a importância do brincar durante o intervalo na educação

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A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR DURANTE O INTERVALO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ALTERNATIVA PARA TRABALHAR
VALORES
Valderice Cecília Limberger Rippel1
Sandra Ines Reisdorfer Kopeginski
Viviane Cristina Hul Pressi2
Introdução
Segundo a ULBRA (2008) o estágio supervisionado é de suma importância na
formação dos acadêmicos do curso de Pedagogia, pois é através dele que se adquire
experiência, e vivenciamos como se dá no dia a dia o exercício da docência.
Indubitavelmente o estágio pode ser compreendido como o momento que um
acadêmico vivencia a teoria na prática, pois oportuniza o planejamento, a realização de
observações, metodologias adotadas no ensino, permite ainda conhecer o convívio com
a realidade escolar.
O estágio realizado na modalidade de docência foi aplicado pelas autoras através
de atividades recreativas durante o intervalo com alunos de Educação Infantil e Ensino
Fundamental. As atividades foram aplicadas por diversas formas, fazendo uso de vários
recursos metodológicos, procurando mostrar que é possível explorar o aprendizado
através de brincadeiras, jogos e materiais lúdicos diferenciados.
De acordo com Cunha (2001) o brincar é importante no desenvolvimento
infantil, assim descreve algumas das maneiras e vantagens da criança brincar, que
envolvem atividade lúdica, entre elas estão o brincar sozinho, o brincar com outras
pessoas e em grupo, o brincar através de atividades corporais, o brincar
experimentando, o brincar de faz-de-conta e o brincar jogando e competindo.
1
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Professora da
UNIFASS de Marechal Cândido Rondon - PR. Membro do GEPEC- Grupo de Estudos e
Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional, e-mail: [email protected].
2
Graduanda no curso de Pedagogia – EAD, da Universidade Luterana do Brasil.
2
Segundo a autora supracitada, quando a criança brinca sozinha ela aumenta as
possibilidades de lidar com sua afetividade e de descobrir seus interesses. Entretanto,
brincar em grupo com outras pessoas também é necessário para que a criança aprenda a
viver socialmente, respeitando regras, normas, esperando a sua vez e interagindo de
uma forma mais organizada. Dentro do grupo a criança aprende a partilhar e cria
vínculos de amizade e convivência.
O objetivo deste artigo e analisar a importância do brincar no intervalo na
Educação Infantil como sendo uma alternativa para inibir a indisciplina e trabalhar
valores. Na metodologia para desenvolver o estudo faz-se uma revisão bibliográfica e
apresentam-se dados coletados na realização do estágio supervisionado das autoras
desenvolvido numa escola pública de Educação Infantil em 2009.
Vale destacar que a escola apresentava uma queixa da indisciplina dos alunos
durante o intervalo. Na realização das observações constatou-se que os mesmos correm
muito e brigam entre si. Este fato instigou-nos a desenvolver atividades recreativas.
Salienta-se que a escola em que o estágio foi desenvolvido atende cerca de 450 alunos
na Educação Infantil. Destes em torno de 45 alunos participaram do desenvolvimento
das atividades recreativas propostas pelas autoras.
Quanto ao perfil socioeconômico à maioria da clientela da escola é de classe
média baixa, alguns pais trabalham no complexo avícola do município e a maioria
trabalha oito horas por dia e são oriundos da agricultura.
A importância do brincar e do lúdico na educação
Parte-se da premissa que na Educação Infantil e Anos Iniciais cabe aos
profissionais preparar e oferecer um ambiente onde os alunos possam ter contato com
brinquedos, jogos e brincadeiras. Vale destacar que o brincar é essencial
ao
desenvolvimento integral das crianças, no que tangencia a saúde física, emocional e
intelectual. Para Cunha (1998, p. 39) “É brincando que a criança mergulha na vida,
sentindo-a na dimensão de suas possibilidades”
Ao brincar, a criança não está preocupada com os resultados. É o
prazer e a motivação que impulsionam a ação para explorações livres.
