Fazer da carta econômica

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Carta Econômica Junho-07
A Manutenção da Meta Inflacionária.
Além da polêmica dos últimos dias, a divulgação do Conselho Monetário da meta inflacionária para 2009 em
4,5% e do intervalo de tolerância em 2%, para cima e para baixo, acabou produzindo um ruído na comunicação entre
as autoridades econômicas e o mercado financeiro. Em primeiro lugar, é importante que se destaque que, desde junho
de 2003, o centro da meta tem se mantido em 4,5%. Assim, teoricamente, há quatro anos, esta taxa vem balizando as
decisões de política monetária e as expectativas inflacionárias dos agentes econômicos. Contudo, um ambiente
extremamente favorável permite que nesse momento, a inflação acumulada em 12 meses seja de 3,2%, as projeções
médias projeções médias para 2007 e 2008 permaneçam em 3,7% e 4% respectivamente. Desse modo não faria
sentido que o Banco Central mostrasse uma disposição em aumentar a inflação corrente, ou melhor, que calibrasse a
sua política monetária para atingir o centro da meta de 4,5%. Essa contradição seria resolvida, caso o CMN optasse
pela redução do centro da meta para 4%. Sendo muito provável que uma meta de 4% não imponha sacrifícios
adicionais no curto prazo, qual seria a lógica para a sua manutenção?
Apesar de passar para muitos a impressão de que seja possível acelerar o crescimento por meio de uma
inflação mais alta, a verdadeira lógica para a manutenção da meta deve estar baseada na necessidade de um espaço
maior de manobra para acomodar os impactos produzidos por choques de oferta que possam a vir ocorrer. Quem
garante que o benigno cenário atual possa se perpetuar? Há fontes consideráveis de risco que o atual ciclo
expansionista da economia internacional possa ser revertido em futuro não tão longínquo. Uma inflexão abrupta no
fluxo de capitais terá como conseqüência uma forte depreciação na taxa de câmbio. Como a correlação entre preços
internos e a taxa de câmbio é ainda elevada, uma meta mais baixa e um intervalo mais estreito poderiam impor custos
expressivos na dissipação dos efeitos desse choque. Assim, a meta que hoje se mostra tranqüila pode mostrar-se de
difícil cumprimento.
Na realidade, o sistema de formação de preços da economia ainda está em transição sendo necessário que se
eliminem algumas anomalias herdadas do período de alta inflação, como por exemplo, a indexação de contratos e a
sua influência sobre o preço dos bens administrados e a parcela expressiva de títulos da dívida pública indexados à
taxa básica de juros. O sentimento adquirido na experiência brasileira com o regime de metas inflacionárias é de que
não é o nível do centro da meta que confere credibilidade ao Banco Central, diminuindo os custos de uma eventual
política de combate à inflação, mas sim o cumprimento das mesmas. Por isso, se recomenda extremo cuidado na
escolha da velocidade para a convergência da meta para patamares mais baixos. A opção errada pôde ser observada
nos primeiros anos do regime, quando se estabeleceu metas agressivas que, em função das vulnerabilidades e das
crises vivenciadas pela economia, não foram cumpridas, arranhando a imagem da eficiência do regime e levantando
alguns questionamentos que, apesar da ampla reversão de cenário, ainda não foram totalmente dirimidos.
Nas suas decisões acerca da política monetária, o Banco Central arbitra a taxa básica de juros, mirando a
taxa real de juros. Assim, se as expectativas inflacionárias se reduzem, a autoridade monetária ajustaria para baixo a
taxa nominal de juros. Contudo, a questão que fica em aberto é a forma como reagem tais expectativas, não parece
razoável que as mesmas possam se elevar por causa da decisão do CMN. Na verdade, a despeito da eficiência da
política monetária, o êxito obtido no processo desinflacionário tem como principal responsável a combinação da
apreciação da taxa de câmbio com a liquidez do mercado internacional que tem viabilizado o superávit em contacorrente, o acúmulo de reservas, diminuindo as vulnerabilidades, reduzindo o risco soberano e a taxa real de juros de
equilíbrio
.
Dessa forma, a lógica para a manutenção da meta em 4,5% está estreitamente ligada ao grau de aversão
de risco das autoridades econômicas acerca dos efeitos produzidos na economia com uma eventual reversão do ciclo
econômico da economia internacional. Com a expressiva melhora nos indicadores de risco, quando comparado com
os números do momento da última crise, é possível que essa percepção seja exagerada, mas efetivamente a economia
ainda não está imune. Todos os choques que o país enfrentou evidenciaram as dificuldades de gestão do modelo de
metas inflacionárias. É inequívoco que a taxa de inflação deva atingir o mesmo nível que dos nossos principais
parceiros comerciais, contudo a convergência deve ser cuidadosa. O Chile, a despeito do regime ditadorial, demorou
dez anos para completar essa convergência, talvez se deva mirar o seu exemplo.
Junho/2007
Everton P.S. Gonçalves
Assessor Econômico da ABBC e Dr em Economia pela FGV/SP.
[email protected]
Este documento foi preparado pela Assessoria Econômica da ABBC, com finalidade
1 única de prestar informações ao mercado. Esse trabalho reflete a opinião pessoal,
não devendo ser interpretado como oferta ou solicitação de oferta para comprar ou vender quaisquer títulos e valores mobiliários ou produtos e instrumentos financeiros.
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