Hepatites Virais: passado, presente e futuro

Propaganda
Vigani AG et al • Hepatites virais: passado, presente e futuro
ARTIGO DE REVISÃO / ARTÍCULO DE REVISIÓN
Hepatites Virais: passado, presente e futuro
Viral Hepatitis: past, present and future
Aline Gonzalez Vigani
Médica infectologista do Grupo de
Estudos das Hepatites Virais da
Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), Doutorado em Clínica Médica
pela Unicamp Disciplina de Infectologia
do Departamento de Clínica Médica
da Faculdade de Ciências Médicas da
Unicamp, Campinas, SP, Brasil.
Rev Panam Infectol 2014;16(1):46-56
Os autores declaram não haver conflito de
interesses.
Recebido em 20/1/2012
Aprovado em 3/7/2012
RESUMO
A disseminação das hepatites virais é consequência de amplas e
marcantes mudanças que ocorreram nas últimas três décadas do
século XX, especialmente na sociedade ocidental. A emergência das
hepatites virais resultou em significativa redução da qualidade de
vida e sobrevida entre aqueles que contraíram a infecção. O impacto das hepatites virais varia de acordo com os diferentes níveis de
desenvolvimento socioeconômico das populações e de fatores emergentes na sua transmissão. Por fim, importantes avanços científicos
e sociais foram otbtidos, mas ainda insuficientes para o controle
dessas infecções. A epidemiologia das hepatites virais no Século
XXI reflete tanto o impacto positivo de medidas de prevenção como
o impacto negativo de padrões de transmissão históricos e emergentes. As hepatites virais são doenças de dois mundos: um, no qual as
novas infecções restringem-se a padrões emergentes de transmissão
e o tratamento é acessível; outro, no qual tanto padrões históricos
como emergentes de transmissão possibilitam novas infecções e o
tratamento é pouco acessível.
Palavras chaves: Hepatite; Epidemiologia; Transmissão
ABSTRACT
The spread of viral hepatitis is the result of extensive and remarkable
social changes that occurred in the last three decades of the twentieth
century, especially in Western society. The emergence of viral hepatitis
resulted in a significant reduction in quality of life and survival among
those who contracted the infection. The impact of viral hepatitis varies
with the different levels of socioeconomic development of populations
and emerging factors in its transmission. Finally, important scientific
and social advances have been achieved, but still insufficient to
control these infections. The epidemiology of viral hepatitis in the XXI
century reflects both the positive impact of preventive measures and
the negative impact of historical and transmission emerging patterns.
Viral hepatitis is a disease of two worlds, one where new infections
are restricted to emerging patterns of transmission and treatment is
available, another where both historical patterns and emerging new
infections allow transmission and access to treatment is restricted.
Keywords: Hepatitis Virus; Epidemiology; Transmission
46
Rev Panam Infectol 2014;16(1):46-56
INTRODUÇÃO
Durante o século XX ocorreram importantes avanços
nas condições de higiene, alimentação e desenvolvimento de uma infinidade de vacinas e antibióticos,
criando a perspectiva de controle da maioria das
infecções. No entanto, infecções emergentes não
corroboraram essas projeções otimistas. Mudanças
sociais e tecnológicas determinaram condições para
a disseminação de inúmeros agentes infecciosos e,
paralelamente, imprescindíveis avanços científicos
foram necessários para a identificação e controle,
ao menos parcial, desses agentes infecciosos. A disseminação das hepatites virais é consequência de
amplas e marcantes mudanças que ocorreram nas
últimas três décadas do século XX, especialmente
na sociedade ocidental. A emergência das hepatites
virais resultou em significativa redução da qualidade
de vida e sobrevida entre aqueles que contraíram
a infecção. O impacto das hepatites virais varia de
acordo com os diferentes níveis de desenvolvimento
socioeconômico das populações e de fatores emergentes na sua transmissão. Por fim, importantes
avanços científicos e sociais foram obtidos, mas ainda insuficientes para o controle dessas infecções.
A era moderna das hepatites virais inicia-se em
1965, com a descoberta do “antígeno Austrália” por
Blumberg e colaboradores, e pela subsequente associação desse antígeno com o vírus da hepatite B
(VHB). A identificação do vírus da hepatite A (VHA)
ocorreu quase oito anos depois, através da demonstração de partículas do VHA em material fecal humano. No final dos anos 1970, o vírus da hepatite delta
(VHD) foi identificado. Quando por volta de 1970,
foram desenvolvidas sorologias para diagnóstico das
infecções pelos VHA e VHB, ficou evidente que a
maioria dos casos de hepatite pós-transfusionais
não tinham como causa nenhum desses vírus, essas
hepatites passaram a ser chamadas de hepatite não-A não-B (HNANB)(1). O agente etiológico da maioria
das HNANB, o vírus da hepatite C (VHC), somente
seria identificado em 1989 por Michael Houghton
e colaboradores. A clonagem molecular do vírus da
hepatite E, em 1990, representou a identificação
do último dos cinco vírus relacionados a hepatites
virais. Ao lado de cada uma dessas descobertas, vieram novos testes sorológicos e novos estudos e descobertas que redefiniram a epidemiologia, o diagnóstico e o tratamento das hepatites virais.
