304 INDICADORES MORFOMÉTRICOS E CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DO ENTORNO DAS NASCENTES E DOS CURSOS D’ÁGUA COMO CONTRIBUIÇÃO AO PLANEJAMENTO AMBIENTAL André dos Santos Ribeiro, Mestre em Ecologia e Tecnologia Ambiental, [email protected] Gustavo Costa Teixeira, Mestre em Ciências Ambientais, [email protected] Ronaldo Luiz Mincato, Geólogo e Professor Adjunto IV Universidade Federal de Alfenas, [email protected] INTRODUÇÃO O principal propósito do planejamento ambiental é pensar na organização territorial e ambiental, que contribua para um equilíbrio entre estabilidade e racionalidade (RODRIGUEZ e SILVA, 2013). Assim, as normas legais vigentes amparadas e aliadas à racionalidade expressa em indicadores ambientais, tais como os índices morfométricos detalhados em Christofoletti (1980), podem apresentar importantes contribuições às análises ambientais e, consequentemente, às políticas de preservação e de manutenção dos sistemas naturais. Em termos legais, o Código Florestal Brasileiro estabelece as diretrizes sobre a proteção da vegetação nativa em todo o território nacional. Assim, estabelece as áreas prioritárias para proteção, como as Áreas de Preservação Permanente (APP), que são áreas que devem ser protegidas em locais de elevada fragilidade e/ou importância ambiental. São APP as faixas marginais de qualquer curso d’água natural, o entorno das nascentes, olhos d’água perenes, lagos e lagoas naturais e reservatórios artificiais, encostas com elevada declividade (45º) e topo de morros, montes, montanhas e serras (BRASIL, 2012). Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo O conceito fundamental que norteou a elaboração desta legislação foi o de funções ecológicas ou ecossistêmicas de Daily (1997), que são as constantes interações entre os elementos estruturais de um ecossistema, e isto inclui a transferência de energia, ciclagem de nutrientes, regulação de gás, regulação climática e do ciclo da água, que só podem ser consideradas como um todo e não como um somatório de partes. Por meio destas funções é possível compreender os serviços ecossistêmicos, que são os benefícios diretos e indiretos obtidos pelo homem com a preservação dos ambientes naturais, como a boa qualidade das águas. Com vistas a contribuir com o planejamento ambiental local, a partir das determinações legais de Brasil (2012) e dos indicadores morfométricos de Christofoletti (1980), foram feitos o cálculo de índices morfométricos e a caracterização dos usos do solo nas APP do entorno das nascentes e dos cursos d’água da subbacia hidrográfica do Ribeirão Pantano, sul de Minas Gerais. Os indicadores morfométricos serviram de base para considerações sobre o fluxo de energia e materiais do sistema natural e as APP revelam lugares de acentuada importância em termos de disponibilidade e qualidade da água e de atenuação dos impactos ambientais dos processos morfodinâmicos das vertentes. MATERIAIS E MÉTODOS Estruturada sobre embasamento geológico cristalino, com grande amplitude morfométrica, com solos predominantemente profundos, situada no bioma Mata Atlântica, o território natural da sub-bacia hidrográfica do Ribeirão do Pantano é importante para o abastecimento de agua e alimentos para o município de Pouso Alegre. O Ribeirão do Pantano é o principal afluente do Rio Mandu, rio que participa com 71% do abastecimento da cidade de Pouso Alegre (ANA, 2015), município com 142.072 habitantes (IBGE, 2014). Com 10.196 ha, sub-bacia do Ribeirão do Pantano abrange partes dos Municípios de Estiva e Pouso Alegre (Figura 1). Figura 1: Mapa de localização da sub-bacia hidrográfica do Ribeirão do Pantano. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 305 306 Os procedimentos metodológicos adotados obedeceram às seguintes etapas: digitalização, cálculo dos índices morfométricos em Sistema de Informação Geográfica (SIG), processamento digital de imagens, estabelecimento de relações topológicas de adjacência e recorte da área de interesse. Inicialmente foi feita no aplicativo ArcGIS 10.1 a digitalização do polígono da sub-bacia, da drenagem e das nascentes. Estes dados foram obtidos da carta topográfica em escala 1: 50.000 do IBGE (1971). Em sequência, a partir dos arquivos digitais, foram calculados os parâmetros de Densidade de Drenagem (Dd) e Índice de Rugosidade (Ct) a partir dos dados sobre a área, extensão da drenagem e amplitude altimétrica da sub-bacia (Tabela 1). Tabela 1: Índices morfométricos utilizados suas fórmulas matemáticas e significados. Parâmetro Densidade de Drenagem (Dd) Índice de Rugosidade (Ct) Fórmula Dd = Ct =Dd * H Significado Geral Quantidade de drenagem por área. Índices altos indicam áreas com pouca infiltração. (HORTON, 1945, apud CHRISTOFOLETTI, 1980). Relação da densidade com a amplitude altimétrica. Valores altos ocorrem em vertentes íngremes e longas e indica áreas susceptíveis a inundações “relâmpago”. (MELTON, 