Estudo das colônias de fungos e bactérias em solos de floresta tropical associada à variação das chuvas na região Rommel B. da Silva¹, Quêzia Moura², Hernani Rodrigues², Priscilla Barreto², Hildo Nunes³, Ronaldo Rodrigues³, Sérgio Santos³, Mª de Lourdes Ruivo4 ¹Universidade de São Paulo, ²Universidade Federal do Pará, ³Programa LBA/CENÁRIOS, 4 MPEG [email protected], [email protected] ABSTRACT The soil of the Amazon rainforest is characterized by low fertility and concentration of nutrients, high acidity and high aluminum content. The action of microorganisms in the processing of organic waste meets the ground mineral salts and humic substances that produce in the soil, chemical and physical properties favorable to the development of plants. The samples were obtained in collection campaigns following the seasonality of the region, rainy period, intermediary and dry. Control collects used wax paper labels. Samples of soil occurred in the year 2009. Average values obtained for fungi, fluctuated between 79,89.10-2 and 124,78.10-2 UFC.g-¹soil, for the first installment of soil collected during the dry period. In the case of bacterial population, the values identified in the rainy period ranged between 101.10-4 UFC.g-¹soil, and 91,1.10-4 UFC.g-¹soil. The results show the significant contribution of rains and radioactive flux for controlling populations of fungi and bacteria in Amazonian soils. Key-words: fungi, bacteria, Amazonian Soils, Climate 1 - INTRODUÇÃO A biodiversidade da Amazônia é influenciada pelo regime de precipitação e altas temperaturas. A vegetação do solo de Terra firme passou por um processo de adaptação procurando utilizar eficientemente os nutrientes reciclados da matéria orgânica decompostas pelos microorganismos do solo, ao passo que, a perda de elementos é muito pequena e a contribuição da microflora é de fundamental importância para a manutenção do ecossistema como um todo (OLIVEIRA, 1994). A Biomassa microbiana é um compartimento da matéria orgânica do solo diretamente influenciado por fatores bióticos e abióticos, sendo, portanto, sensível às mudanças ocorridas no sistema. Neste sentido, o conhecimento desses seres se torna muito relevante, pois a presença ou ausência de determinados indivíduos refletem a qualidade ambiental do ecossistema (GILLER et al., 1997; GAMA-RODRIGUES, et al., 2005). Vale ressaltar que o efeito do clima, por meio das variáveis como precipitação, temperatura e umidade é considerado o mais importante agente na manifestação das expressões dos constituintes do solo (FRIGHETTO e VALARINI, 2000; GUERRA e CUNHA, 2003). Neste sentido e levando em consideração o importante papel desempenhado pelos microrganismos na decomposição da parcela de liteira proporcionando a reciclagem dos nutrientes do ecossistema e estimando a influência das mudanças climáticas no desenvolvimento dos processos naturais que ocorrem no ambiente solo, foi realizado o presente estudo tendo como objetivo comparar a variação da população de bactérias e fungos, em diferentes profundidades de solos de floresta primária, controlada e natural, com a sazonalidade climática. 2 - METODOLOGIA As áreas de estudo estão dentro dos limites da Reserva Florestal de Caxiuanã, localizada no município de Melgaço-PA a 400km a oeste de Belém. Nos solos da região há predominância dos grupos Latossolos, porém Planossolos, Gleys e Terra Preta, Arqueológica também, diagnosticados (Kern, 1996). Foram determinados 3 pontos amostrais em cada ponto na floresta primária, sendo que, a distância entre os pontos dentro de cada parcela não ultrapassou 20 metros e a distancia entre as parcelas dista de 40km, sendo uma parcela natural (parcela 2) e outra parcela controlada (parcela 1), localizadas dentro da mesma