HEPATITES B E C NO CONTEXTO DAS
MUDANÇAS SOCIAIS E TECNOLÓGICAS
A década de 1970 foi o período em que ocorreu
grande afluxo de pessoas da zona rural para as metrópoles, seguido pela liberação sexual e o início de
novos movimentos comportamentais e culturais; todas essas mudanças se inter-relacionaram. Por um
lado, o anonimato das metrópoles permitia maior
liberdade sexual e, por outro, as relações sexuais
pareciam mais seguras, com menor risco de gravidez indesejada, pela disponibilidade da pílula anticoncepcional. Drogas como cocaína e heroína, facilmente adquiridas nas metrópoles, começaram a
ser utilizadas como modismo entre as classes mais
abastadas. Em seguida, o uso de cocaína e heroína
estendeu-se aos jovens de diversas classes sociais
e, finalmente, chegou aos bairros pobres, onde o
consumo e o tráfico de drogas ilícitas eram feitos
quase que livremente, parte por causa da limitada
cobertura policial.
Muitos dependentes químicos viviam em condições de vida miseráveis, compartilhando equipamentos para injetar a droga e, ao compartilhá-los, compartilhavam também sangue. Além disso,
muitas vezes recorriam à prostituição e à venda do
próprio sangue para hospitais, com o objetivo de
obter dinheiro para a compra de droga. Até o fim
da década de 1970, a comercialização do próprio
sangue era considerada uma prática legal; somente
nos anos 1980 foi declarada ilegal na maioria dos
países industrializados, mas em muitos países em
desenvolvimento essa prática continuaria até o início da década de 1990.
Paralelamente, o turismo em massa surge na
década de 1970, o que facilitaria a transmissão de
agentes infecciosos entre comunidades distantes.
Entre 1950 e 1970, o número de norte-americanos que viajaram para a América Central cresceu
de 300 mil para sete milhões por ano. Espanha e
Itália, praticamente sem turismo até a década de
1950, passaram a receber mais de 40 milhões de
turistas por ano, ao final da década de 1980.
O cenário estava pronto para a emergência de
germes com transmissão sexual e parenteral e foi
o que ocorreu. Por um lado, a liberação sexual
exerceu um papel fundamental na transmissão
do VHB, vírus esse de transmissão predominantemente sexual. No entanto, em relação ao VHC, o
impacto foi menor, uma vez que a sua transmissão
por via sexual não é frequente e varia de acordo
com a presença de outros fatores de risco. Por
outro lado, transfusões de sangue contribuíram de
forma determinante para a transmissão do VHC.
Testes de triagem para detecção do VHC em doadores de sangue só estariam disponíveis em 1991,
já testagem para infecção pelo VHB era disponível
desde a década de 1970. O uso de drogas injetáveis contribuiu para a transmissão e disseminação
de ambas infecções.
47
Vigani AG et al • Hepatites virais: passado, presente e futuro
HEPATITE B
No início da década de 1980, a incidência de hepatite B aguda aumentou progressivamente (Figura
1). Infecção pelo VHB disseminou-se entre usuários de droga injetável e entre aqueles sexualmente ativos. Em 1992, o VHB foi o responsável por
30% de todas as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) nos EUA(2). A incidência de novas
infecções pelo VHB começa a declinar na metade
nos anos 80, como resultado de práticas sexuais
mais seguras, uso de drogas ilícitas com equipamento individual e uso de medicação parenteral
com equipamento estéril (Figura 1). Práticas estas
motivadas mais pela epidemia do HIV do que pelo
VHB. No fim dos anos 1980, iniciou-se nos EUA a
triagem de gestantes para infecção pelo VHB, e no
início dos anos 1990, desenvolveu-se uma estratégia para redução da transmissão do VHB através da
introdução de vacina, inicialmente contemplando
somente crianças e depois estendendo-se a adolescentes (Figura 1).
A vacina para hepatite B foi licenciada em 1982,
nos EUA, primeiramente derivada de plasma e depois como vacina recombinante, segura e eficaz. O
impacto da vacinação, ao lado de outras estratégias
de prevenção, evidencia-se por um decréscimo da incidência de hepatite B aguda nos EUA, entre crianças
e adolescentes, de 67% na última década do século XX(3). Atualmente, de um modo geral no mundo
e especialmente nos países endêmicos, observa-se
a mesma tendência de decréscimo da incidência
de hepatite B entre crianças e adolescentes, assim
como das complicações associadas a essa infecção,
em decorrência das altas taxas de vacinação observada nessa população(4). Em Taiwan, após a introdução
da vacinação de rotina em crianças em 1984, houve
um decréscimo de 75% na incidência de carcinoma
hepatocelular (CHC) entre crianças(5). No entanto,
o decréscimo da incidência de hepatite B tem sido
mais lento entre adultos, inclusive com tendência de
aumento entre homens acima de 19 anos e mulheres
acima de 40 anos, evidenciando oportunidades perdidas de vacinação entre adultos sexualmente ativos.
Nos dias atuais, os principais fatores de risco associados com infecção pelo VHB são histórico de DSTs,
uso de droga injetável, múltiplos parceiros e homens
que fazem sexo com homens (HSH).
A despeito da disponibilidade da vacina há três
décadas, novas infecções pelo VHB continuam a
ocorrer. Entre 350 e 400 milhões de pessoas, no
mundo, estão cronicamente infectadas pelo VHB e
entre 25% a 40% morrerão de complicações associadas à cirrose ou CHC(6). No ano de 2000, estima-se que tenham ocorrido globalmente 620.000
48
óbitos relacionados à infecção pelo VHB, 94%
destes em decorrência de infecção crônica e 6%
em decorrência de hepatite B aguda (Tabela 1)(7).
