Introdução ao Estudo dos Grupos de Homologia Singular de um Espaço Topológico X Andresa Baldam Marchioli ([email protected]) III Bienal da SBM - IME/UFG - 2006 Campus de São José do Rio Preto Orientadora: Maria Gorete Carreira Andrade ([email protected]) Resumo A sequência Dado um espaço topológico X e k um número inteiro não negativo, podemos associar a X um objeto algébrico Hk (X) denominado grupo de homologia singular de X. Intuitivamente, este grupo mede o número de “buracos”k-dimensionais de X. Neste trabalho fazemos uma introdução ao estudo desses grupos e apresentamos alguns exemplos do ponto de vista geométrico. Objetivo O principal objetivo deste trabalho é, com o estudo dos grupos de homologia singular de um espaço topológico X, apresentar esses grupos para certos espaços, usando apenas a geometria do espaço, ou seja a conexidade e o número de “buracos k-dimensionais”do mesmo. Homologia Singular Definição 1. Um subconjunto C ⊆ IRn é convexo se, dados x e y em C, o segmento que vai de x a y está inteiramente contido em C. Note que uma interseção arbitrária de conjuntos convexos é convexa. Definição 2. Se A ⊆ IRn, a envoltória convexa (ou fecho convexo) de A é a interseção de todos os conjuntos convexos do IRn que contêm A. Definição 3. Um p-simplexo s em IRn é a envoltória convexa de uma coleção de (p + 1) pontos {x0, ..., xp} em IRn no qual x1 − x0, ..., xp − x0 formam um conjunto linearmente independentes. Note que isto é independente da escolha do ponto x0. Os elementos x0, ..., xp são chamados vértices de s. Observação 1. Observe que um 1-simplexo é um segmento de reta, um 2-simplexo é um triângulo cheio (fronteira + interior), um 3-simplexo é um tetraedro cheio (faces + interior), e assim por diante. ∂ ∂ ∂ · · · −→ Sn(X) −→ Sn−1(X) −→ Sn−2(X) −→ · · · −→ S0(X) −→ 0 é chamada de complexo de cadeias singulares associado ao espaço topológico X. Definição 8. Um elemento c ∈ Sn(X) é um n-ciclo se ∂(c) = 0 (ou ∂ n(c) = 0).Um elemento d ∈ Sn(X) é um n-bordo se existe e ∈ Sn+1(X) tal que d = ∂(e) (ou d = ∂ n+1(e)). Visto que ∂ é um homomorfismo, definimos Observação 2. Note que a Proposição anterior implica que Bn(X) ⊆ Zn(X) como subgrupo. Definição 9. Seja X um espaço topológico. Para cada n ∈ N o grupo quociente Zn(X) Hn(X) := Bn(X) é chamado de n-ésimo grupo de homologia singular de X. Observação 3. O n-ésimo grupo de homologia singular de X mede o número de n-ciclos que não são n+1-bordos. Geometricamente, ciclos são objetos (combinações lineares de n-implexos) que “começam”e “terminam”no mesmo lugar e dizer que não são bordos (fronteira) é o mesmo que dizer que existem “buracos”no espaço. O número de gerador de Hn(X) fornece o número de buracos ndimensionais de X. Teorema 1. Se X é conexo por caminhos então H0(X) ' Z. Exemplos ∂i(φ)(t0, ..., tp−1) = φ(t0, t1, ..., ti−1, 0, ti, ..., tp−1). Temos que ∂i(φ) é a i-ésima face de φ. Definição 6. Se X é um espaço topológico, definimos Sn(X) o grupo abeliano livre cuja base é o conjunto de todos n-simplexos singulares de X. Um elemento de Sn(X) é chamado uma n-cadeia singular de X e tem a forma X nφ.φ, φ onde nφ é um inteiro, igual a zero para todo, exceto para um número finito de φ0s. Veremos agora, sob o ponto de vista geométrico, exemplos de cálculo dos grupos de homologia singular de alguns espaços. É claro que o calculo rigoroso desses grupos requer o uso de ferramentas poderosas, como o Teorema de Mayer-Vietoris, que não apresentaremos aqui, tendo em vista que o objetivo deste trabalho é apenas fornecer uma idéia da geometria que os grupos de homologia podem medir. Exemplo 1. Seja X = {x0} o espaço com um único ponto. É claro que X é conexo por caminhos e não tem nenhum buraco. Assim podemos mostrar que a homologia singular de X é dada por: ½ ZZ, se k = 0, Hk ({x0}) = 0, se k 6= 0. Exemplo 2. Seja X = Rn. Como Rn tem o mesmo tipo de homotopia do ponto, pelo Teorema 2, temos ½ ZZ, se k = 0, n Hk (IR ) = 0, se k 6= 0. ∂i : Sn(X) → Sn−1(X) X X ∂i ( nφ.