COMPORTAMENTO ECOFISIOLÓGICO DE PLANTAS JOVENS DE

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
COMPORTAMENTO ECOFISIOLÓGICO DE PLANTAS JOVENS DE ANDIROBA
(Carapa guianensis Aubl.) SOB DOIS REGIMES HÍDRICOS
JOÃO ROBERTO ROSA E SILVA
BELÉM
2009
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
COMPORTAMENTO ECOFISIOLÓGICO DE PLANTAS JOVENS DE ANDIROBA
(Carapa guianensis Aubl.) SOB DOIS REGIMES HÍDRICOS
JOÃO ROBERTO ROSA E SILVA
Dissertação apresentada à Universidade Federal Rural
da Amazônia, como parte das exigências do Curso de
Mestrado em Agronomia, área de concentração
Produção Vegetal, para obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Hugo Alves Pinheiro
Co-orientador: Prof. Benedito G. dos Santos Filho
BELÉM
2009
Silva, João Roberto Rosa e
Comportamento ecofisiológico de plantas jovens de andiroba (Carapa
guianensis Aubl.) / João Roberto Rosa e Silva. – Belém, 2009.
40f. : il.
Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Universidade Federal Rural da
Amazônia, 2009.
1.Andiroba – déficit hídrico 2. Andiroba – déficit de pressão de vapor
3. Área foliar 4. Condutância estomática 4. Potencial hídrico 5.
Transpiração 6. Carapa guianensis Aubl I. Título.
CDD – 634.9
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
COMPORTAMENTO ECOFISIOLÓGICO DE PLANTAS JOVENS DE ANDIROBA
(Carapa guianensis Aubl.) SOB DOIS REGIMES HÍDRICOS
JOÃO ROBERTO ROSA E SILVA
Dissertação apresentada à Universidade Federal Rural
da Amazônia, como parte das exigências do Curso de
Mestrado em Agronomia, área de concentração
Produção Vegetal, para obtenção do título de Mestre.
Aprovada em 30 de abril de 2009
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Eng. Agrônomo, DSc., Prof. Hugo Alves Pinheiro
Presidente/Orientador
Universidade Federal Rural da Amazônia
_________________________________________________________
Eng. Agrônomo, DSc., Dr. Steel Silva Vasconcelos
1º Examinador
Embrapa – Amazônia Oriental
_________________________________________________________
Eng. Agrônoma, DSc., Leila Sobral Sampaio
2º Examinador
Universidade Federal Rural da Amazônia
_________________________________________________________
Eng. Agrônomo, DSc., Benedito Gomes dos Santos Filho
3º Examinador
Universidade Federal Rural da Amazônia
DEDICO
À minha mãe,
Que antes de partir
Convenceu-me que sou capaz de sedimentar
Meu próprio caminho e contemplar a paisagem
A cada passo, rumo ao meu objetivo.
OFEREÇO
A minha esposa Ciany lobo e minha filha Eva lobo, pela paciência
Que tiveram durante o período dedicado a essa empreitada.
iv
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) pela oportunidade de realização
deste curso;
À Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), pelo empréstimo
de equipamentos para determinações fisiológicas durante o experimento;
Ao Prof. Hugo Alves Pinheiro, pela sua dedicação, profissionalismo e principalmente
pela amizade que resultou em orientação;
Ao Prof. Benedito Gomes dos Santos Filho, pela orientação e pela disponibilização de
recursos para a pesquisa;
Ao meu irmão e gerente do Setor de Transporte da UFRA, Edilson Rosa, que, a
exemplo do que faz com todos que o procura, sempre se colocou à disposição para ajudar no
que foi possível;
Ao Vigilante José Trajano, que na condição de Chefe do Setor de Segurança da
UFRA, compreendeu minhas necessidades e me ajudou de muitas formas a dar esse
importante passo;
A todos os técnicos administrativos que, de uma forma ou de outra, me ajudaram,
principalmente o pessoal do “Barracão de Solos”, aos quais serei eternamente grato,
especialmente ao Sr. Demósteno (Doquinha), que se efetivou como um grande amigo;
Às integrantes da melhor equipe de trabalho já formada: Marcelle Auday, Elizabeth
Shimizu e Fabrícia Moraes, pela amizade e ajuda nos trabalhos de casa de vegetação e de
laboratório;
Aos estagiários Bruno, Raphael, Diego, Felipe e Arles, pela dedicação destinada à
conclusão desta dissertação;
Ao Técnico Jessivaldo Galvão, por todos os préstimos e conselhos durante a execução
do experimento;
À laboratorista e colega Luciana Pinheiro, pelo bom funcionamento do laboratório do
CTA.
v
SUMÁRIO
p.
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS............................................................
7
LISTA DE FIGURAS E TABELAS............................................................................. 8
RESUMO........................................................................................................................
10
ABSTRACT.................................................................................................................... 12
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 14
2. MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................... 20
2.1. Material vegetal e procedimentos de amostragens..............................................
20
2.2. Dados meteorológicos.........................................................................................
21
2.3. Potencial hídrico..................................................................................................
21
2.4. Trocas gasosas.....................................................................................................
21
2.5. Análises bioquímicas...........................................................................................
21
2.5.1. Prolina..........................................................................................................
21
2.5.2. Sacarose.......................................................................................................
22
2.5.3. Glicina- betaína............................................................................................
22
2.5.4. Carboidratos solúveis totais.........................................................................
23
2.6. Análises morfológicas.........................................................................................
23
2.7. Análises estatísticas.............................................................................................
24
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................
25
4. CONCLUSÕES..........................................................................................................
35
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 36
vi
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
ABS = Absorbância;
CST = Carboidratos solúveis totais;
DPV = Déficit de pressão de vapor do ar;
E = Transpiração;
Gli – Bet = Glicina- betaína;
gs = Condutância estomática;
MPa = Mega Pascal (1 MPa = 0,1 bar);
RFA = Radiação fotossinteticamente ativa;
SAFs = Sistemas agroflorestais;
Tar = Temperatura relativa do ar;
TCR = Taxa de crescimento relativo;
Tfol = Temperatura relativa da folha;
UR = Umidade relativa do ar;
Δw = Déficit de pressão de vapor entre folha e atmosfera;
Ψam = Potencial hídrico de antemanhã;
Ψsolo = Potencial hídrico do solo.
7
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1. Valores médios de radiação fotossinteticamente ativa (RFA, Fig. 1a), temperaturas
da folha (Tfol) e do ar (Tar; Fig. 1a) e déficit de pressão de vapor entre folha e atmosfera (ΔW,
Fig. 1b) durante os dias de experimento. A tomada de dados ocorreu entre 9:30 e 10:30 h e
cada ponto é a média de seis medições + erro padrão da média.............................................. 25
Figura 2. Potencial hídrico na antemanhã (Ψam, Fig. 2a), condutância estomática (gs, Fig. 2b)
e transpiração (E, Fig. 2c) em plantas jovens de Carapa guianensis sob irrigação plena
(Irrigado, linhas cheias e símbolos fechados) e sob deficiência hídrica (Déficit hídrico, linha
tracejada e símbolos abertos). Os dados representam a média de seis repetições + erro padrão
da média. Médias entre tratamentos avaliadas em um mesmo dia experimental marcadas com
um asterisco diferem estatisticamente pelo teste t-Student (P < 0,05). As setas indicam o
momento em que a irrigação foi retomada............................................................................... 27
Figura 3. Relação entre condutância estomática (gs) e transpiração (E) em plantas jovens de
Carapa guianensis sob irrigação plena (Irrigado; linhas cheias e símbolos fechados) e sob
deficiência hídrica (Déficit hídrico; linha tracejada e símbolos abertos). Os dados representam
a média de seis repetições + erro padrão da média, coletados durante todo o período
experimental. Coeficientes de determinação seguidos de um asterisco indicam análise de
regressão significativa pelo teste F (P < 0,01)......................................................................... 29
Figura 4. Relações entre condutância estomática (gs) e potencial hídrico de antemanhã (Ψam)
e entre gs e déficit de pressão de vapor entre folha e atmosfera (ΔW) em plantas jovens de
Carapa guianensis sob irrigação plena (Irrigado) e sob deficiência hídrica (Déficit hídrico).