Avaliando a coorte de nascidos no ano de 2000,
sem vacinação, estima-se que ocorrerão mais de
64 milhões de infecções pelo VHB, quase 10 milhões com evolução para infecção crônica e 1,5
milhões de óbitos associados a complicações da
hepatite B(7). No total, 1,1% da coorte global de
nascidos em 2000 morrerão de forma prematura
em decorrência de infecção pelo VHB. Sem vacina
para hepatite B, 21%, 31% e 48% de todos os
óbitos relacionados à hepatite B serão resultados,
respectivamente de transmissão perinatal, na primeira infância e na idade adulta.
Nesse cenário, além da vacina para prevenção
de novas infecções, o tratamento medicamentoso é
fundamental para o controle da progressão da doença hepática e do desenvolvimento de complicações como CHC, insuficiência hepática e hipertensão portal. Nas últimas duas décadas, dois grupos
de antivirais foram desenvolvidos para o tratamento da hepatite B (Figura 2). O grupo baseado em
interferon-alfa (IFN), que inclui IFN convencional
e IFN peguilado e o grupo dos análogos nucleos(t)
ídeos que inclui lamivudina, adefovir, telbivudina
e tenofovir. Terapias baseadas em IFN possuem
um efeito predominantemente imunomodulatório e
efeito antiviral limitado. A utilização dos análogos
nucleos(t)ídeos na terapia antiviral significou a expansão das opções terapêuticas e o início de uma
era medicamentosa com ação predominante antiviral através da inibição da polimerase.
O tratamento medicamentoso da hepatite B
resultou, por um lado, na redução da morbidade
e mortalidade entre pacientes com infecção pelo
VHB e, por outro, no surgimento de resistência viral associada aos análogos nucleos(t)ídeos. O uso
prolongado dos análogos lamivudina e adefovir, utilizados em larga escala até 2005, associa-se com
altas taxas de resistência, respectivamente 70% e
30%(8). A resistência antiviral gerou preocupações
como o desenvolvimento de VHB multidroga resistente e a menor eficácia da droga na vigência de
resistência. Com o desenvolvimento de drogas com
alta barreira genética, entecavir e tenofovir, essas
preocupações diminuíram. Em relação ao entecavir,
a taxa de resistência é aproximadamente 1% após
cinco anos de uso e até o momento não se identificou resistência ao tenofovir(8). Através da análise de
uma coorte espanhola, estimou-se redução da taxa
de mortalidade de 19% entre indivíduos tratados
com lamivudina quando comparados com pacientes sem tratamento(9). Na mesma coorte espanhola,
Rev Panam Infectol 2014;16(1):46-56
Práticas sexuais e parenterais
mais seguras
80
70
Imunização infantil
Casos/100.000
60
50
40
Vacina
licenciada
30
Imunização de
adolescentes
Triagem HBsAg
em gestantes
20
10
0
78
79
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
Ano
Figura 1. Incidência de hepatite B aguda nos Estados Unidos, 1978-1995
Antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg)
Fonte: adaptado de http://www.cdc.gov\ncidod\diseases\hepatitis\b\.(2006)
Tabela 1. Estimativas global e regional da carga de doença da hepatite B sem vacinação
Carga de doença atual
(2000)
Carga de doença em coorte de nascidos em
2000
Região
Óbitos
(n)
Total de
infecções (n)
Infecção
crônica (n)
Óbitos
(n)
Aumento óbitos
futuros (%)
África
69.000
18.541.000
2.915.000
276.000
301
América
12.000
1.350.000
174.000
28.000
140
Mediterrâneo oriental
21.000
5.283.000
663.000
96.000
365
Europa
51.000
2.893.000
365.000
56.000
10
Sudeste Asiático
143.000
17.410.000
2.386.000
368.000
158
Pacífico Ocidental
325.000
18.289.000
3.230.000
581.000
79
Global
620.000
64.766.000
9.733.000
1.405.000
127
Fonte: Adaptado de Goldstein AT et al., 2005 [2]
1990
Interferon
convencional
1998
Lamivudina
2002
Adefovir
2005
Entecavir e
interferon
peguilado
2006
Telbivudina
2008
Tenofovir
Figura 2. Drogas disponíveis para o tratamento da hepatite B crônica, ano em que foi disponibilizada
49
Vigani AG et al • Hepatites virais: passado, presente e futuro
Figura 3. Prevalência da infecção pelo vírus da hepatite B no mundo e imigração para os EUA, 2006
Fonte: adaptado de htt:\\www.who.int\mediacentre\factsheets\fs204\en\
a redução da taxa de mortalidade foi de 27% entre indivíduos tratados com droga com alta barreira
genética. Embora atualmente estejam disponíveis
drogas potentes e com baixa taxa de resistência,
estima-se que menos de 15% dos indivíduos com
hepatite B crônica e indicação de tratamento tenham acesso às medicações(10).
Em relação à prevalência da infecção pelo VHB
no mundo, as maiores taxas estão em regiões com
menor desenvolvimento sócioeconômico, reflexo de
políticas de prevenção mais tardias ou deficientes
e, também, pela epidemiologia da infecção nessas
regiões (Figura 3). Em áreas onde a infecção pelo
VHB é endêmica, como Ásia e África sub-saariana,
os indivíduos são geralmente expostos ao vírus no
período perinatal ou na infância. Em indivíduos
que se infectam nessas fases da vida, a taxa de
evolução para cronicidade é alta, entre 50 e 90%,
respectivamente. Essa taxa de evolução para cronicidade é elevada, o que perpetua a infecção crônica pelo VHB na população. Em áreas de baixa
endemicidade do VHB, como América do Norte, as
pessoas são normalmente expostas ao vírus na idade adulta por meio de contato sexual ou exposição
percutânea e, nessa faixa etária, a evolução para
cronicidade é aproximadamente 5%.
