JOGOS: PRESENÇA DO LÚDICO COMO RECURSO DE ENSINO APRENDIZAGEM EM SALAS DE EJA Ana Paula da Silva Viviane Ramos da Silva Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus de Assis O Projeto de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) é uma proposta de ação didáticopedagógico institucionalizada pela Proex/Unesp, iniciada em 09/10/2000, conta com representantes de 7 unidades da Unesp, entre elas, a Faculdade de Ciências e Letras/ Campus de Assis. O presente projeto é uma prática de extensão universitária que visa contribuir com a pesquisa na área de Educação de Jovens e Adultos (EJA), através da metodologia em processo de ação-reflexão-ação e articula ensino, pesquisa e extensão. Propicia a vivência de distintas práticas educativas, problematizando o processo pedagógico por meio da exploração do cotidiano e do mundo vivido por educandos e educadores. Estamos hoje vivenciando uma educação defasada, muitas vezes, por falta de estrutura, investimentos, má formação dos profissionais etc. Dados recentes de pesquisa colocam na categoria de analfabetos funcionais grande parcela da população jovem e adulta brasileira. Encontramos hoje, por exemplo, a questão de alunos que ao egressarem do ensino médio, serem incapazes de, por si só, articularem qualquer tipo de estrutura mais complexa do currículo básico exigido, bem como de articularem leituras críticas. “( ... ). Em alguns países o fenômeno é chamado de “Iletrismo”, um manuseio precário das letras do alfabeto. A rigor o nome “analfabeto Funcional” quer dizer o sujeito que funciona, mas funciona mal socialmente falando, porque é pouco alfabetizado. Há estatísticas feitas por órgãos ligados à indústria e ao comércio, dentro e fora do país mostrando a correlação entre falta de leitura e acidentes de trabalho, má leitura e má saúde, e assim por diante” (Santana, 2001). Neste sentido, o PEJA, através de procedimentos de pesquisa-ação, tem a finalidade de resgatar ou propor práticas educativas que visem a uma participação mais efetiva dos indivíduos na vida econômica, política e cultural da nação, sem perder de vista processos e conteúdos da educação básica e o problema político da exclusão do sistema escolar de grande parte da sociedade. Diversos autores e estudos apresentam e apontam a importância de uma práxis pedagogia interdisciplinar, que seja valorizadora do sujeito, incentivadora do conhecimento, e possibilite ao educando significações dos conteúdos apresentados em sala de aula. Deste modo, prioriza-se uma Educação significativa em que o processo de ensino-aprendizagem favoreça uma educação libertadora e de formação continuada, em contraposição à perspectiva de uma educação compensatória, favorecendo o domínio dos instrumentos básicos da cultura letrada pelos educandos. Neste tocante, faz-se relevante uma práxis pedagógica que contemple o pensar diferentes possibilidades para o ensino. A práxis em questão objetiva explorar o uso de materiais concretos na alfabetização de jovens e adultos, com ênfase no aspecto lúdico oferecido por este tipo de material, como recurso liberador da espontaneidade e da transformação do raciocínio, do plano abstrato para o concreto, como forma de propiciar ao educando maior interação e identificação com o processo de ensinoaprendizagem. As atividades foram desenvolvidas, em duas salas de aula localizadas, ambas em bairros periféricos da cidade de Assis/SP, sendo uma localizada, no posto de assistência social da Vila Prudenciana com um total de 18 alunos e a outra na EMEIF “Alides Celeste R. Carpintieri” com 27 2 educandos. São constituídas por educandos com características semelhantes, residentes na periferia, nas proximidades das unidades de ensino, e uma pequena parcela residentes da zona rural. Os educandos apresentam idades que variam entre 14 e 84 anos. A principal atividade exercida pelos educandos está relacionada ao comércio e aos serviços (empregadas domésticas, padeiros, auxiliares de limpeza, gari, catadores de materiais recicláveis, costureiras e donas de casa), alguns exercem atividades rurais. Todos já freqüentaram a escola anteriormente, porém, por curto espaço de tempo. Os