o adolescente em conflito com a soc`iedade *

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o adolescente em conflito
com a soc'iedade *
"As crianças são dignas de serem vistas, não de serem ouvidas",
dIzIa-se no século XIX. Embora essa frase tenha perdido grande parte
de sua atualidade, a sociedade moderna começa a ter a impressão de que
~ adolescentes estão se fazendo ouvir demasiadamente. No entanto, os
adolescentes são pessoas como as demais, e, quando assim consideradas,
comportam-se impecàvelmente."
Não é necessário ser médico para compreender a importância
que a conduta associaI dos adolescentes está assumindo. O problema se
estabelece pelo pouco que sabemos das causas e da prevenção de tal fenômeno e, conseqüentemt.'\1te de seu tratamento. Como se ressaltou no Congresso de Edimburgo, provàvelmente o trabalho que menos seduz ao médico seja o tratamento de delinqüentes. Jonsson (Suécia), cuja experiência no tratamento de delinqüentes juvenis é sobejamente conhecida,
comparou essa situação com o que aconteceria se as ruas de uma cidade
.tôsse invadidas por uma manada de elefantes. Ao público e às autoridades,
a Úlllca cousa que interessaria seria eliminar essa presença desagradável
pouco Importando, realmente, a maneira de tratar os elefantes ou os encarregados dêles. Estes últimos, na hipótese de não serem pisoteados pelos
animais, talvez alcançassem alguns êxitos isolados. As pessoas que colaboram com Jonsson na qualidade de PAIS ou MÃES ADOTIVOS dos
adolescentes lI1ternados só são capazes de realizar êsse trabalho durantt'
.,
Traduzido de "Documenta Geigy", Basiléia, Suíça, pelo Dr. Vasco Vazo
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alguns anos. Amda assim, causa admiração que possam resIstIr tanto
tempo, como é admirável, também, a dedicação dos grupos que colaboram,
em Pans. com Flavlgny, na ação de reforma de bandos de adolescentes.
Tôdas essas pessoas esbarram com a hostilidade dos pais, das famílias, do
público c, mclusive, das autoridades, que preferem oferecer castigo a tratamento.
EPlDE;\llOLOGIA
A crescente magnitude do problema reflete-se perfeitamente nos
estudos epidemiológicos de Schindler (Viena). Frisou êle que uma investIgação etetuada há poucos anos pelo CONSELHO DA EUROPA revelou um claro aumento do problema, entre 1950 e 1960, em 9 de 12 países;
apenas na BélgÍca e na Dinamarca observa-se ligeiro decréscimo. Na
Austna, a delinqüência aumentou ràpidamente, entre 54 e 58, declinando
depois, de maneira gradual.
Já se tem dito, muitas vêzes, que as duas guerras mundiais estimularam a delmqüência, e, com efeito, as estatísticas austríacas mostram
aumentos súbitos Y anos após concluídas essas guerras, bem como uma espeCIal predisposição dos indivíduos compreendidos em certas faixas q~
Idade. Na Austria, o aumento se circunscreve quase inteiramente à crhllj·
nahdade masculina, já que a delinqüência feminina manteve nível constante. Um detalhe interessante é que, entre 1950 e 1960, o país passou de
uma economia agrícola para uma economia industrial, e que a distribuição da delInqüência seguiu essa evolução concentrando-se especialmente
nos grupos de jovens operários industriais. Embora não exista uma rela,são entre nascimento ilegítimo e delinqüência, a falta do pai dmante o
4.0 e 3.° ano de vida parece influir no fenômeno. Essa influência parece
eXÍstir, inclusive, nos países que não participaram da guerra, por exemplo, a Suécia, mas onde muitos pais foram mobilizados na Segunda Grande Guerra para o policiamento de fronteirâ~. A imprensa austríaca deu
destaque à SItuação com certo atraso, mas de maneira exagerada, dechcando muitas das suas páginas ao problema da delinqüência luvenil. A red'
ção dos TrIbunais foi ainda mais tardia. Em 1961, a legislação introduziu
a lIberdade vigiada, mas, por desgraça, essa medida não tem sido eficaz
para eliminar a reincidência. Essa conclusão coincide com a experiência
de Hutcheson (Boston), que assinalou que os jovens em liberdade vigiada
voltam a delinqüir, com a mesma freqüência que os demais.