A relação entre menor desenvolvimento sócioeconômico e infecção pelo VHB reflete-se também
através da imigração entre as regiões do mundo.
Como exemplo, a imigração exerce um importante papel na demografia da hepatite B crônica nos
EUA. Embora a hepatite B não tenha alta prevalência nos EUA, indivíduos provenientes de regiões de
50
alta prevalência têm imigrado para os EUA, particularmente nos últimos 10-15 anos, resultando
numa população de indivíduos infectados pelo VHB
nos EUA a partir de várias origens e com diferentes
perfis evolutivos (Figura 3).
O cenário atual da infecção pelo VHB caracteriza-se pela disponibilidade de drogas potentes com
alta barreira genética para o seu tratamento e pela
redução da incidência em crianças e adolescentes,
em virtude de políticas amplas de vacinação dessa
população. Por outro lado, poucos têm acesso ao
tratamento medicamentoso; imigrantes de regiões
de alta prevalência para regiões de baixa prevalência representam fonte de infecção e, por fim, a incidência entre adultos sexualmente ativos tem caído lentamente, inclusive aumentado entre alguns
grupos específicos.
HEPATITE D
Estima-se que entre 15 a 20 milhões de pessoas estejam cronicamente infectadas pelo VHD ([11).
Alta prevalência ocorre na região do Mediterrâneo,
Oriente Médio, África Central e norte da América
do Sul. Em países da América do Norte e Europa, infecção pelo VHD é emergente entre usuários de droga ilícita injetável e entre imigrantes
de áreas com alta endemicidade (12). Infecção pelo
VHD pode ocorrer simultaneamente à infecção
pelo VHB ou como super infecção em indivíduos
previamente infectados com o VHB, pois o VHD
é incapaz de replicar na ausência do VHB. Portadores do VHB que desenvolvem infecção pelo
VHD evoluem com progressão mais acelerada da
Rev Panam Infectol 2014;16(1):46-56
doença, com aumento do risco de óbito por cirrose
ou CHC(13). Existem poucas evidências sugerindo
um papel emergente do VHD. Vacina disponível
para hepatite B é eficaz também na proteção da
infecção pelo VHD.
víduos com hepatite C aguda não relatavam nenhum
outro fator de risco exceto exposição sexual, provavelmente resultado de sexo desprotegido, múltiplos
parceiros e infecção recente do parceiro.
Quando o VHC foi reconhecido em 1989, a
partir de sangue de chimpanzé infectado experimentalmente, representou um triunfo da biologia
molecular; foi a primeira vez que um novo vírus foi
identificado utilizando exclusivamente técnicas de
biologia molecular. Nos vinte anos que seguiram
a identificação do VHC, os avanços nas áreas de
diagnóstico, prevenção e tratamento da hepatite C
foram rápidos e intensos.
Na área de diágnóstico, o desenvolvimento do
teste diagnóstico ELISA de primeira geração, seguido por testes imunoenzimáticos mais sensíveis
e, posteriormente, detecção de RNA do VHC permitiram a identificação do VHC como o agente etiológico de 70-90% dos casos de HNANB.
Na área de prevenção, medidas de controle da
infecção já estavam presentes antes da identificação do VHC, mas foram aprimoradas com a disponibilização de testes de triagem. Por exemplo, de
1985 a 1990, os casos de HNANB pós transfusão
de sangue foram reduzidos em mais de 50% em
virtude de políticas de triagem que excluíam doadores com infecção pelo HIV ou VHB(17). Em 1990,
o risco de infecção pelo VHC através de transfusão
de sangue era aproximadamente 0,02% por unidade transfundida(17). A partir de 1990, com a dis-
HEPATITE C
A incidência anual estimada de hepatite C aguda nos
EUA manteve-se baixa (18 por 100.000) até 1965 e,
a partir daí, aumentou de forma constante até 1980 e
manteve-se elevada (130 por 100.000) durante toda
a década de 1980. Estima-se que tenham ocorrido
em média 240.000 novas infecções por ano entre
1980 e 1990(14). Esse aumento da incidência de infecção pelo VHC coincide com o período de aumento do uso de drogas ilícitas injetáveis e, também, da
utilização de terapias injetáveis, incluindo transfusão
de sangue e produtos derivados de sangue (Figura 4).
No fim dos anos 1980, após dois a três anos de uso
de droga injetável, a taxa de infecção pelo VHC entre
usuários de droga injetável era de 80% e entre pacientes submetidos à cirurgia cardíaca que receberam transfusão de sangue, de 20%(15). A transmissão
sexual do VHC também foi um fator associado com a
disseminação do vírus na década de 1980. Embora
relação sexual não seja eficiente para a transmissão
do VHC, deteminadas situações, como relações com
múltiplos parceiros e com parceiro com infecção adquirida nos últimos seis meses, aumentam o risco de
transmissão(16). Nos anos 1980, 15 a 20% dos indiTransfusão nos últimos 6 meses
Número de casos agudos por 100.000
100
90
8
80
70
6
60
50
4
40
30
2
20
Número referindo fator de risco
10
Incidência por 100.000
Uso de droga injetável nos
últimos 6 meses
10
0
0
1982
1984
1986
1988 1990
1992
1994
1996
1998 2000 2002
2004
2006
Ano
Figura 4. Incidência de hepatite C aguda relativa ao número de casos reportados de transfusão de sangue ou uso de
droga injetável, Estados Unidos, 1982-2006
Fonte: adaptado de Alter, MJ; 2011[22]
51
Vigani AG et al • Hepatites virais: passado, presente e futuro
ponibilidade de testes de triagem específico para
hepatite C em doadores de sangue, a incidência da
hepatite C aguda pós transfusão de sangue declinou acentuadamente. Em 1998, o risco estimado
de infecção pelo VHC reduziu-se a 0,5 por um milhão de unidades transfundidas.
