# 81 Ed iç ão Oásis ABELHAS URBANAS Colmeias voltam às cidades GENIUS APPLE Desvelados os segredos do manual ADEUS, VESTA EFEITO PLACEBO O poder do nada Próxima parada: Ceres, o planeta-anão por Luis Pellegrini Editor P lacebo (do latim placere, significando “agradarei”) é como se denomina um fármaco ou procedimento inerte, que apresenta no entanto efeitos terapêuticos reais. Há poucos anos, uma experiência fascinante relatada nos Archives of general Psychiatry revelava o poder da relação corpo/mente nos processos da saúde e da doença, e o efeito placebo ligado a ela. Nessa experiência, pacientes sofredores de Mal de Parkinson passaram por um procedimento cirúrgico que transplantou neurônios humanos em seus cérebros. A metade desse pacientes, no entanto, não teve nenhum neurônio transplantado em seus cérebros. Mas receberam a informação de que o transplante realmente tinha sido efetuado. O resultado? Inclusive estes últimos pacientes apresentaram significativa melhora em suas funções cerebrais e corporais no decorrer do ano seguinte ao experimento. Em outras palavras, eles não tinham passado por nenhuma cirurgia, porém acreditavam que ela tinha acontecido. Por causa dessa convicção, seus corpos reagiram e um processo de autocura teve início, com bons resultados. Agora, como conta nossa matéria de capa, uma outra experiência demonstra que o efeito placebo pode realmente oásis . Editorial 1/1 O efeito placebo pode realmente curar – a partir da ativação dos próprios recursos imunológicos do nosso organismo por Luis Pellegrini Editor oásis . Editorial curar – a partir da ativação dos próprios recursos imunológicos do nosso organismo. Um passo adiante nas investigações do ainda misterioso porem fascinante e promissor mundo das relações entre o corpo e a mente. Confira. 1/1 SAÚDE EFEITO PLACEBO O poder do nada oásis . SAÚDE 1/4 1/4 Saber que podemos contar com a ajuda de um remédio (mesmo que ele seja inócuo) ativa o nosso sistema imunológico e, com frequência, promove a cura A té mesmo um simples copo d’água pode desencadear um efeito placebo. Mas como e por que isso funciona? Do ponto de vista lógico, não faz nenhum sentido. Como é possível que uma pílula de açúcar colorida possa não apenas nos dar a sensação de estar melhor mas, inclusive – em alguns casos – levar à cura? O efeito placebo – a série de reações postas em movimento em resposta a uma terapia, até mesmo quan- oásis . SAÚDE do essa terapia não possui nenhum princípio ativo – há muito provoca muitas perguntas e interesse no seio da comunidade científica. Recente estudo publicado na revista Evolution and Human Behaviour pode ajudar a compreender melhor porque muitas vezes o placebo é realmente eficaz. Com base numa simulação computadorizada elaborada por Peter Trimmer, biólogo da Universidade de Bristol, para ativar o sistema imunológico e combater as pequenas infecções que atacam o organismo, homens e animais devem por em ação recursos vitais importantes para a sobrevivência. Em alguns casos, no entanto, pode ser menos dispendioso, do ponto de vista evolutivo, esperar que a infecção se torne mais séria antes de ativar as nossas defesas, a menos que intervenha um “sinal” que nos garanta que podemos enfrentar aquele problema com boas probabilidades de sucesso, deixando que um fator externo (o falso fármaco) trabalhe em lugar de nós. Coisa muito semelhante acontece também para alguns animais. No verão fico mais ativo Algumas observações feitas no passado com camundongos siberianos criados 2/4 em laboratório mostraram como esses roedores faziam muito pouco para combater pequenas infecções se as luzes de sua gaiola fossem mantidas baixas, numa condição parecida à da iluminação invernal. Mudando os padrões luminosos para simular a iluminação de verão, observou-se um imediato incremento da resposta imunológica. De modo análogo, quem toma um placebo convencido de que se trate de um medicamento real, pode ter uma resposta imunológica duas vezes maior do que quem não toma