141 AÇÃO JOVEM: um estudo no município de Franca-SP. Samanta Antonio Gea – Uni-FACEF Maria Zita Figueiredo Gera² – Uni-FACEF 1. INTRODUÇÃO A presente proposta de pesquisa tem como objetivo realizar um estudo do programa Ação Jovem no município de Franca-SP, como forma de avaliação. A questão norteadora da pesquisa pode ser sintetizada da seguinte maneira: “Quais as perspectivas geradas pelo programa ação jovem nos adolescentes participantes em relação à escola e a iniciação profissional?”. Para tanto, discute questões referente o desenvolvimento social e as políticas públicas. A questão que nos apresenta capital é a relação entre o desenvolvimento social e as políticas públicas, suas aproximações e seus distanciamentos enquanto instrumental governamental de estímulos para o desenvolvimento na área social. Deste modo, é necessária a contextualização sobre o desenvolvimento social e as políticas públicas para, em seguida, referenciar o programa Ação Jovem e por fim descrever os procedimentos metodológicos. Destarte, o presente artigo se organizará da seguinte forma: introdução da temática a ser abordada, discussão sobre desenvolvimento social e políticas públicas, metodologia da proposta de pesquisa e considerações iniciais. A relevância da pesquisa está na avaliação do programa Ação Jovem não restringida a dados quantitativos, mas no aprofundamento avaliativo qualitativo do programa. _________________________________________ ¹ Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional do Uni-FACEF Centro Universitário de Franca. ² Profª. Livre docente do Uni-FACEF Centro Universitário de Franca. 142 2. DESENVOLVIMENTO SOCIAL No mundo contemporâneo um dos graves problemas sociais enfrentados e a questão da desigualdade social no que se refere distribuição da riqueza socialmente construída, assim como disparidades no acesso aos campos político, econômico e social. Na questão da desigualdade surge uma ideia bastante difundida: a questão da “exclusão” como uma forma de privação. Segundo Amartya Sen: Isto é apropriado porque o conceito de “exclusão” tem se demonstrado útil como ideia organizacional. Muitas privações e violações de direitos humanos de fato assumem a forma de exclusão de prerrogativas individuais elementares que deveriam ser dadas como certas, como o acesso à justiça ou a liberdade de expressão (SEN, 2010, p. 33). Esta versatilidade do termo, assim como o alcance de seu conceito são apropriados, pois podem designar diversas privações deste as questões políticas até as econômicas e sociais. Entretanto, um termo tão abrangente acaba por ter também algum custo conceitual. Verdadeiramente, não existe no campo social somente exclusões, há que se despender certa atenção à questão da “inclusão injusta”. Destacamos: De fato, uma grande parte dos problemas de privação surge de termos desfavoráveis de inclusão e de condições adversas de participação, e não do que se poderia chamar, sem forçar o termo, de um caso de exclusão. Por exemplo, com o trabalho forçado, ou trabalho infantil em condições de semiescravidão, ou mais comumente em termos profundamente “desiguais” de relação participativa, o foco imediato não está na exclusão, mas na natureza desfavorável da inclusão envolvida (SEN, 2010, p.35). Contudo, não devemos abusar da elasticidade do termo exclusão para o não empobrecimento do vocábulo. É correto afirmar, então, que o foco está na “inclusão do excluído”. A perspectiva trabalhada por Amartya Sen trás a questão do desenvolvimento como liberdade. “A expansão da liberdade é vista, por essa abordagem, como o principal fim e o principal meio do desenvolvimento” (SEN, 2000, p.10). Pois, segundo o autor: 143 Refiro-me a um aspecto complexo, mas de profundas consequências, de nossa liberdade de escolher como vemos a nós mesmos – nossas filiações, nossas associações e nossas identidades. Este é um campo no qual a privação tipicamente não mata (embora também possa fazê-lo, como pretendo discutir em seguida), mas tem o poder de asfixiar nossa voz, nossa independência e nossa capacidade de agir como cidadãos políticos de uma nação – ou do mundo (SEN, 2010, p.38). Assim a questão da liberdade como abordagem para o desenvolvimento social leva intrínseca a questão do homem, do desenvolvimento humano, de suas potencialidades e de suas liberdades como sujeito de autonomia sobre si mesmo. Ressaltamos: Quando existe uma opção, negar sua existência não é