Em relação ao uso de drogas injetáveis, observa-se, também, um declínio de infecção aguda nessa
população. Em parte, em virtude de práticas mais
seguras no uso das drogas injetáveis, porém, mais
provavelmente, como resultado da saturação da infecção pelo VHC nessa população, com 80 a 90%
dos usuários de drogas injetáveis infectados
​​
após
cinco anos de seu primeiro uso.
No campo da terapêutica da hepatite C o avanço
foi significativo nas últimas duas décadas (Figura
5). Inicialmente, utilizou-se IFN convencional durante seis meses para tratamento da hepatite C. No
entanto, apenas 6% dos pacientes eram capazes de
alcançar uma resposta virológica sustentada (RVS),
definida por VHC RNA indetectável 24 semanas
após o fim da terapia, significando eliminação
do vírus. Com a disponibilidade de novas drogas,
como ribavirina (RBV), IFN peguilado e inibidores
de protease, como telaprevir e boceprevir, a taxa de
RVR atingiu 70-75% em 2011. No momento, mais
de 100 moléculas estão em estudo para a composição de novas drogas para o tratamento da hepatite
C. No entanto, alguns desafios permanecem, o tratamento antiviral associa-se com intensos eventos
adversos, custos elevados e para muitos pacientes,
em estágio avançado da doença, terapia medicamentosa já não é mais uma opção viável. Por fim,
estima-se que menos de 25% dos pacientes com
diagnóstico de hepatite C recebam tratamento antiviral. Nesse cenário, o tratamento medicamentoso
para infecção pelo VHC tem um impacto limitado
sobre a carga da doença.
Hepatite C é a principal causa de doença hepática no mundo e aproximadamente 3% da população mundial, o que representa 170 milhões de pessoas, estão cronicamente infectadas pelo VHC(18).
Entre 20 a 30% dos indivíduos com hepatite C
crônica já desenvolveram cirrose e a projeção para
2030 é que esse número se eleve para 45%. Entre
aqueles com hepatite C e cirrose, o risco anual de
CHC é entre 3 e 5%, isso significa que aproximadamente um terço dos pacientes com hepatite C
desenvolverão CHC.
A prevalência de hepatite C crônica varia de 0,1%
a 5% entre os diferentes países(18). Países com as
mais altas taxas de prevalência estão localizados na
África e Ásia, com prevalência estimada entre 2,0
e 3,0%. Na China, cujos cidadãos representam um
quinto da população mundial, estima-se prevalência
de 3,2%. No Egito, com uma população estimada de
Figura 5. Drogas disponíveis para tratamento da hepatite C crônica, ano em que a droga foi disponibilizada e taxa de
resposta virológica sustentada (RVS)
100
PegIFN/RBV+IP
(6-12m)
70-75
80
PegIFN/RBV
(6-12m)
50-60
RVS (%)
60
40
20
0
IFN
monoterapia
(6m)
8-12
1991
IFN
monoterapia
(12-18m)
15-20
1995
IFN/RBV
(6-12m)
38-43
1998
PegIFN
monoterapia
(6-12m)
25-30
Interferon (IFN), ribavirina (RBV), Interferon peguilado (PegIFN), inibidor de protease (IP)
52
2001 2011
Rev Panam Infectol 2014;16(1):46-56
73 milhões, a prevalência estimada é 22%. As áreas
com menor prevalência, entre 0,6% a 2,0, incluem
países da América do Norte, oeste e norte da Europa. As diferentes taxas de prevalência de infecção
pelo VHC são reflexos tanto de diferentes estratégias de prevenção como de transmissões emergentes do VHC. Esforços para implementar medidas de
prevenção estão em andamento e, se por um lado
existem histórias de sucesso, por outro, enfrentam
barreiras culturais e sociais.
O tratamento antiviral pode tanto melhorar a sobrevida daqueles com infecção crônica, como reduzir o número de pessoas que podem servir como
fonte de transmissão. No entanto, o custo do tratamento é um obstáculo ao seu uso mais difundido.
No Egito, por exemplo, o custo de 48 semanas de
IFN peguilado e RBV é aproximadamente 12.000
dólares americanos e a média anual de despesas,
per capita, em saúde é aproximadamente 192 dólares. Nesse contexto, existem muitas pessoas com
hepatite C em países com poucos recursos, o que
inviabiliza o tramento e por consequência a redução da fonte de infecção.
Nos países desenvolvidos, a transmissão do VHC
por transfusão de sangue foi praticamente eliminada em decorrência da implementação de testes
de rotina para triagem dos doadores de sangue. No
entanto, em alguns países em desenvolvimento,
transfusão de sangue continua a ser uma fonte de
infecção. Isso porque alguns continuam a utilizar
doadores comerciais para completar seus suprimentos de sangue, não consideram a segurança da
transfusão de sangue uma prioridade e, por fim,
pela falta de recursos para implementação e manutenção da infraestrutura necessária para suportar e
manter bancos de sangue.