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ETIOLOGIA
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As opiniões vigentes sôbre as condições em que se desenvolve a
adolescência determina em certo grau a orientação dos programas, já citados, em matéria de delinqüência juvenil. Em uma comunicação de Shore
(Hoston), lida por Gardner (Boston), estudam-se precisamente os dois
conceitos que hoje dominam essa matéria, o de recapitulação e o de emergência. Para Freud, a adolescência era a época do reaparecimento do
comPlexo de EdiPo e do temor da castração. Blos, por sua vez, em 1962
acentuou a experiência da separação, a que denominou segunda fase de
mdlvldua{lzação da vida. As teoria~ "emergentes", pelo contráno, concentram-se em outros determinantes de experiência do adolescente. Inhelder e Piaget (1958) chamaram a atenção sôbre alguns elementos novos
que surgem no delineamento da cognição, enquanto Erikson admite que
a característica verdadeiramente importante é a da luta pela identidade.
Por conseguinte, a orientação do comportamento depende das idéias que
o terapeuta tenha, principalmente sôbre os fatôres não resolvidos na
VIda do adolescentes (teoria de recapitulação) ou pelos fatôres de muderação, conquanto se suponha, também, que haverá de levar em conta
tatôres sociais e pessoais.
De qualquer forma, cada vez se vê, com mais clareza, que as situações críticas da adolesLência oferecem uma excelente oportunidade para
mtervir e influir constantemente sôbre a personalidade. Essas situações
críticas podem provir de acontecimentos externos (por exemplo a morte
de um parente), ou internos (puberdade ou enfermidade). Antes de
abordar um caso de conduta associaI, é evidente que se deverá avaliar
CUIdadosamente todos os fatôres implicados. A experiência de Shore procede princIpalmente de meninos de baixa classe social que já não vão a
escola, apresentando ampla história de delinqüência. A conclusão básica
é que o trabalho regular pode ser a solução dêstes casos difíceis. Neste
sentido, seus colaboradores entraram em contato com os jovens, logo que
eles abandonem a escola ou dela sejam expulsos, e, mediante orientação
adequada, os ajudem a encontrar trabalho (coisa nada fácil, pois o delinqüente pretere uma ocupação de acôrdo com as suas fantasias de oniPotência à que esteja de acôrdo com as suas próprias limitações). O assistente social deve esforçar-se para fazer ver ao jovem que se encontra de
seu lado, pois, pelo tato de êle haver abandonado a influência integradora da educação, estará pensando de maneira mais concreta que sImbó,
lIca. orientada mais para o presente que para o futuro, dominada pelo
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desejo de encontrar satisfação imediata a seus anseios. A psicoterapia deve
onentar-se para a exploração das possibilidades de conservar um emprêgo,
e das razões do fracasso. O terapeuta terá que manter contato constante
com o jovem, mostrando-se acessível em qualquer momento. Embora tendo
que atuar como guia, inclusive em questões como a compra de roupas,
deve manter-se sempre na posição de uma pessoa que ajuda e não na de
um companheiro. Os resultados obtidos nestes casos foram melhores que
Os alcançados com indivíduos não tratados. Os jovens "ajudados" adquirem um conceito sadio do que seja proibido, começando a preocupar-se
com o tuturo e melhorando muito, tanto em seu comportamento quanto
em seu interêsse por aprencier.
EXPECTA TIV A E REALIZAÇÃO
Aldrich (Chicago) assinala que as pessoas tendem a comporlar-se
como de antemão se costuma esperar que o façam. Da mesma forma que
o cão morde ao carteiro nervoso, um adolescente que, pelos pais e peld
coletividade que o rodeie, seja considerado como futuro delinqüente, costuma acabar cameio na delinqüência. Conquanto na conduta anti-social
mUuam muitos fatôres, (hereditários, físicos, psicológicos e sociais), valeria a pena tratar de identificar um fator único que, embora insuticient~
por si só, se mostre dominante. Há provas de que êste elemento-chave
é a expectativa da conduta anti-social, adotada especialmente pelos pais
que, mclusive, podem resignar-se a ela ou tratar de obter compensação
através ele castigos que inflijam aos filhos.
