análise socioambiental dos resíduos de serviços de saúde do aterro

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ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE
DO ATERRO SANITÁRIO NO MUNICÍPIO DE GUANAMBI
Ana Paula Lopes Soares1, Cadja Sueine Rodrigues de Oliveira1, Cissa
Tayanne Lima Borges1, Leidimar Pereira da Silva1, Leila Kelly Teixeira Primo1,
Maria Viviane dos Santos Vasconcelos1, Jorge Luiz Barreto Ribeiro2, Lilian
kirdeika Martins³, Pablo Teixeira Viana 4
Graduando (a) do curso de Biomedicina. Faculdade Guanambi – FG. Guanambi- BA.
Sociologo, Doutorado em Sociologia/UFPE, Docente Faculdade – FG. Guanambi – BA.
³Biomédica. Bióloga. Especialista em Análises Clínicas/FASI. Docente Faculdade Guanambi –
FG. Guanambi – BA.
4
Zootecnista. Doutorando em Produção Animal/PPZ/UESB. Docente/Coordenador do Núcleo
de Pesquisa e Extensão Faculdade Guanambi – FG. Guanambi – BA.
1
2
RESUMO: Os resíduos de serviços de saúde têm chamado atenção, possui o
potencial de agredir o meio ambiente e à saúde do homem. Objetivou-se com o
presente estudo, identificar os agentes patogênicos e seus possíveis riscos de
contaminação socioambiental, à medida que haja o descarte inadequado de
resíduos de saúde no aterro sanitário na cidade de Guanambi. O método para
a coleta da amostragem do chorume foi efetuada de forma aleatória; que
seguiu os seguintes procedimentos: membrana filtrante para identificar E. coli e
Enterococcus sp, a técnica de incubação em Profundidade (Pour-Plate) para
contagem de bactérias heterotróficas e a técnica de Utêrmol para quantificar as
cianobactérias. Após o encaminhamento para a análise das amostras foram
obtidos resultados; onde constam a presença de microrganismos de grande
potencial para a contaminação socioambiental. Vale observar que alguns deles
possuem a capacidade de sobrevivência no solo, capaz de disseminar
doenças, agredindo a saúde humana e do meio ambiente. Informamos, ainda,
que a maioria das instituições apresentaram falhas na gestão do destino
adequado dos resíduos na área da saúde, não atendendo os princípios
preconizados na Resolução CONAMA N.283/2004.
Palavras-chave: Microrganismos. Patógenos. Socioambiental
ABSTRACT: Nowadays the health service waste has attracted many questions
about the importance to human health and the environment. The objective of
the present study is to identify the pathogens and their possible risks to the
socio environment contamination due to improper disposal of health service
waste in the landfill of Guanambi city. Through the random selection of
microorganisms for analysis, collection of chorume was performed and after
that the following methods were used: membrane filter to identify E. coli and
Enterococcus, the
technique of incubation
in
Depth (Pour-Plate)
for
heterotrophic bacterial count and the Utermol technique to quantify the
cyanobacterium. After the analysis of the samples, the results showed that
microorganisms contain great potential of environmental contamination. It is
important to highlight that some of them have the ability of surviving in the soil,
they can be able to spread diseases attacking the human health and the
environment. Most institutions have presented failures in different stages of
gestation of their waste in healthcare, they do not comply with the principles
prescribed in Resolution CONAMA N.283/2004.
Key words: Micro-organism. Pathology. Socio-environmental
INTRODUÇÃO
Os resíduos sólidos, também conhecidos como lixo, são formados por
uma massa heterogênea e produzidos por diversas áreas de atenção à saúde,
tais como hospitais, farmácias e consultórios de saúde. Entretanto, grande
parte deles, não possui destinação sanitária e ambiental correta, sendo
depositados em lixões a céu aberto (GARCIA & RAMOS, 2004).
O manejo de todas as fases dos Resíduos de Serviço de Saúde (RSS)
merece uma atenção especial de toda a população e órgãos públicos, devido
ao risco inerente de contaminação por suas frações infectantes ao homem e ao
solo; por apresentarem componentes químicos, radioativos e biológicos. A
decomposição biológica dos resíduos gera gases, como metano (CH 4), dióxido
de carbono (CO2) e nitrogênio (N2), também forma o “chorume” que é um
líquido resultante da decomposição e da umidade natural do lixo, que são
lançados ao solo, podendo atingir o lençol freático e cursos d’água
(SCARLATO, 2003; MILARÉ, 2004).