apenas um fracasso científico, mas também a negação de um direito humano, o que por sua vez também conduz a uma negligência ética, pois permite a negação da responsabilidade que inescapavelmente acompanha o exercício da escolha (SEN, 2010, p. 49). Estas questões nos leva a questionar quais são os papéis das políticas públicas e para este questionamento necessário se faz contextualizá-las. 3. POLÍTICAS PÚBLICAS Para se compreender a implementação de uma política pública primeiramente é necessário compreender o seu processo de formulação. Segundo o relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento: A expressão processo de formulação de políticas engloba todo o processo de discussão, aprovação e implementação das políticas públicas. Nos sistemas democráticos como os da América Latina, esses processos desenvolvem-se num cenário político no qual atuam distintos atores políticos (ou jogadores, no jargão da teoria dos jogos). Entre os jogadores que participam deste jogo encontram-se atores estatais oficiais e políticos profissionais (presidentes, líderes de partidos, legisladores, juízes, governadores, burocratas), assim como grupos privados, sindicatos, meios de comunicação e outros membros da sociedade civil (BID, 2007, p. 17). Deste modo, a formulação das políticas públicas passa por um processo dialético de luta de interesses diversos, por ter sua formulação através de processos exógenos, isto é: originário fora do sistema, e endógenos. 144 Assim os atores sociais quando se mobilizam, possuem um importante papel na luta pela formulação de políticas públicas que atendam as necessidades, muitas vezes imediatas, de grande parte da população. Ressaltamos: As políticas públicas visam responder a demandas, principalmente dos setores marginalizados da sociedade, considerados como vulneráveis. Essas demandas são interpretadas por aqueles que ocupam o poder, mas influenciadas por uma agenda que se cria na sociedade civil através da pressão e mobilização social (TEIXEIRA, 2002, p.3). Quando se tem como objeto a avaliação de uma política pública devemos considerar que: “Uma política pública desempenha distintos papéis, dependendo do setor/grupo social ao qual se destina e do tipo de relação que estabelece com as demais políticas” (BELLONI, 2000, p.33). Por conseguinte: [...] uma política pública na área social pode ser congruente com a política econômica básica (que é o fio condutor e reflete as prioridades de ação de um determinado governo) e está diretamente ligada a ela; será complementar, ao fornecer-lhe elementos reforçadores de seus objetivos e metas principais; será reparadora ou compensatória ao atuar sobre os danos ou consequências nefastas das políticas básicas com o objetivo de atenuá-los (BELLONI, 2000, p. 33-34). Portanto, as políticas públicas inseridas no contexto neoliberal, também se movimentam num processo dialético de respostas as demandas sociais e de servir a lógica de mercado. Destacamos: As políticas públicas traduzem, no seu processo de elaboração e implantação e, sobretudo, em seus resultados, formas de exercício do poder político, envolvendo a distribuição e redistribuição de poder, o papel do conflito social nos processos de decisão, a repartição de custos e benefícios sociais. Como o poder é uma relação social que envolve vários atores com projetos e interesses diferenciados e até contraditórios, há necessidade de mediações sociais e institucionais, para que se possa obter um mínimo de consenso e, assim, as políticas públicas possam ser legitimadas e obter eficácia (TEIXEIRA, 2002, p.2). Por conseguinte, as políticas públicas no contexto neoliberal tendem a trabalhar as desigualdades sociais como “resultado de decisões individuais, cabendo à política social um papel residual no ajuste de seus efeitos” (TEIXEIRA, 2002, p. 4). 145 Novamente surge a questão da desigualdade como foco, compreendemos, pois a ligação entre o desenvolvimento social e as políticas públicas. Ambos estão ligadas por seu papel no enfrentamento das desigualdades como forma de transformação social. 