conteúdos apresentados para EJA, muitas vezes, não são adequados, ou se infantiliza esta modalidade de ensino, abordando questões que não produzem conhecimentos efetivos e não fazem parte do mundo vivido pelos educandos, ou parte-se do princípio de uma educação para adultos, abordando única e especificamente o universo conhecido dos mesmos e novamente comete-se outro erro, restringindo-os ao mundo social e cultural próprio da camada em que estão inseridos . Reduzir a EJA a uma educação que trate o adulto como desconhecedor do mundo e pretenda ensinar-lhes algo totalmente novo, que os educandos já não conhecessem anteriormente também é uma idéia equivocada. O adulto participante da EJA, apresenta um vasto conhecimento de mundo, é falante da língua, logo o mesmo é participante ativo do processo de transmissão de cultura. Seus conhecimentos formais/acadêmicos apenas não estão sistematizados e organizados dentro das normas padrão ou “cultas” da língua portuguesa e da cultura letrada de modo geral. Analisando estas questões e na busca de entender a EJA como uma forma peculiar de ensino, com características e necessidades próprias e carentes de incentivos. É uma preocupação do PEJA e de seus educadores o pensar diferentes possibilidades para o ensino, promovendo novas formas de interação entre alunos e conhecimento, além da integração de jovens e adultos na sociedade . O pensar diferentes possibilidades para o ensino está relacionado a necessidade de um professor/educador sensível às questões pertinentes a EJA e as necessidades apresentadas pelos educandos. Neste momento é abordada a necessidade do professor pesquisador. A área da educação de jovens e adultos é ainda pouco explorada cientificamente e, ninguém melhor que o professor para desenvolver novas perspectivas de ensino nesta área conduzindo seus trabalhos. Através da metodologia em processo de ação-reflexão-ação, de modo a desenvolver e testar novas metodologias para serem utilizadas em salas de aula, favorecendo a produção de informações e conhecimentos mais efetivos, contribuindo para o esclarecimento das microssituações escolares, pois o professor as conhece e as identifica com maior facilidade pois lida com as mesmas constantemente. São poucos os materiais didático-pedagógicos encontrados especificamente destinados a EJA, então apresenta-se a necessidade ao educador de constantes adaptações, de materiais existentes destinados à crianças, e de criações de novos materiais que correspondam as expectativas e necessidades do educando jovem e adulto e que possa solucionar as microssituações de aprendizagem apresentadas em sala de aula. Neste sentido, fez-se relevante o uso de materiais concretos na EJA, todo e qualquer tipo de material que auxilie o educando a transformar o raciocínio do plano abstrato para o concreto. Materiais como: Material Dourado, dominó de números, dominó de sílabas, alfabeto móvel, loto leitura, embalagens etc., bem como, materiais confeccionados pelo PEJA/Assis, por exemplo, DOMAGE, dominó matemático abordando os conceitos de número e numeral, figuras geométricas, operações matemáticas e mesmo escala cromática - cores primárias. O uso deste tipo de material tem facilitado aos educandos uma maior compreensão de conceitos muito abstratos, facilitando o processo de ensino aprendizagem e propiciando maior interação e identificação dos mesmos com este processo e o conhecimento. O uso do material concreto em salas de EJA torna as aulas mais dinâmicas e interativas, ao explorarmos os aspectos lúdicos, por ele oferecido. Facilita o aprendizado possibilitando uma análise crítica sobre os conteúdos exigidos para EJA, de maneira que os mesmos sejam satisfatórios no processo letramento. 