Coeficientes de determinação seguidos de asterisco indicam análise de regressão significativa
pelo teste F (P < 0,01); n = 30.................................................................................................. 30
8
Figura 5. Teores foliares de prolina (Pro, Fig. 5a), glicina- betaína (Gli-Bet, Fig. 5b), sacarose
(Sac, Fig. 5c) e carboidratos solúveis totais (CST, Fig. 5d) em plantas jovens de Carapa
guianensis sob irrigação plena (Irrigado) e sob deficiência hídrica (Déficit hídrico). Os dados
representam a média de seis repetições + erro padrão. Letras maiúsculas e minúsculas
diferentes
denotam diferenças
entre
médias
de
plantas
irrigadas
e
estressadas,
respectivamente, comparadas em diferentes dias de avaliação; e médias seguidas de asterisco
denotam diferenças significativas entre tratamentos comparados no mesmo dia de avaliação
(Newman-Keuls, P < 0,05)...................................................................................................... 32
Tabela 1. Variáveis de crescimento em plantas jovens de Carapa guianensis sob irrigação
plena
(Irrigado)
e
sob
deficiência
hídrica
(Déficit
hídrico)
após
27
dias
de
avaliação................................................................................................................................... 33
Tabela 2. Variação na Taxa de Crescimento Relativo em plantas jovens de Carapa
guianensis sob irrigação plena (Irrigado) e sob deficiência hídrica (Déficit hídrico) após 27
dias de avaliação.......................................................................................................................34
9
RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo verificar a magnitude das respostas fisiológicas,
bioquímicas e morfológicas de plantas jovens de andiroba (Carapa guianenses Aubl.)
submetidas à deficiência hídrica e reidratação. Para isso, mudas de andiroba de oito meses de
idade foram cultivadas em casa de vegetação, em vasos de 20 L, preenchidos com um
latossolo amarelo, e irrigadas diariamente até a diferenciação dos tratamentos, realizado 45
dias após o transplantio das mudas. Os tratamentos foram: (i) Irrigado, plantas irrigadas
diariamente; e (ii) Déficit hídrico, plantas submetidas à suspensão completa da irrigação e
deficiência hídrica imposta pelo esgotamento natural da água remanescente no solo. O
experimento foi avaliado por um período de 27 dias e em seguida todas as plantas foram
reidratadas e avaliadas 12 horas após. Os efeitos do déficit hídrico foram determinados pela
avaliação das variáveis fisiológicas (potencial hídrico de antemanhã, Ψam; condutância
estomática, gs; e transpiiração, E), bioquímicas (teores foliares de prolina, glicina – betaína,
carboidratos solúveis totais e sacarose) e morfológicas (altura e diâmetro do caule, abscisão
foliar relativa, lançamento foliar relativo, área foliar total, comprimento do sistema radicular,
massa seca de folíolos, caule e pecíolos e do sistema radicular, além da razão raiz/parte
aérea). A gs foi reduzida fortemente sob condições de seca e tais reduções foram mais
expressivas após 15 e 27 dias da suspensão da irrigação, quando o Ψam foi, respectivamente,
de -1,5 e -3,0 MPa. Forte relação entre gs e E foi observada (r2 > 0,99, P < 0,01) em ambos os
tratamentos, indicando um eficiente controle estomático da E. As plantas irrigadas não
apresentaram relação significativa entre gs e Ψam ou entre gs e o déficit de pressão de vapor
entre folha e atmosfera (Δw), mas nas plantas sob seca a relação gs x Ψam foi altamente
significativa (r2 = 0,42, P < 0,01); logo, gs foi fortemente reduzida após pequenos
decréscimos no Ψam. Um aumento médio de 61% no teor de prolina foi observado nas plantas
sob seca e os teores de glicina- betaína foram 62% (Dia 15) e 112% (Dia 27) maiores que nas
plantas irrigadas. Nenhuma alteração significativa foi observada nos teores de carboidratos
solúveis totais e sacarose. Após a reidratação o Ψam aumentou de -3,21 MPa para -0,59 MPa,
indicando uma excelente, mas não completa, recuperação de turgescência foliar. A retomada
da irrigação não promoveu recuperação de gs e E, mas os teores de prolina e glicina- betaína
foram reduzidos para valores similares aos das plantas irrigadas. As variáveis morfológicas
indicaram uma desaceleração do crescimento nas plantas estressadas, tanto em altura quanto
em diâmetro do caule e lançamento de novas folhas. Além disso, as plantas sob seca
10
apresentaram abscisão foliar e, consequentemente, apresentaram menor área foliar total. O
comprimento do sistema radicular não diferiu entre tratamentos; contudo, a massa seca da
parte aérea (folíolos + pecíolos + caule) das plantas irrigadas foi maior que para as plantas
estressadas, resultando em uma maior razão raiz/parte nessas últimas. Os resultados obtidos
permitiram concluir que as plantas jovens de andiroba apresentam uma série de mecanismos
capazes de atenuar a perda excessiva de água como, por exemplo, o eficiente mecanismo
estomático de controle de E, o possível ajustamento osmótico em resposta ao incremento de
prolina e glicina- betaína foliar, a ocorrência de abscisão foliar e diminuição da área foliar
total e o incremento da razão raiz/parte aérea. Esses mecanismos indicam que a andiroba
tolera satisfatoriamente bem as condições de seca testadas.
Palavras chave: Área foliar, Condutância estomática, Déficit hídrico, Déficit de pressão de
vapor, Potencial hídrico, Transpiração.
11
ABSTRACT
This research was evaluated aiming to determine the extent of physiological, biochemical and
morphological responses of young andiroba (Carapa guianenses Aubl.) plants to drought and
after resumption irrigation. Eight-month old seedlings of andiroba were grown in 20 L- pots
filled with yellow loam latosol and irrigated daily until treatment differentiation, started 45
days from transplanting. The experiment was performed under greenhouse conditions and
climatologic data were registered during all experimental period. Plants were separated in two
treatments: (i) Full irrigation; plants were irrigated daily, and (ii) Drought- stress, irrigation
was withheld and drought stress was imposed by natural consumption of remaining soil water.
Evaluations were performed periodically during 27 days and 12 hours after irrigation has been
restarted. Plant responses to drought were evaluated measuring physiological (leaf water
potential at predawn, Ψpd; stomatal conductance to water vapor, gs; and transpiration, E),
biochemical (proline, glycinebetaine, soluble carbohydrates and sucrose), and morphological
(shoot height and diameter, relative leaf abscission, relative leaf release, total leaf area, root
depth, dry mass of petiole, shoots and roots, and root- to- shoot ratio) variables. Under
drought gs was significantly decreased, mainly 15 and 27 days from treatment differentiation,
when Ψpd reached -1.5 and -3.0 MPa, respectively. Close relation between gs and E was
observed (r2 > 0.99, P < 0.01) regardless of water regime, pointing an efficient stomatal
control of transpiration. Full irrigated plants showed no relation between gs and Ψpd or
between gs and leaf- to- air vapor pressure difference (Δw), however, gs x Ψpd regression
analysis was highly significant (r2 = 0,42, P < 0,01) in drought stressed plants. Hence gs
should decrease significantly with small changes in Ψpd. An average, leaf proline was
increased by 61% in drought stressed plants, and leaf glycinebetaine was 62% (Day 15) and
112% (Day 27) higher in comparison to full irrigated plants. No significant changes in leaf
soluble carbohydrates and sucrose were evident despite water regime. An excellent recovery
of leaf turgescency seems to be reached 12 hours after resumption irrigation, since Ψpd
increased from -3.21 MPa to -0.59 MPa. However, both gs and E did not recovery it values to
control level, but no differences between treatments were observed to proline and
glycinebetaine, pointing concentration of these solutes decreased to control levels.
Morphological measurements indicate continued growth of drought stressed plants, however,
increments on shoot height and diameter and the absence of leaf release were slower in
comparison to full irrigated plants. Leaf abscission was also observed in drought stressed
plants and as a result total leaf area was lower than control plants. No significant differences
12
between treatments were observed with regard to root depth, but total dry mass of above
ground (leaflets + petioles + shoots) was greater in full irrigated plants than in drought
stressed ones. In the former, root- to- shoot ratio was lower. Results points that young
andiroba plants showed different mechanisms to attenuate water loss, such as efficient
stomatal control of transpiration, possible osmotic adjustment resulting from accumulation of
leaf proline and glycinebetaine, leaf abscission, reducing leaf area and increasing root- toshoot ratio. Altogether, such mechanisms allowed plants to tolerate satisfactorily drought
conditions.
Keywords: Drought stress, Leaf area, Leaf- to- air vapor pressure difference, Leaf water
potential, Stomatal conductance, Transpiration.
13
1. INTRODUÇÃO
A grande disponibilidade de recursos naturais da região amazônica, de certa forma,
estimulou no homem do campo uma visão de inesgotabilidade, refletindo em práticas
inadequadas de manejo e gestão de recursos naturais e em uma desordenada ocupação e uso
do solo. Essas características são marcantes da cultura regional amazônica; porém, a
persistência em adotar tais práticas tem resultado em um processo de exploração insustentável
do ponto de vista agroecológico (KOHLHEPP, 2002).
A forma mais predatória de exploração dos recursos naturais na Amazônia pode ser
evidenciada pela derrubada das florestas por ocasião da exploração madeireira,
principalmente em razão do corte seletivo da vegetação (extração de espécies nobres) e da
produção de carvão vegetal. As áreas derrubadas são aproveitadas para atividades agrícolas,
como os grandes plantios de dendê, arroz, milho, cana de açúcar, soja, dentre outras culturas;
e, principalmente, para a implantação de pastos destinados à pecuária extensiva. Segundo
Valeriano et al. (2009), a taxa de corte raso anual da vegetação na Amazônia Legal Brasileira
para o período de 2007/2008 foi de 11.968 km2, representando um aumento de 3,3% em
relação ao mesmo período de 2006/2007. Ademais, caso a pressão sobre as áreas de floresta
sejam mantidas às mesmas taxas, incrementos da ordem de 40% nas médias de desmatamento
poderão ser observados até o ano de 2050, incluindo a devastação de florestas localizadas em
seis das maiores bacias hidrográficas da região (SOARES FILHO et al., 2006).
Segundo Nobre et al. (2009) as variações climáticas na Amazônia podem ser
decorrentes de causas naturais e de origem antrópica, a qual resulta do uso da terra
relacionado fortemente ao desmatamento das áreas de floresta. Esta última implica na
transferência de carbono (na forma de dióxido de carbono) da biosfera para a atmosfera,
contribuindo para o aquecimento global. Um incremento de aproximadamente 0,63ºC nas
médias mensais de temperatura do ar foi observado na Amazônia nos últimos 100 anos
(VICTORIA et al., 1998), resultando em variações consideráveis nas médias de precipitação
(CHAGNON et al., 2004; CHAGNON; BRAS, 2005), principalmente em relação àquelas
observadas para o extremo norte e extremo sul da bacia Amazônica (MARENGO et al.,
2000).
Assim, as mudanças climáticas locais poderão resultar em períodos secos mais longos
e severos, como no sul e sudeste do Pará, cujas médias mensais de precipitação durante o
período de junho/julho a novembro/dezembro não ultrapassam os 100 mm, resultando em um
balanço hídrico negativo do solo. Portanto, o período seco ocorrente nessas regiões ocasiona
14
uma situação de deficiência hídrica, a qual surge como um fator abiótico de estresse limitante
ao cultivo de espécies de ciclo curto (soja, milho, arroz, etc.) e ao estabelecimento inicial de
espécies perenes, frutíferas ou madeireiras.
Uma vez que a seca é um fator de estresse abiótico de extrema importância em várias
regiões do Brasil e do mundo, muitas pesquisas têm sido conduzidas para averiguar o
comportamento de plantas sob condições limitantes de disponibilidade hídrica do solo,
simulando, dentro de certos limites, situações de deficiência hídrica que podem ser
evidenciadas em campo. De modo geral, as respostas das plantas à seca variam de acordo com
a espécie e com a intensidade e duração do estresse, podendo se manifestar em termos
morfológicos, fisiológicos e bioquímicos (KRAMER; BOYER, 1995).
Com relação às alterações morfológicas decorrentes da seca, a paralisação do
crescimento da parte aérea é uma resposta primária, de forma que novas folhas deixam de ser
emitidas ou uma maior abscisão foliar é observada. Essas estratégias colaboram na economia
hídrica por diminuir a superfície de transpiração e aumentar a eficiência do uso da água
(KRAMER; BOYER, 1995; KOZLOWSKI; PALLARDY, 1997; DaMATTA et al., 2003).
Uma paralisação ou redução nas taxas de crescimento relativo, em altura da planta e diâmetro
do caule, podem também ser observadas. Entretanto, um estímulo no crescimento radicular
tem sido demonstrado sob condições de seca (KRAMER; BOYER, 1995; KOZLOWSKI;
PALLARDY, 1997; PINHEIRO et al., 2005), sendo este considerado um mecanismo de
adaptação ou tolerância à deficiência hídrica. O investimento de assimilados derivados da
fotossíntese no crescimento de raízes em detrimento da parte aérea favorece a exploração de
uma maior área de solo em busca de água, cujo disponibilidade é maior em horizontes mais
profundos do perfil em solos secos.
Dentre as respostas fisiológicas, a redução na condutância estomática (gs) é a
estratégia mais eficiente para restringir ou reduzir as perdas de água pelas folhas via
transpiração. Quando o grau de abertura estomática diminui, o movimento (ou perda) de
vapor d’água pela planta através da transpiração é reduzido ou limitado. Dentre os fatores que
governam o mecanismo de abertura e fechamento estomático, faz-se referência àqueles
intrínsecos à planta, como os efeitos do ácido abscísico, ou àqueles relacionados ao ambiente
circundante, como os efeitos do potencial hídrico do solo, da temperatura e umidade relativa
do ar, da radiação incidente, da temperatura da folha e do déficit de pressão de vapor, DPV
(KRAMER; BOYER, 1995; KOZLOWSKI; PALLARDY, 1997).
Das variáveis ambientais, o DPV pode exercer grande influência no controle de
abertura e fechamento estomático. Esta grandeza mede o quão seco é a atmosfera circundante
15
e, como a transpiração é um fenômeno físico dirigido pelas diferenças de concentração de
vapor d’água entre folha e atmosfera, um ar mais seco potencializa a transpiração. Isto
porque, para que haja transpiração é necessário que (i) os estômatos apresentem algum grau
de abertura e que (ii) a concentração de vapor d’água na atmosfera seja menor que a
concentração de vapor d’água interna à folha. Dessa forma, quanto maior o DPV, mais seco é
a atmosfera circundante e mais favorável são as condições do meio ambiente à transpiração.
No entanto, em estudos fisiológicos, é muito comum a utilização do DPV entre folha e
atmosfera (Δw), cuja estimativa leva em conta a temperatura e umidade relativa do ar e a
temperatura da folha (LANDSBERG, 1986) e serve como indicativo entre as diferenças de
vapor d’água entre folha e atmosfera, de forma que quanto maior o Δw, maior será a tendência
à transpiração.
As respostas da gs às variações do DPV são contrastantes. Pinheiro et al. (2005),
demonstraram que, em plantas irrigadas de Coffea canephora Pierre., reduções de 50 % em gs
ocorrem quando o DPV aumentou de 1,5 para 3,0 kPa. Romero e Botía (2006) mostraram
forte relação entre DPV e o potencial hídrico da folha (Ψw) em amendoeiras (Prunus dulcis
Mill.) e que gs foi fortemente reduzida com o incremento do DPV a partir de 2 kPa. Em
mogno (Swietenia macrophylla King.) o incremento do DPV entre folha e atmosfera ao longo
do dia apresentou forte correlação com a gs (CORDEIRO, 2007). Ao contrário, reduções em
gs não foram condicionadas com incrementos no DPV em oliveiras (Olea europaea L.)
(FERNANDEZ et al., 1997; GIORIO et al., 1999) e, nesse caso, o fechamento estomático
parece estar mais associado às alterações no potencial hídrico do solo e a fatores endógenos à
planta (sinais químicos) que às variações no DPV propriamente ditas (GIORIO et al., 1999;
MORIANA et al., 2002; TOGNETTI et al., 2004).
Dentre as respostas bioquímicas de plantas ao déficit hídrico ressalta-se a capacidade
de síntese e/ou acúmulo de determinados compostos com propriedades osmóticas ativas
como, por exemplo, a prolina (HANDA et al., 1986; ASHRAF; FOOLAD, 2007;
CARVALHO, 2005; SILVA et al., 2004), a glicina-betaína (ASHRAF; FOOLAD, 2007), os
aminoácidos solúveis (CARVALHO, 2005), os carboidratos solúveis e a sacarose (CHAVES
FILHO; STACCIARINI-SERAPHIN, 2001), dentre outros. O acúmulo desses solutos, que
ocorre preferencialmente no citoplasma, diminui o potencial osmótico das células das folhas
e, por conseguinte, seu potencial hídrico. Como resultado, um incremento no gradiente de
potencial hídrico entre parte aérea – raízes – solo é observado e isto favorece a absorção e
transporte de água do solo para a parte aérea, corroborando para a manutenção do turgor
16
celular. Este processo é denominado de ajuste ou ajustamento osmótico (KRAMER; BOYER,
1995; KOZLOWSKI; PALLARDY, 1997).
A importância e a contribuição dos solutos envolvidos no ajustamento osmótico em
resposta à deficiência hídrica variam com a espécie (MORGAN, 1984). Em forrageiras
tropicais, o potássio foi apontado como sendo um dos solutos de maior importância (FORD;
WILSON, 1981), enquanto que em soja [Glycine max (L.) Merr.], os principais solutos
acumulados foram os aminoácidos, a glicose, a frutose e a sacarose (MEYER; BOYER,
1981). Em mogno brasileiro, a prolina parece ser de extrema importância nesse processo
(CORDEIRO, 2007).
Do exposto, fica evidente a necessidade do desenvolvimento de tecnologias de cultivo
que sejam capazes de recuperar as áreas degradadas, agregando renda aos produtores rurais
sem, no entanto, estimular o desmatamento de novas áreas. Como alternativa, os sistemas
agroflorestais (SAFs), consorciando culturas perenes (como espécies lenhosas frutíferas e não
frutíferas) às culturas anuais, surge como alternativa viável do ponto de vista agroecológico.
Os SAFs apresentam como principais vantagens a longevidade produtiva das espécies perenes
utilizadas, servindo como cobertura do solo e diminuindo os impactos erosivos causados pela
incidência direta das chuvas. Melhoram ainda a qualidade física e química dos solos, por
permitir uma maior ciclagem de nutrientes, com reflexos diretos na microbiologia do solo
envolvida nos processos de mineralização da matéria orgânica (MENDONÇA; STOTT,
2003). Os SAFs permitem também uma maior regularização do ciclo hídrico no sistema soloplanta-atmosfera (GIRALDO; JARAMILLO, 2004), e favorece uma maior captação de CO2
atmosférico (PERFECTO et al., 2005).
Uma vez que as áreas desmatadas no estado do Pará predominam nas regiões sul e
sudeste do estado, cujas condições climáticas favorecem um período seco definido de até
cinco meses, a composição florística de um SAF deverá levar em conta, além do interesse
econômico, a capacidade da espécie escolhida em tolerar a seca durante, pelo menos, os dois
primeiros anos de cultivo. Durante a fase inicial de desenvolvimento da cultura em campo, as
plantas serão submetidas, provavelmente, a um déficit hídrico natural durante o período de
menor precipitação (julho a novembro). Nessa fase de desenvolvimento, o sistema radicular
dessas plantas não é profundo o suficiente para explorar a água do solo a partir de horizontes
mais profundos. Nesse sentido, o entendimento das respostas fisiológicas e bioquímicas
relacionadas à tolerância à seca é de primordial importância.
Dentre as diversas espécies preferenciais para projetos de reflorestamento, inclusive
em SAFs, a andiroba (Carapa guianensis Aubl.), espécie pertencente à família Meliaceae,
17
tem sido bastante cogitada em razão de seu potencial econômico. Essa espécie tem ampla
distribuição geográfica, sendo encontrada desde os Neotrópicos à África Tropical. Ocorre no
sul da América Central, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana Francesa, Peru, Paraguai e
Brasil (FERRAZ et al., 2002). No Brasil, é encontrada principalmente na bacia Amazônica,
nas várzeas próximas ao leito de rios e faixas alagáveis, com menor ocorrência em áreas de
terra firme. Isto indica que a espécie pode se adaptar a diferentes ecossistemas.
Quando adulta, a andiroba ocupa o dossel e o subdossel das florestas, podendo atingir
até 30 m de altura e 1,20 m de diâmetro, e mantém-se produtiva por até 40 anos, com
produção aproximada em torno de 180 a 200 kg de sementes por ano (SHANLEY et al.,
1998). Portanto, é uma espécie perene e que pode ser explorada inclusive para a geração de
créditos de carbono. Além disso, tanto o óleo extraído de suas sementes quanto a madeira
produzida apresentam apreciáveis qualidades industriais, alcançando preços bastante atrativos
no mercado nacional e internacional.
O óleo da andiroba é extraído pela prensagem das sementes e apresenta, dentre outros,
altos teores de oleína e palmitina, o que permite sua utilização na produção de repelentes e
fabricação de remédios, principalmente como antiflamatório (NEVES et al., 2004).
Recentemente, pesquisas sobre a utilização desse óleo diretamente como fonte de energia ou
para a produção de biodiesel tem sido estimuladas, uma vez que a qualidade do mesmo para
esses fins foi atestada pela Agência Nacional do Patróleo, ANP, em 2006.
Com relação à madeira, a andiroba apresenta tonalidade castanho-vermelha brilhante e
apresenta excelente qualidade estrutural (dureza e durabilidade), sendo muitas vezes
comparada ao mogno, e por isso chamada de mogno falso. A madeira tem alta demanda,
sendo exportada para o exterior e outros estados brasileiros para utilização na construção civil
(SHANLEY et al., 1998; SAMPAIO, 2000; SILVA, 2002).
Considerando a necessidade de recuperação de áreas degradadas e que a maior
ocorrência dessas áreas encontra-se em regiões sujeitas a período de estiagem de até cinco
meses, e ainda, que o plantio das espécies lenhosas seja geralmente realizado por meio de
mudas. A escolha das espécies a serem utilizadas deve levar em consideração a capacidade
dessas plantas, ainda enquanto indivíduos jovens, em tolerar satisfatoriamente à seca. Uma
vez que a andiroba surge como excelente opção de negócio para o produtor, questiona-se: A
andiroba, ainda na fase de indivíduo jovem, é capaz de tolerar satisfatoriamente bem a seca?
Neste trabalho a hipótese foi que a andiroba daria uma resposta positiva.
Assim, o objetivo geral desta pesquisa foi avaliar a magnitude das alterações
fisiológicas, morfológicas e bioquímicas em plantas jovens de andiroba sob dois regimes
18
hídricos. Como objetivos específicos, foram determinadas as magnitudes das variações da
condutância estomática (gs) e transpiração (E), a relação entre gs x E, as respostas estomáticas
ao potencial hídrico do solo e Δw, alterações nas variáveis de crescimento e acúmulos de
substâncias osmoticamente ativas relacionadas ao ajustamento osmótico.
19
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Material vegetal e procedimentos de amostragens
O experimento foi realizado em casa de vegetação, no Instituto de Ciências Agrárias
da Universidade Federal Rural da Amazônia, em Belém-PA (01º28’03”S, 48º29’18”W).
Mudas de andiroba (Carapa guianensis Aubl.), de aproximadamente oito meses de idade,
com 0,76 m de altura e 0,08 m de diâmetro em média, foram transplantadas para vasos de 20
L, com 0,50 m de altura, preenchidos com um substrato advindo de um latossolo amarelo,
textura média, cujo pH e teores de macro e micronutrientes foram corrigidos de acordo com a
análise química do solo.
