Lógica Professor conteudista: Ricardo Holderegger Sumário Lógica Unidade I 1 SISTEMAS DICOTÔMICOS ................................................................................................................................3 1.1 Proposições ................................................................................................................................................3 1.1.1 Proposições lógicas ...................................................................................................................................3 1.1.2 Símbolos da lógica matemática...........................................................................................................4 1.1.3 A negação .....................................................................................................................................................4 1.2 Interruptores .............................................................................................................................................5 2 OPERAÇÕES LÓGICAS SOBRE PROPOSIÇÃO............................................................................................6 3 CONSTRUÇÃO DA TABELA-VERDADE .........................................................................................................6 3.1 Exemplo de p ∧ q ....................................................................................................................................8 3.2 Exemplo de p ∨ q ....................................................................................................................................9 3.3 Exemplo de p → q ..................................................................................................................................9 3.4 Exemplo de p ↔ q ............................................................................................................................... 10 3.5 Tautologia .................................................................................................................................................11 3.6 Contradição .............................................................................................................................................11 3.7 Contingências ........................................................................................................................................ 12 Unidade II 4 RELAÇÕES DE IMPLICAÇÃO E EQUIVALÊNCIA ..................................................................................... 13 4.1 Implicação lógica.................................................................................................................................. 13 4.2 Equivalência lógica .............................................................................................................................. 13 5 ARGUMENTO VÁLIDO .................................................................................................................................... 14 5.1 Definição .................................................................................................................................................. 14 5.2 Argumento válido e inválido ........................................................................................................... 15 5.3 Argumento verdadeiro e falso ........................................................................................................ 15 6 TÉCNICAS DEDUTIVAS ................................................................................................................................... 16 Unidade III 7 FLUXOGRAMAS ................................................................................................................................................ 17 7.1 Diagramação .......................................................................................................................................... 17 7.2 Programação estruturada ................................................................................................................. 20 7.3 Estrutura de controle .......................................................................................................................... 20 8 QUANTIFICAÇÕES ............................................................................................................................................ 22 8.1 Sentença aberta .................................................................................................................................... 23 8.1.1 Sentença aberta com uma variável................................................................................................. 23 8.1.2 Conjunto-verdade de uma sentença aberta................................................................................ 