nenhuma pílula. Um delicado custo-benefício Tanto nos camundongos quanto no ser humano trata-se portanto de uma intervenção externa que irá desencadear uma série de reações que permitirão o retorno a um estado de boa saúde. A “De modo análogo, quem toma um placebo convencido de que se trate de um medicamento real, pode ter uma resposta imunológica duas vezes maior do que quem não toma nenhuma pílula” oásis . SAÚDE explicação, segundo Trimmer, é simples: ativar o conjunto de engrenagens do sistema imunológico requer um custo energético notável que corre o risco de exaurir perigosamente os recursos do animal. Por isso, enquanto a infecção não for letal, espera-se um sinal que garanta que é possível combater a doença sem correr o risco de consequências irremediáveis. Também Nicholas Humphrey, psicólogo agora aposentado da London School of Economics, tinha proposta essa mesma teoria há cerca de dez anos, mas apenas agora a hipótese foi confirmada pelo modelo de Trimmer. 3/4 Acender e apagar Durante o verão, as reservas alimentares – e, portanto, as fontes energéticas existem em abundância. Eis porque os camundongos siberianos, quando acreditam ter chegado a boa estação, permitem-se o luxo de combater infecções. O modelo de Trimmer avaliza essa teoria revelando que, enquanto para os animais que vivem em ambientes mais favoráveis é mais conveniente desencadear uma resposta imunitária e voltar ao estado saudável no menor tempo possível, nos ambientes mais hostis os animais viveriam mais tempo e teriam mais filhos se forem capazes de suportar as infecções sem ativar o sistema imunológico. Em resumo, acender ou apagar as próprias defesas segundo as condições ambientais parece implicar em notáveis benefícios em termos evolutivos. Um mosaico de possibilidades Embora no decurso da história tenhamos criado e ativado uma cadeia alimentar que nos possibilita dispor de recursos alimentares durante todo o ano, tudo acontece como se nosso subconsciente ainda não tivesse percebido isso e vivêssemos procurando economizar energias. Até o momento em que tomar um placebo comunica a nossa mente que esse é o momento justo para mover as coisas e buscar a cura. Novos estudos estão sendo desenvolvidos para confirmar essa teoria, até porque existem diversos placebos que agem a partir de diferentes mecanismos. oásis . SAÚDE 4/4 oásis . ANIMAL ANIMAL ABELHAS URBANAS Colmeias voltam às cidades 1/16 Amplas, feitas com design, imersas no verde, dotadas de sistemas antiintrusão e de limpeza automática: estas são as novas colmeias da Bee Collective’s Sky Hive, de Maastricht, Holanda, in Olanda, a nova casa novinha em folha das abelhas holandesas. A volta das abelhas ao meio urbano acontece agora nas maiores cidades do mundo U Por: Equipe Oásis ma preocupante mortandade em massa de abelhas ocorreu nos últimos anos, sobretudo nos Estados Unidos, Portugal, Espanha, França e Alemanha, mas também em vários outros, inclusive no Brasil. As causas do fenômeno ainda não foram bem esclarecidas, mas um estudo recente comparou o genoma de abelhas provenientes de colmeias doentes com o de abelhas saudáveis e seus resultados sugerem que essa oásis . Editoria morte em massa pode estar relacionada com uma infecção por determinado tipo de vírus que interfere na expressão dos genes. Em 2006 foram relatados os primeiros incidentes de colapso de colmeias de abelhas sem uma razão aparente nos Estados Unidos. O problema intensificou-se de tal modo que um terço das colmeias do país foi afetado. Vários fatores foram sugeridos como responsáveis pelo misterioso colapso das colônias que em inglês foi chamado de colony collapse disorder, vulgarmente 2/16 referido como CCD. Entre os referidos fatores contam-se vírus e parasitas mas também pesticidas, culturas geneticamente modificadas e até a atividade dos telefones celulares, sem que no entanto se tivesse chegado a uma conclusão definitiva. Esse estudo recente realizado por investigadores da Universidade de Illinois liderado por