A conduta lúdica, ao minimizar as conseqüências da ação, contribui
para a exploração e a flexibilidade do ser que brinca [...]. Qualquer
ser que brinca atreve-se a explorar, a ir além da situação dada na
busca de soluções pela ausência de avaliação ou punição [...]. O ato
3
lúdico representa um primeiro nível de construção do conhecimento,
o nível do pensamento intuitivo, ainda nebuloso, mas que já aponta
uma direção. O prazer e a motivação iniciam o processo de
construção do conhecimento, que deve prosseguir com sua
sistematização, sem a qual não se pode adquirir conceitos
significativos (KISHIMOTO, 2002, p. 143-144).
Assim, o lúdico, ao se processar através do brincar, representa o
desenvolvimento da criança de uma forma integradora e prazerosa, instigando-a a
desenvolver habilidades físicas, intelectuais e sociais. Além de proporcionar prazer e
diversão, o brincar pode representar um desafio e provocar o pensamento reflexivo da
criança. Assim, uma atitude lúdica efetivamente oferece aos alunos experiências
concretas, necessárias e indispensáveis às abstrações e operações cognitivas.
A brincadeira faz parte do cotidiano da criança, fazendo-se necessário
desenvolvê-la sem perder de vista, de um lado, todos os componentes do
desenvolvimento integral que podem ser explorados. Na brincadeira o professor deve
observar o comportamento, valores e atitudes que a criança manifesta e transmite.
Skinner (apud VALADARES & ARAÚJO, 1999, p. 8) também destaca a importância
do movimento ao fazer a análise do comportamento:
O comportamento é uma característica primordial dos seres vivos.
Quase o identificamos com a vida propriamente dita. Qualquer coisa
que se mova é tida como viva, especialmente quando o movimento
tem direção, ou age para alterar o ambiente.
Gesell (apud VALADARES & ARAÚJO, 1999, p.10) reconhece a importância
do movimento como elemento de construção da personalidade e do desenvolvimento
motor da criança, resultado, por um lado, das experiências vividas e, por outro, da
maturação fisiológica quando afirma que: “O crescimento é movimento”. Nossa
principal preocupação deve ser a posição da criança dentro de um ciclo dotado de
movimento progressivo que favoreça seu desenvolvimento.
Para o autor supracitado, a infância é constituída por uma sucessão de etapas.
Cada uma delas prepara para a seguinte e os limites entre uma e outra são nítidos em
relação à idade cronológica, funcionam de maneira global e indissociável. O
desenvolvimento dos sentidos, da afetividade, da linguagem, da motricidade e da
inteligência integra-se e completam-se num processo de interação.
Na medida em que a criança vai avançando em suas etapas evolutivas as
brincadeiras e os jogos vão se tornando mais consistentes, de forma que o adulto possa
4
mais facilmente identificar as situações dos jogos e das brincadeiras. No brincar e no
jogar quanto mais papéis a criança representa, mais ampliará sua expressividade,
entendida como uma totalidade. A partir do brincar e do jogar constrói os
conhecimentos, através dos papéis que reapresenta, desenvolve ao mesmo tempo dois
vocabulários: o lingüístico e o psicomotor, além do ajustamento afetivo emocional que
atinge na representação desses papéis (LAGRANCE apud VALADARES & ARAÚJO,
1999).
No que se refere a brincadeiras livres ou dirigidas no momento do intervalo o
professor não deve oferecer prêmios e recompensas como instrumentos de motivação ou
estímulos para que elas se envolvam e procurem executar tarefas que são propostas. É
importante que não haja nenhum prêmio pelo trabalho realizado pela criança, além, do
próprio prazer pela realização da proposta, por exemplo, o fato de ter suas tarefas.
Ressalta-se que o momento do intervalo pode ser utilizado para resgatar cantigas
de roda. A manifestação espontânea do cantar e de brincar contribui para o
desenvolvimento psicomotor da criança. A utilização das cantigas de roda pelos
professores ajudará a criança a estimular a recreação espontânea, desenvolver a
sociabilidade e principalmente a exercitar a coordenação motora, visual e a orientação
espaco-temporal.
No pátio, ao ar livre, em pavilhões, espaços cobertos ou mesmo em sala de aula
é possível utilizar as cantigas de roda numa dosagem que satisfaça aos objetivos
pretendidos pelos professores. A condução dos trabalhos depende muito do que se
deseja alcançar. Assim, pode-se programar em etapas o gradativo avanço nas atividades
conforme o aluno demonstre condições de vencer as dificuldades.