3 “(...). Houve um tempo em que alfabetizar era apenas passar as rudimentos da língua escrita para outra pessoa. Aquele que conhecia esses códigos era considerado alfabetizado” (Barbosa, 1990). Hoje este processo se apresenta em um estágio bem mais avançado. Não basta saber ler e escrever, é necessário para um processo significativo ensinar aos alunos estratégias letradas, possibilitar aos mesmos domínio dos instrumentos básicos da cultura letrada. Nos dias atuais encontramos jovens que ao egressarem da educação básica, não apresentam este domínio. É necessário então, uma ressignificação dos conteúdos apresentados por educadores, de modo a transmití-los e realizá-las com sucesso. O material concreto abordado como um recurso facilitador da aprendizagem e conjuntamente com os aspecto lúdico produtor de conhecimento é um modo de ressignificar os conteúdos que estão sendo apresentados aos educandos. Pois estes interagem entre si, trocando experiências, conversas, aquele que já domina os conteúdos apresentados auxilia um colega menos adiantado. Os conteúdos formais são apreendidos com maior facilidade e o aspecto lúdico, a brincadeira dotados de características simbólicas, prazerosas conduzem os educandos a um processo assimilativo do conhecimento. Favorecendo a autonomia do educando, estimulando-os a avaliar constantemente seus progressos e suas carências, identificando onde já avançaram e onde ainda necessitam melhorar. “Compreendendo seu próprio processo de aprendizagem, os jovens e adultos estão mais aptos a ajudar outras pessoas a aprender, e isso é essencial para pessoas que, como muitos deles, já desempenham o papel de educadores na família, no trabalho e na comunidade” (Propostas Curriculares, 1997). O trabalho educativo apoiado em uma práxis pedagógica interdisciplinar e utilizando esses recursos de materiais concretos visando seu aspecto lúdico favorece o aumento da auto-estima dos educandos, fortalece a confiança na sua capacidade de aprendizagem, e valoriza a educação como meio de desenvolvimento pessoal e social. O professor seleciona, analisa e produz materiais que tornem as aulas mais dinâmica e agradáveis e contribuam para o sucesso da transmissão dos conhecimentos que deseja alcançar. “(...). “A brincadeira é o lúdico em ação”. Enquanto tal, tem a propriedade de liberar a espontaneidade dos jogadores, o que significa colocá-los em condições de lidar de maneira peculiar e, portanto, criativa com as possibilidades definidas pelas regras, chegando eventualmente até a criação de outras regras e ordenações. Nesta perspectiva a brincadeira deixa de ser “coisa de criança” e passa a se constituir em “coisa séria” digna de estar presente entre recursos didáticos capazes de compor uma ação docente comprometida com os alvos do processo de ensino aprendizagem que se pretende atingir” (Penteado, 2000) . Finalizando, apontamos o uso de materiais concretos e o lúdico na EJA como recursos facilitadores e incentivadores no processo de ensino-aprendizagem, possibilitando maior interação entre os educandos e os conteúdos formais, propiciando uma educação que reflete princípios de um saber mais efetivo e que se apresenta de modo significativo aos educandos, possível de mudanças e ressignificações. Uma educação em que os educandos são sujeitos agentes neste processo. 4 BIBLIOGRAFIA BARBOSA, José Juvêncio In: LAGOA, Ana. Afinal, o que é Alfabetizar? Nova Escola, Ago. 1990, p. 12. Educação de Jovens e Adultos : Proposta Curricular Para o 1º Seguimento do Ensino Fundamental. Vera Maria Masagão Ribeiro (coord.). São Paulo: Ação Educativa ; Brasília: MEC, 1997. FERREIRO, Emília. Reflexões sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 1990. KLEIMAN, Angela. B.(org.). Os Significados do Letramento: uma Nova Perspectiva sobre a Prática Social da Escrita. Campinas: Mercado das Letras, 1995. PENTEADO, Heloísa Dupas. Jogo e a Formação de Professores: Videopsicodrama Pedagógico. In KISHIMOTO, Tizuko M. (org.). Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. 4º ed. São Paulo: Cortez, 2000. Sacramento , W. C. O Papel Social Ocupado pelo Excluido Social da Cidade de São Paulo dentro da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”- UNESP. Texto Impresso. pp.10. Texto apresentado à Anped para o III Concurso Negro & Educação. Assis. 2003. SANT’ANNA, Affonso Romano de. Nós, os Analfabetos pouco Funcionais. In AZEVEDO, José Carlos de (org.). Letras & Comunicação: uma Parceria no Ensino da Língua Portuguesa. Petropólis: Vozes, 2001. THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo. Cortez, 1986.