3.1 PROGRAMA AÇÃO JOVEM Dentro do rol de políticas públicas encontramos as direcionadas a área social, as políticas públicas sociais para o enfrentamento da questão social tem com objeto de trabalho os programas governamentais. Deste modo diante de uma realidade de miséria social, as políticas de desenvolvimento social têm como objetivo desenvolver ações mediante programas e projetos sociais para intervir nesta realidade de modo a contribuir para o seu desenvolvimento. Assim, a presente proposta de pesquisa tem como objeto de estudo o programa Ação Jovem coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo. O programa Ação Jovem tem como objetivo promover a inclusão social de jovens, mediante a transferência de renda como apoio financeiro temporário para estimular a conclusão da escolaridade básica e a oferta de atividades complementares, com foco na preparação para o mercado de trabalho. ¹ O valor do benefício repassado para o jovem é de R$ 80,00 reais mensais. O público alvo do programa corresponde à jovens na faixa etária de 15 a 24 anos, de ambos os sexos, com ensino fundamental e/ou médio incompleto e que se encontram em situação de vulnerabilidade social. O programa tem como objetivos específicos incentivar o retorno e/ou permanência na escola; Estimular a conclusão do ensino básico; Promover ações complementares; Propiciar acesso a cursos profissionalizantes; E favorecer a iniciação no mercado de trabalho. 4. METODOLOGIA DA PROPOSTA 146 O objetivo geral da pesquisa é realizar um estudo do programa Ação Jovem no município de Franca-SP, como forma de avaliação. São objetivos específicos: discutir as várias concepções de desenvolvimento, referenciando o desenvolvimento social; definir o conceito de desenvolvimento social que é empregado pela perspectiva de Amartya Sen; conceituar o programa ação jovem contextualizando sua realidade no município de Franca; elaborar instrumental para coleta de dados; realizar análise dos dados obtidos. Referente a metodologia da pesquisa a abordagem é qualitativa onde busca compreender a dinâmica entre o sujeito e o mundo real, utilizando como referência Antonio Chizzotti. Destacamos: A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito (CHIZZOTTI, 2001, p. 79). Os sujeitos da pesquisa são os adolescentes participantes do programa Ação Jovem na cidade de Franca e os coordenadores do programa no município. Os instrumentais de coleta de dados serão entrevistas semi-estruturadas com os coordenadores e aplicação de redações com os adolescentes com o intuito de refletir na redação as perspectivas geradas pelo programa. A análise dos dados é qualitativa para entrever qualitativamente as vivências e as perspectivas geradas pela participação no programa assim como avaliar se seus objetivos estão sendo alcançados e se estão proporcionando desenvolvimento social. 5. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Conclui-se, a partir do exposto, que esta proposta busca contribuir para a discussão referente o desenvolvimento social e políticas públicas, assim como mediante pesquisa de campo ressaltar o ponto de encontro entre teoria e prática. A relevância da pesquisa está na avaliação do programa Ação Jovem não restringida a dados quantitativos, mas no aprofundamento avaliativo qualitativo do programa. 147 Assim como na abordagem de uma temática bastante discutida, mas com a responsabilidade de um aprofundamento essencial para a perspectiva qualitativa tendo como o foco a pessoa humana e o desenvolvimento social. _________________________ 1 Dados retirados do site da Secretaria de Desenvolvimento social do Governo do Estado de São Paulo. Disponível em <http://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/portal.php/acaojovem> Acesso em 22 de Maio de 2013. 6. REFERÊNCIAS BELLONI, Isaura. Metodologia de avaliação em políticas públicas: uma experiência em educação profissional. / Isaura Belloni, Heitor Magalhães, Luzia Costa de Sousa. – São Paulo, Cortez, 2000. BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID). A política das políticas públicas: processo econômico e social na América Latina: relatório 2006. Banco interamericano de desenvolvimento e David Rockefeller Center for Latin America Studies, Harvard University – Rio de Janeiro: Elsevier; Washington, DC: BID, 2007. – 2ª Reimpressão. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001. SEN, Amartya. As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado. / Amartya Sen e Bernardo Kliksberg; - São Paulo: Companhia das Letras, 2010. SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Cia. das Letras, 2000. TEIXEIRA, Elenaldo Celso. O Papel das Políticas Públicas no Desenvolvimento Local e na Transformação da Realidade. Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia (AATR), 2002.