May Berenbaum e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences obteve resultados que podem ser determinantes na compreensão do fenômeno. Nesse projeto, os cientistas compararam o genoma de abelhas provenientes de colônias afetadas com o de abelhas saudáveis através da construção de um microarray – “um dispositivo onde se visuaoásis . Editoria lizam os 10 mil genes das abelhas”, segundo explica a cientista. Os investigadores focaram na análise da expressão de genes do trato digestivo, por ser este o local de desintoxicação em reação aos pesticidas e a origem das respostas imunitárias, uma vez que algumas teorias apontavam os pesticidas ou a infecção por parasitas como causas da CCD. No entanto, as análises genéticas não revelaram uma expressão acentuada dos genes de resposta aos pesticidas em abelhas de colônias doentes, como era de se esperar se estes estivessem na origem do seu padecimento. Por outro lado, os genes envolvidos na resposta imunitária não apresentavam nenhum padrão de resposta, apesar da prevalência de vírus e agentes patogênicos nas colmeias infectadas. O que sim, ficou evidente, foi a presença em abundância de fragmentos de ribossomas, estruturas implicadas na produção de proteínas nas células, o que sugere que essa atividade pode estar comprometida em colmeias de abelhas com CCD. Por outro lado, investigações anteriores já ti “Os investigadores focaram na análise da expressão de genes do trato digestivo, por ser este o local de desintoxicação em reação aos pesticidas” 3/16 nham revelado que os vírus que as abelhas transportam atacam os ribossomas. Segundo Berenbaum, os vírus em questão “invadem o ribossoma que, em vez de produzir a proteína da abelha, produz proteínas dos vírus. Por isso, o que provavelmente está acontecendo é apenas que o ribossoma colapsa”. O fato de as abelhas de colônias afetadas possuírem mais desses vírus que as abelhas de colônias saudáveis corrobora essa teoria. A notícia dessa epidemia apiária levou ao desespero milhares de apicultores em todo o mundo. Tratam-se em geral de pessoas muito apaixonadas pelo que fazem, e que não raro têm uma visão muito particular da apicultura, quase como se ela fosse uma forma de meditação religiosa. Talvez movido pelo desejo de salvaguardar seus queridos insetos – e sua produção de mel -, em vários oásis . Editoria países apicultores começaram a instalar colmeias no meio urbano. Em algumas cidades, como é o caso de Nova York, a prática é proibida por lei, mas mesmo assim alguns cuidadores de abelhas encontram o modo de lá instalar um grande número de colmeias. A dramática mortandade de abelhas que está ocorrendo há alguns anos e a consequente crise no setor da apicultura, acarretando um inevitável declínio da biodiversidade de flores e plantas frutíferas, com pesada repercussão na agricultura e também nos ecossistemas terrestres. Os valores econômicos da ação da abelhas também estão longe de ser irrelevantes. Estima-se, com efeito, que o valor da polinização em nível mundial se situe entre 30 e 40 bilhões de euros ao ano. A galeria de imagens abaixo mostra aspectos desse movimento para trazer as abelhas de volta ao meio urbano. 4/16 Foto: Bee Collective 1 Amarela e com design contemporâneo As abelhas holandesas parecem gostar da sua nova casa instalada no centro da cidade de Maastricht. No alto de uma torre amarela alta cerca de 20 metros foi instalado o primeiro protótipo de Sky Hive, a colmeia urbana de design criada para incrementar e sustentar a apicultura nas cidades, garantindo ao mesmo tempo a segurança das abelhas e dos passantes. No momento, em caráter experimental, a colmeia hospeda as duas primeiras colônias de abelhas, mas programas para a instalação de colmeias análogas estão sendo desenvolvidos em várias cidades do mundo, sobretudo na Europa. As colmeias urbanas, posicionadas em locais estratégicos e bem visíveis, nascem com o objetivo de sensibilizar a opinião pública a respeito da importância desses pequenos insetos, sobretudo