Os riscos causados por esses resíduos de saúde se dão pela
sobrevivência dos agentes patógenos dotados de resistência às condições
naturais, representando risco à saúde humana e danos ambientais, como
contaminação do solo, água e ar, levando a uma transmissão de doenças a
partir do contato ou exposição ao material biológico. Os catadores de lixo, por
exemplo, é mais suscetível a contaminação, devido ao contato direto com os
materiais que são lançados a céu aberto, afetando toda comunidade e
consequentemente a uma proliferação de doenças.
Silva
et
al.
(2002)
salientam
que
diferentes
microrganismos
patogênicos presentes nos resíduos de serviços de saúde apresentam
capacidade de persistência ambiental, entre eles Mycobacterium tuberculosis,
Enterococcus
sp.,
Staphylococcus
aureus,
Escherichia
coli,
bactérias
heterotróficas, vírus da hepatite A e da hepatite B.
Esperamos que os resultados obtidos por este artigo possam gerar um
maior
interesse-responsabilidade-prevenção
para
a
questão
ambiental.
Visando alertar às autoridades a respeito da questão socioambiental, originada
pelo mau gerenciamento dos resíduos de saúde. Este artigo aborda a
problemática do inadequado descarte do RSS, devido aos riscos ao meio
ambiente à população de Guanambi - Ba. Como profissionais da saúde é um
dever conscientizar a população e gestores municipais, no que diz respeito à
adequação às normas estabelecidas e relatadas no plano de Gerenciamento
de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS).
Objetivou-se com este estudo, identificar os agentes patogênicos e os
possíveis riscos socioambientais em decorrência do inadequado descarte
desses resíduos de saúde, situados no lixão denominado Aterro Sanitário de
Guanambi.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa quantitativa e exploratória, tendo em vista que
pretendemos abordar os agentes patogênicos e seus reflexos no desequilíbrio
do meio ambiente e a possibilidade de afetar a saúde do homem, na medida
em que o destino dos resíduos seja inadequado.
A amostra para análise foi coletada diretamente do aterro sanitário de
Guanambi - BA, no período de 10/10/2012 período matutino sem presença de
chuva nas últimas 48 horas anteriores, e em seguida enviadas ao Laboratório
São Lucas Ltda. em São Paulo-SP, de acordo com os procedimentos do
sistema de qualidade do ASL - Análises Ambientais e NORMAS ISO 9001:2008
e ISO/IEC 17025.2005.
Foi utilizado como Equipamentos de Proteção para a coleta: seringa
estéril, agulha, luva cirúrgica, luva de emborrachado, gorro, máscara, óculos de
proteção, bota emborrachada, calça, blusa cumprida, caixa de isopor, gelóx e
coletores com conservantes fornecidos pelo Laboratório de Análise Ambiental.
Foram coletados 400 ml de “chorume”, cuja amostragem consistiu em
quatro áreas distintas do aterro sanitário e distribuídos em quatro coletores.
Cada coletor continham os corantes necessários para a análise dos seguintes
microorganismos: Cianobactéria: Vidro âmbar com lugol; Contagem de
bactérias heterotróficas: Coletor com Polipropileno com Tiossulfato 1,8%;
Enterococcus sp.: Coletor com Polipropileno com Tiossulfato 1,8%; Escherichia
Coli: Coletor com Polipropileno com Tiossulfato 1,8%.
O método foi realizado Laboratório ASL Analises Ambiental em 08 de
Novembro de 2012. Utilizou-se para a contagem das bactérias E. coli e
Enterococcus sp. a técnica da membrana filtrante, o procedimento de
Inoculação em Profundidade (Pour-Plate) para a contagem das bactérias
heterotróficas, e para quantificar as Cianobactérias foi utilizado a técnica de
Utêrmol, o método baseou-se na concentração dos microrganismos em
câmaras de sedimentação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme os dados descritos na Tabela 1, o município de
Guanambi/BA, não está em conformidade ao Plano de Gerenciamento de
Serviços de Saúde. Tais valores indicam a presença de agentes bacterianos,
digo, de microrganismos capazes de disseminarem doenças. De acordo com a
procedência dos dados do INEMA (2011), aos 29 (vinte e nove) dias do mês de
Julho de 2011, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos - INEMA
através do seu Técnico credenciado aplica o Autor de Infração de Advertência
à Prefeitura Municipal de Guanambi pela disposição inadequada de resíduos
sólidos urbano em área de lixão, com deposição dos resíduos diretamente no
solo, fora das valas, com acesso facilitado a animais domésticos e catadores,
com presença de abrigos e queima efetiva em diversos pontos.
