Mutação e evolução

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Mutação e evolução
Porque tanta confusão em torno da palavra “evolução”?
Na teoria da evolução, a palavra “evolução” não está ligada a
uma noção teleológica.
Aristóteles
Filósofo grego
-
Aristóteles, filósofo grego, teria afirmado, que
metafísicamente, existem quatro categorias de causas. Elas
seriam: causa material, causa formal, causa eficiente e causa
final.
Imaginem um escultor criando uma estátua. Com este exemplo
poderemos enquadrar as categorias dadas por Aristóteles. A
causa material da estátua é a matéria que ela é formada; neste
caso poderia ser o mármore. A causa formal é a forma de
estátua imaginada pelo escultor. A causa eficiente e aquela
que gera a estátua, neste caso o escultor. A causa final, ou
telos, é a finalidade desta estátua.
Pois bem, analisando de forma um pouco mais linguística estas
causas metafísicas, veremos que elas possuem conotações
semânticas diferentes, por isso podem ser enquadradas em
diferentes categorias.
Nos últimos tempos tenho encontrado, seja por parte de
criacionistas ou não, confusões semânticas dentro das palavras
evolução, mutação etc. Algumas destas confusões podem ser
esclarecidas, elucidando nuances semânticas relacionadas a
diferentes concepções de causas, a meu ver.
Em debate com alguns criacionistas, consegui detectar certas
sutilezas semânticas, que por sua vez alguns daqueles com quem
conversei não se deram conta da diferença empregada,
transformando alhos em bugalhos.
A língua transmite a respeito de coisas e fatos no mundo e as
línguas naturais possuem, naturalmente, ambiguidades.
Este é, inclusive, um dos motivos para que emprego o princípio
da caridade.
(Tenho um artigo sobre o assunto).
[meuadsense]
O sentido empregado de “evolução” em evolucionismo não é de um
telos, ou de um modelo para uma causa final. Evolução é
empregada como “mudança” nas características das espécies, por
mecanismos que podem ser estudados em teorias e hipóteses
científicas.
Quando fala-se que x evoluiu para y não se está dizendo que y
já era esperado como um resultado cabal de x. Mas sim que, por
este mecanismo da natureza, y veio de x e que agora não seriam
mais idênticos, apesar de poderem carregar algumas
características em comum.
A palavra evolução sugere melhora frente a um contexto, ou
plano de fundo, que é o estado de natureza atual de um
habitat. A confusão surge, quando se acha que a palavra
“evolução” está solta deste contexto e sugerindo um telos a
atingir, independente deste contexto.
Na teoria da evolução, uma espécie que evoluiu, foi por uma
mutação aleatória que ocorreu e não foi letal, além de ter a
favorecido frente ao ambiente. Por este motivo ela sobrevive.
Se o contexto, ou plano de fundo mudar, pode ser que esta
mutação (e consequente evolução de espécie) torne-se ineficaz
para sobreviver.
Quando alguns criacionistas sugerem o “design
estão sugerindo que existe uma causa eficiente
modelo (design) que seria uma causa formal e de
modelou espécies com uma causa material (pode
caso seja um criacionismo cristão).
inteligente“
que criou um
alguma forma
ser o verbo,
Se, no final das contas, o design inteligente for uma teoria
realmente científica, ela pode estar deliberadamente em bases
conceituais diferentes do evolucionismo (e portanto em outro
paradigma, provavelmente inspirado num paradigma religioso).
Entretanto ela terá de passar por um crivo importante: o
método científico. Atualmente o design inteligente está
envolto em diversos problemas quanto a ser de fato uma
ciência.
A crítica ao evolucionismo por base em um argumento que não se
dá conta da confusão semântica entre utilizações da palavra
evolução no contexto da teoria, torna-se uma crítica externa e
que é superficial.
Encontrei este tipo de argumento (contra a evolução) uma certa
vez, quando disseram que evolução não significa mutação (com
razão, se usar o sentido de evolução como sinônimo de
“aperfeiçoar”, lançar a um telos) e que mutação traz somente
letalidade ao indivíduo, pois mutações em DNA trariam
problemas ao indivíduo o levando a letalidade (premissa
falsa).
Mas, se analisarmos melhor, veremos que este argumento surge
de uma confusão, também, no fundo, semântica. Bem, examinemos
melhor este argumento:
a) Mutação não é evolução (certo, se você está tratando
evolução como “aperfeiçoar”. Se tratar como “mudanças diante
um crivo do contexto, do plano de fundo da natureza, esta
afirmação não é acertada).
b) Mutações sempre levam a letalidade do indivíduo que sofreu
a mutação. (hipótese falsa, pois temos casos de mutações que
não trazem a letalidade e podem ser re-trasmitidas, como a
polidactilia [existência de mais de cinco dedos em pés e/ou
mãos] e ainda o caso do recente vírus A H1N1, conhecido
popularmente como “gripe suína” que ganhou, num paciente na
dinamarca, imunidade ao medicamento tamiflu devido a uma
mutação do vírus (1)).
Vírus Influenza
(1) – O vírus também sofreu outra mutação a ponto de mudar
levemente uma de suas proteínas, detectada em São Paulo, sem
agravamento aparente da agressividade da doença. Portanto
existem mutações que podem passar pelo crivo do ambiente e
não fazer aparentemente nada, como esta mutação que alterou
levemente a produção de uma proteína, ou favorecer o vírus
como a mutação ocorrida na dinamarca que deixou o vírus mais
resistente ao medicamento tamiflu. Dentro do rol de mutações,
existe a possibilidade de indivíduos terem mutações letais,
como as doenças genéticas. Assim, uma mutação pode favorecer,
nada fazer ou desfavorecer um indivíduo. (NOTA MINHA).
Por sua vez a palavra “mutação” está relacionada a uma mudança
em características da espécie, que via de regra, está
associada a uma mudança de informação no genoma. Com base em
genomas de diferentes espécies pode-se chegar ao grau de
parentesco de uma espécie com outras, compartilhando certos
trechos genéticos.
Assim notamos que quando alguém utiliza um argumento, como o
exposto (que mutação é sinônimo de letalidade), é um erro em
identificar que nem todas mutações são letais. Querer igualar
o significado da palavra mutação como necessariamente “erro
genético letal” é, em suma, um erro.
Problemas semânticos devem ser desfeitos para entendimento e
críticas em teorias. Noto que muitos podem passar
despercebidos devido ao fato da crítica também estar embasada
num conjunto de conceitos de um paradigma.
Portanto, caros leitores, sugiro cuidado com os argumentos que
ignoram estas sutilezas – eles podem ser falaciosos e
sofismáticos.
Arnaldo Vasconcellos
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