Vigotski (2007) explora o papel das experiências sociais e culturais através da
investigação do brinquedo. Durante o brincar, as crianças dependem e, ao mesmo
tempo, transformam imaginativamente os objetos socialmente produzidos e as formas
de comportamento disponíveis no seu ambiente particular. Fantasia e realidade se
realimentam e possibilitam que a criança, assim como os adultos, estabeleça conceitos e
relações e insira-se como sujeito social. Ao brincar, a criança está fazendo uma
ordenação do real, tendo a possibilidade de ressignificar suas diversas experiências
cotidianas.
Depreende-se que o faz-de-conta permite a reconstrução interna daquilo que é
observado externamente e, portanto, através da imitação a criança é capaz de realizar
ações que ultrapassam o limite de suas capacidades.
5
Assim pelo faz-de-conta a criança representa o que já vivenciou ou vivencia,
através de uma construção social, porém tem a oportunidade de reelaborar essa situação
de forma criativa. Portanto, o faz-de-conta pode representar situações e resoluções de
problemas passados como também representar a antecipação de escolhas e ações
futuras.
Quando brinca de faz de conta a criança tende a reproduzir as relações
predominates no seu meio ambiente:
[...] ela será autoritária ou liberal, carinhosa ou agressiva conforme o
tratamento que recebe dos adultos com os quais convive. Po exemplo,
a criança que vive numa atmosfera de repressão, onde predomina as
ordens e os castigos fisicos, tende a reproduzir, nas suas brincadriras,
o comportamento dos adultos que a cercam, manifestando o tipo de
tratamento que recebe – é o caso da menina que, brincando de
casinha, grita com a boneca, dá-lhe ordens, chama-a de desobidiente
e lhe dá castigos (HAYDT & RIZZI, 2001, p. 5).
Evidencia-se que é através da brincadeira, ou seja, na ludicidade que a criança
expressa e integra as experiências já vividas. Eis a riqueza da observação de uma
criança, o que pode servir de fonte de informações para pessoas que convivem com ela
direta ou indiretamente. Fato este, muito útil se considerado no contexto educacional, o
que pode ser um grande auxílio para o professor conhecer o contexto que a criança vive
em casa.
Segundo Haydt e Rizzi (2001, p. 5),
[...] ao brincar e jogar, a criança fica tão envolvida com o que está
fazendo, que coloca na ação seu sentimento e emoção. O jogo, assim
como a atividade artistica, é um elo integrador entre os aspectos
motores, cognitivos, afetivos e sociais.
Desta forma, brincando e jogando a criança ordena o mundo a sua volta,
assimilando experiências e informações incoporando atividades e valores. Note-se que a
brincadeira é um processo de relações entre a criança e o brinquedo e das crianças entre
si e com os adultos. As crianças se relacionam de várias formas com significados e
valores inscritos nos brinquedos.
Existem várias possibilidades de brincar: solitariamente, em grupo, entre
crianças de idades diferentes, entre adultos e crianças, de adultos entre si. Existem
também diferenças entre brincadeiras organizadas pelas próprias crianças, brincadeiras
tradicionais, jogos, atividades lúdicas propostas pelo adulto, com conteúdos especificos
a serem atingidos.
6
Segundo Piaget (1972, p. 97), ao brincar a criança se envolve num mundo
imaginativo: “[...] quando brinca a criança assimila o mundo a sua maneira, sem
compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da natureza
do objeto, mas da função que a criança lhe atribui”.
De acordo com Vygotsky (1998, p. 26),
[...] é na atividade de jogo, fundamental segundo ele para o
desenvolvimento da criança em idade pré-escolar, que a criança
desenvolve o seu conhecimento do mundo adulto e é também nela
que surgem os primeiros sinais de uma capacidade especificamente
humana: a capacidade de imaginar.
Conforme Macedo (2000, p. 25),
Quando a criança joga e é acompanhada por um profissional que
propõe análises de sua ação, descobre a importância da antecipação,
do planejamento e do pensar antes de agir. Por sentir-se desafiada a
vencer aprende a persistir, aprimorando-se e melhorando seu
desempenho, não mais apenas como uma solicitação externa, mas
principalmente como um desejo próprio de auto-superação.
