1 170 ASPECTOS DA LÓGICA DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO CONCRETO Douglas Moraes Barroso [email protected] Mestrando em Geografia Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ Faculdade de Formação de Professores – FFP Introdução Ao produzir a base material e imaterial necessária para sua vida, o ser humano transforma por meio do trabalho e de suas praticas o espaço, e mais do que isso, ele produz a si próprio, onde o homem e espaço vão se ressignificando. Para entender o gênero humano e sua expressão coletiva, a sociedade, o espaço torna se categoria fundamental. Produzir e produzir espaço são dois atos indissociáveis. Pela produção o homem modifica a Natureza primeira, a natureza bruta, a natureza natural, (...) por essa forma que o espaço é criado como Natureza segunda, natureza transformada, natureza social ou socializada. O ato de produzir é, ao mesmo tempo, o ato de produzir espaço. (SANTOS, 2012, pg.203) A produção social do espaço tanto abarca o sentido universal da relação do homem e natureza mediatizados pelo trabalho, como particularmente se inscreve na lógica do conjunto de construções de uma rua. No espaço concreto o jogo de escalas se interpõe, onde cada parte tem relação com o movimento do todo, mas que ainda como parte de um todo tem suas peculiaridades. Essa ideia é ligada a teoria dos sistemas, sobretudo na noção emergencial onde a totalidade não é a simples soma das partes, tampouco a totalidade é suficiente para explica-las. Em cada nível da escala abordada revelam elementos peculiares, preservando-se uma complexa relação com o todo. Objetivos Muito das discussões sobre o espaço, mostram se pensadas a partir da escala macro, e de uma ótica estritamente teórico conceitual por vezes, pouco articulada à dimensão concreta, o que tem revelado limitações, quando na tentativa de aplicação destas acepções para explicação da realidade. Quando se está mais preocupado com a geografia em si mesma como ciência formalizada e pouco ou nada com aquilo que é, na realidade, seu objeto de estudo, ou seja, o espaço, corre-se o grande risco de cair no erro condenado por Durkheim (1898,1962,p.18) em relação aos sociólogos do seu tempo, o erro de trabalhar mais ou menos exclusivamente com conceitos do que com coisas. (SANTOS 2012, pq.143) Considerando o supracitado, desdobra-se como objetivo deste trabalho uma investigação sobre a lógica da produção social do espaço geográfico a partir da articulação do plano abstrato-conceitual a realidade concreta. Fundamentação teórica A priori partiu-se do método dialético, circunscrito no escopo do materialismo histórico, percorrendo da base conceitual (abstrato) ao concreto (“espaço real”), no caminho de ascensão ao concreto-pensado (espaço), convergiu para percepção de múltiplas contradições e variáveis cristalizadas na diferenciação espaço-temporal, contudo a “hipercomplementariedade” e mútua influência em sua lógica culminaram em uma aproximação da dialética Marxista ao modelo sistêmico. Derivado desta abordagem particular no sentido de busca constante sobrepor e operacionalizar toda base conceitual a realidade, assim percebendo a multifatorialidade interligada, multiescalar e complexa da lógica de produção do espaço concreto, infletiu-se para uma articulação peculiar de referenciais teóricos associados ao campo do materialismo histórico dialético da linha de produção social do espaço como Lefebvre (2008) e Milton Santos (2014), a concepção de produção capitalista do espaço em David Harvey (2005), e ainda que introdutoriamente a teoria do desenvolvimento desigual em Neil Smith (1988), de modo geral, a aspectos do que genericamente referimos da “teoria geossistemica” relacionada a teoria geral dos sistemas Bertalanffy (1973), considerando Sochava (1978) e Tricat (1977). Metodologia O trabalho estruturou-se a partir da articulação da literatura acadêmica supracitada á observações de paisagens distintas, considerando aspectos culturais, naturais, econômicos, quadro de formação sócio espacial, e as relações destes, no sentido da busca de apontamentos sobre a lógica de produção do espaço geográfico. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 171 Resultados parciais Os resultados parciais da pesquisa ainda em desenvolvimento têm caráter mais de apontamentos, resultando em questionamentos, do que respostas de fato. Adverte-se que essa pesquisa não é um estudo de caso, e sim uma reflexão teórica dotada de um sentido genérico, que parte indistintamente do abstrato e concreto. As articulações ao concreto desdobram-se basicamente a partir da análise qualitativa de campo comparativa entre localidades do subúrbio do Rio de Janeiro RJ, Jataí - GO e a cidade Serrana de Nova Friburgo - RJ, escolhidas pelo conjunto de diferenças entre as demais, e similitudes entre si. Culminaram na premissa prévia que determinados padrões espaciais derivados, não podem ser explicados somente por um viés econômico, cultural, conjecturando-se que opera na lógica de produção do micro-espaço, mecanismos de retroalimentação a partir de padrões estéticos, de organização, do nível de presença de elementos de natureza primeira no sítio, do arranjo, não necessariamente dependente do poder aquisitivo, e de aspecto difusos culturais do conjunto de indivíduos em quadro macro, evidenciando um sistema de inter-relações complexas, sem, contudo negar a dialética contida para formação desses quadros espaciais, subsumida no modo de produção capitalista, das superestruturas, de uma sociedade de classes, e de desigualdade. Outro ponto não abordado aqui se refere à possibilidade de como sistemas naturais e suas alterações, estando relacionada à ação humana ou não, embora hoje sempre exista algum tipo de relação ainda que indireta, tratando de sua lógica de funcionamento evidentemente sistêmica, é também elemento de produção do espaço. É factível que a dialética não pode ser negada na lógica da produção do espaço social, no entanto uma análise atenta revela o mesmo sobre a concepção sistêmica. Ao passo que ambas se apresentam indubitavelmente presentes em seu constructo, isoladamente ambas parecem ser incompletas para explicar-lhe em toda sua devida complexidade e profundidade. É preciso romper certas limitações, entender a complementaridade e dinamismo dos diversos sistemas sejam naturais-sociais como aponta Tricart (1977). Embora delicada e potencialmente polêmica, parece crível, acercando-se cada vez mais de indícios a ideia da simultaneidade dialético-sistêmica na lógica de produção/(re)produção, existência e transformação do espaço geográfico. Reclama importância, porque corrobora com uma visão multidimensional de espaço, assim não somente como produto de contradições, reafirmando também o papel para sua produção dos mecanismos de retroalimentação advindos de características específicas da paisagem e do conjunto intricado, dinâmico e complexo de variáveis Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 172 associadas a lógica de produção do espaço, como a ação antrópica, padrões estéticos e culturais, variações político-econômicas em diferentes escalas, mutuamente se influenciando, tudo como um conjunto, um sistema, um todo interligado, negociando ordem e desordem, alteridade e conjunto, contiguidades e contradição. 173 Referências BERTALANFFY, L. V. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005. LEFEBVRE, Henri. Espaço e política. 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