φ) = nφ∂iφ. Definição 7. O operador bordo, denotado ∂, é dado pelo homomorfismo ∂ : Sn(X) → Sn−1(X) onde ∂ = ∂0 − ∂1 + ∂2 + ... + (−1)n∂n = n X (−1)i∂i i=0 0 0 ∂ 00 Sn(X) −→ Sn−1(X) −→ Sn−2(X) é a aplicação nula. Exemplo 6. Consideremos agora a esfera X = S 2. Como S 2 é conexo por caminhos, temos H0(S 2) = Z e, além disso, como não possui buracos de dimensão 1 e possui apenas um buraco de dimensão 2, temos que H1(S 2) = 0 e H2(S 2) = Z. Logo, ½ ZZ, se k = 0, 2; Hk (S 2) = 0, se k 6= 0, 2. Exemplo 7. Seja X = T 2 o toro 2-dimensional. Temos que o Toro é conexo por caminhos, possui dois buracos dimensão um e um ”buraco” de dimensão 2. Então, se k = 0, 2; ZZ, Hk (T 2) = ZZ ⊕ ZZ, se k = 1; 0, se k > 2. de Exemplo 8. Consideremos agora Y = T 2 − D, onde D é um disco aberto. Como S 1 é conexo por caminhos, pelo Teorema 1, H0(S 1) = Z. Além disso como S 1 tem um único buraco, que é de dimensão um, pode-se mostrar que que H1(S 1) = Z. Portanto, ½ ZZ, se k = 0, 1; Hk (S 1) = 0, se k 6= 0, 1. Exemplo 4. Seja X o espaço formado pela união de dois circulos tangentes (figura 8). Pode ser mostrado que X possui o mesmo tipo de homotopia da figura 8. Assim se k = 0; ZZ, Hk (T 2 − {pt}) = ZZ ⊕ ZZ, se k = 1; 0, se k > 1. Referências [1] Hu, Sze - Tsen, Introduction to Homological Algebra., Holden - Day, San Francisco,(1968). [2] Vick, J.W,Homology Theory.,Academic Press,(1973). 00 Proposição 1. A composição ∂ ◦ ∂ em ∂ se k = 0, ZZ, Hk (X) = ZZ ⊕ ZZ ⊕ ... ⊕ ZZ(n vezes), se k = 1, 0, se k > 1. Exemplo 3. Considere a circunferência X = S 1. Como o i-ésimo operador ∂i é uma função do conjunto de n-simplexos singulares no conjunto de (n − 1)-simplexos singulares, existe uma única extensão a um homomorfismo dado por então, Para apresentarmos alguns exemplos de determinação dos grupos de homologia singular de certos espaços topológicos, vamos necessitar dos seguintes resultados: x0 = (1, 0, ..., 0), x1 = (0, 1, 0, ..., 0), ..., xp = (0, ..., 0, 1). Definição 5. Se φ é um p-simplexo singular e i é um inteiro com 0 ≤ i ≤ p, definimos ∂i(φ), um (p − 1)−simplexo singular em X, por i=1 Bn(X) := Im∂ = Im∂ n+1 = {d ∈ Sn(X) | d é um n-bordo}. Teorema 2. Se X tem o mesmo tipo de homotopia de Y então Hk (X) ' Hk (Y ), para todo k ≥ 0. Em particular Se X é homeomorfo a Y então Hk (X) ' Hk (Y ), para todo k ≥ 0. Definição 4. Seja X um espaço topológico. Um p-simplexo singular em X é uma função contı́nua φ : σp → X sendo σp o p-simplexo padrão. Exemplo 5. Analogamente ao exemplo anterior, se n _ X= S 1i é o bouquet de n - cı́rculos, Zn(X) := Ker∂ = Ker∂ n = {c ∈ Sn(X) | c é um n-ciclo} e Se aos vértices de s for dada uma ordenação especı́fica, então s é um simplexo ordenado. Assim, s é um simplexo ordenado com vértices x0, x1, ..., xp. Vamos denotar por σp o p-simplexo do Rp+1 com vértices σp é chamando p-simplexo padrão com ordem natural. Os pontos x0 = (1, 0, ..., 0), x1 = (0, 1, 0, ..., 0), ..., xp = (0, ..., 0, 1) são chamados vértices de σp. Sendo X conexo por caminhos, temos que H0(X) = Z. Além disso, X tem dois ”buracos” de dimensão um e assim H1(S 1) = Z ⊕ Z. Portanto, se k = 0 ZZ, Hk (X) = ZZ ⊕ ZZ, se k = 1 0, se k > 1. Apoios