Evidencia-se que os jogos podem proporcionar objetivos cognitivos a serem
alcançados pelas crianças, o jogo é fundamental para a criança aprender a ter
persistência, a dar, ceder, ganhar e perder. E através dos jogos é possível trabalhar
valores com os alunos. Para apresentar alguns exemplos apoiamo-nos em Leontiev
(1998):
- Respeitar Limites: desenvolver hábitos e atitudes, respeitar o outro, melhora o
comportamento social, trabalhar a competição como parte e não como essência
do jogo (saber perder e ganhar);
- Socializar: aprender a viver e conviver em sociedade, criando vínculos
verdadeiros com os colegas, ampliando o sentimento de grupo, gerando um
ambiente de colaboração e cooperação, promovendo relações de confiança entre
todos os educandos;
- Criar e Explorar a Criatividade: o jogo proporciona o desenvolvimento do
pensamento criativo e divergente, gerados pela criatividade;
- Integrar: criar uma real interação entre o sujeito e o objeto de aprendizagem, de
forma alegre e lúdica, gerando vetores em todos os sentidos.
- Aprender a Pesquisar: desenvolver nas crianças o gosto pela busca, pela
iniciativa e tomada de decisões.
7
Conforme Leontiev (1998, p. 24) “O brinquedo é realmente o caminho pelo qual
as crianças compreendem o mundo em que vivem e são chamadas a mudar”. O brincar
faz parte do cotidiano às crianças em qualquer circunstância, quer em casa, na rua ou na
escola. O brincar e reconhecido historicamente como uma atividade importante para o
desenvolvimento e aprendizagem das crianças.
Além de estratégia básica para o desenvolvimento, a criança, enquanto brinca,
está liberando sua capacidade criativa e suas fantasias, explorando seus próprios limites
e está nutrindo sua vida interior. Geralmente neste jogo interpessoal, na interação com o
outro, ocorre aprendizagem, aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de
habilidades de forma agradável e prazerosa.
Cunha (1994) alerta que quando a criança brinca com outra pessoa ela pode
receber estímulos e críticas, aprender a esperar sua vez e interagir de forma organizada,
respeitando regras e cumprindo normas.
O jogo de faz-de-conta, riscos em fantasias imaginativas, em especial
no que diz respeito aos super heróis, seres que apresentam
interessantes características: bondade, sabedoria, coragem, força,
solucionam qualquer problema, são lideres e guias para as pessoas e
não recebem ordem de ninguém. Nunca se enganam, não estão
sujeito a dúvidas, frustrações ou fraquezas como as maiorias das
pessoas. São aprovados e reconhecidos pelos adultos e todos querem
ser seus amigos. (KAOSTELNICK, 1986, p. 10)
Cunha (1994, p.125) afirma que é:
[...] brincando que a criança mergulha na vida, podendo ajustar-se as
expectativas sociais e familiares. Não podendo esquecer que a autoestima pode modificar-se significamente, ser fortalecida e através de
experiências emocionais e cognitivas que o brincar oferece, e, assim,
as crianças podem se beneficiar em seu crescimento pessoal.
De acordo com Vygotsky (1998), não existe brincar sem regras, pois a situação
imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento,
embora possa não ser um jogo com regras formais, mas, de forma implícita, sempre
haverá regras. Assim, é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera
cognitiva, ao invés fazê-lo numa esfera visual externa, dependendo das motivações e
tendências externas e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos perdem, no
brinquedo, sua força determinadora.
Piaget (1971, p. 59) apresenta três modalidades de jogo: simbólico, exercício e
de regras. Tal qual explicitado a seguir:
8
Simbólico: dão-se quando a criança ultrapassa a simples satisfação da
manipulação. É a brincadeira do faz de conta, a criança brinca
desempenhando papéis satisfazendo suas necessidades afetivas e
intelectuais no processo de adaptação ao mundo adulto; Exercício: no
inicio da brincadeira das crianças caracteriza-se por rituais de
repetição e pelo simbolismo que, aos poucos passam a fazer parte da
brincadeira e se tornam uma condição para a mesma. É a repetição de
ações e manipulações pelo prazer de exercer a atividade
motora;Jogos de regras: sinaliza a transição a criança começa a
estabelecer e a entender regras constituídas por si ou pelo grupo.