23 8.1.3 Sentenças abertas com duas variáveis .......................................................................................... 23 8.1.4 Conjunto-verdade de uma sentença aberta com duas variáveis........................................ 24 8.1.5 Sentenças abertas com n variáveis ................................................................................................. 24 8.1.6 Conjunto-verdade de uma sentença aberta com n variáveis .............................................. 24 8.2 Quantificador universal (∀) ............................................................................................................. 25 8.3 Quantificador existencial (∃) ........................................................................................................... 27 8.4 Negação de sentenças quantificadas........................................................................................... 28 Unidade IV 9 INTRODUÇÃO À ÁLGEBRA DE BOOLE...................................................................................................... 30 9.1 Operador binário................................................................................................................................... 30 9.2 O sistema binário de numeração ................................................................................................... 30 9.3 Propriedade cumulativa na adição ............................................................................................... 32 9.4 Propriedade cumulativa na multiplicação ................................................................................. 32 9.5 Propriedade associativa na adição ................................................................................................ 32 9.6 Propriedade associativa na multiplicação.................................................................................. 32 9.7 Álgebra booleana.................................................................................................................................. 32 9.8 Conversão de decimal em binário ................................................................................................. 33 10 REPRESENTAÇÃO DAS FUNÇÕES BOOLEANAS ................................................................................. 33 11 FORMAS NORMAIS ....................................................................................................................................... 34 11.1 Forma normal conjuntiva ............................................................................................................... 35 11.2 Forma normal disjuntiva ................................................................................................................. 35 LÓGICA Unidade I TABELA DE SÍMBOLOS Símbolo Definição ¬ ou ∼ ∧ ∨ → ← ↔ ⇒ ⇔ ∃ ∃ ∀ ∈ ∉ não e ou se ..., então somente se se, e somente se tal que implica equivalente existe existe um, e somente um qualquer que seja pertence não pertence intersecção (só entra o que é comum nos dois) união dos conjuntos contém. Ex.: B ⊃ A (B contém A) não está contido está contido. Ex.: A ⊂ B (A está contido em B) conjunto vazio conjunto unitário x “tal que” x ... diferente ∩ ∪ ⊃ ⊄ ⊂ ∅ ou { } {∅} { x | x ∈ ... ≠ 1 Unidade I INTRODUÇÃO O que é lógica? A lógica ensina a colocar “ordem no pensamento”. Breve histórico da lógica A lógica começou a se desenvolver principalmente com 5 Aristóteles (384-322 a.C.), filósofo grego nascido na cidade de Estagira, na Calcídica, Macedônia, distante 320 quilômetros de Atenas. Além dele, também outros antigos filósofos gregos passaram a usá-la em suas discussões, sentenças enunciadas nas formas afirmativa e negativa, resultando, assim, numa grande 10 simplificação e clareza, com efeito de grande valia em toda a matemática. As obras de Aristóteles abordam vários ramos do saber: política, zoologia, botânica, física, metafísica, filosofia e outros. A lógica é tratada por Aristóteles no livro Orgânon. Na era moderna, o matemático alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716), em 1666, publicou seu principal trabalho relacionado à lógica. Já no século XVIII, Euler (17071783) introduziu a representação gráfica das relações entre as sentenças ou as proposições, mais tarde ampliada por 20 Venn (1834-1923), Veitch, em 1952, e Karnaugh, em 1953. O diagrama Veitch-Karnaugh permite a simplificação de expressões matemáticas complexas. 15 Adiante, George Boole (1815-1864), matemático inglês que se tornou o pai da álgebra booleana, utilizou símbolos e 25 operações para representar proposições e suas inter-relações. A álgebra de Boole, apesar de ter existido há mais de cem anos, não teve uma utilização prática até 1937, quando foi aplicada pelas primeiras vezes à análise de circuitos e relés. 