FLONA. Em cada área foram selecionados 3 pontos amostrais para a abertura de mini-trincheiras onde foi coletado porções de solo de aproximadamente 400 g, nas profundidades 0-5; 5-10; 10-20 e 20-30, que foram armazenadas em sacos plásticos devidamente identificados. Logo após a coleta, as amostras foram mantidas resfriadas com gelo e enviadas para o laboratório de microbiologia. Para determinar a quantidade de Unidades Formadoras de Colônias (UFC) de fungos e bactérias foi utilizado o método “Por Plate”, onde a alíquota (solo e água) é depositada no interior da parte basal de uma placa de Petri estéril sendo adicionado posteriormente o meio de cultura. Após solidificação do meio, as placas são incubadas por 48 horas no caso das bactérias e 5 dias para os fungos. As UFCs de bactérias foram contadas após 24 e 48 horas de incubação, já as de fungos foram quantificadas após 5 dias. A contagem das colônias foi realizada com o auxílio do contador de colônias em contraste com o meio opaco de cultura, sendo expressos em 10-² UFC.g-¹solo para fungos e 10-4 UFC.g-¹solo para bactérias. 3 - RESULTADOS E DISCUSSÕES A precipitação pluviométrica na Amazônia são predominantemente convectivas e os principais mecanismos que explicam o regime pluvial na região resultam da atuação predominante da ZCIT, das brisas marítimas, da penetração de sistemas frontais e da fonte de vapor representada pela floresta Amazônica (VIANELLO & ALVES, 2000). Sua sazonalidade (Figura 01) apresenta maior quantidade pluviométrica no 1° semestre tendo o mês de março o mais chuvoso e no 2° semestre o mês de agosto o menos chuvoso da região, proporcionando a distribuição dos índices climáticos nas parcelas, a distribuição das chuvas dentro das parcelas está demonstrada pelo quantitativo de chuva que ocorreu por sobre a região onde estão localizadas as parcelas fazendo com que sejam claramente detectadas as diferenças pluviometrias, porém mantendo sua sazonalidade predominante. A distancia entre as parcelas é de 40km e as chuvas da região de Caxiuanã são chuvas setorizadas, onde se constata claramente, por método visual, que a pluviometria não é a mesma em toda a área da FLONA e que os fluxos de energia gerados pela baia de Caxiuanã determinam a distribuição das chuvas na área. Figura 1. Sazonalidade da precipitação pluviométrica na região das parcelas Para a visualização e compreensão, dos dados obtidos foi necessário realizar a média aritmética e o desvio padrão dos valores encontrados em cada profundidade e período sazonal. Os maiores valores de média, obtidos para fungos, foram identificados no período seco em 1 todas as profundidades, sendo 79,89.10-2 e 124, 78.10-2 UFC.g-¹solo, para a primeira parcela de solo coletada. No caso da população bacteriana, os maiores valores foram identificados no período chuvoso, sendo 101.10-4 UFC.g-¹solo e 91,1.10-4 UFC.g-¹solo de solo (Tabelas 1 e 2). Tabela 1. Valores das médias e desvio padrão para resultados de UFC de fungos. Área Parcela 1 Parcela 2 Profundid 0–5 5 – 10 10 - 20 20 - 30 0–5 5 – 10 10 - 20 20 - 30 Fungos (10-2 UFC.g-¹) CHU 57,6 46,0 20,9 15,9 73,2 42,3 28,2 7,4 INT 52,4 49,1 24 12,7 43,3 22,3 20,3 14,3 SECO 79,89 44,11 37,89 21,67 124,78 52,11 32,33 9,11 Desvio padrão CHU 10,1 15,4 10 7,9 3,6 27,6 18,6 1,9 INT 17,8 27,7 18,6 12,7 14,3 9,3 5,4 1,2 SECO 22,44 6,38 15,16 3,38 21,36 9,26 5,24 2,17 Tabela 2. Valores das médias e desvio padrão para resultados de UFC de bactérias. Área Parcela 1 Parcela 2 Profundid 0–5 5 – 10 10 - 20 20 - 30 0–5 5 – 10 10 - 20 20 - 30 Bactérias (10-4 UFC.g-¹) CHU INT SECO 101 45,3 88,44 85,6 38,7 37,33 96,3 50,8 45,44 72,1 32 45,11 90,1 70 84,44 78 57,3 32 57,7 30,8 29,11 19,4 24,1 21,44 CHU 36,9 22 31,8 38,4 42,2 17,2 20,2 12,5 Desvio padrão INT