Carta Econômica – Julho /2010 Ruídos na Comunicação? O processo de comunicação entre os indivíduos e corporações apresenta claras imperfeições. Sempre está cercado por ruídos que podem provocar perdas ou desvios nos objetivos da mensagem. Resumidamente, nem sempre aquilo que o emissor deseja informar é precisamente aquilo que o receptor decifra e compreende. Com base nos últimos documentos disponibilizados pelo Banco Central, uma parcela significativa de analistas econômicos foi surpreendida com a alteração do ritmo de aumento da taxa básica de juros. Apesar do aparente ruído na comunicação, o curioso é que, diferentemente dos economistas, muitas das mesas de negociação de mercados cados futuros das instituições financeiras anteciparam o movimento. Teriam percebido alguma mudança significativa no cenário macroeconômico e não refletida nos sinais transmitidos pela autoridade monetária? Não parece plausível. Assim, aparentemente, houve houve algum distúrbio na comunicação. Os documentos e a reprodução dos modelos macroeconômicos, utilizados pelo Banco Central, não apontavam para a direção que foi seguida. As projeções do Relatório de Inflação sinalizavam para que houvesse a convergência rgência da trajetória da inflação para o centro da meta, a taxa básica teria que sofrer duas elevações consecutivas de 75 pontos e uma de 25 pontos na reunião de dezembro. Houve, portanto, uma clara dissonância entre o discurso e a decisão tomada nesta última reunião. Para a autoridade, a redução de riscos para o cenário inflacionário ocorrido, após o encontro de junho, serviria como justificativa para a elevação da taxa de juros em apenas 50 pontos básicos. O intrigante é que nem mesmo em um momento crítico, crítico, como o da quebra do Lehman Brothers, se teria verificado uma modificação tão súbita de postura. Os fatores internos e externos que compõem o balanço de risco teriam se comportado de forma a suportar a mudança de atitude do Banco Central? Ao que tudo indica, a decisão teria sido tomada preponderantemente com base no cenário de curto prazo ou em outras outra palavras, se peso maior aos resultados correntes da taxa de inflação, relativizando o papel das expectativas futuras e as condições estruturais da economia. No que se refere ao quadro inflacionário recente, a mudança de cenário não foi tão significativa. va. Todavia, ainda que a pressão nos preços no segmento de serviços persista, a mudança no comportamento dos preços de bebidas e alimentação deverá reverter a deterioração verificada no inicio deste ano. Adicionalmente, o comportamento relativamente confortável conf das medidas de núcleo e o recuo do índice de difusão reforçam a hipótese de que o risco inflacionário foi mitigado e que o esforço para a convergência da inflação ao centro da meta possa ser menor. A novidade revelada na Ata do Copom refere-se refere ao horizonte temporal para a convergência, ao que tudo indica o prazo foi estendido para o primeiro semestre de 2012. Pode-se, se, também, observar que a recuperação da produção industrial já está disseminada por todos os setores. De uma forma geral, a reversão reversão das medidas de desoneração tributária deve levar a atividade para um ritmo de expansão mais compatível com as potencialidades da economia e sustentado de forma saudável pelos canais de crédito e do mercado de capitais. Os Este documento foi preparado pela Assessoria Econômica da ABBC, com finalidade única de prestar informações ao mercado. Esse trabalho reflete a opinião pessoal, do seu autor não devendo ser interpretado como oferta ou solicitação de oferta para comprar ou vender quaisquer títulos e valores mobiliários ou produtos e instrumentos financeiros.. 1 indícios dessa acomodação podem ser observados em alguns indicadores de atividade, como o índice mensal do Banco Central, os indicadores do nível de utilização da capacidade instalada da FGV e do CNI, as vendas no comércio ampliado e o crescimento do endividamento dos consumidores. Contudo, udo, o comportamento futuro ainda está repleto de incertezas que podem minar a confiança dos consumidores e dos empresários. Estruturalmente, a maior restrição para a obtenção de um crescimento mais acelerado encontra-se se nas contas externas. Pela insuficiência insuficiência de poupança e como a elasticidade renda das importações é bem superior à das exportações, uma expansão mais agressiva só é possível com o recurso da poupança externa e refletida no déficit nas contas correntes. O volume expressivo de remessa de lucros ros e dividendos e o atual descompasso entre importações e exportações despertam o alerta para a dinâmica futura das contas externas. A insuficiência dos investimentos diretos para cobrir o déficit nas contas externas é um sinal claro da deterioração que pode p levar uma estória já conhecida: parada súbita da entrada de capitais, aguda depreciação da taxa nominal de câmbio e a adoção de políticas monetária e fiscal fortemente contracionistas. No frente externa, com a queda no otimismo com as economias mais ricas, ficam evidenciadas as limitações da recuperação da atividade global por intermédio dos países emergentes. A atividade industrial da China já exibe uma evolução mais moderada. A economia norte-americana americana demonstra um ritmo de expansão mais lento do que que esperado, de modo que a previsão de crescimento para 2010 foi reduzida, os níveis de confiança dos consumidores ainda permanecem em patamares inferiores aos vigentes antes da crise de 2008/2009 e o desemprego continua em patamar elevado. As informações mais recentes sobre o consumo apresentam taxas negativas não só para os EUA, como para o Japão e para a Área do Euro. Para esta última há ainda o agravante de que o excessivo endividamento dos países diminui a margem de manobra para a utilização de estímulos os fiscais. A configuração de um quadro internacional mais sombrio atingiria a economia brasileira através dos preços das commodities internacionais. A desaceleração da China e o crescimento mais baixo das economias mais ricas devem reduzir estas cotações. cotações. A tendência com a queda do índice CRB do Commodity Research Bureau é que haja uma redução no preço das exportações e no quantum exportado. Isso se constituiria em um cenário desfavorável para as exportações e por sua vez em um efeito negativo na atividade atividade econômica. Contudo, a menos que haja uma nova débâcle com forte impacto na liquidez internacional, não é provável que se tenha uma desaceleração da economia em grande magnitude. Enfim, apesar da melhoria do balanço de riscos, não houve uma alteração alteraçã abrupta na tendência dos principais indicadores de preços e de atividade. A mudança da autoridade monetária parece estar fundamentada no processo de aprendizagem com a última crise financeira internacional. De uma forma geral, a impressão que se tem é que que a reação dos principais bancos centrais aos primeiros sinais de mudanças de cenário tem sido mais rápida. A prestação de contas à sociedade, através das explicações expostas na ata para o processo de tomada de decisão, mostra-se se crível. Assim, apesar de polêmica e de ter gerado um ruído em relação às mensagens anteriores, a decisão em estender o horizonte da política monetária é factível com o recrudescimento das incertezas. Julho/2010 Everton P.S. Gonçalves BC e Dr em Economia pela FGV/SP - [email protected] Assessor Econômico da ABBC Este documento foi preparado pela Assessoria Econômica da ABBC, com finalidade única de prestar informações ao mercado. Esse trabalho reflete a opinião pessoal, do seu autor não devendo ser interpretado como oferta ou solicitação de oferta para comprar ou vender quaisquer títulos e valores mobiliários ou produtos e instrumentos financeiros.. 2