Os Cenários no Leque de Inflação

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Relatório de Inflação
Dezembro 1999
Os Cenários no Leque de Inflação
Os leques de inflação apresentados no Relatório são construídos com base em uma trajetória para a
taxa de juros básicos da economia, a taxa Selic. No entanto, em qualquer modelo macroeconômico, a
inflação projetada não depende exclusivamente dos juros, mas também da evolução de algumas variáveis
exógenas, ou seja, variáveis não determinadas pela dinâmica interna do modelo utilizado. Por isso, é
necessário definir cenários que descrevam a evolução dessas variáveis e que sejam consistentes com a
hipótese adotada para a trajetória de taxa de juros.
Os cenários são elaborados a partir do conjunto disponível de informações a respeito da economia
doméstica e internacional. Em tese, podem ser construídos infinitos cenários, combinando as possíveis
realizações das variáveis envolvidas. Na prática, as discussões concentram-se em três a cinco cenários.
Entre estes, é selecionado o cenário principal, que o Copom entende como o mais provável e que
norteará a análise e as conclusões apresentadas no Relatório, explicando a decisão de política monetária.
É essencial garantir a consistência entre todas as hipóteses adotadas em cada cenário. Para exemplificar,
tomemos um modelo simples, em que a dinâmica macroeconômica é determinada simultaneamente
por uma equação de demanda agregada (curva IS) e outra de oferta (curva de Phillips), envolvendo as
variáveis inflação, hiato do produto e as taxas nominais de juros e de câmbio. Com apenas duas
equações, não é possível resolver o sistema para as quatro variáveis. A taxa de juros, como principal
instrumento de política monetária, é claramente uma variável exógena. Porém, a taxa de câmbio, num
regime de flutuação, não pode ser considerada exógena. Acrescenta-se, então, uma condição de
paridade para descrever sua evolução em termos do risco Brasil e do diferencial entre os juros domésticos
e internacionais, todos exogenamente determinados neste exemplo.
A seguir, são definidos cenários para as variáveis exógenas. Um cenário para as taxas externas de
juros seria o de que permaneçam constantes. O risco Brasil, por sua vez, está relacionado ao
comportamento do saldo em transações correntes do balanço de pagamentos, da política fiscal, dos
níveis de liquidez internacional e de choques. Caso conclua-se, por estudos prospectivos, que haverá
grande melhoria nesses itens, o risco Brasil será decrescente. Este cenário, portanto, seria adequado
para analisar-se o comportamento da inflação e do hiato do produto com juros domésticos em queda
ou constantes. Mas não faria sentido com juros crescentes, pois estes dificultariam a obtenção de
melhores resultados fiscais e piorariam a percepção de risco Brasil, contradizendo a hipótese anterior
sobre a evolução do risco. O cenário para analisar juros crescentes precisa ser adequadamente
modificado para manter a consistência com a hipótese sobre o risco.
Esse exemplo ajuda a entender por que, comparando dois leques de inflação, não se pode afirmar que
a mudança na trajetória de inflação seja fruto apenas da alteração na taxa de juros, uma vez que o
cenário também foi alterado.
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