2 LÓGICA 1 SISTEMAS DICOTÔMICOS 1.1 Proposições As proposições são sentenças declarativas, que satisfazem três princípios fundamentais. • Princípio da identidade: se qualquer proposição é verdadeira, então, ela é verdadeira. 5 • Princípio do terceiro excluído: uma proposição só pode ser verdadeira ou falsa. • Princípio da não contradição: uma proposição não pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa. Uma proposição verdadeira possui o valor lógico V (verdade) e 10 uma proposição falsa possui o valor lógico F (falso). Esses valores também podem ser representados por 0 para as proposições falsas e por 1 para as proposições verdadeiras. Sendo assim, a representação (0 ou F) e (1 ou V) são corretas. As proposições simples são indicadas pelas letras minúsculas 15 latinas p, q, r, s, t, u, v, x etc.; por exemplo: • p: “Júpiter é um planeta”; • q: “a somatória dos ângulos internos de qualquer triângulo é 180º”. 1.1.1 Proposições lógicas Expressões do tipo “5 + 7”, “o dia está nublado” ou “x + 8 20 = 23” não são proposições lógicas, já que não se pode associar a elas um valor lógico definido (V ou F). Desta forma, essas sentenças declarativas abertas dependem de um qualificador para se tornarem proposições; por exemplo, “x + 8 = 23” será uma proposição lógica quando for definido o valor de x. Nesse 3 Unidade I caso, se x = 15, a sentença será verdadeira, ou, se x ≠ 15, a sentença será falsa. Abaixo seguem algumas proposições e seus respectivos valores lógicos: 5 • p: “o estado do Paraná faz divisa com o Equador” (F) ou (0); • q: “São Paulo é uma metrópole” (V) ou (1); • r: “todas as árvores são frutíferas” (F) ou (0); • s: “5 + 5 = 10” (V) ou (1); • t: “3! = 6” (V) ou (1); 10 • u: “1/0 = 1” (F) ou (0). 1.1.2 Símbolos da lógica matemática Símbolo ¬ ou ∼ ∧ ∨ → ← ↔ ⇒ ⇔ ∃ ∃ ∀ Definição não e ou se ..., então somente se se, e somente se tal que implica equivalente existe existe um, e somente um qualquer que seja 1.1.3 A negação A negação da proposição p será ¬p, que se lê “não p”. • p: “dois pontos determinam uma reta”; 4 LÓGICA • ¬p: “dois pontos não determinam uma reta”. Duas negações equivalem a uma afirmação. Desta forma, ¬(¬p) = p. Acompanhe a tabela abaixo: (p) (¬p) Verdadeiro (V) Falso (F) Falso (F) Verdadeiro (V) 1.2 Interruptores O interruptor é um dispositivo ligado a um circuito elétrico, que pode assumir dois estados: 1 (ligado) e 0 (desligado). Quando 5 o circuito está fechado, o interruptor está ligado e permite que a corrente passe de um ponto para outro. Quando aberto, os pontos estão desconectados e nenhuma corrente passa através dos mesmos. A C D R F Figura 1 – Circuito de chaveamento simplificado. Nos circuitos em paralelo, é utilizada a soma, e para circuitos 10 em série, é utilizada a multiplicação. Com base na figura 1, um exemplo pode ser: (A + B) . (C + D + E). Com os interruptores, monta-se as portas lógicas, que são utilizadas na computação para tomar decisões e fazer cálculos matemáticos. 5 Unidade I 2 OPERAÇÕES LÓGICAS SOBRE PROPOSIÇÃO As proposições lógicas simples, por exemplo, p e q, podem ser combinadas através dos operadores lógicos ∧, ∨, → e ↔, e passarem a formar proposições compostas, do tipo p ∧ q, p ∨ q, p → q e p ↔ q. Assim, as proposições compostas recebem as 5 seguintes definições: • conjunção: p ∧ q (“p e q”); • disjunção: p ∨ q (“p ou q”); • condicional: p → q (“se p, então q”); • bicondicional: p ↔ q (“p se, e somente se q”). 3 CONSTRUÇÃO DA TABELA-VERDADE 10 Conhecendo-se os valores lógicos de duas proposições simples p e q, com o uso da tabela-verdade é possível determinar os valores lógicos das proposições compostas decorrentes. Desta forma, sejam p e q duas proposições simples, de valores 15 lógicos 0 quando falsas (F) e 1 quando verdadeiras (V), pode-se construir a tabela-verdade conforme segue: p q p∧q p∨q p→q p↔q V V V V V V V F F V F F F V F V V F F F F F V V Se os valores lógicos V e F forem substituídos por 1 e 0, respectivamente, então obteremos: 6 LÓGICA p q p∧q p∨q p→q p↔q 1 1 1 1 1 1 1 0 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 0 0 0 0 1 1 Se uma proposição composta é formada por n proposições simples, a sua tabela-verdade possuirá 2n linhas. Das tabelas acima, é possível inferir que: 5 • a conjunção é verdadeira somente quando ambas as proposições são verdadeiras; • a disjunção é falsa somente quando ambas as proposições são falsas; • a condição é falsa somente quando a primeira proposição é verdadeira e a segunda é falsa; 10 • a bicondicional é verdadeira somente quando as proposições possuem valores lógicos iguais. Veja o exemplo. Dadas as proposições simples: • p: “o Brasil não é um país” (F) ou (0); 15 • q: “5 + 7 = 13” (V) ou (1). Sendo assim, baseado na tabela-verdade, tem-se: • p ∧ q tem valor lógico F ou 0; • p ∨ q tem valor lógico V ou 1; • p → q tem valor lógico V ou 1; 20 • p ↔ q tem valor lógico F ou 0. 