Impacto das exportações brasileiras na produção e na

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Impacto das exportações brasileiras na produção e na renda nacionais: uma abordagem
insumo –produto.
Samuel José de Magalhães Oliveira1
Joaquim José Martins Guilhoto2
Resumo
O Brasil, desde o seu descobrimento, esteve envolvido com o comércio internacional. No
entanto, tal inserção tem se apresentado historicamente com limitações para proporcionar o
desenvolvimento econômico sustentado e, nas últimas décadas a presença brasileira no comércio
internacional não tem sido de muito destaque. Este trabalho busca investigar o impacto das
exportações brasileiras na produção e na renda do país utilizando a análise de insumo produto
para os anos de 1995 e 2000. No período analisado as atividades exportadoras aumentaram o
impacto na produção e no emprego. No entanto alguns setores que têm grande potencial de gerar
renda e emprego ainda não são expressivos no comércio exterior brasileiro.
Palavras-chave
comércio, internacional, Brasil.
Introdução
Desde as considerações teóricas de David Ricardo se reconhece que as trocas
internacionais são meio de desenvolvimento econômico para os países. O Brasil, a partir do início
de sua colonização pelos portugueses, esteve envolvido com o comércio internacional. O próprio
nome de nosso país se originou no seu primeiro produto de exportação, o pau-brasil. O primeiro
ciclo de exportação de maior vulto foi o da cana-de-açúcar, que atingiu o apogeu na primeira
metade do século XVII, quando o Brasil abastecia parte da Europa com açúcar. Houve, ainda,
outros ciclos econômicos voltados a produto de exportação como o ouro, o algodão, a borracha, o
café. Mas mesmo com toda esta inserção internacional da época da colônia e do império, o país
inicia o século XX como nação subdesenvolvida, indicando que as oportunidades, caracterizadas
como ciclos, não foram aproveitadas de maneira sustentável para gerar desenvolvimento.
Em meados do século XX, o país assiste à sua industrialização e à conseqüente
diversificação de sua pauta de exportação. No início do século o café era o maior gerador de
divisas para o país, situação que se modifica significativamente um século depois. Nos últimos
quarenta anos o país deixa de ser exportador de produtos básicos e se transforma em exportador
de produtos industrializados, mas ainda de baixo valor agregado, e, o mais grave, o país perdeu
sua participação no mercado internacional nos últimos anos, movimento que pode estar
começando a se reverter no início deste século com uma série de medidas que o país tem tomado
para dinamizar seu setor externo. Um dos indicativos disto é o grau de abertura da economia em
2002, 12%, valor significativamente acima dos 6 a 9% observados por meio século (Tabela 1 e
Tabela 2).
1
Pesquisador Economia Embrapa. Doutorando em Economia Aplicada, USP/Esalq. Piracicaba, SP. Endereço
eletrônico: [email protected]
2
Professor Titular Economia, USP/ FEA. São Paulo, SP. Endereço eletrônico: [email protected].
Tabela 1. Exportação brasileira por fator agregado, valores relativos, 1964-2003
ANO
PARTICIPAÇÃO SOBRE O TOTAL EXPORTADO (% )
BÁSICOS
SEM IM ANUFATURADOS
1964
85
8
M ANUFATURADOS
6
1970
75
9
15
1980
42
12
45
1990
28
16
54
2000
23
15
59
2003
29
15
54
Fonte: Séries... (2004).
Tabela 2 Evolução do comércio exterior brasileiro: abertura econômica e participação relativa
das exportações e importações brasileiras no comércio mundial, 1950-2002.
ANO
GRAU
DE
ABERTURA
ECONÔM ICA (%)
PARTICIPAÇÃO M ERCADO INTERNACIONAL (% )
EXPORTAÇÕES
IM PORTAÇÕES
1950
8
2,4
1,7
1960
8
1,1
1,2
1970
6
0,9
0,9
1980
9
1,0
1,3
1990
6
0,9
0,6
2000
9
0,9
0,9
2002
12
1,0
0,9
Fonte: Séries... (2003).
1
O grau de abertura econômica é a razão entre a média do total exportado e importado pelo país
e seu respectivo PIB.
É importante identificar o impacto das exportações na economia brasileira para a
orientação de políticas que conciliem o aproveitamento do potencial de maior inserção
internacional do país com o desenvolvimento econômico.
Dentro deste contexto, o objetivo do trabalho é analisar o impacto das exportações
brasileiras na produção e no emprego do país. Para isto, é utilizada a análise insumo-produto
considerando as matrizes para 1995 e 2000.
