre o sistema cardiovascular, a saber: arritmias, hipertensão arterial sistêmica, palpitações, taquicardia 150 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 150 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. e elevação da frequência cardíaca. Em relação ao aparelho gastrintestinal, podem ocorrer: náuseas, vômitos, boca seca e constipação. Já os efeitos adversos que envolvem o sistema nervoso central são: insônia, cefaleia e vertigem. Dentre os efeitos adversos que tiveram maior incidência, destacam-se: cefaleia, boca seca, constipação, insônia e infecções, que, segundo Halpern e Mancini (2003) ocorrem em 10-30% dos pacientes (para referências consulte a tabela 2). Em um ensaio clínico realizado no Brasil, os efeitos adversos mais frequentes decorrentes do emprego da sibutramina coincidiram com os relatados em ensaios clínicos realizados em outros países, a citar: boca seca, constipação, sudorese e insônia (GUIMARÃES et al., 2006). Ainda em relação aos efeitos colaterais da sibutramina, há um incremento discreto na pressão arterial sistólica, diastólica e frequência cardíaca, de 1mmHg, 1,7-5mmHg e 2-6bpm, respectivamente. Convém destacar que estes efeitos são dose-dependentes e, às vezes, a redução da dose é suficiente para controlar os sintomas (FLORENTIN; LIBEROPOULOS; ELISAF, 2008; MAGGIONI; CATERSON; COUTINHO, 2008; NISOLI; CARRUBA, 2000, 2003). Em decorrência disso, o uso da associação de sibutramina com fármacos que promovem aumento da pressão arterial deve ser criterioso, a fim de evitar efeitos adversos aditivos sob o sistema cardiovascular (BEHAR, 2002). As principais contraindicações verificadas na literatura estudada foram: hipertensão arterial sistêmica severa, pacientes em tratamento com IMAO e enfermidades cardiovasculares sintomáticas (para referências consulte a tabela 2). Em pacientes diabéticos, o uso de sibutramina não está contraindicado, entretanto, é recomendável uma avaliação criteriosa do riscobenefício, haja vista que esses pacientes possuem maior risco cardiovascular (MAGGIONI; CATERSON; COUTINHO, 2008). Importante, o ensaio clínico SCOUT, duplo-cego, randomizado, controlado por placebo, verificou os efeitos da sibutramina 10mg, administrada uma vez ao dia, por 6 semanas, em indivíduos em sobrepeso (IMC ≥25 e <27Kg m−2) e obesos (IMC ≥27 e ≤45Kg m−2) com risco elevado de apresentar eventos cardiovasculares. Este ensaio clínico acompanhou 10.742 pacientes com histórico de manifestações cardiovasculares ou diabetes mellitus tipo 2 (TORP-PEDERSEN et al., 2007). Dentre os resultados obtidos neste ensaio clínico, destacam-se: redução na pressão sanguínea média (-3mm Hg - pressão sistólica, e −1mm Hg - pressão diastólica) e discreto aumento na média dos batimentos cardíacos (+1,5bpm). No entanto, 791 indivíduos (7,6%) mantiveram a pressão arterial ou batimentos cardíacos elevados durante o tratamento. Recentemente, foi demonstrado que pacientes com risco elevado de problemas cardiovasculares em tratamento por longos períodos com sibutramina tem maiores chances de desenvolver formas não fatais de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral comparado ao grupo controle (JAMES et al., 2010). Diante destas observações, cautela é necessário quando for eleita a prescrição de sibutramina. Além disso, é importante destacar que a sibutramina é um derivado anfetamínico e que tais efeitos colaterais, cardiovasculares, também, são descritos para outras moléculas relacionadas, tais como o femproporex e a anfepramona. 151 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 151 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. Em um ensaio clínico controlado realizado entre julho de 2000 e fevereiro de 2002, Daniels et al. (2007) demonstraram que a sibutramina é bem tolerada em adolescentes obesos e que os efeitos adversos ocorridos nessa população são semelhantes aos da população adulta, como mostrado em outros estudos (NISOLI; CARRUBA, 2003). Outra consideração que deve ser feita é em relação à associação de sibutramina ou fentermina e inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), triptanos ou derivados do Ergot, especialmente devido à possibilidade de