Uma forma emergente de transmissão do VHC é
através de procedimentos associados com cuidado
da saúde. Estima-se que dois milhões de novas infecções pelo VHC são adquiridas anualmente através de transmissões iatrogênicas(19). Em países em
desenvolvimento, o alto custo envolvido na aquisição de seringas e outros dispositivos descartáveis são
​​
um obstáculo e, por isso, o fornecimento
desses materiais pode ser inadequado ou inexistente. A reutilização de seringas de vidro durante
a campanha para tratamento de esquistossomose,
no Egito, foi responsável pela transmissão do VHC,
um dos maiores surtos de transmissão iatrogênica de um patógeno de transmissão sanguínea(20).
Transmissão do VHC por procedimentos associados
ao cuidado da saúde não se limita apenas a países com recursos limitados, pois nos últimos 15
anos, mais de 600 publicações relataram transmis-
são hospitalar ou iatrogênica do VHC e a maioria
ocorreu em regiões desenvolvidas, como Europa
Ocidental, Norte da Europa, Estados Unidos, Austrália e Japão[21). Algumas transmissões relatadas
envolviam surtos de transmissão de paciente para
paciente pela não utilização de técnica asséptica
durante a preparação ou aplicação de medicações
e reutilização de seringa(22).
Uso de drogas injetáveis ​​é, atualmente, o principal modo de transmissão do VHC tanto nos países
desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Usuários de drogas injetáveis ​​têm a maior prevalência
global da infecção pelo VHC em comparação com
qualquer outro grupo de risco.
Até a primeira década do século XXI, estudos
não demonstraram aumento no risco de infecção
pelo VHC entre HSH quando comparado com heterosexuais(16). No entanto, recentemente reconheceu-se a transmissão do VHC entre HSH com infecção pelo HIV como um padrão emergente na epidemiologia da infecção pelo VHC(23). Esse padrão de
transmissão associa-se com a presença de trauma
na mucosa e presença de úlceras genitais como do
uso de drogas associado a práticas sexuais de risco.
HEPATITE A
A transmissão do VHA ocorre através do contato
pessoa-pessoa ou ingestão de água e alimentos
contaminados e, por isso, a prevalência da hepatite A varia de acordo com fatores sócioeconômicos.
Elevadas taxas de prevalência ocorrem em regiões
com piores condições sociais. Por outro lado, a idade em que ocorre a infecção varia de acordo com
a prevalência da infecção pelo VHA. Em áreas com
alta prevalência, 30 a 40% das crianças adquirem
infecção antes dos cinco anos de idade e quase
todos os adultos jovens já tiveram infecção pelo
VHA. No entanto, nas últimas décadas, a proporção
de pessoas com infecção pelo VHA está declinando na maioria dos países. Em 1975, mais de um
terço das crianças em Singapura tiveram infecção
pelo VHA; em 1995, em pessoas com idade inferior a 20 anos quase não se evidenciou infecção
pelo VHA(24). Esse declínio associa-se com a melhora das condições socioeconômicas, acesso à água
potável, condições sanitárias e, em alguns casos,
uso de vacina.
Em áreas com baixa endemicidade, característica dos países desenvolvidos, poucas crianças se
infectam com o VHA e, dessa forma, muitos adultos
permanecem suscetíveis e ocorrem epidemias. Da
mesma forma, com o declínio da prevalência entre crianças nas regiões em desenvolvimento, um
número maior de adultos estão suscetíveis e o ris-
53
Vigani AG et al • Hepatites virais: passado, presente e futuro
co de epidemias passa a ser maior também nessas
regiões, o que pode levar a um aumento da letalidade pelo VHA. Em crianças, infecção pelo VHA é
frequentemente assintomática, em adultos, os sintomas estão, na maior parte das vezes, presentes
e a infecção é mais grave quando comparado com
crianças. A taxa de letalidade na faixa etária entre
5 e 14 anos é 1,6 por 1.000 infecções; na faixa
etária entre 30 e 49 anos, 3,8 e, por fim, na faixa
etária superior a 49 anos é 17,5(25).
Hepatite A é atualmente uma infecção emergente
entre HSH, usuários de droga ilícita, viajantes e em
adultos não imunizados por vacina ou infecção prévia.
Estudos anteriores não demonstravam aumento da prevalência de infecção pelo VHA entre HSH, no entanto,
estudos mais recentes encontraram alta incidência de
hepatite A nessa população e também tem sido observada a ocorrência de surtos entre HSH(26). Outra população na qual tem ocorrido surtos são os usuários de
drogas ilícitas e contatos destes. Em relação a viajantes, pessoas de regiões de baixa endemicidade viajando para regiões de alta endemicidade têm risco elevado de infecção pelo VHA. Nos EUA, aproximadamente
10% das infecções ocorrem entre viajantes com essa
característica(27). Por fim, epidemias em adultos, antes
restritas a regiões com baixa prevalência, passaram a
ocorrer em países em desenvolvimento em decorrência
da redução da incidência entre crianças.
Vacina para hepatite A é altamente efetiva e segura. No entanto, devido ao seu custo relativamente alto,
o seu uso é limitado na população geral e, por isso,
não tem tido impacto significativo sobre as taxas de
hepatite A na maioria dos países em desenvolvimento.
HEPATITE E
A epidemiologia da infecção pelo VHE caracteriza-se
por dois diferentes padrões de acordo com a endemicidade da infecção. Em regiões endêmicas, o VHE
é responsável por surtos de hepatite E, já em regiões
não endêmicas por casos esporádicos.
Hepatite E é endêmica em regiões com condições sanitárias inadequadas como parte da Ásia,
África e Mediterrâneo, México e parte da América
do Sul(28). Nessas regiões ocorrem surtos de hepatite E com relativa frequência e com intervalo de
alguns anos, os quais, muitas vezes, são de grandes proporções e afetam desde centenas até milhares de pessoas e a maioria relaciona-se com o
consumo de água potável contaminada por fezes.