Comércio exterior e desenvolvimento
Entre as teorias que explicam a divisão do comércio internacional, algumas enfocam a
oferta e outras, a demanda. Do lado da oferta se destaca a Lei das Vantagens Comparativas,
formulada por David Ricardo. Com o livre comércio cada país se especializa em produzir o que
tem vantagem comparativa interna e transaciona tal bem. A produção mundial aumenta e o bemestar também. Isto quer dizer que a demanda e a abertura comercial dos países condiciona o valor
do comércio exterior. Quanto mais elástica é a demanda do país importador, melhor é o termo de
troca alcançado pelo país exportador. Outros autores deram importante contribuição na
explicação dos fluxos de comércio internacional. O Teorema de Hecksher-Ohlin postula que cada
país se especializa no comércio de bens que utilizam mais intensamente fatores de produção no
1
qual é abundante. Krugman oferece uma abordagem que vai além dos postulados da economia
neoclássica da concorrência perfeita: o comércio internacional é uma estratégia para que as
grandes corporações, em concorrência monopolística, alcancem escala de produção e aumentem
sua participação no mercado. Do lado da demanda, entre outros autores, se destacam Linder e
Vernon postulando que o que condiciona a exportação de um país é condicionada pela demanda
existente neste país, que possibilita a produção e geração de excedentes (Blaug, 1985; Krugman e
Obstfeld, 2001; Lindert,1986).
Estudos empíricos realizados no Brasil ratificam as teorias do comércio baseada na
demanda: o saldo da balança comercial brasileira depende mais de fatores que estimulem o setor
produtivo que de incentivos diretos à exportação como taxa de câmbio (Almeida, 1998). Como a
atividade produtiva é influenciada pelo ambiente institucional, pode-se afirmar a importância de
aspectos institucionais para a inserção competitiva do país no âmbito internacional. A relação
entre ambiente institucional e desempenho econômico é abordada por Matthews (1986) e North
(1993, 1994), entre outros.
Se admitirmos como verdadeira a hipótese de que o comércio exterior é condicionado
pelas atividades produtivas do país, que por sua vez, é uma resposta ao ambiente institucional, é
necessário entender a formação da matriz institucional brasileira para melhor entender sua
inserção internacional. As origens históricas de nosso país gerou uma matriz institucional que
desde os tempos coloniais se caracteriza por relações autoritárias, pouco valor ao trabalho e
concentração de renda, o que funciona como desestímulo à competição econômica, ao progresso
tecnológico e ao desenvolvimento (Furtado, 1982, Donato, 2000, Roberts, 1995).
Nas últimas décadas, os países em desenvolvimento têm aumentado sua participação no
comércio internacional. Estes países, exportadores de matéria-prima no início dos anos 1970 se
tornaram exportadores de manufaturas no final do século. Acreditava-se, na última metade do
século XX que a integração comercial eliminaria o hiato de desenvolvimento entre os países
desenvolvidos e em desenvolvimento (Trade, 2002).
Mas embora tenham aumentado sua importância no comércio mundial, a economia dos
países subdesenvolvidos cresceu menos que a dos países desenvolvidos entre 1980 e 1999. O
Leste Asiático é exceção. O comércio mundial cresceu mais de 8,4¨% a.a. entre 1980 e 1999. O
valor das exportações dos vinte produtos mais dinâmicos no comércio mundial apresentaram taxa
média de crescimento de 12,9% a.a. Representavam 10% do comércio mundial no início do
período citado e passaram a 23% em 1999. Entre tais produtos se destacam: transistores e
semicondutores, computadores e suas partes, instrumentos óticos, instrumentos médicos,
produtos farmacêuticos, máquinas elétricas (Trade..., 2002).
A América do Sul tem sido excluída deste processo de crescimento do comércio
mundial, pois tem aumentado a exportações de commodities pelo fato de ser rica em recursos
naturais. Além disso, parece haver evidência de que os produtos de maior valor agregado tenham
vantagem em ser produzidos próximos a mercados consumidores. Ex: México, próximo aos
Estados Unidos e Coréia do Sul, próxima ao Japão (Trade..., 2002).
Entre os produtos manufaturados há diferente intensidade de uso de tecnologia e capital
para produzi-los. O setor dinâmico do comércio mundial está nos manufaturados de alta
tecnologia e capital. O Brasil tem expandido a exportação em produtos intensivos de mão-deobra e matéria- prima (Trade, 2002).
A análise insumo-produto, proposta por Leontief (Miller e Blair, 1985) tem sido utilizada
em estudos sobre o impacto do comércio internacional nas economias nacionais. As matrizes
inicialmente propunham relações monetárias entre produção e insumos. Modificações às matrizes
que levem a relações físicas entre insumos e produtos têm sido propostas: Hubacek e Giljum
2
(2003), estudaram o impacto das exportações agrícolas da Europa para o resto do mundo na
alocação do fator terra a partir de matrizes disponibilizadas que contabilizaram relações físicas.