1957, apud CHRISTOFOLETTI, 1980). Legenda: A = Área; L = Extensão de todas as drenagens; H = amplitude altimétrica. A etapa do processamento digital de imagens consistiu na utilização de técnicas de realce e de classificação. A imagem utilizada foi feita pelo sensor Operational Land Imager (OLI) do satélite Landsat 8, nos canais espectrais 4 (R), 3 (G) e 2 (B), disponíveis em: <http://glovis.usgs.gov/>. Para realçá-la foi feita a composição colorida Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo de cor verdadeira, o realce do histograma de frequência de intensidade das células e a fusão com o canal 8, pancromático (15 x 15 m), no ArcGIS 10.1. Já para classificação foi feita a segmentação da composição colorida pelo método de similaridade dos tons de cinza no aplicativo ENVI 4.5. Após testes, os valores para o limiar de similaridade e para o limiar de área foram, respectivamente, 60 e 65. A partir destes valores, os segmentos foram agrupados conforme os atributos Spatial, Spectral, Texture, Color Space e Band Ratio e classificados de acordo com áreas amostradas na composição colorida. Já para as relações topológicas de adjacência foi utilizada a ferramenta buffer do ArcGIS 10.1. Assim, foi possível estabelecer as áreas com 30 m de adjacência à cada margem dos cursos d’água e o raio de 50 m das nascentes. Por fim o arquivo vetorial com os dados das áreas adjacentes às drenagens e nascentes foi utilizado como “máscara” para recortar o mapa de uso solo e destacar os usos nestas APP. RESULTADOS Conforme descrito, foi elaborado o mapa de usos do solo da sub-bacia hidrográfica do Ribeirão do Pantano e o recorte das áreas adjacentes às drenagens e nascentes (Figura 2). Os percentuais de uso nestas APP e os valores dos índices de Densidade de Drenagem e Índice de Rugosidade estão detalhados na Tabela 2. Figura 2: Mapa de uso do solo na sub-bacia hidrográfica do Ribeirão do Pantano. Tabela 2: Porcentagem por classe de uso do solo nas áreas de APP do entorno de nascentes e das margens dos cursos d’água, Densidade de Drenagem e Índice de Rugosidade da sub-bacia hidrográfica do Ribeirão do Pantano. Indicadores Ambientais Uso do Solo Porcentagem ocupada Densidade de Índice de Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 307 nas APP Pastagem Mata Culturas Temporárias Solo Exposto Café Urbano Eucalipto 54,30 40,23 3,60 1,50 0,18 0,11 0,08 Drenagem (Dd) Rugosidade (Ct) 2,1 (Média a Alta) 1.418 (Alto) As áreas de mata nativa ocupam 40,23% das APP, portanto, não cobrem metade da área total. Conforme Brasil (2012), estas áreas são prioritárias para conservação e restauração, devido aos serviços ambientais relacionados ao aumento da disponibilidade e melhoria da qualidade da água e atenuação dos impactos ambientais resultantes dos processos erosivos nas vertentes. Tal pressuposto torna-se mais relevante quando considerados os índices morfométricos, que diagnosticam ambiente vulnerável a processos morfodinâmicos. A Densidade de Drenagem indicou permeabilidade reduzida e escoamento superficial abundante e o Índice de Rugosidade caracterizou vertentes íngremes, com alta declividade e considerável extensão na sub-bacia. CONCLUSÃO A sub-bacia hidrográfica do Ribeirão do Pantano é retilínea, possui elevada declividade, favorece e acelera o escoamento superficial e, portanto, é naturalmente vulnerável a ocorrência de processos morfodinâmicos. Com vistas ao planejamento ambiental voltado a preservação dos serviços ecossistêmicos, visando garantir à disponibilidade e boa qualidade da água e atenuar os impactos ambientais dos processos morfodinâmicos, estas APP deveriam ser recuperadas com espécies nativas, sendo mais urgente as áreas com solo exposto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANA – Agência Nacional de Águas. 2015. Brasil: Atlas do abastecimento urbano. Brasília. URL: http://atlas.ana.gov.br/atlas/forms/analise/Geral.aspx?est=8. Acessado: 20/05/2015. BRASIL. Novo Código Florestal Brasileiro. 2012. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. URL: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acessado: 20/05/2015. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 308 CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blucher. 2ª ed. 1980. DALY, H.E.; FARLEY, J. 2004.Ecological Economics: principles and applications. Island Press, Washington, DC. 309 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 1971. Carta Topográfica de Pouso Alegre (SF-23-Y-B-II-1). Rio de Janeiro: IBGE. 1 mapa. color., Escala 1:50.000. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2014. Cidades: Pouso Alegre. Rio de Janeiro. URL: http://www.cidades.ibge.gov.br. Acessado: 20/05/2015. RODRIGUEZ, J. M. M; SILVA, E. V. Planejamento e Gestão Ambiental: subsídios da Geoecologia das paisagens e da teoria geossitêmica. Fortaleza: Edições UFC, 2013. 370 p. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo