A hora do artesanato brasileiro Cenário econômico favorece a exportação para os EUA e países europeus, mas é preciso se preparar para atender ao exigente mercado internacional Lucas de Melo Corrêa* Seja em épocas de crise ou de crescimento, sempre há aqueles que crescem e outros que diminuem ou desaparecem do mercado. Tudo depende de saber identificar e, obviamente, aproveitar as oportunidades que surgem em cada contexto. Com a economia brasileira em crise, certos fatores internos e externos favorecem a exportação e o nosso artesanato pode se beneficiar desse cenário. Dólar alto, economia americana, e mesmo de alguns países europeus, em recuperação, além da originalidade e belezas únicas da nossa arte popular. Fatores que, associados ao foco do mundo no país, devido às Olimpíadas, fazem com que tal atividade tenha um mercado externo promissor. Óbvio que, para isso, é necessária certa capacitação. Percebo muitos artesãos que nos procuram interessados em exportar motivados pelo falso glamour ligado ao “vender para fora”. O primeiro passo para quem quer exportar é fugir desses clichês. Entender que a exportação é uma venda assim como qualquer outra e para clientes com a mesma importância de seus clientes nacionais. O artesão deve sempre se perguntar: Eu tenho produção suficiente para começar a exportar? Muitos artesãos me dizem que estão com a linha de produção no limite, mesmo com vendas voltadas somente ao mercado interno. Mas não levam a sua capacidade produtiva em consideração quando decidem ser a hora de exportar. Eu tenho flexibilidade e organização para atender adaptações exigidas no exterior? Há muitas culturas mais rigorosas que a nossa, principalmente quanto a prazos. Esqueça o jeitinho brasileiro: mais dois dias, vai atrasar um pouco. Compradores estrangeiros não são pacientes com a falta de compromisso e o atraso e muitos vão pedir modificações no seu produto, necessárias para a adaptação à cultura deles. Exemplo: você vende um set de quatro porta-guardanapos no Brasil. Se algum comprador japonês se interessar, ele provavelmente vai pedir que seja um set com um número diferente, já que quatro, na cultura oriental, é o número do azar. Consigo calcular meus custos e fazer um preço compatível ao que eu gasto e ao lucro que quero ter? Na hora de exportar, saber calcular seus custos é de extrema importância, pois, por mais que um dólar alto seja bom para venda ao exterior, haverá um aumento de custos internos, pois muitos serviços essenciais à operação de uma exportação são cotados em dólar -frete internacional, seguro, taxas aéreas ou marítimas. E tudo isso, geralmente (depende da negociação), é despesa do vendedor, que deve ser acrescentada ao seu custo, na hora da formação de preços. Esses são só alguns fatores essenciais que uma pessoa deve conhecer antes de se aventurar no comércio exterior. É bom lembrar ainda que o artesão deve sempre estar aberto a ouvir e analisar as críticas que recebe sobre o seu trabalho, na busca por maior qualidade de seu produto e em todo o processo: matéria-prima, design, acabamento. Se incorporar essas orientações e cultivar o hábito de estar sempre em busca de mais informações sobre o assunto, o artesão brasileiro tem tudo para conquistar o mundo com sua arte e crescer mais ainda no mercado interno. *Lucas Melo é responsável pelo setor de Exportação do Instituto Centro de Capacitação e Apoio ao Empreendedor (Centro CAPE)