Verifica-se que através da brincadeira e do brinquedo, a criança desenvolve sua
imaginação, raciocínio, percepção, coordenação, conhecimento corporal e lateralidade.
Proporcionando assim estímulos significativos em relação a suas estruturas cognitivas e
inteligência. O brinquedo e a criança se comportam além de comportamento diário; é
como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento,
o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada,
sendo ele mesmo uma grande fonte de desenvolvimento.
Segundo Vygotski (1994), a criança quando brinca, elabora hipóteses para a
resolução de problemas e atividades do comportamento normal de sua idade, porque
busca alternativas para transformar a realidade, seus sonhos e desejos podem ser
realizados facilmente na brincadeira criando situações que ajudem a satisfazer algumas
necessidades de seu interior.
Para o autor supramencionado é enorme a influência do brinquedo no
desenvolvimento de uma criança. Uma vez que é no brinquedo que a criança aprende a
agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das
motivações e tendências internas, e não por incentivos fornecidos por objetos externos.
No brinquedo, a criança é livre para determinar suas próprias ações. No entanto,
em outro sentido, é uma liberdade ilusória, pois suas ações são de fato subordinadas aos
significados dos objetos e a criança age de acordo com eles.
[...] o fato de que o brinquedo preenche necessidades da criança nada
mais são do que uma intelectualização pedante da atividade de
brincar. [...] o brincar da criança é imaginação em ação deve ser
invertido; podemos dizer que a imaginação, no adolescente e nas
crianças em idade pré-escolar, e o brinquedo sem ação.
(VYGOTSKY, 2003, p. 121-123)
9
Desta forma, brincar deve ser olhado, sobretudo, como extrapolar as emoções,
os sentimentos positivos e negativos que na maioria das vezes, transformam-se em
alívio e, conseqüentemente, trazem satisfação, alegria e calorosas gargalhadas do bom
de ser criança, indo além do divertir-se infantilmente, de dizer ou fazer algo por
brincadeira (FERREIRA, 1972).
Note-se que brincar e jogar é uma realidade na vida crianças, que possibilita
exercitar a imaginação, pois é instrumento que permite relacionar interesses e
necessidades com o meio que estão inseridas.
Enfatiza-se que toda a aprendizagem precisa de significado para existir, desta
forma, é preciso conhecer bem os alunos, para que se possa a partir deste conhecimento
planejar propostas educacionais. É necessário conhecer o contexto em que as crianças
estão inseridas na sociedade, e fazer uso desta realidade como ponto de partida para
planejar como será apresentado o novo conhecimento.
Como Piaget (1976) destaca, a criança aprende e constrói seus conceitos através
de suas interações com o mundo. É através das trocas que realiza com as outras crianças
e com os adultos que desenvolve e amplia seu pensamento. Segundo ele, o
desenvolvimento resulta de combinações entre aquilo que a criança traz e as
circunstâncias oferecidas pelo meio.
O papel do professor, mesmo durante o intervalo na escola é estimular a criança
a conhecer mais o seu corpo por inteiro. Através dos jogos e brincadeiras o professor
deve visualizar com clareza os objetivos a serem alcançados com as atividades e as
noções a serem desenvolvidas com a criança, tudo depende da coragem de fazer da
criança um ser capaz de sonhar e viver.
Depreende-se que o professor tem seu papel na brincadeira, à medida que
representa e projeta a maneira de brincar, organizando com clareza um ambiente que
permita o desenvolvimento e a aprendizagem da criança.
Analise e discussão dos dados do estágio
A avaliação sobre o Estágio Supervisionado se faz acerca da reflexão da ação
pedagógica, analisando aquilo que vivenciamos durante as atividades de ensino
realizadas no estágio na Educação Infantil e Anos Iniciais.
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Na coleta de dados ao realizar as observações e entrevistas com professores e
gestores da escola constatou-se que durante o intervalo as crianças freqüentam o mesmo
ambiente. Segundo a Coordenadora pedagógica os alunos são indisciplinados durante o
intervalo. Este fato instigou-nos a desenvolver atividades recreativas durante o
intervalo.
Constatou-se também nas observações que a escola faz um rodízio entre os
professores e demais funcionários da instituição que se limitam a cuidar os alunos
durante o intervalo. Vale destacar que os funcionários acatam a ordem da direção e
cuidam as crianças, mas o fazem apenas para cumprir ordens superiores. Segundo seu
entender, não faz parte das suas atribuições e perdem o intervalo para descansar.