O componente ambiental tem recebido crescente importância nos estudos de comércio
internacional dentro da abordagem de insumo-produto (Casler e Blair, 1997; Jayadevappa e
Chhatre, 2000). Shaeffer e Sá (1996) afirmaram que o comércio internacional pode ocultar as
reais emissões de carbono devida a cada país, pois a importação de bens cuja produção implique
em maior emissão de carbono é uma forma indireta de o país importador patrocinar o
aquecimento global. Machado et al. (2001) estudaram o impacto das exportações e das
importações brasileiras no total de carbono emitido pelo país.
Metodologia
As fontes de dados primários deste trabalho foram as matrizes de insumo-produto
brasileiras calculada pelo IBGE para 1995 (Contas..., 2003) e estimada por Guilhoto e Sesso
Filho (2004) para 2000.
A partir destas matrizes uma série de matrizes e indicadores triviais para a teoria insumoproduto foram estimados. A descrição de toda teoria de insumo-produto bem como a dos
indicadores se encontra em Miller e Blair (1985).
O período de análise do trabalho foram os anos de 1995 e 2000 e contemplou tanto a
abordagem agregada para o total da economia brasileira quanto setorial, considerando os 42
setores em que dividem a economia brasileira de acordo com as Contas Nacionais divulgadas
pelo IBGE. Todos os dados monetários foram transformados em reais de 2001 usando os
deflatores agregados e setoriais divulgados pelo IBGE.
Para o estudo do desempenho e impacto das exportações brasileiras no emprego e na
renda foram calculados para 1995 e 2000:
a) O valor da produção da economia brasileira e das exportações deflacionados para reais
de 2001 a partir dos dados de valor da produção em valores correntes das matrizes insumoproduto.
b) A relação percentual exportação/produção.
c) O impacto das exportações na produção. Este impacto foi setorialmente conseguido
através da multiplicação da matriz inversa de Leontief pelo vetor de exportações e indica qual o
valor é produzido na economia brasileira a partir da demanda final representada pelas
exportações. O impacto na economia foi a soma dos impactos setoriais.
XE = (I – A)-1 EXP
Onde:
XE - impacto das exportações na produção (mil de reais de 2001).
(I – A)-1 – matriz inversa de Leontief.
EXP – vetor de exportações setoriais (mil reais de 2001).
d) A geração de empregos diretos por todos os setores da economia foi transcrita das
matrizes insumo-produto.
e) O impacto das exportações na geração de empregos diretos e indiretos foi a soma dos
impactos para cada um dos 42 setores, calculados de acordo com a seguinte equação.
EE (J) = GEMP(J) * EXP (J), geração de empregos diretos e indiretos na economia pelas
exportações do setor J (empregos)
Onde:
EXP (J) = valor das exportações do setor J (milhões de reais de 2001).
3
GEMP (J) = Σi EMP (I,J), geração de empregos diretos e indiretos na economia pelas exportações
do setor J ( empregos/ milhão de reais de 2001).
EMP(I,J) = CE(I) * IL(I,J), geração de empregos diretos e indiretos no setor I pelas exportações
do setor J
CE(I) = L(I)/XD(I), coeficiente de emprego do setor I. (empregos/ milhão de reais de 2001)
L(I) – total de empregos do setor I.
XD(I) = X(I)/DEF(I), valor da produção do setor I deflacionada, expressa em mil reais de 2001.
DEF (I) – deflator do setor I.
f) O impacto da exportação na geração de empregos diretos foi obtida pela fórmula
GEMPD(I) = CE(I) * EXP (I), geração de empregos diretos no setor I em decorrência da
exportação do setor I.
g) O impacto na geração de empregos indiretos foi obtido pela diferença entre empregos
totais e diretos.
h) As relações EE/ EXP e GEMPD/ EE foram obtidas.
Para os dois anos analisados foram classificados em ordem decrescentes os setores que
mais contribuíram com o valor das exportações brasileiras.
A análise setorial foi realizada para o ano de 2000 onde foram criados dois grupos – o
primeiro, composto pelos dez setores primários e secundários que mais contribuíram para a
exportação, em valor e o segundo, composto pelos dez setores primários e secundários que menos
contribuíram relativamente para as exportações. Nos resultados se elencam todos os setores que
compuseram cada um dos grupos. Os mesmos indicadores calculados para a economia agregada
foram gerados para os dois grupos citados, permitindo comparar o desempenho destes dois
grupos entre si e em relação ao país como um todo.