Cada vaso, contendo apenas uma planta, foi irrigado diariamente para ser mantido o
solo na capacidade de campo, sendo efetuada a pesagem do conjunto vaso/planta
periodicamente, para reposição da água evapotranspirada, conforme diferença de peso. A
capacidade de campo do substrato foi estimada, em laboratório, de acordo com o método de
coluna de solo apresentada por Fernandes & Sykes (1968), e o controle de plantas daninhas
realizado manualmente conforme necessário.
Após 45 dias do transplantio, as mudas, foram divididas em dois grupos, a saber: (i)
Tratamento Irrigado, plantas mantidas permanentemente irrigadas e (ii) Tratamento em déficit
hídrico, plantas submetidas à suspensão completa da irrigação. O déficit hídrico ocorreu de
forma progressiva em função do esgotamento da água remanescente no solo. O experimento
foi instalado em delineamento inteiramente ao acaso, com dois tratamentos (Irrigado e Déficit
hídrico) e seis repetições.
Aos 15 e 27 dias após diferenciação dos tratamentos, amostras foliares (cinco discos
de 1 cm de diâmetro) foram coletadas de folíolos do segundo ou terceiro par de folhas
maduras a partir do ápice, entre 9:30 e 10:30 h, e imediatamente congeladas
(aproximadamente -20°C) para posteriores análises bioquímicas. Após a coleta de amostras
citadas acima, todas as plantas foram irrigadas ao final da tarde e, na antemanhã seguinte, 12
h após a retomada da irrigação, o Ψam foi novamente determinado, as trocas gasosas avaliadas
e as amostras foliares coletadas, conforme descrito anteriormente, a fim de verificar a
capacidade de recuperação das plantas após cessado o estresse.
Uma vez que a determinação do Ψam e a coleta de amostras para as análises
bioquímicas consistem de métodos destrutivos, um segundo lote de plantas foi conduzido sob
as mesmas condições experimentais e mesmo tempo de experimento visando determinar a
magnitude das alterações morfológicas decorrentes do déficit hídrico. Nesse caso, as
avaliações foram realizadas ao início e ao final do experimento (27 Dias).
20
2.2. Dados meteorológicos
As médias de temperatura (Tar) e umidade relativa do ar (UR) foram registradas
através de um termohigrômetro (mod. 5203, Incoterm, RS, Brasil). A partir dos dados de Tar
(registradas em termômetro bulbo seco e úmido) e da temperatura foliar (Tfol), o déficit de
pressão de vapor d’água entre folha e atmosfera (ΔW) foi estimado de acordo com Landsberg
(1986).
2.3. Potencial hídrico
O Ψam foi determinado entre 4:30 e 5:30 h, por meio de uma bomba de pressão do tipo
Scholander (m670, Pms Instrument Co., Albany, USA), conforme descrito por Pinheiro et al.
(2007). Como amostras, folíolos maduros e completamente expandidos foram selecionados do
segundo ou terceiro par de folhas a partir do ápice, destacados com auxílio de uma lâmina de
barbear, armazenados em sacos de polietileno umedecidos e transportados sob gelo até o
laboratório para as análises, em um tempo máximo de 60 minutos, sendo cada amostra
constituída de um folíolo.
2.4. Trocas gasosas
A condutância dos estômatos ao vapor d’água (gs), a transpiração (E) e a temperatura
da folha (Tfol) foram determinadas por meio de um porômetro portátil de equilíbrio dinâmico
(mod. Li 1600, LiCor, Nebraska, USA) e o fluxo de radiação fotossinteticamente ativa (RFA)
foi determinado por meio de um sensor quântico acoplado ao porômetro. As medições foram
realizadas sob condições de luz e CO2 ambientes, entre 09:30 e 10:30 h (COSTA; MARENCO,
2007). Como amostras, três folíolos maduros e completamente expandidos foram selecionados
a partir de folhas do segundo ou terceiro par contados a partir do ápice.
2.5. Análises bioquímicas
As análises bioquímicas foram realizadas no laboratório do Centro de Tecnologia
Aplicada à Agricultura (CTA), pertencente ao Instituto Sócio Ambiental e de Recurso Hídrico
(ISARH), localizado no campus da UFRA em Belém-PA.
2.5.1. Prolina
Os teores de prolina foram determinados de acordo com Bates et al. (1973). A
extração foi realizada a quente (em banho-maria a 100 °C, por 30 min), homogeneizando-se
as amostras em 5 mL de água destilada. Após centrifugação a 700 g, por 20 min, o
21
sobrenadante foi coletado e deste utilizado uma alíquota de 1 mL para a quantificação de
prolina, iniciada pela adição de 1 mL de ninhidrina ácida e 1 mL de ácido acético glacial
99,5%. A mistura foi agitada e incubada a 100oC por 1 h. As amostras foram resfriadas em
banho de gelo e a elas adicionadas 2 mL de tolueno para a separação das fases. A fração
contendo grupo cromóforo foi coletada e a absorvância (ABS) determinada a 520 nm em
espectofotômetro UV-Visível (mod. GenesysTM 10series, Marca Thermo Electron Corporation,
Wisconsin, USA). A concentração de prolina foi determinada por meio de uma curva de
calibração de prolina e o resultado expresso em mmoL prolina g-1 de matéria seca (MS).
2.5.2. Sacarose
Foi determinada segundo o método de Van Handel (1968), com algumas
modificações. As amostras foram maceradas em 1,5 ml de MCW (metanol: clorofórmio: água
12: 5: 3, v/v/v) e submetidas à agitação por 20 minutos. O homogeneizado foi centrifugado a
500 g, por 30 minutos, à temperatura ambiente. Após a coleta do sobrenadante, foi repetido o
processo de extração por duas vezes consecutivas e os sobrenadantes reunidos e seu volume
final determinado. A cada 2,0 ml do extrato final foram adicionados 0,5 ml de clorofórmio e
750 µl de água deionizada, seguindo de agitação e nova centrifugação a 700 g, por 10
minutos, à temperatura ambiente. A fração aquosa metanólica foi coletada e transferida para
tubos de ensaio, os quais foram incubados em banho-maria a 35ºC, por 60 minutos até a
evaporação do clorofórmio residual. Para cada alíquota de 100 µL do material obtido, foram
adicionados 100 µL de KOH 30%. Após agitação, aquecimento a 100ºC por 10 minutos e
resfriamento em banho de gelo, uma volume de 3,0 ml de solução de antrona 0,2% (em ácido
sulfúrico) foi adicionado a cada tubo. A mistura foi agitada e aquecida novamente (40 ºC por
20 minutos) e, após resfriamento, a ABS das amostras foi determinada a 620 nm por meio de
um espectrofotômetro (GenesysTM10series, Thermo Electron Co., Wisconsin, USA). Para os
cálculos foi utilizada uma curva padrão de sacarose e os resultados expressos em mg sacarose
g-1 MS.
2.5.3. Glicina – betaína
Foi determinada segundo o método de Grieve e Grattan (1983). As amostras foram
maceradas em 2 mL de água destilada sob agitação constante, à temperatura ambiente, por um
período de 4 horas, seguindo de centrifugação a 3.500 g por 10 minutos, a 25 ºC. O
sobrenadante foi coletado e dele retirado uma alíquota de 250 µL para a quantificação de
prolina. Para isso, 250 µL de ácido sulfúrico concentrado foram adicionados a cada amostra,
22
seguindo de incubação em banho de gelo por 1 hora. Após esse tempo, 200 µL de iodeto de
potássio (a aproximadamente 8°C) foram adicionados e a mistura incubada por 16 horas a
0ºC. As amostras foram centrifugadas a 3.500 g, por 15 minutos a 0ºC, e o resíduo coletado.
Este foi lavado por duas vezes em 2 mL de ácido sulfúrico 1 N (a aproximadamente 8°C),
após centrifugação a 3.500 g, por 5 minutos a 0 ºC, o precipitado foi dissolvido em 3 mL de
1,2-dicloroetano, por meio de agitação vigorosa. Após 2,5 horas de repouso, a ABS das
amostras foi obtida a 365 nm e para os cálculos foi utilizada uma curva padrão de glicina betaína. Os resultados foram expressos em mg glicina – betaína g-1 MS.
