USO DE BACTÉRIAS ÁCIDO-LÁTICAS NA RAÇÃO

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USO DE BACTÉRIAS ÁCIDO-LÁTICAS NA RAÇÃO DE CAMARÃO MARINHO
Klayton Natan MORAES1, Camylla CAPELLARI2, Jorge Pedro RODRIGUES-SOARES³, Adolfo JATOBÁ4.
1
Bolsista 168/2014 PIBIC/CNPq 2Bolsista 170/2014 PIBIC-EM/CNPq, ³Pesquisador UFSC, 4Orientador IFC-Campus
Araquari.
Introdução
A utilização de probióticos suplementados as dietas com capacidade de aumentar a
imunocompetência dos organismos aquáticos (JATOBÁ, 2008; JATOBÁ et al., 2011;
JATOBÁ e MOURIÑO, 2015) são amplamente conhecidos. E nas dietas comerciais de
camarões marinhos, a farinha de peixe é a principal fonte proteica utilizada por apresentar um
bom perfil de aminoácidos essenciais, ácidos graxos essenciais, vitaminas, minerais, além de
possuir boa palatabilidade e disgestibilidade (SOOKYING, DAVIS, SILVA, 2013).
Entretanto, sua produção está estagnada e seu valor de mercado oscila de acordo com a
disponibilidade e demanda do mercado (TACON, 2009).
O uso de fontes proteicas de origem vegetal tornou-se o foco dos estudos de
substituição de proteína marinha na alimentação de camarão em todo o mundo por causa de
seu nível de proteína aceitável, conteúdo de aminoácidos adequado, oportunidades
econômicas, qualidade consistente e ser considerado um ingrediente renovável (SOOKYING,
DAVIS, SILVA, 2013). Entretanto não há registros do efeito da substituição da fonte proteica
das dietas sobre os probióticos.
O objetivo deste trabalho foi avaliar propriedades físicas e microbiológicas da
aplicação do Lactobacillus plantarum em dietas com diferentes fontes proteicas, farinha de
peixe e concentrado proteico de soja.
Material e Métodos
O trabalho foi realizado no Laboratório de Aquicultura do Instituto Federal
Catarinense câmpus Araquari, em conjunto com o Laboratório de Camarões Marinhos (LCM)
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Foram formuladas duas diferentes dietas (Tabela 1) isoenergéticas, com diferentes
níveis de substituição proteica da farinha de peixe pelo concentrado proteico de soja (0% e
100%). E uma cepa de bactéria acido-láctica probiótica, identificada como L. plantarum no
Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) com n° de
acesso CPQBA 007‑07 DRM01 (VIEIRA et al, 2013). As dietas experimentais foram
suplementadas de acordo com Jatobá et al. (2008).
Tabela 1. Formulação de dietas experimentais para de camarões marinhos (L.vannamei), com diferentes fontes proteicas.
Fonte Proteica
Ingrediente
Farinha de peixe
Concentrado Proteico de Soja
Farinha Peixe (590 g.kg-1 PB)
208,7
0,0
¹Concentrado Proteico de Soja
0,0
171,6
Farelo de Soja (450 g.kg-1 PB)
350,0
350,0
Quirera de Arroz
80,0
80,0
Farinha de Trigo
250,0
250,0
Lectina de soja
15,0
15,0
Óleo Peixe
6,2
25,1
Óleo de Soja
20,0
20,4
Cloreto de Potássio
15,0
9,1
Cloreto de Sódio
15,0
15,0
Sulfato de Magnésio
8,0
8,0
Vitamina-C
0,3
0,3
Caulim
8,8
26,6
Fosfato Monocálcico
20,0
0,0
²Premix vitamínico-mineral
15,0
15,0
Gordura de origem marinha
25,1
24,8
¹Composição centesimal, 63,07% proteína bruta, 1,38% de extrato etéreo, 4,66% fibra bruta, 6,79% umidade e voláteis, 6,32% material mineral, 17,78% extrato não nitrogenado, 1,38%
extrato por hidrólise ácida, 4.426,0 cal.g -1; ¹Aminograma Ácido Aspártico 6,67%; Ác. Glutâmico 10,03%; Serina 2,65%; Glicina 1,90%; Histidina 1,68%; Arginina 3,69%; Treonina
1,74%; Prolina 2,73%; Tirosina 1,69%; Valina 2,73%; Metionina 0,71%; Metionina + Cistina 1,37%; Isoleucina 2,82%; Leucina 4,99%; Fenilalanina 3,04%; e Lisina. 3,92%.²Níveis de
garantia por quilo do produto: vit. A – 10.000.000 UI; vit. D3 – 2.000.000 UI; vit. E – 30.000 UI; vit. B1 – 2,0 g; vit. B6 – 4,0 g; ácido pantotênico– 12,0 g; biotina – 0,10 g; vit. K3 – 3,0 g;
ácido fólico – 1,0 g; ácido nicotínico – 50,0 g; vit. B12 – 15.000 mcg; Se –0, 25 g; e Veículo q.s.p– 1.000 g; PB (Proteína Bruta)
Depois de produzidas as dietas com diferentes fontes próteicas e incorporação do
probiotico, foi estabelecido um delineamento experimental fatorial (2x2), fonte próteica (fator
1), farinha de peixe ou concentrado proteico de soja; e dieta suplementada (fator 2) com
próbiotico ou não (controle), totalizando 4 diferentes tratamentos.
A flutuabilidade das dietas foi avaliada através da coleta de amostras de 1g de cada
um dos tratamentos e colocada em recipiente com água (3% NaCl). Os pellets flutuantes
foram coletados e contados para que possa ser estimado o porcentual de flutuantes. Para que
tal cálculo esteja correto, é necessário que se determine, previamente, o número de pellets por
grama de cada ração utilizada (adaptado da ABCC, 2014).
Para a avaliação da desintegração das dietas foram retiradas três amostras de 1g de
todos os tratamentos e submergidas em água (3% NaCl). A desintegração foi avaliada durante
o período de quatro horas em intervalos de 30 (trinta) minutos.
Para a verificação da taxa expansão dos pellets foram coletadas amostras de todos os
tratamentos, medido o diâmetro inicial com paquímetro, colocados em água (3% NaCl) por o
período de 3 horas, depois de retirados da água foram medido o diâmetro final, assim
obtendo-se a taxa de expansão.
Após a produção das dietas (dia 0), três amostras de 1,0 g foram macerados e
diluídos serialmente (fator 1:10) em solução salina estéril 0,65%. As amostras de cada
diluição foram semeadas em meio Plate Count Agar e Agar MRS, e incubados por 48h a
30°C, para contagem de bactérias heterotróficas totais e ácido-láticas, respectivamente. E
semanalmente, as bactérias ácido-láticas presentes na dieta foram quantificadas.
Os dados foram previamente submetidos a analise de Bartlett para verificar a
homogeneidade de variância, após este teste os valores das contagens microbiológicas foram
transformados para log(x + 1). Posteriormente todos os dados, foram submetidos à análise de
variância bifatorial. Quando detectada diferença significativa, foi utilizado o teste Student
Newman Keuls (SNK) de separação de médias. Todos os testes utilizaram um nível de
significância de 5%.
Resultados e discussão
Ambas as dietas avaliadas, com ou sem a suplementação do probiótico obtiveram 0,0
± 0,0 % de flutuabilidade. Devido ao hábito bentônico dos animais, a presença de toda ração
no fundo reduz o desperdício de alimento, consequentemente o custo de produção em relação
a dieta. Em dietas de peixe com 22 e 36% de proteína bruta (PB), não foram observadas
diferenças significativas na flutuabilidade e densidade das dietas, após suplementação com
bactérias ácido-láticas (Schazmann et al., 2013).
A ração com FP como fonte proteica, independente da presença do probiótico, não
desintegrou durante o tempo avaliado (4 horas), enquanto as dietas com o CPS desintegraram
entre 2,5 e 3 horas, independente da presença dos probióticos. A FP manteve a ração integra
por um período maior (acima de 4 horas), provavelmente devido ao maior poder de
aglutinação deste ingrediente. Este resultado da integração corroborou com a expansão dos
pellets, pois as dietas com a FP apresentaram menor expansão nas quatro semanas
experimentais em relação às dietas com CPS para mesmo período (Tabela 2).
Tabela 2. Expansão média (%) das dietas de dietas com diferentes fontes proteicas, suplementadas ou não com probiótico.
Tratamento
Semanas
Ingrediente (F1)
Probiótico (F2)
0
1
2
3
4
Suplementado
25,0 ± 0,0
26,7 ± 2,9
25,0 ± 0,0
25,0 ± 0,0
25,0 ± 0,0
Farinha de peixe
Não suplementado 25,0 ± 0,0
25,0 ± 2,9
25,0 ± 0,0
25,0 ± 0,0
25,0 ± 0,0
Suplementado
53,3 ± 2,9
51,7 ± 2,9
55,0 ± 0,0
40,9 ± 0,0
47,6 ± 0,0
Concentrado proteico
de soja
Não suplementado 55,0 ± 0,0
55,0 ± 0,0
55,0 ± 0,0
42,4 ± 2,6
47,6 ± 0,0
Após a inclusão do probiótico, ambas as dietas suplementadas apresentaram maior
contagem de bactérias heterotróficas totais e ácido-láticas em relação às dietas não
suplementadas. E nas dietas não suplementadas, a produzida com FP apresentou menor
contagem de bactérias heterotróficas totais em relação à dieta com farinha de peixe (Figura 1).