O intercurso desses surtos varia desde poucas semanas de duração até anos. Aqueles com duração
prolongada caracterizam-se por contínua contaminação da água potável. Normalmente, a ocorrência
de surtos segue-se a intensas chuvas e enchente,
54
o que propicia condições para a mistura de fezes
humanas com fontes de água potável. A taxa de
ataque varia de 1% a 15%, mas em mulheres grávidas essa taxa é maior, aproximadamente 20%. A
taxa de hepatite fulminante também é maior em
mulheres grávidas.
Diferentemente de outras infecções de transmissão entérica, a transmissão pessoa-a-pessoa do VHE
é incomum. Durante os surtos, a taxa de ataque secundária entre contatos domiciliares é baixa, 0,7%
a 2,2%, quando comparado com 50%-75% entre
contatos domiciliares de casos de hepatite A(29). A
transmissão do VHE através da ingesta de alimentos
contaminados também é incomum e poucos surtos
relacionam-se com essa forma de transmissão. Em
áreas endêmicas, o VHE circula mesmo na ausência
de surtos, o que se evidencia pelo fato do VHE ocasionar uma grande proporção de casos esporádicos
de hepatite em todas as faixas etárias.
Em regiões não endêmicas, onde não há relato de
surtos de hepatite E, o VHE é responsável por uma
minoria de casos de hepatite viral aguda. Até poucos anos atrás, a maioria dos casos relacionavam-se
quase que exclusivamente a viajantes provenientes
de regiões endêmicas. No entanto, na última década, casos isolados de transmissão autóctone do VHE
foram reportados nos EUA, Europa, Japão e Austrália. Suspeitou-se de uma disseminação zoonótica do
VHE, quando sequências genômicas do VHE isolados de dois casos autóctones nos Estados Unidos
demonstraram serem mais proximamente relacionadas com o VHE suíno do que com aqueles isolados em humanos. Essa suspeita foi reforçada pela
transmissão experimental do VHE espécie cruzada,
de isolados humanos para porcos e de porcos para
primatas. A hipótese zoonótica para transmissão do
VHE baseia-se na alta prevalência de anticorpos anti-VHE em diversas espécies animais, no isolamento
de sequências genotípicas de porcos e homologia da
sequência genotípica entre isolados do VHE em humanos e animais.
Sempre se considerou a hepatite E uma doença
autolimitada e sem evolução para cronicidade. No
entanto, um grupo francês descreveu uma série de
14 casos de receptores de transplante de órgãos sólidos em uso de drogas imunossupressoras que evoluíram com elevação de transaminases e evidência
de infecção pelo VHE(29). Dos 14, 8 evoluíram com
viremia persistente, elevação de transaminases e
biópsia hepática demonstrando hepatite portal com
infiltrado linfocítico denso e fibrose. Virema crônica
pelo VHE também foi reportada em pacientes recebendo quimioterapia contra câncer, com infecção
pelo HIV e com neoplasias hematológicas.
Rev Panam Infectol 2014;16(1):46-56
Tabela 2. Achado emergentes da epidemiologia das hepatites virais
Hepatite Hepatite
Viral
crônica
e Cirrose
A
Não
CHC*
Vacina
efetiva
Não
Sim
Diminuir devido melhor
saneamento
Diminuir devido à programas
efetivos de imunização
Aumentos recentes pelo uso
de droga ilícita
Diminuir
B
Sim
Sim
Sim
C
Sim
Sim
Não
D
Sim
Sim
Sim**
E
Não (Sim)
Não
Não
Tendência da prevalência
Desconhecido
Carga de doença
Aumento da incidência da doença
entre adultos em alguns países em
desenvolvimento onde infecção passou a
ocorrer em idades mais avançadas
Potencial para diminuir devido a vacinas
eficazes e terapia antiviral
Aumento futuro na incidência de CHC e
cirrose
Acometimento de imunossuprimidos,
transmissão zoonótica, ocorrência de surtos
* carcinoma hepatocelular
** Infecção pelo VHD é prevenida através de imunização para o VHB
Conclusões
As características mais importantes relacionadas à
emergência dos cinco agentes etiológicos das hepatites virais encontram-se resumidos na Tabela 2. A epidemiologia das hepatites virais no século XXI reflete
tanto o impacto positivo de medidas de prevenção
como o impacto negativo de padrões de transmissão
históricos e emergentes. As hepatites virais são doenças de dois mundos, um onde as novas infecções restringem-se a padrões emergentes de transmissão e o
tratamento é acessível, outro, onde tanto padrões históricos como emergentes de transmissão possibilitam
novas infecções e o tratamento é pouco acessível.
REFERÊNCIAS
1. Pérez V. Viral hepatitis: historical perspectives from the 20th
to the 21st century. Arch Med Res 2007;38:593-605.
2. Goldstein ST, Alter MJ, Williams IT, Moyer LA, Judson
FN, Mottram K, et al. Incidence and risk factors for
acute hepatitis B in the United States, 1982-1998:
implications for vaccination programs. J Infect Dis
2002;185(6):713-9.
3. Centers for Disease Control. MMWR Morb Mortal Wkly
Rep 2004;52:1252-1254.
4. Romano’ L, Paladini S, Van Damme P, Zanetti AR. The
worldwide impact of vaccination on the control and
protection of viral hepatitis B. Dig Liver Dis 2011;43
Suppl 1:S2-7.