2.5.4. Carboidratos solúveis totais (CST)
Foi determinado segundo o método colorimétrico descrito por Dubois et al. (1956),
modificado como se segue: Amostras vegetais foram homogeneizadas em 5 mL de água
destilada e o homogeneizado resultante incubado a 100oC, por 30 minutos. Após
centrifugação a 700 g, por 10 min, o sobrenadante foi coletado e o procedimento de extração
repetido por duas vezes. Os sobrenadantes foram combinados e homogeneizados e, do extrato
final resultante, uma alíquota de 20 µL foi amostrada para as demais etapas. A cada alíquota
foi adicionado 480 µL de água deionizada e, após agitação por 15 minutos, foram adicionados
500 µL de fenol 5% e 2,5 mL de ácido sulfúrico concentrado a cada amostra. Após vigorosa
agitação (20 minutos), a ABS das amostras foi registrada a 490 nm. Para os cálculos foi
utilizada uma curva padrão de glicose e os resultados expressos em mg de CST g-1 MS.
2.6. Análises morfológicas
As variáveis de crescimento relacionadas à morfologia da copa e sistema radicular
determinadas foram: (i) altura relativa das plantas; medindo-se a região compreendida entre o
coleto da planta e o ápice caulinar por meio de uma trena presa a uma régua de madeira; (ii)
diâmetro do caule, medindo-se a seção caulinar na porção basal, mediana e apical utilizandose um paquímetro mecânico (m3545605128, Vonder Co., Curitiba, Brasil) e nesse caso, o
diâmetro do caule foi calculado como a média dos diâmetros das seções medidas; (iii) o ganho
percentual de folhas, foram determinados pela contagem diária do número de folhas e folíolos
existentes na planta durante o período experimental (27 dias). As plantas foram retiradas dos
vasos e, com auxílio de uma tesoura de poda, a parte aérea e sistema radicular foram
separados. A área do limbo de cada folíolo foi determinada por meio de um medidor de área
foliar portátil (AM300, ADC Bioscientific Ltd., Hoddesdon, UK) e a (iv) área foliar total da
planta foi calculada como o somatório de todas as áreas determinadas individualmente. O
23
sistema radicular foi cuidadosamente lavado em água corrente, utilizando-se uma peneira de
malha fina para evitar perdas de raízes mais finas, e seu (v) comprimento foi determinado pela
medição da maior raiz na região compreendida entre o coleto da planta e o ápice radicular. As
partes da planta foram acondicionadas em sacos de papel e secas em estufa de circulação de ar
(72°C até massa constante) para a obtenção de suas massas secas (vi), para posterior
determinação da taxa de crescimento relativo (TCR) das partes da planta, utilizando-se a
equação TCR = (Ln P2 - Ln M1)/(T2-T1), em que “M” refere-se à massa seca e “T” ao
tempo. A razão raiz/parte aérea foi estimada como a razão entre massa seca do sistema
radicular e massa seca da parte aérea (calculado como a soma das massas secas de folíolos,
pecíolo e caule).
2.7. Análises estatísticas
O experimento foi instalado em delineamento inteiramente ao acaso, com dois
tratamentos (Irrigado e Déficit hídrico) e seis repetições. Cada repetição foi constituída de
uma planta por vaso. Os dados de Ψam, gs e E foram submetidos à análise de variância e as
diferenças entre as médias dos tratamentos (Irrigado x Déficit hídrico) foram testadas no
mesmo tempo de avaliação (dias de experimento) pelo teste t-Student (P < 0,05). As relações
entre gs x Ψam e gs x ΔW foram testadas por meio de regressão linear, cuja significância foi
averiguada pelo teste-F (P < 0,05). Os dados bioquímicos foram submetidos à análise de
variância considerando-se o arranjo fatorial 2 x 2 (dois regimes hídricos - irrigado e déficit
hídrico; e duas épocas de avaliação – 15 dias e 27 dias, e as médias comparadas pelo teste de
Newman - Keuls (P < 0,05). Os dados morfológicos foram comparados pela análise dos erros
padrões das médias.
24
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a realização do experimento as plantas sofrem interferências das condições
ambientais as quais estão submetidas; por isso, foram registradas as variações diurnas da Tar,
Tfol, UR, RFA e ΔW. Estas variáveis podem explicar, pelo menos em partes, as variações em
gs e E ao longo dos dias de medição (KRAMER; BOYER, 1995). Para o período experimental
(27 dias), as médias de Tar e Tfol durante as medições de trocas gasosas, realizadas entre 9:30 e
10:30 h, foram 31,6 e 32,7°C, respectivamente, enquanto a média de RFA foi de 506 μmol m2
s-1 (Figura 1a). As médias de UR e ΔW foram, respectivamente, de 73% e de 1,34 kPa
(Figura 1b). Foi observado, no entanto, que as condições climáticas variaram
significativamente entre os diferentes dias de experimento. Essas variações foram decorrentes
da maior ocorrência de dias nublados durante os meses em que o experimento foi avaliado
(outubro a novembro) o que, no entanto, não invalida as comparações entre tratamentos
quando estas são realizadas para o mesmo dia de experimento.
Figura 1. Valores médios de radiação fotossinteticamente ativa (RFA, Fig. 1a), temperaturas
da folha (Tfol) e do ar (Tar; Fig. 1a) e déficit de pressão de vapor entre folha e atmosfera (ΔW,
Fig. 1b) durante as determinações das trocas gasosas no experimento. A tomada de dados
ocorreu entre 9:30 e 10:30 h e cada ponto é a média de seis medições + erro padrão da média.
25
A suspensão da irrigação por nove dias (Dia 9) promoveu uma redução significativa
do Ψam de -0,22 + 0,04 MPa (nas plantas irrigadas) para -0,68 + 0,10 MPa (nas plantas sob
déficit hídrico). Essa redução foi mais expressiva após 15 dias da suspensão da irrigação (1,35 + 0,31 MPa) e máxima após 27 dias da diferenciação dos tratamentos, quando o Ψam foi
reduzido de -0,30 + 0,05 MPa nas plantas irrigadas para -3,21 + 0,20 MPa nas plantas sob
seca (Figura 2a). O potencial hídrico medido na folha é uma grandeza termodinâmica que
determina a quantidade de água celular disponível no tecido para a realização de trabalho
químico (KRAMER; BOYER, 1995) e, quando determinado na antemanhã (entre 4:30 e 5:30
h), fornece uma medida indireta do potencial hídrico do solo no qual as plantas se encontram.
Isto porque na antemanhã as perdas de água por evapotranspiração são nulas, ou desprezíveis,
devido à ausência de luz e a alta umidade (próximo a saturação) e, nessa situação, um
equilíbrio no sistema solo – planta - atmosfera é alcançado. Teoricamente, quanto mais
negativo o valor de Ψam, menor é a quantidade de água disponível para realização de trabalho
químico, estimulando na planta uma série de respostas fisiológicas, bioquímicas e
morfológicas que permitam uma maior economia hídrica. Isto ocorre no sentido de evitar ou
atenuar os sintomas negativos da seca que culminam, em última análise, na paralisação do
crescimento e diminuição da produção.
Em termos fisiológicos, a diminuição de gs ocorre como estratégia de economia
hídrica, uma vez que quanto menor a gs menor é a tendência de transpiração. Esta resposta foi
observada em várias espécies lenhosas arbustivas ou arbóreas. Em café conilon, a gs foi
reduzida em, pelo menos, 60% quando o Ψam diminuiu de -0,02 MPa para -0,50 MPa
(PINHEIRO et al., 2005). Em plantas jovens de mogno brasileiro sob Ψam de -3,6 MPa,
Cordeiro (2007) observou uma forte redução na gs ao longo do dia, com valores máximos às
07:00 h (270 mmol m-2 s-1) e mínimos entre 9:00 e 17:00 h (valores médios em torno de 40
mmol m-2 s-1). Reduções expressivas em gs em resposta à diminuição do Ψam foram também
observadas em kiwi (GUCCI et al., 1996), acerola (Malpighia glabra L.)(NOGUEIRA et
al.,2001) e em várias outras espécies arbóreas do cerrado (PEREZ; MORAES, 1991).