Para os vinte setores que compuseram os dois grupos acima foram calculadas as relações
impacto na produção/ exportações, impacto no emprego/ exportações e os índices puros totais
normalizados (PTLn). O PTLn foi calculado através da metodologia descrita em Guilhoto et al
(1996).
Resultados e Discussão
Alguns indicadores do desempenho das exportações brasileiras e seu impacto na
economia brasileira para o período compreendido entre 1995 e 2000 se encontram na Tabela 3 e
na Tabela 4 . O total da produção brasileira evoluiu de R$ 1,8 trilhão para mais de R$ 2,1 trilhões
no período considerado, o que equivale a um crescimento geométrico médio anual de 3,6%. O
leitor deve estar atento que este total não equivale ao PIB da economia, que se refere apenas à
soma do valor adicionado da produção. As exportações saltaram de R$ 81 bilhões para R$ 121
bilhões, um expressivo crescimento acima de 8% a.a.. É importante notar que todos os valores
monetários estão expressos em reais de 2001. Assim, o crescimento assinalado pelas exportações
brasileiras suplanta ao observado em dólares correntes já que no período houve importante
desvalorização cambial que não foi repassada integralmente para os preços da economia
brasileira. Como resultado deste desempenho notável do ponto de vista de valor exportado, a
participação das exportações na produção nacional passou de 4,5% para 5,6% no período em
estudo.
4
Tabela 3 Desempenho e impacto das exportações brasileiras no emprego e na renda. Brasil,
1995-2000.
A PRODUÇÃO (MIL REAIS DE 2001)
B EXPORTAÇÃO( MIL REAIS DE 2001)
B/A (%)
C IMPACTO NA PRODUÇÃO (MIL REAIS DE 2001)
C/A (%)
C/B
D EMPREGO TOTAL
E IMPACTO EM EMPREGOS DIRETOS
F IMPACTO EM EMPREGOS INDIRETOS
G IMPACTO EM EMPREGOS TOTAL (G=E+F)
G/D (%)
E/G (%)
G/B (EMPREGO/ MILHÕES DE REAIS DE 2001)
1995
1.803.903.331
81.822.182
4,5
171.029.962
9,5
2,1
61.226.100
1.522.809
3.148.693
4.671.502
7,6
32,6
57
2000
2.156.214.140
120.980.648
5,6
251.750.474
11,7
2,1
64.617.300
2.771.863
3.128.316
5.900.179
9,1
47,0
49
Fonte: Dados da pesquisa
O impacto das exportações na produção nacional evoluiu de R$ 171 bilhões para R$ 253
bilhões, equivalendo a 9,5% e 11,7% do valor da produção nacional em 1995 e 2000,
respectivamente. O setor exportador aumentou a capacidade de impactar a economia brasileira
entre os 5 anos em questão. No entanto a relação entre o impacto e o valor exportado permaneceu
em 2,1 nos dois anos, o que denota que este aumento de importância das exportações na
determinação da produção nacional se deu basicamente por aumento do valor exportado e não
por mudança do perfil das exportações que condicionasse maior efeito multiplicador de produção
(Tabela 3 e Tabela 4).
Os empregos gerados pelos 42 setores da economia brasileira evoluiram de 61 milhões
para 65 milhões entre 1995 e 2000. Esta evolução, de apenas 1,1% a.a., foi menor até que a taxa
de crescimento da população brasileira no período, o que é indício que o desemprego deve ter
aumentado no período analisado. No entanto, o número de empregos diretos gerados pela
exportação saltou de 1,5 milhão para 2,7 milhões no período analisado, uma taxa de crescimento
de quase 13% a.a. O número de empregos indiretos gerados pela exportação praticamente não se
alterou no período, permanecendo em 3,1 milhões. Mesmo assim, os empregos diretos e indiretos
decorrentes da atividade exportadora evoluiu de 4,7 para 5,9 milhões em apenas cinco anos, um
crescimento de 4,8% a.a., acima do crescimento da população economicamente ativa do país no
período. Os empregos totais gerados pela atividade exportadora representaram 7,6% dos
empregos totais dos 42 setores da economia brasileira em 1995 e 9,1% em 2000, o que denota a
importância das exportações na geração de empregos no país. No entanto tal impacto se deu pelo
aumento do total exportado e não por mudança do perfil das exportações brasileiras já que em
1995 cada milhão exportado gerou 57 empregos diretos e indiretos no país e em 2000 tal número
decresceu para 49.
5
Tabela 4 Desempenho e impacto das exportações brasileiras no emprego e na renda. Variações
percentuais de alguns indicadores expressas em médias geométricas anuais. Brasil, 1995-2000.