Tabela 1- Resultados encontrados dos microorganismos em estudo
Parâmetro
Unid
LQ
VMP
Resultados
Densidade de Cianobactérias
cel/ml
1
NA
<LQ
1
NA
>5.700
Contagem
de
Bactérias UFC/ML
Heterotróficas
Enterococcus sp.
UFC/100ML
1
NA
200
Escherichia coli
UFC/100ML
1
NA
100
OBS: Os valores obtidos são multiplicados por 100. Fonte: Laboratório São Lucas, 2012.
Foi constatado também na via de acesso ao aterro sanitário do
município, às margens da estrada, um ponto de deposição de material de
construção (entulho) com indício de queima. A infração foi contada durante
inspeção técnica realizada no dia 27 de Julho de 2011 às 15h06min no
município de Guanambi (Coordenadas Geográficas DATUM SAD 69 – em
décimo de grau: Lat: S 1419463º e Long: W 42, 80784º).
A agressão causada por esses resíduos ao solo acarreta a
disseminação de doenças tornando um problema de caráter epidemiológico
(ciência básica preventiva da saúde pública). Dado o risco latente, embora não
foi possível identificar a tipologia de cepas, consideramos a necessidade de
uma discussão mais minuciosa dos respectivos agentes
patogênicos
identificados em nossa amostragem.
De acordo com a tabela 1, a Escherichia coli foi considerada positiva
no solo. O valor encontrado foi de 10.000 UFC/ml. Segundo Jorge (2010), a E.
coli faz parte da família das Enterobacteriaceae, são bactérias anaeróbicas
facultativas (vive tanto na presença como na ausência de oxigênio) e são parte
da microbiota normal do homem. O homem elimina mais de 10 8 células de E.
coli por gramas de fezes.
Silva et al. (2002), diz que a E.coli é um microrganismo patogênico
presente nos RSS, com capacidade de persistência ambiental.
Estes microrganismos fazem parte da microbiota normal do homem, de
acordo com Murray et al. (2004), essas bactérias estão associadas a uma
variedade de doenças devido à capacidade de profusão de cepas que causam
diversas doenças, de intensidade variada. A título de ilustração, sabemos que a
sepsemia, ITU (infecção do trato urinário), meningite e gastrenterite. Esses
microrganismos possuem antígenos importantes denominados “O” (somático),
“H” (flagelares) e “K” (capsulares) que são utilizados para classificar
microrganismos isolados.
As cepas de cepas de E. Coli possuem inúmeras adesinas altamente
especializadas. Eles incluem os antígenos relacionados ao fator de colonização
(CFA/I, CFA/II, CFA/III), fimbrias agregativas de aderência (AAF/I, AA/FIII), pili
formadores de feixe (Bfp), intiminas, pili P (que também se ligam ao antígenos
de grupo sanguíneo P), proteína Ipa (antígeno de invasão do plasmídio) e
fimbrias Dr ( que se liga aos antígenos Dr de grupos sanguíneo).
A E. coli também produz um grande numero de exotoxinas. Elas
incluem a toxina Shiga (Stx-1, Stx-2), toxinas termoestáveis (STa e STb) e
toxinas termolábeis ( LT-I e LT-II). Além desses fatores, temos as hemolisinas
(HlyA), que são as consideradas importantes na patogenia da doença causada
por E. coli uropatogênica. Os mecanismos precisos de ação dessas toxinas são
descritos nas seções subsequentes.
A espécie da E. coli possui seis grupos de cepas capazes de causar
gastrenterite, que serão discutidas a seguir (JORGE, 2010).