pelo seu papel de polinizadores. Uma vez por semana, apicultores especializados cuidam das abelhas ocupando-se da manutenção da colmeia e da extração do mel produzido, bem como da saúde e do crescimento da colônia. Tais visitas constituem também uma oportunidade para encontrar o público e informar as pessoas a respeito da atividade do apicultor, sobre a produção do mel e a visita desses pequenos insetos, poucos conhecidos porém fundamentais para a saúde do nosso planeta. oásis . Editoria 5/16 Foto: Bee Collective 2 Vou morar na cidade A moda das colmeias sobre os tetos das casas e dos edifícios já se difunde em todo o mundo. Parece, com efeito, que as abelhas urbanas, que podem dispor de flores muito variadas e quase durante o ano todo, sejam bem mais “produtivas”do que suas congêneres do campo. Em Maastricht, na Holanda, surgiu a primeira colmeia com design. A torre, com 20 metros de altura, foi instalada no meio do parque Sphinxpark, um lugar público muito frequentado. oásis . Editoria 6/16 Foto: Bee Collective 3 Do céu à Terra O acesso à colmeia de Maastricht para a sua manutenção e para a extração do mel é muito simples: basta acionar a manivela que possibilita regular a altura da casinha, trazendo-a facilmente até o nível do chão. oásis . Editoria 7/16 Foto: Bee Collective 4 Uma iniciativa com muitos objetivos A torre alta sobre a qual foi instalada a colmeia torna possível trazer a apicultura para as cidades, sem perigo para os passantes – que não correm o risco de levarem picadas – nem para as abelhas, que permanecem longe de indivíduos mal intencionados. A cor amarela da casinha e a sua colocação em áreas públicas muito frequentadas tem a intenção de atrair novas gerações de apicultores, providência absolutamente necessária para compensar o súbito desaparecimento de milhões de abelhas, fenômeno aparentemente sob controle, mas que ainda traz muita preocupação para os cientistas e os apicultores. oásis . Editoria 8/16 5 Limpeza semanal Uma vez por semana um grupo de apicultores urbanos recolhe o mel produzido pelas abelhas da Sky Hive e a efetuar as operações de manutenção da colmeia para garantir a saúde e o crescimento das colônias hospedadas. oásis . Editoria 9/16 6 Doce como o mel Os apicultores da Sky Hive extraem as gavetas da colmeia para re4colher o mel. Quantas flores, porém, as abelhas devem visitar para produzir esse mel? Segundo alguns apicultores, para produzir uma única gota desse néctar cada abelha deve visitar pelo menos 100 flores. Isso significa que para produzir um quilograma de mel uma colmeia formada por cerca 30 mil abelhas deve visitar mais de 2 milhões de flores. oásis . Editoria 10/16 7 Abelhas parisienses Em Paris existem muitas colmeias convencionais fixadas nos tetos. Elas podem ser encontradas sobre o Grand Palais, a Ópera (na foto) e até sobre o teto de uma loja da marca Louis Vuitton. oásis . Editoria 11/16 8 Abelhas londrinas Em Londres – na foto – os apicultores urbanos são tão organizados a ponto de promover cursos para os que desejam entrar na produção do mel. oásis . Editoria 12/16 9 Abelhas novaiorquinas Na foto, um apicultor cuida da sua colmeia instalada num telhado do bairrro de Brooklin. A atividade é proibida por lei na área urbana da cidade, mas quase não existe repressão, e espera-se que a proibição seja revogada dentro em breve. oásis . Editoria 13/16 10 Melbourne bateu o recorde mundial Em Melbourne, na Austrália, existem mais de 500 colmeias instaladas nos telhados de casas, restaurantes, hotéis e bares. É possivelmente a cidade com mais colmeias urbanas do mundo. oásis . Editoria 14/16 11 Abelhas vienenses Na foto vê-se Felix Munk, líder da Associação de Apicultores de Viena, sobre o telhado do palácio do governo austríaco, onde foram instaladas diversas colmeias. oásis . Editoria 15/16 12 Abelhas berlinenses E finalmente, uma foto de colmeias instaladas sobre os telhados de Berlim. Tanto na capital alemã quanto em várias outras cidades do país há cada vez