CRESC (%)
3,6
8,1
8,0
1,1
12,7
-0,1
4,8
A PRODUÇÃO (MIL REAIS DE 2001)
B EXPORTAÇÃO( MIL REAIS DE 2001)
C IMPACTO NA PRODUÇÃO (MIL REAIS DE 2001)
D EMPREGO TOTAL
E IMPACTO EM EMPREGOS DIRETOS
F IMPACTO EM EMPREGOS INDIRETOS
G IMPACTO EM EMPREGOS TOTAL (G=E+F)
Fonte: Dados da pesquisa
Os setores que mais contribuíram para o valor exportado em 1995 foram siderurgia (R$
6,5 bilhões ou 7.9% do total exportado pelo país), margem de transporte (R$ 6,1 bilhões e 7,5%),
fabricação de açúcar (R$ 6,0 bilhões e 7,3%),.celulose, papel e gráfica (R$ 5,0 bilhões e 6,1%) e
fabricação de óleos vegetais (R$ 5,0 bilhões e 6,1%). Os dez setores mais importantes
responderam por quase 60% do valor das exportações em 1995 (Tabela 5).
A evolução destes dez setores em cinco anos ilustra a mudança do perfil exportador
brasileiro no período estudado. Alguns setores aumentaram tanto o valor exportado quanto a
participação no total das exportações como peças e outros veículos, que viu o valor exportado
mais que duplicar em cinco anos, de R$4,1 bilhões para R$ 10,6 bilhões. Outros setores
aumentaram a quantidade exportada mas em intensidade menor que o conjunto da economia
brasileira, de modo que viram sua participação relativa diminuir: as exportações de calçados
evoluíram de R$ 4,0 bilhões para R$ 4,6 bilhões mas a participação deste setor no valor das
exportações diminuiu de 4,9% para 3,8%. Alguns setores diminuíram o valor das exportações
como fabricação de açúcar e margem de transporte. A queda da participação do setor margem de
transporte pode ser indicativo da redução do custo de transporte de mercadorias no país, fator que
tanto tem onerado o comércio exterior de nosso país (
Tabela 5).
Tabela 5 Setores que mais contribuíram para a exportação em 1995. Desempenho em 19952000, Brasil.
CÓD.
SETOR
05
SIDERURGIA
36
MARGEM DE TRANSPORTE
29
FABRICAÇÃO DE AÇÚCAR
15
CELULOSE, PAPEL E GRÁF.
30
FAB. ÓLEOS VEGETAIS
02
EXTRAT. MINERAL
13
PEÇAS E OUT. VEÍCULOS
24
FABRICAÇÃO CALÇADOS
08
MÁQUINAS E EQUIP.
18
REFINO DO PETRÓLEO
SUBTOTAL (10 SETORES ACIMA)
TOTAL BRASIL
1995
2000
EXPORTAÇÃO
EXPORTAÇÃO
MIL REAIS DE 2001
PARTICIPAÇÃO
MIL REAIS DE 2001
PARTICIPAÇÃO
6.480.336
6.131.427
5.973.550
5.017.289
4.983.753
4.579.505
4.066.346
3.991.552
3.917.967
3.599.377
7,9%
7,5%
7,3%
6,1%
6,1%
5,6%
5,0%
4,9%
4,8%
4,4%
6.333.777
3.930.957
2.351.056
3.860.124
4.795.441
7.261.052
10.644.006
4.632.653
3.450.270
5.253.555
5,2%
3,2%
1,9%
3,2%
4,0%
6,0%
8,8%
3,8%
2,9%
4,3%
48.741.101
81.822.182
59,6%
100,0%
52.512.891
120.980.648
43,4%
100,0%
Fonte: Dados da pesquisa
6
Os setores que mais contribuíram para o valor das exportações em 2000 foram peças e
outros veículos (R$ 10,6 bilhões ou 8,8% do total exportado pelo país), serviços prestados às
empresas (R$ 9,9 bilhões e 8,2%), margem de comércio (R$ 9,1 bilhões e 7,5%), extração
mineral (R$ 7,3 bilhões e 6,0%) e siderurgia (R$ 5,0 bilhões e 5,1%). Os dez setores mais
importantes responderam por 55% do valor das exportações em 2000, valor inferior aos 60%
observados em 1995, o que é indício de desconcentração setorial das exportações brasileiras.
Nota-se em 2000 crescimento de setores ligados às atividades terciárias como serviços prestados
à empresa, cuja exportação quase quintuplicou no período de apenas 5 anos. O comportamento
dos setores 02 e 05 são dignos de destaque. Enquanto a exportação de produtos siderúrgicos
diminuiu de R$ 6,5 bilhões para R$ 6,3 bilhões no período, a exportação de produtos da extração
mineral evoluiu de R$ 4,6 bilhões para R$ 7,3 bilhões no período, exemplificando um caso de
aumento de exportações de produto de menor valor adicionado em detrimento de outro produto
de maior valor adicionado na mesma cadeia produtiva (Tabela 6).