Pensar na organização do cotidiano de trabalho junto às crianças levou-nos a
refletir sobre a importância da rotina na vida das mesmas, bem como a organização das
salas de atividades e demais dependências da instituição. Pois, todos os momentos das
crianças, sejam eles nos espaços abertos ou fechados, devem permitir experiências
múltiplas, que estimulem a criatividade, a experimentação, à imaginação, que
desenvolvam as distintas linguagens expressivas e possibilitem a interação com outras
pessoas, tal qual colocado pela ULBRA (2008).
Como já mencionado a escola apresentou uma queixa da indisciplina durante o
intervalo. Nós propomos a elaborar um projeto que versa sobre Brincar e jogos
recreativos. Preocupamo-nos em planejar atividades que tornassem o processo ensinoaprendizagem produtivo e prazeroso. Para preparar as atividades apoiamo-nos em Paulo
Freire, (1997, p. 48) que diz com muita propriedade “Saber que ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção”.
Assim, ao elaborar o planejamento das atividades focou-se atenção especial em
aspectos pedagógicos e metodológicos que captassem a atenção e envolvimento ativo
dos alunos. Para alcançar os objetivos propostos em todas as atividades do estágio,
buscou-se proporcionar um clima favorável e acolhedor, através de diálogo espontâneo
e dirigido. Constatou-se que muitas vezes houve confronto de ideias, que, de um lado,
exige que a criança aprenda a argumentar impondo sua opinião, de outro lado, ceda e
aceite a opinião dos outros.
Para acompanhar a dinâmica do intervalo e envolver os alunos em nossas
atividades apenas as convidávamos para brincar, adotou-se metodologias da tendência
pedagógica progressista libertadora baseada nos apontamentos de Paulo Freire (2006),
11
que partem do princípio que deve haver autogestão pedagógica, exercendo a função de
resistir a burocracia como instrumento de ação dominadora do Estado.
Desta forma, apenas sugeríamos jogos e brincadeiras para os alunos, em nenhum
momento exigimos sua participação, cuidava-se para colocá-los a disposição do aluno,
porque, segundo Libâneo (2002) o importante é o conhecimento que resulta das
experiências vividas pelo grupo, especialmente a vivência de mecanismos de
participação crítica. Considerou-se fundamental que os alunos chegassem num consenso
para fazer escolhas entre as atividades, embora não agradassem a todos a maioria
vencia, surpreendemo-nos que as crianças depois da escolha acatam e participam
ativamente com muita euforia.
Também foi realizada a brincadeira de faz-de-conta do Ursinho que passeia na
floresta, na qual procuramos estimular a imaginação e a criatividade instigando os
alunos a expressar o que estavam imaginando. Iniciamos a brincadeira falando que
faríamos um passeio com a nossa imaginação, a autora leu em voz alta a história e os
alunos fizeram todos os gestos e sons que representavam a saída daquele ambiente em
direção a floresta. Procurava-se representar várias coisas que apareciam no passeio,
árvores, pássaros, instigando a participação dos alunos. Os alunos interagiram
intensamente e se expressaram sem demonstrar dificuldades, todos participaram daquele
momento imaginário expressando suas criações e imaginações aos colegas.
Propomos momento de brincadeiras livres e constatamos que os alunos
ligeiramente se organizam em pequenos grupos com interesses afins, entretanto as
brincadeiras não duram muito tempo. Nas brincadeiras direcionadas e acompanhadas
pela autora ouve maior participação, isto ocorreu pelo incentivo constante.
Percebemos também que nesta idade os alunos apresentam uma necessidade de
se movimentar, correr e pular, contudo é necessário muita mediação e apoio dos
professores. Alguns alunos, principalmente as meninas apresentaram um pouco de
insegurança, entretanto foram conduzidas a se libertar e foram encorajadas a participar.
Assim, concentramos mais tempo na realização das atividades lúdicas trabalhando e
mediando a participação de todos nas gincanas.