mais colônias de abelhas no meio urbano. oásis . Editoria 16/16 oásis . INFORMÁTICA INFORMÁTICA GENIUS APPLE Desvelados os segredos do manual 1/4 “Parece uma apostila do curso de ciências humanas da Universidade dos Robôs”, comentam os redatores do site Gizmodo após examinar um exemplar do manual secreto para o treinamento dos geniozinhos da Apple” “G enius”, no jargão interno da Apple, são os azes da venda ao consumidor acuradamente treinados por essa mega empresa de informática. Os métodos de treinamento dos genius sempre foram mantidos mais ou menos secretos. Há pouco, a redação do site gizmodo.com – um dos mais importantes portais mundiais de divulgação do universo digital – conseguiu um exemplar do Genius Training Student oásis . INFORMÁTICA Workbook, o manual usado para treinar os futuros geniozinhos da Apple. E se descobre que esses estudantes são guiados passo a passo em tudo aquilo que fazem, desde as respostas que devem dar às diferentes perguntas dos clientes até as coisas sobre as quais devem pensar... Referindo-se à natureza mítica e icônica do seu conteúdo, a redação do Gizmodo refere-se ao manual usando a expressão bastante irônica - de “Santo Graal”. Trata-se de uma publicação quase 2/4 secreta, destinada exclusivamente ao treinamento dos jovens selecionados pela Apple para trabalhar nos projetos da mega empresa. Mas o exemplar que foi parar nas mãos dos redatores do Gizmodo parece ser autêntico e seria a última versão em circulação entre os prestadores de serviço ligados à área de assistência técnica da Apple. Aqui estão alguns tópicos do manual comentados pelo Gizmodo: Psicologia humana, curso básico – O Genius Training Student Workbook, nos planos de quem o idealizou e escreveu, destina-se substancialmente a fazer com que os clientes se sintam felizes. No seu conteúdo há de tudo: o que fazer oásis . INFORMÁTICA “Os genius não devem ser apenas técnicos competentes: devem conseguir compreender as exigências técnicas e psicológicas do cliente” e o que não fazer, como comportar-se e como não se comportar, o que dizer e, sobretudo, o que não dizer no trato com o cliente. Não poderia faltar uma seção dedicada à psicologia humana. Os genius não devem ser apenas técnicos competentes: devem conseguir compreender as exigências, técnicas e psicológicas, dos clientes; devem saber interpretar os seus estados de humor e as suas emoções; devem entrar em sintonia com quem está à sua frente. Para que todos aprendam a como se comportar, são reproduzidos modelos de diálogos que os aspirantes a genius devem estudar e digerir em todas as suas minúcias. Em síntese, mais que um manual para futuros prestadores de serviço, a publicação parece um mini tratado para se compreender a humanidade, escrito por um robô e destinado a outros robôs. Empatia – Os aspirantes genius, antes de poder usar a camiseta azul da Apple, devem demonstrar que dominam a arte da empatia. Devem conseguir compreender as emoções e os sentimentos dos clientes e saber colocar-se em seu lugar. Por 3/4 isso utilizam com frequência a frase “compreendo perfeitamente aquilo que você está sentindo...” Ou, ainda, nunca pedir desculpas ao cliente pelos problemas causados pelo Mac ou pelo iPhone; bem longe disso, toda a atenção deve ser voltada para o estado de alma do cliente, derramando sobre ele uma espécie de compaixão (entendida na sua acepção latina, ou seja, a de compartilhar o sofrimento). A frase típica neste caso é: “Sinto muito que você se sinta tão frustrado” (ou triste, ou chateado, ou enraivecido, ou qualquer outra coisa equivalente). O que dizer e o que não dizer – O manual chega a apresentar uma inteira seção dedicada às respostas possíveis de serem dadas, as que devem ser evitadas e as que são absolutamente proibidas. As palavras-chaves que sempre devem ser utilizadas em tais casos é “temos informações precisas”. Os Macs não suportam o programa XYZ? “Temos informações precisas de que as novas versões desse programa são suportadas pelos Macs”. Devem