7 Unidade I Deste modo, a proposição composta p → q, que significa “se o Brasil não é um país, então 5 + 7 = 12”, é verdadeira, apesar de ser um absurdo. 3.1 Exemplo de p ∧ q Situação hipotética: um homem chega tarde em casa e a 5 sua esposa, muito brava, pergunta “o que houve?”. O homem responde: “trabalhei até tarde, o carro não quis pegar e tive que chamar o socorro mecânico do seguro”. Sendo: • p: trabalhei até tarde; • q: carro não quis pegar e tive que chamar o socorro mecânico do seguro. 10 p q p∧q Explicação V V Situação 1: V O homem realmente trabalhou até tarde (p é verdadeiro), e o carro apresentou problema de fato, havendo a necessidade de se chamar o socorro mecânico (q é verdadeiro). V F Situação 2: F O homem realmente trabalhou até tarde (p é verdadeiro), mas o carro não apresentou problema (q é falso). F V Situação 3: F O homem não trabalhou até tarde (p é falso), mas o carro apresentou problema de fato, havendo a necessidade de se chamar o socorro mecânico (q é verdadeiro). F F Situação 4: F O homem não trabalhou até tarde (p é falso), e o carro não apresentou problema (q é falso). A disjunção p ou q será falsa somente quando p e q forem falsos. 8 LÓGICA 3.2 Exemplo de p ∨ q Situação hipotética: uma mulher que está fazendo compras em um supermercado chega aos caixas para pagar pelas suas mercadorias e percebe que o único caixa livre é o que tem a seguinte informação: caixa reservado para gestantes e 5 deficientes físicos. Sendo: • p: reservado para gestante; • q: reservado para deficientes físicos. Quando essa mulher poderá passar suas compras por esse 10 caixa? p∨q Explicação Situação 1: V A mulher é gestante (p é verdadeiro) e é deficiente (q é verdadeiro). F Situação 2: V A mulher é gestante (p é verdadeiro) e não é deficiente (q é falso). F V Situação 3: V A mulher não é gestante (p é falso) e é deficiente (q é verdadeiro). F F Situação 4: F A mulher não é gestante (p é verdadeiro) e não é deficiente (q é verdadeiro). p q V V V A condição somente será falsa quando p e q forem falsos. 3.3 Exemplo de p → q Situação hipotética: uma mãe diz ao seu filho: “se fizer sol amanhã, iremos ao parque do Ibirapuera”. • p: fazer sol; 15 • q: ir ao parque do Ibirapuera. 9 Unidade I p→q Explicação Situação 1: V No dia seguinte fez sol (p é verdadeiro), e a mãe levou o filho ao parque do Ibirapuera (q é verdadeiro). F Situação 2: F No dia seguinte fez sol (p é verdadeiro), mas a mãe não levou o filho ao parque do Ibirapuera (q é falso). V Situação 3: V No dia seguinte não fez sol (p é falso), e a mãe levou o filho ao parque do Ibirapuera (q é verdadeiro). V No dia seguinte não fez sol (p é verdadeiro) e a mãe não levou o filho ao parque do Ibirapuera (q é verdadeiro). p q V V V F F F Situação 4: A condição somente será falsa quando p for verdadeiro e q for falso. 3.4 Exemplo de p ↔ q Situação hipotética: Marquinho não foi um aluno aplicado neste semestre, suas notas foram baixas e o número de faltas muito 5 elevado em todas as disciplinas, em especial matemática, na qual ele será aprovado se não faltar às duas últimas aulas e somente se conseguir tirar uma nota superior a 8, 5 na última prova. • p: se não faltar nas duas últimas aulas; • q: e somente se conseguir tirar uma nota superior a 8,5 na última prova. 10 10 p↔q Explicação Situação 1: V Não faltou às duas últimas aulas (p é verdadeiro) e conseguiu nota superior a 8,5 (q é verdadeiro). F Situação 2: F Não faltou às duas últimas aulas (p é verdadeiro) e não conseguiu nota superior a 8,5 (q é falso). F V Situação 3: F Faltou às duas últimas aulas (p é falso) e conseguiu nota superior a 8,5 (q é verdadeiro). F F Situação 4: V Faltou às duas últimas aulas (p é falso) e não conseguiu nota superior a 8,5 (q é falso). p q V V V LÓGICA 3.5 Tautologia Ocorre quando, para qualquer valor lógico das proposições simples, a proposição composta “s” é sempre verdadeira. Por exemplo, observe s: (p ∧ q) → (p ∨ q), como segue: p q p∧q p∨q (p ∧ q) → (p ∨ q) V V V V V V F F V V F V F V V F F F F V Dize-se então que “s” é uma tautologia. 5 Veja também este exemplo: p p→p V V F V A → A é uma tautologia. Assim como: p ¬p p∨¬p V F V F V V p∨¬p é uma tautologia. 3.6 Contradição É uma proposição composta que sempre tem valor F. Logo, p 10 é uma contradição se, e somente se ¬p é uma tautologia, e p é uma tautologia se, e somente se ¬p é uma contradição. Sabemos que a proposição composta t: p ∧ ¬p é uma contradição, então vejamos a seguir: 11 Unidade I p ¬p p ∧ ¬p V F F F V F Também são contradições os exemplos a seguir: p ¬p p∧¬p V F F F V F p∧¬p é uma contradição. p ¬p p↔¬p V F F F V F p↔¬p é uma contradição. 3.7 Contingências São proposições compostas em que os valores lógicos 5 independem dos valores das proposições simples. 12