Tabela 6 Setores que mais contribuíram para a exportação em 2000. Desempenho em 19952000, Brasil.
CÓD.
1995
SETOR
2000
EXPORTAÇÃO
MIL REAIS DE 2001
13
PEÇAS E OUT. VEÍCULOS
40
SERV. PREST. À EMPRESA
35
MARGEM DE COMÉRCIO
02
EXTRAT. MINERAL
05
SIDERURGIA
18
REFINO DO PETRÓLEO
30
FAB. ÓLEOS VEGETAIS
24
FABRICAÇÃO CALÇADOS
12
AUTOM./CAM/ONIBUS
01
AGROPECUÁRIA
SUBTOTAL (10 SETORES ACIMA)
TOTAL BRASIL
EXPORTAÇÃO
PARTICIPAÇÃO
MIL REAIS DE 2001
PARTICIPAÇÃO
4.066.346
2.006.290
1.962.888
4.579.505
6.480.336
3.599.377
4.983.753
3.991.552
1.784.812
1.017.798
5,0%
2,5%
2,4%
5,6%
7,9%
4,4%
6,1%
4,9%
2,2%
1,2%
10.644.006
9.885.959
9.061.959
7.261.052
6.333.777
5.253.555
4.795.441
4.632.653
4.618.244
4.487.553
8,8%
8,2%
7,5%
6,0%
5,2%
4,3%
4,0%
3,8%
3,8%
3,7%
34.472.656
81.822.182
42,1%
100,0%
66.974.198
120.980.648
55,4%
100,0%
Fonte: Dados da pesquisa
Os setores que mais contribuíram para as exportações de produtos em 2000 foram peças e
outros veículos (R$ 10,6 bilhões e 8,8% de participação no total exportado pelo país),
extrativismo mineral (R$ 7,3 bilhões e 6,0%), siderurgia (R$ 6,3 bilhões e 5,2%), refino do
petróleo (R$ 5,3 bilhões e 4,3%) e fabricação de óleos vegetais (R$ 4,8 bilhões e 4,0%). Por
outro lado aqueles setores que menos contribuíram foram indústria de laticínios (R$ 20 milhões e
0,0%), artigos do vestuário (R$ 0,1 bilhão e 0,1%), petróleo e gás (R$ 0,3 bilhão e 0,3%), artigos
plásticos (R$ 0,4 bilhão e 0,4%) e indústria farmacêutica e de produtos veterinários (R$ 0,5
bilhão e 0,5%). A contribuição dos dez mais e dos dez menos importantes setores exportadores
em 2000 se encontram na Tabela 7 e na Tabela 8. Discutiremos a seguir o impacto agregado e
individual destes dez setores mais e menos importantes.
7
Tabela 7 Dez setores primários e secundários que mais contribuíram para a exportação em 2000.
Brasil.
CÓD.
SETOR
13
PEÇAS E OUT. VEÍCULOS
02
EXTRAT. MINERAL
05
SIDERURGIA
18
REFINO DO PETRÓLEO
30
FAB. ÓLEOS VEGETAIS
24
FABRICAÇÃO CALÇADOS
12
AUTOM./CAM/ONIBUS
01
AGROPECUÁRIA
27
ABATE DE ANIMAIS
15
CELULOSE, PAPEL E GRÁF.
SUBTOTAL DOS 10 SETORES
TOTAL BRASIL
EXPORTAÇÃO (MIL REAIS DE 2001)
PARTICIPAÇÃO
10.644.006
7.261.052
6.333.777
5.253.555
4.795.441
4.632.653
4.618.244
4.487.553
3.914.396
3.860.124
8,8%
6,0%
5,2%
4,3%
4,0%
3,8%
3,8%
3,7%
3,2%
3,2%
55.800.800
120.980.648
46,1%
100,0%
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 8 Dez setores primários e secundários que menos contribuíram para a exportação em
2000. Brasil.
CÓD.