ser eliminadas, além disso, todas as possibilidades que implicam negatividade: o programa não caiu, ele parou de responder, ou ele fechou de repente; o computador não pegou fogo, no máximo ele esquentou; o problema não foi eliminado, ele foi “reduzido”. E outras coisas do gênero. O gênio das vendas – Sobretudo, o bom genius é aquele que consegue, sempre e em qualquer circunstância, vender alguma coisa ao cliente. A tal ponto que uma ampla seção do manual é dedicada a conselhos baratos de técnicas de venda. A obrigaoásis . INFORMÁTICA ção de um verdadeiro genius é a de se aproximar do cliente, mostrar interesse pelas suas necessidades e suas dúvidas, aconselhá-lo nas escolhas e por fim concluir de modo positivo a venda. Apenas desse modo o interessado merecerá a tão cobiçada camiseta azul. 4/4 ASTRO ADEUS, VESTA Próxima parada: Ceres, o planeta-anão oásis . ASTRO 1/4 A sonda espacial Dawn, da Nasa, acaba de cumprir sua missão ao redor do asteroide Vesta. Ela parte agora para seu novo desafio, Ceres. Imagens e vídeo: Nasa N o dia 5 de setembro, depois de passar mais de um ano em órbita ao redor do asteroide gigante Vesta, a sonda Dawn, da Nasa, reacendeu os motores principais e, depois de sair do campo gravitacional de Vesta, deu início a uma longa viagem rumo ao planeta anão Ceres. Se tudo correr bem, ele será alcançado em fevereiro de 2015. Na ocasião, cientistas planetários, pes- oásis . ASTRO quisadores e muitos membros da equipe responsável pela missão realizaram encontros virtuais através das redes sociais para festejar essa nova fase da missão da Dawn e os grandes resultados obtidos na observação de Vesta. Para alegria dos aficionados, os técnicos da Nasa realizaram o vídeo que mostramos ao final deste artigo, no qual são apresentados os resultados mais notáveis (pelo menos, por enquanto, do ponto de vista do espetáculo) deste ano de estudos e observações do asteroide. Estes são alguns dos dados mais importantes da investigação de Vesta: 1) A sonda Dawn é o primeiro veículo espacial a orbitar ao redor de um objeto da faixa principal dos asteroides. A tarefa está longe de ser fácil. O campo gravitacional de um objeto tão pequeno e irregular quanto um asteroide implica muitas dificuldades de aproximação e permanência prolongada em órbita. 2) Vesta, com aproximadamente 500 quilômetros de diâmetro, revelou-se muito mais parecida a um planeta do que a um asteroide. Essa foi a prova final de quanto é importante estudar esses objetos, que são restos verdadeiros do processo de formação do Sistema Solar. 3) Vesta possui uma estrutura interna diferenoásis . ASTRO ciada e um núcleo ferroso. O resultado foi obtido confrontando-se os efeitos do campo gravitacional do asteroide exercidos sobre a sonda com a forma irregular que ele possui. Os responsáveis pela missão deduziram que no passado de Vesta devem ter ocorrido fases durante as quais o seu núcleo interno não era rochoso mas completamente fundido, para depois se solidificar na forma atual. 4) A superfície de Vesta revelou uma estrutura muito irregular. O asteroide possui uma montanha três vezes mais alta que o Everest e duas impressionantes crateras no hemisfério sul, Venenia e Rhea Silvia. Com seus quase 500 quilômetros de diâmetro, Rhea Silvia é uma das maiores crateras de todo o Sistema Solar. Essas estruturas são coligadas à história evolutiva do asteroide e do nosso sistema planetário, sendo causadas por dois impactos catastróficos que aconteceram, respectivamente, há cerca de 2 bilhões e de 1 bilhão de anos. 5) Vesta apresenta estruturas superficiais em forma de ondas que correm em torno a seu equador, como um mar agitado que tenha se congelado de repente, enquanto ondas concêntricas causadas pelo impacto percorriam a superfície. A causa dessas estruturas também está ligada à violenta história evolutiva do asteroide. Essas observações do asteroide Vesta, obtidas a partir dos instrumentos da sonda Dawn, podem ser vistas no vídeo da Nasa que apresentamos a seguir. 3/3