Em geral, êsse tratamento se limlla a um dos filhos. Aldúch
acentuou que estas observações só são aplicáveis à conduta associaI de
caráter neurótzco, e não ao comportamento dos jovens com transtornos
neurológicos ou privações sociais. A seu juízo, tanto os pais quanto os
companheiros do jovem e a coletividade, em geral, devem colaborar com
esse propósito, embora nas classes sociais mais baixas o desejo dos pais
de que o jovem não se transvie possa opor-se à influência da sociedade e
protegê-la. A conclusão é clara: se a desconfiança dá origem ao delito e a
contIança o evita, o encarceramento será contraproducente, pôsto que
pressupõe que o delinqüente reincidirá.
As medIdas de proteção social requerem, pois, uma atmosfera
de otIm!smo. Do mesmo moclo que a frase de Nelson, "A Inglaterra es-
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pera que cada um cumpra o seu dever", constitua um código de Morse
naval, o fato de que a sociedade espera que cada adolescente seja um
delinqüente poderia ter a mesma eficácia, embora em sentido oposto.
AGRESSÃO
À
ADOLESCÊNCIA
.Em uma comunicação sôbre delinqüentes juvenis agressivos, Kolvin (Newcastle-Sôbre-o-Tyne) os dividiu em três tipos: os Não Hostis e
relativamente inoiensivos (I58 casos de sua estatística); os HostIs não
SIstemáticos (por exemplo os jovens relativamente controlados que praticam pIlhagem sem objetivo, em busca de emoções (44 casos); e os Hostis SIstemáticos, sumamente perigosos (32 casos) .
As características dos dois últimos grupos podem classificar-se
assim:
a) Impulsividade catastrófica, com perda brusca do contrôle e
confluências catastróficas (7);
b) Agressividade paranóide, com inacessibilidade e hostilidade
contínua do mdivíduo, que podem explodir por qualquer motivo durante
a entrevista (9);
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c) Crueldade patológica, por exemplo a dos rapazes fortes e
sadios que atacam as cnanças pequenas e atormentam os animais (ll);
d)
nhos (5);
Agressividade dirigida à família, não, porém, aos estra-
Conquanto êsses tipos possam associar-se entre si, em todos se
observa uma característica predominante. À medida que aumenta a idade
de um grupo, desce a proporção de tipos não hosti'S e cresce a de hosti~
sistemáticos. Muitos indivíduos apresentam diferenças de acôrdo com o
melO. AssIm, muito dos indivíduos do terceiro grupo viviam longe de
sua família e em sua maioria apresentavam uma história de erros paternos devidos mais à mtervenção que a omissão. í.stes rapazes tendiam mais
para o Isolamento social e à pilhagem solitária que ao roubo. Entre os mdIvíduos hostis, muitos apresentavam sinais de lesões cerebrais, porém o
.EEG era mespecífico não revelando correlação alguma com os antecedentes nem com a conduta.
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PROGNóSTICO
A possibilidade de predizer o curso de uma molésLia permite ao
médico estabelecer o tratamento oportuno. Igualmente, se pudermos determInar quais os jovens que delinqüem pela primeira vez, sem que tornem
a tazê-Io, será possível fazer muito mais por êles.
Hutcheson (Boston) estudou um grupo dêsses delinqüentes novatos em uma cidade de Massachussetts, a fim de analisar o valor da Inlpressão prognóstica do psiquiatra que realize a entrevista, assim como o
de outros índices objetivos, tais como o número de irmãos, as "entradas"
(pnsões) do pai, e o volume da família. A impressão do psiquiatra se
revelou muito mais útil para predizer as possibilidades de reincidências
que os fatôres objetivos mencionados. Analisados os dados eletrônicamente, venficou-se que as impressões do psiquiatra sôbre a atitude do
Jovem, durante a entrevista, suas opiniões sôbre a normalidade ou anormalIdade de sua própria conduta, a determinação do psiquiatra sôbre a
necessidade de intervir com maior ou menor energia, etc., demonstraram
ser de grande utilidade como índices prognósticos. É sabido que, de 1000
Jovens que delinqüem pela primeira vez, 300 reincidirão; pois bem, a
calculadora permitiu identificar 322 reincidentes.