SETOR
32
INDÚSTRIAS DIVERSAS
19
QUÍMICOS DIVERSOS
07
OUTROS METALÚRGICOS
04
MINERAL Ñ METÁLICO
16
IND. DA BORRACHA
20
FARMAC. E VETERINÁRIA
21
ARTIGOS PLÁSTICOS
03
PETRÓLEO E GÁS
23
ARTIGOS DO VESTUÁRIO
28
INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS
SUBTOTAL DOS 10 SETORES
TOTAL BRASIL
EXPORTAÇÃO (MIL REAIS DE 2001)
PARTICIPAÇÃO
1.453.267
1.383.218
1.222.287
1.094.575
1.085.567
547.901
429.346
339.273
131.223
20.852
1,2%
1,1%
1,0%
0,9%
0,9%
0,5%
0,4%
0,3%
0,1%
0,0%
7.707.507
120.980.648
6,4%
100,0%
Fonte: Dados da pesquisa
O valor da produção dos dez setores mais importantes atingiu R$ 523 bilhões em 2000,
contra R$ 200 bilhões dos menos importantes. O valor das exportações dos mais importantes
alcançou R$ 56 bilhões, ou 10,7% da produção, contra apenas R$ 7,7 bilhões ou 3,8% da
produção por parte dos dez setores menos importantes. Daí se pode concluir que os setores menos
importantes o são não pelo fato de pouco produzirem, mas por pouco exportarem. Políticas que
favoreçam a exportação destes setores podem impulsionar o desenvolvimento nacional (Tabela
9).
8
Tabela 9 Produção, desempenho e impacto das exportações dos dez setores mais e menos
importantes para a exportação brasileira no emprego e na renda do país. Brasil, 1995-2000.
A PRODUÇÃO (MIL REAIS DE 2001)
B EXPORTAÇÃO( MIL REAIS DE 2001)
B/A (%)
C IMPACTO NA PRODUÇÃO (MIL REAIS DE 2001)
C/A (%)
C/B
D EMPREGO TOTAL
E IMPACTO EM EMPREGOS DIRETOS
F IMPACTO EM EMPREGOS INDIRETOS
G IMPACTO EM EMPREGOS TOTAL (G=E+F)
G/D (%)
E/G (%)
G/B (EMPREGO/ MILHÕES DE REAIS DE 2001)
10 MAIS IMPORTANTES
10 MENOS IMPORTANTES
523.186.594
55.800.800
10,7
112.788.054
21,6
2,0
16.569.600
904.505
1.587.392
2.491.897
15,0
36,3
45
202.646.894
7.707.507
3,8
26.812.469
13,2
3,5
3.532.600
116.099
132.346
248.445
7,0
46,7
32
Fonte: Dados da pesquisa
A exportação dos dez setores mais importantes foram responsáveis pela produção de R$
113 bilhões na economia brasileira em 2000. A exportação dos dez menos importantes, como se
era de esperar, teve um impacto menor na produção nacional, apenas R$ 27 bilhões. No entanto,
cada real exportado pelos setores mais importantes acarretou produção de apenas 2,0 reais na
economia, valor inferior aos 3,5 reais observados no agregado dos dez setores menos
importantes. Embora tais setores contribuam menos para o valor agregado das exportações, as
exportações destes setores têm maior impacto relativo na produção do país. O aumento da
exportação destes setores poderia potencializar o efeito multiplicador da exportação na produção
nacional (Tabela 9).
Os dez setores mais importantes empregavam 16,6 milhões de pessoas, valor mais
expressivo que o observado nos menos importantes, apenas 3,5 milhões. As exportações dos
setores mais importantes geraram 2,5 milhões de empregos diretos e indiretos em 2000, valor
significativamente superior aos 0,2 milhão de empregos gerados pelos setores menos
importantes. Os setores menos importantes também geraram menos empregos por valor
exportado, 32 empregos/ R$ milhão contra 45 empregos/ R$ milhão observados nos setores mais
importantes. Isto sugere os setores mais dinâmicos do ponto de vista de mercado externo são os
mais intensivos na utilização de mão-de-obra, o que vai ao encontro da lei das vantagens
comparativas: nosso país é abundante em mão-de-obra barata e consegue se especializar na
produção de bens intensivos em trabalho. (Tabela 9).
A análise desagregada dos dez setores mais importantes mostra que o potencial de gerar
produção de cada um dos setores varia de 1,0 para automóveis, caminhões e ônibus, 1,1 para
fabricação de calçados a 4,1 em agropecuária e 4,7 em refino do petróleo. Tais valores
evidenciam que setores como a agropecuária, embora produza produtos de menor valor agregado,
possuem grande potencial de dinamizar a economia brasileira através da exportação. A
exportação agropecuária ainda possui elevada capacidade de gerar empregos na economia – o
valor 129 empregos/ R$ milhão exportado não é suplantado por nenhum dos dez mais
importantes setores. Os índices de ligação puros normalizados para cada um dos dez mais
importantes setores são quase todos acima de 1,0, o que reflete não só o nível de complexidade
relativa destes setores como os seus tamanhos. A agropecuária e o refino de petróleo exibiram
maiores índices de ligação puros normalizados, igual ou maiores que 3,0 (Tabela 10).
9
Tabela 10 Indicadores de impacto das exportações dos dez setores mais importantes para a
exportação brasileira na renda e no emprego do país. Brasil, 2000.