SECO 23,8 43,69 30,7 18,11 33,5 14,62 13,6 54,52 56,1 55,94 32,1 22,26 9,2 21,35 10,7 20,40 Os valores mais expressivos para tal parâmetro estatístico foram identificados no período seco em ambas as parcelas, considerando os resultados da população de fungos e bactérias. Os menores valores foram identificados para a população fúngica, ao passo que, pode-se inferir que a amplitude dos mesmos para essa série é pequena, enquanto na população bacteriana os resultados foram bem maiores, indicando variabilidade acentuada dos resultados. Um maior número de UFC de fungos (69.102 UFC.g-¹ e 77,3.102 UFC.g-¹) e bactérias 4 (140.10 UFC.g-¹ e 128,37.104 UFC.g-¹) foram encontrados na primeira camada do solo (0-5), para ambas as parcelas. De forma geral, os valores obtidos nos primeiros perfis do solo, foram os mais elevados, fato justificado por Vieira e Nahas (2000) pela quantidade de matéria orgânica que se concentra nas camadas superiores. Comparando os resultados das áreas estudadas, notou-se que houve uma redução na quantidade de UFC, (para bactérias e fungos), da parcela 1 em relação a parcela 2. Em estudo na área, Ruivo et al (2002) também encontrou variações quantitativas de microorganismos decorrentes do stress hídrico e da diminuição do substrato no solo. No período intermediário, os valores obtidos para fungos, tanto na parcela 1 (78,67.102 UFC.g-¹) quanto na parcela 2 (59,67.102 UFC.g-¹) foram detectados na superfície. Para as bactérias, os maiores valores, (88,67 e 134,33 .104 UFC.g-¹), foram encontrados nas profundidades de até 20cm tanto na parcela 1 como na parcela 2. Neste período a resposta da população microbiana, salvo algumas exceções, apresentou comportamento variável, uma vez que na maioria dos pontos os valores de UFC não diminuíram com a profundidade, fato identificado principalmente na parcela 1. Não foi encontrado explicação para esse fenômeno na literatura, mas supõe-se que, diante desse comportamento, em ambiente alterado o desenvolvimento de bactérias anaeróbicas seja maior, já que estas desempenham suas atividades nas camadas mais inferiores do solo. No período seco, os maiores valores, tanto para a população fúngica quanto para a bacteriana, foram inicialmente identificados nas 2 primeiras camadas das parcelas 1 e 2. As análises microbiológicas mostram que a população bacteriana é relativamente maior do que a população fúngica, porém a mesma apresentou maior variação nas duas áreas estudadas. RUIVO et al (2002), diz que fatores como temperatura, umidade e pH do solo podem influenciar na densidade dos microorganismos, pois são sensíveis as mudanças das condições edáficas. Neste sentido infere-se que as bactérias podem ser mais sensíveis as alterações ambientais se comparadas com a população fúngica. A população de fungos foi consideravelmente maior no período seco em ambas as parcelas, sendo mais evidente na parcela 2 e nas primeiras camadas de solo analisadas (Figura 2). Os valores de UFC diminuíram com a profundidade em todas as áreas e períodos estudados, sendo os menores resultados para a superfície do solo, obtidos no período de transição (52,44.102 e 43,33.102 UFC.g-¹solo). Monteiro e Dionísio et al (1994), estudando solo permanentemente coberto com vegetação, também identificaram uma acentuada redução na quantidade de fungos em períodos de maior precipitação pluviométrica. É possível a influência do processo de lixiviação, no qual há uma retirada parcial dos componentes do solo, os quais interferem na atividade fúngica. 