A- E. coli enterotoxigênica (ETEC): é observada com facilidade em
países em desenvolvimento. A infecção ocorre através da ingestão de água e
alimentos contaminados. Há evidências que essa bactéria possa ser
transmitida por contato pessoal, em berçários e enfermarias de pediatria.
Através de pili (conhecidos como fímbrias) as bactérias colonizam as células do
intestino delgado e liberam duas classes de enterotoxinas: termolábeis (LT-I,
LTII) e termoestáveis (STa STb) , acarretando ao paciente diarreia aquosa,
cólicas abdominais, náuseas e vômitos persistindo em média de 3 a 4 dias
(TRABULSI & TOLEDO, 1991).
B- E. coli enteroinvasiva (EPEC): ocorre pela ingestão de água ou
alimentos contaminados, os bacilos aderem-se á mucosa intestinal. No início a
doença apresenta diarreia aquosa, e em casos mais graves podem invadir as
células e causar sua morte, nesta fase da doença há a presença de sangue,
leucócitos e muco nas fezes. Esses microrganismos transportam seus genes
bacterianos em um plasmídeo para invadir e colonizar o epitélio do intestino
grosso (JORGE, 2010).
C- E. coli enteropatogênica (EPEC): é o principal agente envolvido em
diarreia infantil em países pobres. A doença ocorre normalmente em crianças
com pouca idade e raramente em adultos devido ao desenvolvimento da
imunidade protetora do organismo. As EPEC se localizam preferencialmente no
intestino delgado, normalmente, a bactéria é transmitida em berçários de
hospitais e por contato pessoal (JORGE, 2010).
D- E. coli enterohemorrágica (EHEC): são as cepas mais comuns a
causar doença em países desenvolvidos. Segundo Murray et al. (2004), essas
bactérias causam mais de 100.000 infecções e quase 100 mortes por ano, a
contaminação
ocorre
geralmente
em
ambientes
hospitalares.
Esses
microrganismos possuem uma verotoxina a qual bloqueia a síntese proteica,
causando a morte celular. Levando a uma diarreia abundante com presença de
sangue, em pacientes com Síndrome Urêmica Hemolítica (JORGE, 2010).
E- E. coli enteroagregativa (EAEC): esse microrganismo provoca
diarreia aguda e crônica, com mais de quatorze dias de duração nos
indivíduos, caracteriza-se por apresentar aderência às células humanas,
ocasionando lesão da mucosa intestinal, e diarreia secretora de muco
(JAWETZ, 2001).
F- E. coli difusamente aderente (DAEC): a doença ocasionada é uma
diarreia aquosa, observada principalmente em crianças de 1 a 5 anos de idade.
Esses microrganismos estimulam o alongamento das microvilosidades devido
às bactérias estarem alojadas na membrana celular (MURRAY et al., 2004).
A contagem de Enterococcus sp. foi considerada positiva, com valor
obtido de 200.000 UFC/ml. É importante resaltar que esta bactéria não faz
parte da microbiota normal do homem, são bactérias causadoras de infecção
hospitalar. (JORGE, 2010). Suas características fenotípicas são: cocos grampositivos não formadores de esporos ocorrem isolados e em pequenos pares e
cadeias, são anaeróbicas facultativas, necessitam de complexo alimentar e um
metabolismo fermentativo para produzir ácido lático como principal produto
para fermentação de glicose.
Segundo Murray (2004), esses microrganismos são os patógenos
hospitalares mais temidos, uma vez que muitas cepas são totalmente
resistentes a todos antibióticos convencionais. A transmissão ocorre por
contato pessoal entre pacientes e funcionários hospitalares, e podem ser
transmitidos por materiais médicos, consumo de água ou alimentos
contaminados. As infecções pelos Enterococcus sp. incluem a do trato urinário,
feridas, trato biliares e infecção
sanguínea .
Podendo desenvolver uma
meningite e bacteremia em recém-nascidos e nos adultos podem provocar
endocardite que é uma complicação grave de bacteremia que causa uma alta
taxa de mortalidade.