síndrome serotoninérgica, uma reação adversa potencialmente fatal resultante da combinação destes medicamentos e caracterizada por alterações comportamentais, neuromusculares e hiperatividade autonômica (BEHAR, 2002; BIJL, 2004) (Tabela 4). Tabela 4 – Sinais e sintomas da síndrome serotoninérgica Sistema Sintomas Maiores Sintomas Menores Psiquiátrico (cognição e comportamento) Confusão e Coma Hiperatividade Agitação Insônia Inquietação Nervoso Autônomo Febre ou Hipertermia Aumento da Sudorese Taquicardia Taquipneia Dispneia Hipotensão ou Hipertensão Rubor Diarreia Neuromuscular Mioclônus Hipertonia Tremor Hiperreflexia Ataxia Midríase Acatisia Incoordenação Adaptado de BIJL, 2004. Rimonabanto As doses desse fármaco utilizadas para o tratamento da obesidade variaram entre 5 e 20mg por dia. Dentre os efeitos adversos mais comumente encontrados, estão: náusea, vertigem e humor depressivo; menos comumente encontrou-se: ansiedade, parestesia, vômitos, dor torácica e fadiga (para referências consulte a tabela 3). Os efeitos adversos menos tolerados que levaram à desistência dos pacientes nas pesquisas foram: transtornos psiquiátricos (com destaque para depressão), efeitos gastrintestinais (principalmente náuseas) e neurológicos (cefaleia e vertigem) (PADWAL; MAJUMDAR, 2007; VAN GAAL et al., 2005; VAN GAAL et al., 2008). 152 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 152 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. No ensaio clínico RIO-Europe, observou-se que o uso do rimonabanto na dose de 20mg/dia apresenta maior incidência de efeitos adversos que o uso de 5mg/dia. No mesmo ensaio clínico, mostrou-se que os transtornos depressivos ocorreram em 6,2% dos pacientes tratados com placebo, 5,5% e 7,3% dos pacientes tratados com rimonabanto 5mg/dia e 20mg/dia, respectivamente, durante o primeiro ano do estudo, não havendo, portanto, diferenças estatísticas entre os grupos (VAN GAAL et al., 2005; VAN GAAL et al., 2008). Além disso, demonstrou-se que, no segundo ano de uso do rimonabanto, foram mantidos os efeitos benéficos de redução de peso e de riscos cardiometabólicos (Figura 3) (VAN GAAL et al., 2008). Placebo: -1,2± (0,4)kg Rimonabanto 5mg/dia: -2,9 ±(0,3)kg: p=0,002 vs. placebo Rimonabanto 20mg/dia: -5,5 ±(0,3)kg: p=0,001 vs. placebo Perda ponderal (kg) 0 2 4 6 8 10 0 12 24 36 48 60 72 84 96 104 LOCF Semanas Figura 3 – Evolução da perda ponderal durante tratamento com placebo e rimonabanto nas doses de 5mg/dia e 20mg/dia. (Fonte: VAN GAAL et al., Long-term effect of CB1 blockade with rimonabant on cardiometabolic risk factors: two year results from the RIO-Europe Study. Eur Heart J., 2008, 29(14):1761-71, com permissão de Oxford University Press) Uma metanálise recente afirmou que o rimonabanto causa significativamente mais efeitos adversos, incluindo alguns graves, que o placebo, principalmente na dose de 20mg/dia. Ainda nesse estudo, notou-se que os efeitos adversos mais graves ocorreram em pacientes mais jovens. Embora esses estudos não abordassem o risco de suicídio nos pacientes, os autores alertam que é importante o médico ter atenção devido à possibilidade de efeitos adversos graves relacionados à instabilidade emocional (SCHEEN, 2008). 153 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 153 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. É interessante mencionar que o uso de rimonabanto está associado a efeitos benéficos sobre os lipídios, tais como: triglicerídeos, lipoproteína de alta densidade (HDL), lipoproteína de baixa densidade (LDL) e sobre a glicemia do paciente (BRONANDER; BLOCH, 2007; DESPRES et al., 2009). No entanto, o ensaio clínico CRESCENDO, que tinha o intuito de avaliar os efeitos do uso de rimobananto em pacientes obesos nos eventos cardiovasculares mais graves, como morte, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, teve de ser descontinuado devido ao aumento da incidência de suicídio em pacientes em terapia com esta medicação (TOPOL et al., 2010). As contraindicações encontradas na literatura consultada foram: gravidez e lactação, idade inferior a 18 anos, doenças renais ou hepáticas graves, doenças neurológicas ou psiquiátricas, transtorno