CÓD. SETORES
XE/EXP
EMP/ EXP
PTLn
(EMP/ R$ MILHÕES)
13
PEÇAS E OUT. VEÍCULOS
02
EXTRAT. MINERAL
05
SIDERURGIA
18
REFINO DO PETRÓLEO
30
FAB. ÓLEOS VEGETAIS
24
FABRICAÇÃO CALÇADOS
12
AUTOM./CAM/ONIBUS
01
AGROPECUÁRIA
27
ABATE DE ANIMAIS
15
CELULOSE, PAPEL E GRÁF.
1,3
1,3
2,5
4,7
1,5
1,1
1,0
4,1
1,2
2,3
25
32
21
9
70
67
21
129
97
32
2,4
1,6
2,0
4,0
1,4
0,9
1,0
3,0
1,2
1,2
XE/EXP é a relação entre impacto da exportação na produção e a exportação do setor
EMP/ EXP é a relação o número de empregos diretos e indiretos gerados pela exportação e o valor exportado pelo setor
PTLn é o índice de ligação puro normalizado
Fonte: Dados da pesquisa
Alguns dos dez setores menos importantes possuem potencial para dinamizar a geração de
produção e emprego no país através da exportação, embora exibam índices de ligação puros
normalizados quase sempre abaixo de 1,0, o que é em parte influenciado pela menor dimensão
destes setores em comparação com o restante da economia. A relação produção gerada/ valor de
exportação suplanta a média nacional de 2,1 em sete dos dez setores analisados, alcançando 15,7
em petróleo e gás e 4,8 em indústria de laticínios. Alguns setores têm expressivo potencial na
geração de empregos como a indústria do vestuário, com 158 empregos gerados/ R$ milhão
exportado e a indústria de laticínios, 70 empregos/ R$ milhão. O desempenho da exportação de
artigos de vestuário na geração de empregos suplanta até o da agricultura, setor melhor colocado
entre os dez mais importantes exportadores (
Tabela 11).
Tabela 11 Indicadores de impacto das exportações dos dez setores menos importantes para a
exportação brasileira na renda e no emprego do país. Brasil, 2000.
CÓD. SETORES
XE/EXP
EMP/ EXP
PTLn
(EMP/ R$ MILHÕES)
32
INDÚSTRIAS DIVERSAS
19
QUÍMICOS DIVERSOS
07
OUTROS METALÚRGICOS
04
MINERAL Ñ METÁLICO
16
IND. DA BORRACHA
20
FARMAC. E VETERINÁRIA
21
ARTIGOS PLÁSTICOS
03
PETRÓLEO E GÁS
23
ARTIGOS DO VESTUÁRIO
28
INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS
1,6
4,1
4,4
2,2
2,5
1,4
4,5
15,7
1,2
4,8
42
21
38
33
24
26
27
7
158
70
0,4
1,0
1,1
0,4
0,5
0,1
0,4
1,0
0,0
0,0
XE/EXP é a relação entre impacto da exportação na produção e a exportação do setor
EMP/ EXP é a relação o número de empregos diretos e indiretos gerados pela exportação e o valor exportado pelo setor
PTLn é o índice de ligação puro normalizado
Fonte: Dados da pesquisa
10
Conclusões
O Brasil permanece como país com pequena participação no comércio internacional.
Além disso, o comércio internacional ainda é atividade de pouca importância no país, o que se
evidencia pela relação comércio exterior/ PIB. No entanto, este trabalho evidencia o crescente
impacto que as atividades exportadoras têm exercido sobre a produção e o emprego nacionais.
Tal impacto parece estar mais ligado ao aumento do valor exportado que ao perfil dos produtos
exportados: trabalhos que analisem série temporal mais extensa podem confirmar esta suspeita. A
relação entre emprego gerado e valor da exportação decresceu no período analisado. Haveria
espaço para que a exportação gerasse mais empregos/ total exportado ou a tendência de queda
nesta relação entre 1995 e 2000 é indicador não-reversível da mudança tecnológica pela qual
passa a economia mundial e que se reflete também nas atividades exportadoras? Trabalhos que
esclareçam esta questão serão importantes.
Alguns setores da economia quase nada exportam, mas têm grande potencial de gerar
produção e emprego, como laticínios e vestuários, mesmo enfrentado distorções e barreiras no
mercado internacional. Políticas que incentivem a inserção internacional de tais setores podem
potencializar o efeito das exportações no desenvolvimento nacional.
A realização de trabalhos posteriores, atualizando e detalhando as bases de dados
utilizadas pode ser importante instrumento para a formulação de políticas que visem a
dinamização das exportações de nosso país como meio de fomentar o desenvolvimento nacional.
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