Para a realização da gincana dividiu-se a turma em dois grupos, o grupo que
terminou as atividades no menor espaço de tempo foi o vencedor. Dentre as atividades
da gincana, desenvolvemos brincadeiras e atividades variadas com cordas; Boliche com
garrafas petty; Atividades do alerta; Atividade do Ursinho; Atividade com jornal;
Atividade do ovo choco. Atividade circuito com utilização de bola e balão. Vale
12
destacar que no último dia foi proporcionado um tempo para brincarem livremente com
seus brinquedos favoritos trazidos de casa.
Percebemos que estas atividades contribuem para o desenvolvimento da
coordenação motora e equilíbrio, habilidades estas, essenciais na fase em que se
encontram principalmente para a aquisição e aperfeiçoamento da escrita, da leitura e do
raciocínio lógico-matemático. Além de ter desenvolvido também o prazer e alegria de
brincar, o processo de socialização foi intenso. Os alunos perceberam que era necessário
cooperar com os colegas para atingir o objetivo. Enfatizamos a importância da
cooperação.
Depois da gincana dividimos as turmas em grupos menores para atividades
livres como o boliche dos números, na qual o aluno tentava derrubar o maior número de
garrafas. Nesta atividade instigamos os alunos a fazerem em conjunto o cálculo da soma
dos números de cada garrafa que derrubaram, a autora ajudava na contagem em voz
alta, o intuito era desenvolver o raciocínio lógico-matemático.
O presente estágio proporcionou momentos de aprendizagem de uma proposta
lúdica que pode ser desenvolvida durante o intervalo, mesmo o tempo sendo limitado é
possível organizar atividades que comecem num dia e são estendidos até terminar a
atividade. É fundamental valorizar o brincar e o jogar como instrumento pedagógico de
ensino-aprendizagem para o desenvolvimento integral da criança.
Salienta-se que para oportunizar uma verdadeira educação significativa para os
alunos, e evitar a pseudo indisciplina durante o intervalo é necessário que a escola seja
concebida como a vida, e não o preparo para a vida e se limitar a sala de aula. É
importante que os professores em sua prática pedagógica se comprometam a programar
e executar mudanças no processo educacional, que estimulem os alunos à construção do
conhecimento de uma forma lúdica em todos os momentos que permanecem na escola.
Considerações Finais
O objetivo deste artigo foi analisar a importância do brincar durante o intervalo
na Educação Infantil como alternativa para trabalhar valores. O intuito foi discutir sobre
a importância do brincar no desenvolvimento integral das crianças, de vez que, o
desenvolvimento acontece através do lúdico.
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Como visto a Educação Infantil tem como finalidade proporcionar condições
adequadas para promover o bem-estar, o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e
social da criança, ampliando suas experiências e conhecimentos de mundo.
Como visto também, no brincar, o aluno cria possibilidades de escolher os
temas, papéis, objetos e companheiros com quem brincar ou jogar permitindo o
enriquecimento das competências imaginativas, criativas e organizacionais infantis e
assim elaborar de forma pessoal e independente suas emoções, sentimentos,
conhecimentos e regras sociais.
Todavia, oferecer tempos e espaços para o brincar no ambiente escolar,
sobretudo no intervalo, valoriza a criatividade, a imaginação, o conhecimento, a
interação, o diálogo, a troca afetiva e intelectual entre educandos e educadores. Garantir
a abordagem lúdica é propiciar aos educadores uma visão do processo de
desenvolvimento da criança em particular e em grupo, registrando suas capacidades de
uso das linguagens, assim como suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e
emocionais que dispõem.
Alerta-se que a escola precisa organizar atividades livres e recreativas durante
o intervalo. É necessário ter um profissional com formação pedagógica que prepare e
acompanho o intervalo dos alunos.
Um aspecto positivo das atividades recreativas, destacado pela coordenadora é
a tranqüilidade dos alunos ao voltarem para sala de aula. A queixa da indisciplina é
apenas um convite por alguém que auxilie os alunos na organização de atividades
recreativas. O cuidado do aluno tanto na educação infantil como nos anos iniciais é,
sobretudo dar atenção a ele, como pessoa que está num contínuo crescimento e
desenvolvimento, compreendendo sua singularidade, identificando e respondendo às
suas necessidades. Constatou-se que os jogos, as brincadeiras, auxiliam muito no
ensino-aprendizagem das crianças, por isso devem ser bastante exploradas na escola, e
nos espaços em que as crianças brincam em especial durante o intervalo.
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