depressivo maior e tratamento com antidepressivos (MITCHELL; MORRIS, 2007). Portanto, o tratamento com rimonabanto deve ser feito com cautela em pessoas com história de depressão (para referências consulte a tabela 3). É importante salientar que em muitos estudos o risco de desenvolver transtornos de humor pelo uso de rimonabanto foi subestimado, uma vez que pacientes que sofrem de doenças psiquiátricas, neurológicas ou que estão em tratamento com antidepressivos foram excluídos dos grandes ensaios clínicos (SCHEEN, 2008). COMENTÁRIOS FINAIS Apesar de o tratamento farmacológico da obesidade mostrar-se benéfico para o paciente, já que a perda ponderal promove diminuição do risco cardiovascular e metabólico, além de aumento da autoestima e da qualidade de vida, os riscos associados ao emprego destes fármacos devem ser considerados no momento da prescrição. Esta revisão mostrou que os fármacos β-feniletilamínicos, como a anfepramona, a fentermina, o femproporex e a sibutramina, além do mazindol, apresentam diversos efeitos colaterais, sendo grande parte deles decorrentes da ativação do sistema simpático, como boca seca, constipação, arritmias, taquicardia e elevação da pressão arterial sistêmica, além dos riscos de desenvolver valvulopatias e hipertensão pulmonar. Alguns efeitos colaterais centrais também ocorreram com frequência elevada durante o tratamento com estes fármacos, tais como: ansiedade, nervosismo e insônia. Outro efeito colateral pouco comentado nos estudos clínicos é o risco de tolerância aos efeitos anorexígenos. Em se tratando de mazindol e de fármacos derivados de β-feniletilamínicos, excetuando a sibutramina, os riscos do paciente sofrer o famoso “efeito sanfona” (ou seja, engordar e emagrecer repentinamente) são elevados, especialmente quando o tratamento exceder os 6-12 meses (FERNSTROM; CHOI, 2008). Portanto, quando se opta pelo emprego de tais fármacos, recomenda-se associar ao tratamento farmacológico, mudança nos hábitos alimentares e atividade física regular (BRAY, 2008). Apesar de a sibutramina ser mais bem tolerada que os fármacos β-feniletilamínicos mais antigos, os estudos clínicos mostram que, devido ao seu mecanismo de ação, que 154 _13649e-NUTRIRE v36 n2.indd 154 27/10/11 18:49 NEGREIROS, I. I. F.; OLIVEIRA, D. C.; FIGUEREDO, M. R. O.; FERRAZ, D. L. M.; SOUZA, L. S.; MOREIRA, J.; GAVIOLI, E. C. Efeitos adversos dos moduladores de apetite. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 2, p. 137-160, ago. 2011. inclui inibição da recaptação de noradrenalina e dopamina, esse fármaco é também responsável por sintomas relacionados à ativação simpática periférica (sobrecarregando especialmente o sistema cardiovascular) e à estimulação do sistema nervoso central. No entanto, considerando que este fármaco também inibe a recaptação de serotonina, deve-se ter precaução com as interações medicamentosas, especialmente ao associar a sibutramina a fármacos com ação estimuladora do sistema serotoninérgico, devido ao risco do paciente desenvolver crise serotonérgica (BEHAR, 2002). O rimonabanto trouxe uma nova perspectiva para o tratamento da obesidade, isso devido ao seu mecanismo de ação inédito. No entanto, as expectativas foram frustradas haja vista a gravidade dos efeitos adversos decorrentes do tratamento com esse fármaco, como por exemplo, alterações do humor e piora do quadro de depressão maior (MITCHELL; MORRIS, 2007). Esses efeitos colocaram em dúvida a segurança clínica do rimonabanto e trouxeram o foco para o tratamento da obesidade novamente com os fármacos moduladores de apetite do tipo estimulantes. Em conclusão, é imprescindível o clínico estar atento às contraindicações e efeitos adversos dos fármacos moduladores do apetite, a fim de proporcionar um tratamento eficaz e seguro para seus pacientes. REFERÊNCIAS/REFERENCES APFELBAUM, M.; VAGUE, P.; ZIEGLER, O.; HANOTIN, C.; THOMAS, F.; LEUTENEGGER, E. Long-term maintenance of weight loss after a very-low-calorie diet: a randomized blinded trial of the efficacy and tolerability of sibutramine. Am J Med., v. 106, n. 2, p. 179-184, Feb 1999. BARCELLA, C. C.; MONTANARI, T. 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