Os Enterococcus sp. podem ser do gênero E. faecalis ou E. faecium,
os quais normalmente promovem colonização e infecções em humanos, onde a
E. faecalis são encontrados no intestino grosso, e constituem 85 a 90% dos
Enterococcus sp. identificados, sendo essa espécie a menos propensa ao
desenvolvimento de resistência. E. faecium é semelhante, mas esses
microrganismos são encontrados com menor prevalência, variando de 5 a 10%,
entretanto apresenta maior propensão ao desenvolvimento de resistência
(JORGE, 2010).
Esse alto índice de contaminação se explica devido ao fato da
durabilidade do microrganismo, que varia de 8 a 77 dias, em materiais
infectados dispostos no chorume do lixo.
Conforme o valor obtido na figura 1, a densidade das Cianobactérias
não foi considerada significativa. A maioria das espécies crescem em
ambientes de água doce com pH alcalino (6-9), com temperaturas elevadas, e
em alta concentração de nutrientes na qual os principais são nitrogênio e
fósforo, há também as espécies que se desenvolvem em solos e rochas, com
capacidade de sobrevivência de 6 a 12 meses (FUNASA, 2003).
Algumas famílias de cianobactérias liberam substâncias altamente
tóxicas causando risco para a saúde humana, são as chamadas de
cianotoxinas. Tendo como principais vias de contaminação a ingestão de água,
contato direto com a cianobactéria no ambiente e consumo de peixes
contaminados (MOLICA & AZEVEDO, 2009).
Elementos como água, dióxido de carbono, substâncias inorgânicas e
luzes são de suma importância para a sobrevivência das cianobactérias. As
cianotoxinas possuem substâncias químicas diversificadas, que atuam em
mecanismos específicos nos vertebrados. Dentre elas podemos citar as
neurotoxinas que agem como um potente bloqueador neuromuscular póssináptico; hepatotoxinas apresentam ação mais lenta podendo causar a morte
em poucas horas ou até mesmo dias, e as endotoxinas pirogênicas que irritam
ao entrar em contato com a pele (FUNASA, 2003).
Apesar da pouca relevância no resultado das Cianobactérias no
presente estudo, esse microrganismo deve ser levado em consideração nos
aterros sanitários, se levarmos em conta que em períodos de chuva elas se
proliferam acarretando doenças ou até a morte de pessoas que convivem neste
ambiente, como os catadores de lixo.
As bactérias heterotróficas incluem todas as bactérias que usam
nutrientes orgânicos para o seu crescimento, sendo encontradas no solo, água,
alimentos, vegetação e ar (ALLEN, 2004). Essa bactéria não pode ultrapassar
o valor de 500 UFC/mL, podendo causar riscos à saúde humana (BRASIL,
2004).
A contagem de organismos heterotróficos pode refletir o nível de matéria
orgânica assimilável pela microflora presente. O Staphylococcus aureus são
bactérias gram-positiva, anaeróbios facultativos (vivem tanto na presença como
na ausência de oxigênio) e não formadores de esporos. Produzem
enterotoxinas termorresistentes que causam doença ao homem por intoxicação
estafilocócica.
Pseudomonas aeruginosas são bastonetes curtos e gram-negativos, é
responsável pela maioria dos casos de infecções no homem, sendo um
microrganismo oportunista causador de doenças somente em condições
especiais.
A Mycobacterium tuberculosis, é uma micobactéria aeróbia obrigatória
(não vivem sem a presença de oxigenio), imóvel, em forma de bastão, dividese a cada 16-20 horas, podendo resistir a desinfetantes fracos e
ácido
gástrico. Sobrevivem em estado latente por semanas, consegue desenvolver
apenas quando se hospeda em algum organismo, sendo microbactérias de
crescimento rápido, patógenos oportunistas geralmente associados com
infecções pós-operatórias (MACEDO, 2009).
Gostaríamos de destacar a importância deste estudo, tendo em vista
que os agentes patogênicos identificados, detêm uma significativa capacidade
de resistir em ambientes externos ao corpo humano. Adendo motivo de
preocupação, se levarmos em conta que quanto maior a resistência dos
microrganismos, maiores são as chances de contágio socioambiental. Ditos
assim os microrganismos tem a capacidade de sobrevivência no solo de um
longo tempo a Escherichia coli a durabilidade é maior que 24 dias de vida,
Enterococcus varia de 8 a 77 dias e a Cianobactérias é de 6 a 12 meses.