5 cm 10 cm 20 cm 30 cm 5 cm 140 120 20 cm 30 cm 120 100 UFC/g de Solo UFC/g de Solo 10 cm 140 80 60 40 20 100 80 60 40 20 0 0 FE1 FP1 FE2 FP2 Perfil fúngico sazonal FE3 FP3 BE1 BP1 BE2 BP2 BE3 BP3 Perfil bacteriano sazonal (a) (b) Figura 2. Variação sazonal da população fúngica (a) e bacteriana (b) para a parcela 1 (FE) e parcela 2 (FP), os nºs 1, 2 e 3 correspondem ao período chuvoso, transição e seco. A população bacteriana apresentou variação sazonal mais suave que a população fúngica. Os maiores resultados foram identificados no período chuvoso e somente as amostras da parcela 1 não tiveram valores reduzidos, conforme o aumento da profundidade. Ruivo et al (2009), também realizou estudos na área da parcela 1 e inferiu que tal aspecto é um forte indício da influência da umidade do solo e da relação entre disponibilidade de oxigênio e a atividade bacteriana nas parcelas superficiais do solo. 4 – CONCLUSÕES Independente do período sazonal, a população de fungos e bactérias diminui com a profundidade, fato atribuído a ausência de oxigênio e matéria orgânica nas camadas inferiores do solo. A variação climática amazônica proporciona crescimento de fungos e bactérias durante todo ano, sendo que, no período seco, ocorre declínio das populações em relação a profundidade em todas as áreas, sendo obtidos no período de transição, os menores resultados para a superfície do solo, por ser a área de maior exposição as incidências radiativas. As bactérias apresentaram variação sazonal conforme a disponibilidade de água no ambiente, sendo os maiores valores obtidos no período chuvoso. O período de maior incidência de precipitação pluviométrica concorre para um aumento na população bacteriana do solo mesmo em períodos de estiagem, pois a disponibilidade hídrica do solo concorre para manter o índice populacional em seu nível de predominância. Os solos estudados são predominantemente compostos por muitas bactérias e poucos fungos. 3 5 - REFERÊNCIAS DIONISIO, J. A. et al.; 1994: Ocorrência de microorganismos em áreas de plantio direto. In: Simpósio Brasileiro sobre Microbiologia do solo, 3,1994. Resumos. Londrina: IAPAR, 1v. FRIGHETTO, R. T. S.; VALARINI, P. J.; 2000: Indicadores biológicos e bioquímicos da qualidade do solo: manual técnico. Jaguariuna, São Paulo: Embrapa: FUNEP, 000. 198 p. GAMA-RODRIGUES, E. F. BARROS, N. F. GAMA-ROGRIGUES, A. C. SANTOS, G. A.; 2005: Nitrogênio, Carbono, e atividade da biomassa microbiana do solo em plantações de eucalipto. Revista Brasileira de Ciências do solo, 29: 893-901. GILLER, K.E.; BEARE, M.H.; LAVELLE, P.; IZAC, A.M.N.; SWIFT, M.J.; 1997: Agricultural intensification, soil biodiversity and agroecosystem function. Applied Soil Ecology, Amsterdam, v.6, n.1, p.3-16, Aug. GUERRA, A. J. T. e CUNHA, S. B.; 2003: Geomorfologia e meio ambiente. 4° ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. KERN, D. C.; 1996: Geoquímica e pedogeoquímica em sítios arqueológicos com Terra Preta na Floresta Nacional de Caxiuanã (Portel- PA), Belém: Universidade Federal do Pará/ Centro de Geociências/ Curso de Pós-graduação em Geologia e Geoquímica, Tese de Doctorado. 100p. MONTEIRO, A.C.; 1994: Influência da sazonalidade, dos teores de matéria orgânica, pH e umidade na ocorrência de fungos entomopatogenicoos no solo. In: III Simpósio Brasileiro sobre Microbiologia do solo, 3.,1994. Resumos. Londrina: IAPAR, 1v. OLIVEIRA, L.; 1994: Ecologia microbiana nos solos tropicais úmidos. In:III Simpósio Brasileiro sobre Microbiologia do solo, 3.,1994. Resumos. Londrina: IAPAR,1v. RUIVO, M. L. P. et al., 2002: Propriedades do solo e fluxo de CO2 em Caxiuanã, Pará: experimento LBA- Esecaflor. In: KLEIN, E.L.; VASQUEZ, M.L.; ROSA-COSTA, M.L. (Orgs.) Contribuições à Geologia da Amazônia, V.3. SBG-Núcleo Norte, p. 291-299. VIANELLO, R. L.; ALVES, A. R.; 2000: Meteorologia Básica e Aplicações, Viçosa-UFV, 449p. VIEIRA, F. C. S; NAHAS, E. Quantificação de bactérias totais e esporuladas no solo. Scientia Agricola, 57:539-545, 2000. 4