Neste experimento, foi observado que a gs diferiu significativamente entre os
tratamentos em todos os dias de avaliação, exceto no Dia 0 porque todas as plantas
encontravam-se plenamente irrigadas (Figura 2b). Para as plantas irrigadas, as reduções
observadas na gs podem ser explicadas pelas flutuações das condições climáticas ao longo dos
26
Figura 2. Potencial hídrico na antemanhã (Ψam, Fig. 2a), condutância estomática (gs, Fig. 2b)
e transpiração (E, Fig. 2c) em plantas jovens de Carapa guianensis sob irrigação plena
(Irrigado, linhas cheias e símbolos fechados) e sob deficiência hídrica (Déficit hídrico, linha
tracejada e símbolos abertos). Os dados representam a média de seis repetições + erro padrão
da média. Médias entre tratamentos avaliadas em um mesmo dia experimental marcadas com
um asterisco diferem estatisticamente pelo teste t-Student (P < 0,05). As setas indicam o
momento em que a irrigação foi retomada.
27
dias de avaliação, em especial pelas menores taxas de RFA e ΔW registradas a partir do Dia 12
(Figura 1). Porém, comparando-se os tratamentos pontualmente, ou seja, em cada dia de
experimento, a gs das plantas sob seca foi 48% (Dia 9) e 83% (Dias 15 e 27) menor em
relação às plantas irrigadas (Figura 2b). Consequentemente, a E nessas plantas também foi
reduzida para os mesmos dias de avaliação (Figura 2c). No Dia 9, a E das plantas estressadas
foi significativamente menor (44%), com reduções mais expressivas nos dias 15 e 27 (em
torno de 83%). Resultados similares foram observados em café conilon (DaMATTA et al.,
2003), eucalipto (ALMEIDA; SOARES, 2003; CHAVES et al. 2004), mogno brasileiro
(CORDEIRO, 2007) e em andiroba, cujo déficit hídrico por 14 e 21 dias resultou nas maiores
reduções de gs e E (GONÇALVES et al., 2009).
Na transpiração o movimento de vapor d’água entre folha e atmosfera dá- se em favor
do gradiente de concentração de vapor d’água entre esses meios. Mas, para haver transpiração
é necessário que a concentração de vapor d’água seja maior nos espaços intercelulares que na
atmosfera circundante. Dessa forma, pode-se inferir a transpiração não é governada apenas
pelo grau de abertura estomática, pois mesmo com os estômatos abertos a transpiração poderá
ser nula ou extremamente baixa; fenômeno este observado quando o ar encontra-se saturado
(KRAMER; BOYER, 1995). Uma vez que as trocas gasosas foram avaliadas entre 9:30 e
10:30 h e nesse horário houve uma substancial diferença de concentração de vapor d’água
entre folha e atmosfera (que variou de 0,8 a 1,7 kPa), pode-se inferir que a gs possa ter
exercido um papel importante no controle da transpiração. Esta hipótese foi testada pelo
estudo das relações entre gs x E para os dados de ambos os tratamentos. Foi observado que
para as plantas sob seca a relação gs x E foi altamente significativa (P < 0,01; r2 = 0,99),
apresentando um comportamento linear similar aquele obtido para as plantas irrigadas, o que
indica que reduções em gs reduzem de imediato e de forma linear a E (Figura 3).
Analisando-se o comportamento da gs em relação ao Ψam, foi claramente evidente a
ausência de correlação entre essas variáveis para as plantas irrigadas (Figura 4a). No entanto,
para as plantas estressadas, a gs foi fortemente reduzida a partir de pequenas variações no Ψam
(Figura 4b), exibindo um comportamento potencial altamente significativo (P < 0,01). Isto
implica dizer que quando a água do solo é abundante a planta deverá manter seus estômatos
abertos por mais tempo a fim de garantir maior influxo de CO2 para a fotossíntese. Do
contrário, ao passo que a água do solo é esgotada, os estômatos rapidamente se fecham a fim
de proporcionar uma maior economia hídrica. De acordo com Tardieu e Simonneau (1998), a
rápida resposta de gs frente às variações no Ψam podem estar relacionadas ao incremento na
28
concentração de ácido abscísico (ABA), uma vez que esses autores observaram que quanto
maior a concentração de ABA na seiva do xilema menor é a gs.
Para a maioria das espécies, o aumento do ΔW resulta em reduções lineares em gs. Em
plantas de Coffea canephora sob constante irrigação, reduções de 50 % em gs quando o ΔW
aumentou de aproximadamente 1,5 para 3,0 kPa foram observadas (PINHEIRO et al., 2005).
Uma forte correlação entre ΔW e gs foi observada em amendoeiras, apresentando como valor
limite para o fechamento estomático um ΔW da ordem de 2 kPa (ROMERO; BOTÍA, 2006).
Em mogno brasileiro, Cordeiro et al. (2007) observou que as plantas submetidas a deficiência
hídrica reduziram sua gs. Neste experimento, no entanto, nenhuma relação entre ΔW e gs foi
observada independentemente do tratamento (Figura 4c e 4d). Possivelmente, este fato pode
ser explicado pelos baixos valores de ΔW registrados durante o experimento; por outro lado,
para algumas espécies da região mediterrânea, como a oliveira, resultados experimentais
indicaram que nem sempre o aumento na demanda evaporativa implica na diminuição de gs
(FERNANDEZ et al., 1997; GIORIO et al., 1999). Nesse caso, o fechamento estomático das
plantas sob estresse observado nesse ex
Figura 3. Relação entre condutância estomática (gs) e transpiração (E) em plantas jovens de
Carapa guianensis sob irrigação plena (Irrigado; linhas cheias e símbolos fechados) e sob
deficiência hídrica (Déficit hídrico; linha tracejada e símbolos abertos). Os dados representam
a média de seis repetições + erro padrão da média, coletados durante todo o período
experimental. Coeficientes de determinação seguidos de um asterisco indicam análise de
regressão significativa pelo teste F (P < 0,01).
29
Figura 4. Relações entre condutância estomática (gs) e potencial hídrico de antemanhã (Ψam) e
entre gs e déficit de pressão de vapor entre folha e atmosfera (ΔW) em plantas jovens de
Carapa guianensis sob irrigação plena (Irrigado) e sob deficiência hídrica (Déficit hídrico).
Coeficientes de determinação seguidos de asterisco indicam análise de regressão significativa
pelo teste F (P < 0,01); n = 30.
potencial hídrico do solo (Figura 4b) e a fatores endógenos à planta como sinais químicos ou
ABA (TARDIEU; SIMONNEAU, 1998) que às variações no ΔW (GIORIO et al., 1999;
MORIANA et al., 2002; TOGNETTI et al., 2004; ROMERO; BOTÍA, 2006).
Com relação ao acúmulo de solutos osmoticamente ativos no citoplasma, foi
observado que as plantas de andiroba sob deficiência hídrica apresentaram incrementos
significativos nos teores foliares de prolina, em torno de 60% (Figura 5a). Os teores de
glicina- betaína foram maiores nas plantas estressadas (Figura 5b), cujos incrementos foram
da ordem de 62% aos 15 dias e 112% 27 dias. Porém, nenhuma alteração significativa foi
observada nos teores foliares de sacarose (Figura 5c); enquanto os CST foram sensivelmente
30
menores nas plantas estressadas, com valores 15% aos 15 dias e 25% aos 27 dias menores em
relação às plantas irrigadas (Figura 5d).
Comparativamente, um incremento na concentração de prolina foliar em plantas de
acerola após 20 dias de déficit hídrico foi observado sob condições de campo (NOGUEIRA et
al.; 2001). Em plantas jovens de paricá e guapuruvu submetidas a dois ciclos de deficiência
hídrica, cada um de seis dias e Ψam reduzindo-se a -1,4 a -2,0 MPa, Carvalho (2005)
demonstrou que o acúmulo de prolina foi sensivelmente maior sob condição de seca. Um
expressivo aumento no teor de prolina (220%) foi evidenciado em mogno brasileiro sob Ψam
de -3,5 MPa (CORDEIRO, 2007). Outros autores encontraram um significativo acúmulo de
prolina em plantas de C. pyramidalis (SILVA et al., 2004), tomateiros (HANDA et al., 1986)
e milho (ARRAZATE et al., 2005) quando submetidas à seca.