5. Chang MH, Chen CJ, Lai MS, Hsu HM, Wu TC, Kong
MS, et al. Universal hepatitis B vaccination in Taiwan
and the incidence of hepatocellular carcinoma in
children. Taiwan Childhood Hepatoma Study Group. N
Engl J Med 1997;336(26):1855-9.
6. Lavanchy D. Hepatitis B virus epidemiology, disease
burden, treatment, and current and emerging
prevention and control measures. J Viral Hepat
2004;1:97-107.
7. Goldstein ST, Zhou F, Hadler SC, Bell BP, Mast EE,
Margolis HS. A mathematical model to estimate global
hepatitis B disease burden and vaccination impact. Int
J Epidemiol 2005;34(6):1329-39.
8. EASL Clinical Practice Guidelines: management of
chronic hepatitis B. J Hepatol 2009;50:227-42.
9. Idris BI, Brosa M, Richardus JH, Esteban R, Schalm
SW, Buti M. Estimating the future health burden of
chronic hepatitis B and the impact of therapy in Spain.
Eur J Gastroenterol Hepatol 2008;20(4):320-6.
10. Giannini EG, Torre F, Basso M, Feasi M, Boni S, Grasso
A, et al. Hepatitis B Virus Study Group. A significant
proportion of patients with chronic hepatitis B who
55
Vigani AG et al • Hepatites virais: passado, presente e futuro
A region-wide survey in Italy. J Clin Gastroenterol
2009;43(10):1001-7.
11. Wedemeyer H. Hepatitis D revival. Liver Int. 2011;31
Suppl 1:140-4.
12. Wedemeyer H, Heidrich B, Manns MP. Hepatitis D
vírus infection – not a vanishing disease in Europe!
Hepatology 2007; 45(5): 1331-2.
13.Fattovich G, Boscaro S, Noventa F, Pornaro E, Stenico
D, Alberti A, et al. Influence of hepatitis delta vírus
infection on progression to cirrhosis in chronic
hepatitis type B. J Infect Dis 1987; 155(5):931-5.
14.Armstrong GL, Alter MJ, McQuillan GM, Margolis
HS. The past incidence of hepatitis C virus infection:
implications for the future burden of chronic
liver disease in the United States. Hepatology
2000;31(3):777-82.
15. Hagan H, Des Jarlais DC, Stern R, Lelutiu-Weinberger
C, Scheinmann R, Strauss S,et al. HCV synthesis
project: preliminary analyses of HCV prevalence in
relation to age and duration of injection. Int J Drug
Policy 2007;18:341-51.
16. Terrault NA. Sexual activity as a risk factor for hepatitis
C. Hepatology 2002;36(5 Suppl 1):S99-105.
17. Donahue JG, Muñoz A, Ness PM, Brown DE Jr, Yawn
DH, McAllister HA Jr, et al. The declining risk of posttransfusion hepatitis C virus infection. N Engl J Med
1992;327:369-73.
18. Alter MJ. Epidemiology of hepatitis C in the West.
Semin Liver Dis 1995;15:5-14.
19. Hauri AM, Armstrong GL, Hutin YJ. The global burden of
disease attributable to contaminated injections given in
health care settings. Int J STD AIDS 2004;15(1):7-16.
20.Frank C, Mohamed MK, Strickland GT, Lavanchy D,
Arthur RR, Magder LS, et al.The role of parenteral
antischistosomal therapy in the spread of hepatitis C
virus in Egypt. Lancet 2000;355(9207):887-91.
21.Macedo de Oliveira A, White KL, Leschinsky DP,
Beecham BD, Vogt TM, Moolenaar RL, et al. An
outbreak of hepatitis C virus infections among
outpatients at a hematology/oncology clinic. Ann Intern
Med 2005;142:898-902.
22.Alter MJ. HCV routes of transmission: what goes around
comes around. Semin Liver Dis 2011;31(4):340-6.
23.Urbanus AT, van de Laar TJ, Stolte IG, Schinkel J,
Heijman T, Coutinho RA, et al. Hepatitis C virus
infections among HIV-infected men who have sex with
men: an expanding epidemic. AIDS 2009;23:F1-7.
24. Jacobsen KH, Koopman JS. Declining hepatitis A
seroprevalence: a global review and analysis. Epidemiol
Infect 2004;132:1005-22.
25.Lemon SM, Shapiro CN. The value of immunization
against hepatitis A. Infect Agents Dis 1994;3:38-49.
26.Nainan OV, Armstrong GL, Han XH, Williams I, Bell
BP, Margolis HS. Hepatitis A molecular epidemiology
in the United States, 1996-1997: sources of infection
and implications of vaccination policy. J Infect Dis
2005;19:957-63.
56
27.Nainan OV, Xia G, Vaughan G, Margolis HS. Diagnosis of
hepatitis A virus infection: a molecular approach. Clin
Microbiol Rev 2006;19:63-79.
28.Aggarwal R, Naik S. Epidemiology of hepatitis E: current
status. J Gastroenterol Hepatol 2009;24:1484-93.
29.Aggarwal R. Hepatitis E: Historical, contemporary and
future perspectives.J Gastroenterol Hepatol 2011;26
Suppl 1:72-82.
Correspondencia:
Aline Gonzalez Vigani
Departamento de Clinica Médica
Hospital de Clínicas, Universidade Estadual de
Campinas. Box Postal 6198, CEP 13083-970,
Campinas, SP, Brazil
Tel.: 55 19 35217727 / Fax 55 19 35217727
E-mail: [email protected]
Download