Observa-se uma resistência dos agentes patogênicos ao meio externo
humano em proporções variadas. Ela também assinala que a modernização
vem acompanhada de contradições. Queremos, com isso, argumentar que,
embora reconheçamos os avanços e ganhos obtidos na área de saúde, fato
que se reflete na melhoria da qualidade de vida e na longevidade do homem,
não pode deixar de destacar que o descarte inadequado dos lixos produzidos
pelos serviços de saúde tem gerado conseqüências paradoxais. Assemelhando
ao mito de sísifo, tendo em vista que cura-se de um lado, e, de outro, provocase agressões ao meio equilíbrio ambiental – retirando a sua homeostase (autoequilíbrio) – e ao bem-estar do ser humano. Consideramos, então, que o
manuseio e destino dos lixos na área de saúde sigam a legislação vigente,
pois, segundo recente decreto do Governo Federal, os municípios que não se
adequarem ao que está regulamentado serão passíveis de restrição ao
bloqueio de verbas públicas.
A sociedade moderna vive em circulo vicioso, onde o homem necessita
de novos produtos, consequentemente haverá mais produção de lixo, que
gerenciados de forma inadequada serão descartados no solo causando dano
ambiental e disseminação de doenças.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em sua NBR
12.807/93, define: Resíduo infectante sendo aquele gerado em serviço de
saúde que tem como características de maior virulência, infectividade e
patógenicidade, apresentando risco potencial adicional à saúde pública.
Segundo o CONAMA (1993), é de total responsabilidade dos institutos
produtores dos RSS fazer o gerenciamento dos seus resíduos sólidos, de
maneira que não prejudique a saúde pública e ambiental.
De acordo Sales et al. (2009), a normatização do gerenciamento dos
RSS
é regulada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
através da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 306/044, e o Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a Resolução nº 358/055, que
definiram as diretrizes sobre o gerenciamento dos Resíduos Sólidos de Serviço
de Saúde (RSSS), considerando princípios da biossegurança, preservação da
saúde pública e do meio ambiente.
Em 2005, foi publicada pelo CONAMA e ANVISA a Resolução nº 5, que
classifica os resíduos de saúde em cinco grupos: A, B, C, D e E. Nos quais,
este estudo enquadra-se no grupo A que são os resíduos que apresentam risco
potencial à saúde pública e ao meio ambiente, por conter agentes biológicos
como materiais que tenham entrado em contato com secreções.
Segundo Tenório & Espinosa (2004), o gerenciamento de resíduos
abrange desde o manejo, planejamento, fiscalização e regulamentação dos
resíduos. Esses resíduos de serviço de saúde devem ser segregados em seu
próprio local de origem, com a finalidade de separar o lixo infectante do não
infectante, e em seguida prosseguir para sua destinação de tratamento.
Atualmente, a forma de tratamento mais utilizada no PGRS é a Incineração,
onde as cinzas e escórias geradas devem ser destinadas ao Aterro Sanitário.
CONCLUSÕES
Diante das questões abordadas pelo presente estudo, pode-se afirmar
que há presença de um possível desequilíbrio socioambiental ocasionada pela
destinação inadequada dos RSS, gerando disseminação de doenças e
agressão ao meio ambiente. Foi evidenciado, que os microrganismos
analisados são causadores de infecções e possuem capacidade de
sobrevivência aos fatores externos do meio ambiente. Importante salientar que
dentre os patógenos encontrados os Enterococcus sp. são de caráter mais
relevante, devido serem responsáveis pelos maiores índices de contaminação
tardia, podendo levar o indivíduo à óbito.
É necessária uma fiscalização rigorosa dos órgãos responsáveis pelo
mesmo para que o município de Guanambi siga o PGRSS conforme a
legislação em vigor, Lei nº 12.305/2010, regulamentada pelo Decreto Lei nº 7.
404/2010. A falta de recursos financeiros para implantar esse plano pode
também ser um fator agravante, mas não isenta o município da sua
responsabilidade. Uma forma adequada de solucionar tal questão seria aliar a
educação e o treinamento dos profissionais de saúde esclarecendo sobre
biossegurança, prevenção do meio ambiente, ética e responsabilidade. Para
isso, é relevante a importância de mais estudos sobre os patógenos
encontrados e seu grau de contaminação socioambiental.
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