A glicina- betaína é acumulada em várias espécies sob condições de estresse,
principalmente o estresse salino e a seca. Acúmulo de glicina- betaína tem sido registrado em
beterraba, espinafre, ervilha, trigo e sorgo e nessas espécies tem sido mostrado que os
genótipos mais tolerantes acumulam maiores teores de glicina (WEIMBERG et al., 1984;
FALLON; PHILLIPS, 1989; McCUE; HANSON, 1990; RHODES, HANSON, 1993; YANG
et al., 2003). Por outro lado, a relação entre tolerância a estresse e acúmulo de glicina- betaína
nem sempre é existente e há espécies que não produzem esse composto, como é o caso do
arroz e do tabaco; porém, plantas transgênicas dessas espécies que expressem os genes
responsáveis pela síntese de glicina- betaína passam a exibir maior tolerância à seca que as
linhagens selvagens – não transformadas (RHODES, HANSON, 1993).
Embora os potenciais osmóticos na turgescência plena e no ponto de plasmólise
incipiente não tenham sido determinados neste experimento e, por essa razão, não seja
assertivo a ocorrência de ajustamento osmótico nas condições hídricas testadas, é possível
inferir que o acúmulo desses solutos em alta quantidade nas folhas das plantas estressadas
possa ser relatado como um forte indício de que a andiroba utiliza esse mecanismo para
melhorar a turgescência foliar.
31
Figura 5. Teores foliares de prolina (Pro, Fig. 5a), glicina- betaína (Gli-Bet, Fig. 5b), sacarose
(Sac, Fig. 5c) e carboidratos solúveis totais (CST, Fig. 5d) em plantas jovens de Carapa
guianensis sob irrigação plena (Irrigado) e sob deficiência hídrica (Déficit hídrico). Os dados
representam a média de seis repetições + erro padrão. Letras maiúsculas e minúsculas
diferentes denotam diferenças entre médias de plantas irrigadas e estressadas,
respectivamente, comparadas em diferentes dias de avaliação; e médias seguidas de asterisco
denotam diferenças significativas entre tratamentos comparados no mesmo dia de avaliação
(Newman-Keuls, P < 0,05).
Devido à redução da gs (Figura 2b) e provável diminuição da fotossíntese líquida sob
condições de seca (GONÇALVES et al., 2009), uma desaceleração no crescimento das
plantas estressadas foi evidente em comparação às plantas mantidas sob constante irrigação
(Tabela 1). Portanto, no período de 27 dias de experimento, a altura e o diâmetro do caule das
plantas irrigadas foram incrementados em 18,33 e 14,91%, respectivamente; muito superior
aos incrementos observados para asas plantas sob seca, indicando que sob déficit hídrico o
crescimento da parte aérea foi paralisado, conforme revisado por Kramer e Boyer (1995) e
Kozlowski e Pallardy (1997). Para o mesmo período, foi observado que o número de folha e o
de folíolo aumentou para as plantas irrigadas em 24,53 e 60,8% respectivamente, enquanto
que para as plantas sob déficit hídrico as taxas foram negativa em 6,92 e 6,91 tanto para
ganho de folha como para ganho de folíolos. Como consequência, a área foliar total nessas
plantas foi reduzida em 28,81% (tabela 1).
32
A redução da área foliar total torna-se uma importante estratégia à medida em que
reduz a superfície de transpiração da planta como um todo, corroborando para uma melhor
manutenção do status hídrico da planta (KRAMER; BOYER, 1995; KOZLOWSKI;
PALLARDY, 1997). Resultados similares foram observados em plantas jovens de mogno
comparadas sob Ψam de -3,0 MPa, em que Cordeiro (2007) registraram uma diminuição no
número de folhas (23%) e na área foliar total (50%) dessas plantas em relação às plantas
irrigadas. Reduções significativas no número de folhas e na área foliar total foram também
observadas em Anadenanthera macrocarpa e Acacia farnesiana (BARBOSA, 1991;
BARROS; BARBOSA, 1995) e em plantas de café conilon submetidas à deficiência hídrica,
DaMatta et al. (2003) demonstraram que a redução da área foliar total foi significativa para o
clone 46, sensível à seca, e não-significativa para o clone 120, tolerante à seca, tendo sido tal
redução apontada como estratégia de economia hídrica.
Ao final do período experimental (Dia 27), não foi constatada diferença significativa
entre tratamentos para o comprimento do sistema radicular (Tabela 1). Porém, em relação ao
Dia 0, um incremento de 0,037 g g-1 dia-1 na taxa de crescimento relativo da massa seca de
raízes foi observado para as plantas irrigadas, enquanto nas plantas sob déficit hídrico este
incremento foi sensivelmente menor 0,028 g g-1 dia-1. Como para o mesmo período
experimental a massa seca da parte aérea (folíolos + pecíolos + caule) das plantas irrigadas foi
maior que para as plantas estressadas, uma maior razão raiz/parte aérea foi registrada nessas
últimas (Tabela 2). Esses dados sugerem que a manutenção do crescimento do sistema
radicular em andiroba, como observado para café conilon (PINHEIRO et al., 2005) e arábica
(DIAS et al., 2007), aliada à diminuição do crescimento da parte aérea, foram importantes
mecanismos morfológicos de resposta à seca.
Tabela 1. Variação de crescimento percentual em plantas jovens de Carapa guianensis sob
irrigação plena (Irrigado) e sob deficiência hídrica (Déficit hídrico), após 27 dias.
DIA 0
Variável
DIA 27
Irrigado
Ganho (%)
Def. Hidrico Ganho (%)
Altura do caule (m)
0,76 ± 0,02
0,90 ± 0,04
18,33
0,77 ± 0,05
0,99
Diâmetro do caule (cm)
0,80 ± 0,03
0,92 ± 0,05
14,91
0,85 ± 0,06
6,45
Número de folhas (unidade)
13,25 ± 0,74
16,50 ± 1,89
24,53
12,33 ± 0,62
-6,92
Número de folíolos (unidade)
50,17 ± 2,96
80,67 ± 7,11
60,80
47,00 ± 2,98
-6,31
Área foliar total (m )
0,27 ± 0,03
0,38 ± 0,04
42,58
0,19 ± 0,03
-28,81
Comprimento do sistema radicular (m)
45,38 ± 1,42
47,83 ± 2,08
5,42
45,85 ± 1,18
1,05
2
* Os dados referem-se às médias ± erro padrão (n = 6)
33
Tabela 2. Variação na Taxa de Crescimento Relativo em plantas jovens de Carapa guianensis
após 27 dias, sob irrigação plena (Irrigado) e sob deficiência hídrica (Déficit hídrico).
DIA 0
Variável
Massa seca de folíolos (g)
DIA 27
Irrigado
-1
-1
TCR (g g dia )
Déf. Hid.
TCR (g g-1 dia-1)
16,08 ± 1,67
27,75 ± 1,82 0,020
17,66 ± 1,24
0,003
Massa seca do caule e pecíolos (g) 23,21 ± 1,12
25,28 ± 2,67 0,003
19,22 ± 1,36
-0,007
Massa seca da parte aérea (g)
39,29 ± 2,74
53,03 ± 4,44 0,011
36,87 ± 2,26
-0,002
Massa seca de raízes (g)
12,23 ± 0,39
33,03 ± 4,06 0,037
26,02 ± 1,89
0,028
Massa seca total (g)
51,52 ± 2,83
86,06 ± 8,38 0,019
62,90 ± 3,49
0,007
Razão raiz/parte aérea
0,31
0,62
0,71
--
-
* Os dados referem-se às médias ± erro padrão (n = 6)
34
4. CONCLUSÕES
O déficit hídrico em plantas jovens de andiroba reduz fortemente o Ψam, gs e E
indicando um eficiente controle estomático da transpiração nessa espécie;
Os teores foliares de prolina e glicina-betaína foram maiores nas plantas sob
deficiência hídrica, indicando uma possível ocorrência de ajuste osmótico nessa espécie;
A diminuição da área foliar e a manutenção do crescimento do sistema radicular foram
eficientes mecanismos morfológicos de resposta das plantas de andiroba ao déficit hídrico;
Os mecanismos relacionados conferem a andiroba a capacidade de tolerar
satisfatoriamente ao déficit hídrico imposto neste experimento.
35
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