Schaztmann et al. (2013) observaram maior contagem de bactérias ácido-láticas em dietas
comerciais, com 22 e 36% de PB, suplementadas com Lactobacillus plantarum corroborando
com os dados obtidos neste trabalho.
Log (x+1).g-1 de ração
Bactérias ácido-láticas
Bactérias heterotróficas totais
10,0
8,0
A
a
a
A
B
6,0
C
4,0
2,0
b
b
0,0
CPS
FP
CPS
Suplementado
FP
Não suplementado
Figura 1. Contagem de bactérias heterotróficas e ácido-láticas totais das dietas fabricadas com farinha de
peixe (FP) e concentrado proteico de soja (CPS), com e sem suplementação do probiótico. Letras minúsculas
indicam diferenças significativas (p>0,05) nas contagens de bactérias ácido-láticas, e letras maiúsculas
indicam diferenças significativas (p>0,05) nas contagens de bactérias heterotróficas totais.
Ao avaliar a permanência do L. plantarum durante quatro semanas, na segunda e
terceira semana a dietas fabricada com CPS apresentaram contagem 10X maior de bactérias
ácido-láticas em relação à dieta com FP, enquanto no tempo inicial (0), primeira e quarta
Log (x+1).g-1 de ração
semanas não foram observadas diferenças significativas entre as dietas (Figura 2).
8,0
7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
*
*
Concentrado Proteico de
Soja
Farinha de Peixe
0
1
2
Semanas
3
4
Figura 2. Contagem de bactérias ácido-láticas nas dietas fabricadas com farinha de peixe (FP) e concentrado proteico de soja (CPS), com e
sem a suplementação do probiótico ao longo de quatro semanas. *indicam diferenças significativas (p>0,05) nas contagens de bactérias
ácido-láticas entre os tratamentos.
Uma das características de um micro-organismo probiótico é sua capacidade de se
manter vivo dentro da microbiota dos hospedeiros. E uma dos seus mecanismos de ação é
competição por espaço (Gatsoupe, 1998). Considerando 1,0 x 104 UFC por grama de ração é
um concentração baixa, dificultando a ação dos probióticos, a dieta fabricada com CPS
apresentou uma semana a mais de viabilidade em relação a dieta produzida com FP, isto pode
está relacionado com diferença do perfil de aminoácidos, forma como estão disponíveis,
assim como a capacidade das bactérias ácido-láticas de fermentar diversos açucares, em
especial a sacarose presente na soja (REFSTIE et al., 2005).
Conclusão
O probiótico não interferiu nas características físicas das dietas, independente da
fonte proteica, assim como os ingredientes não interferem na aplicação do Lactobacillus
plantarum. O CPS possibilita uma menor frequência de inclusão do L. plantarum, pois
manteve as contagens acima de 105 UFC por g de ração uma semana que a dieta com FP.
Referências
Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC). Código de conduta e de boas
práticas de manejo para as fazendas de engorda de camarão marinho, 2° edição, pp.54,
2014.
GATESOUPE, F. J. The use of probiotics in aquaculture. Aquaculture, v. 180, n. 1, p. 147165, 1999.
JATOBÁ, Adolfo et al. Lactic-acid bacteria isolated from the intestinal tract of Nile tilapia
utilized as probiotic. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 43, n. 9, p. 1201-1207, 2008.
JATOBÁ, Adolfo; MOURIÑO, José Luís Pedreira. Lactobacillus plantarum EFFECT ON
INTESTINAL TRACT OF Oreochromis niloticus FINGERLINGS. Ciência Animal
Brasileira, v. 16, n. 1, p. 45-53, 2015.
REFSTIE, Ståle et al. Lactic acid fermentation eliminates indigestible carbohydrates and
antinutritional factors in soybean meal for Atlantic salmon (Salmo salar). Aquaculture, v.
246, n. 1, p. 331-345, 2005.
SCHAZTMANN, Aline Sasha et al. Viabilidade de bactérias acido-láticas em dietas
comerciais com diferentes níveis proteicos. In: MOSTRA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA,
V, 2013, Araquari. Instituto Federal Catarinense, campus Araquari, 2013.
SOOKYING, D.; DAVIS, D. A.; SOLLER DIAS DA SILVA, F. A review of the
development and application of soybean‐based diets for Pacific white shrimp Litopenaeus
vannamei. Aquaculture Nutrition, v. 19, n. 4, p. 441-448, 2013.
TACON, Albert GJ et al. Feed ingredients and fertilizers for farmed aquatic animals:
sources and composition. Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO),
2009.
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