ANOMALIAS CEREBRAIS LEVES E CONDUTA ASSOCIAL
Um psiquiatra de Praga, Kucera, observou que certas alterações
cerebrais mínimas podem muito influir na conduta anti-social. Segundo
sua opinião, a Interação entre o fundo neurológico ligeiramente anormal
e os tatõres patogênicos do meio ambiente poderá determinar:
a)
transtornos de conduta leves;
transtornos de conduta persistentes e pronunciados como
traços de caráter de tipo psicopáticos;
h)
c) neurotização secundária, resultante da pressão ambiente, com
tIques, gagueira ou sinais análogos;
d) manitestações psicóticas com sintomas de regressão, linguagem confusa e neologismos.
As conclusões de Kucera se baseiam num estudo de vários grupos
adolescentes tchecos com conduta associaI e o diagnóstico que fez de
alterações cerebrais mínimas baseiam-se na convergência de vários sinais
de
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e dados, como por exemplo: antecedentes de lesões cerebrais prováveis,
transtornos neurológicos na primeira infância, presença de alterações neurológIcas evidentes ou anormalidades nos resultados das provas vÍsuo-motoras. ~um grupo ele 126 adolescentes e meninos delinqüentes, foram
encontrados 16 casos com lesões cerebrais evidentes e 27 com lesões prováveis, enquanto a população geral da freqüência de alterações cerebrais
mínimas não passan, provàvelmente, de 3 ou 5%. Num grupo de reincidentes, as proporções eram respectivamente de 28 e 23%. Na suposição
de que êste sÍndrome contribua para a delinqüência, seus efeitos se obseryarão sobretudo nos casos mais graves, com transtornos profundos da
personalidade.
TRATA~IENTO
Flavigny e seus colaboradores ocuparam-se, durante 18 anos. em
Paris, de bandos de adolescentes, pouco a pouco conseguindo estabelecer
prIncípios de um tratamento original, a que deram o nome de socioterapia. Esses mvestigadores movem-se em 4 planos mediante equipes complexas a cargo de um psiquiatra, assessor técnico ou educador. Êsses
planos operacionais são o indivíduo} o grupo} a comunidade local (bairro\
e a sociedade. Até agora, ocuparam-se de 20 grupos ou bandos de jovens
'issociais, criando clubes preventivo-curativos, baseados principalmente em
recepções acolhedoras e contacto Íntimo. As equipes são utilizadas para
a observação e o tratamento; de duas a quatro pessoas encarregam-se de
entrar em contato com cada bando. As equipes reúnem-se com ireqüên<:ia, mas sua atuação se desenvolve fora dos centros de observação, penetram no meio físico do bando e tratam de estabelecer uma relação íntima
com os indivíduos durante anos (uma das equipes trabalhou com o mesmo
grupo durante 13 anos) .
Embora raramente seja possível realizar psicoterapia, no sentido
estrito dêsse têrmo, a relação humana entre o conselheiro e o adolescente
substitui perleitamente a atmosfera neutra de relações psicoterápicas_
Us grupos analisam seus fracassos como seus êxitos, e o contato prossegue mesmo quando certos jovens alcançam a idade adulta, pois todo
adulto jovem continua sendo um ser frágil.
Como assinalou Jonsson, é paradoxal que todo o mundo esteja
de acõrdo quando se trate de ajudar aos cegos e que, ao contrário, ninguém se mostre cllsposto a colaborar com a ajuda aos sociopatas; até nos
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llldivíduos mais lllteressados nesse trabalho, o próprio "eu" se mostra resistente, conSCIente ou lllconscientemente. A seu juízo, os psiquiatras
devem atuar através de interpostas pessoas que tratarão de ganhar a
confiança dos adolescentes. ] onsSOn preconiza a internação dos jovens de
ambos os sexos numa mesma instituição ("não se deve esquecer o valor
terapêutico do fato de estar-se enamorando") e tentou também o tratamento das famílias, admitindo-as nas instituições durante 6 meses.
Um participante do Congresso de Edimburgo perguntou se a
terapêutica de trustração é realmente útil. Em outros têrmos, convirá ao
terapeuta demonstrar ao paciente que sua conduta anti-social não o estará
conduzindo a nada? Mesmo que essa intervenção possa ser contraproducente, a princípio, costuma posteriormente melhorar a situação, pois o
paciente acaba compreendendo a conveniência de mudar de vida. ]onsson
mostrou que, quando uma criança se vê frustrada por todos que aro,
deIam, logo sente a necessidade de encontrar alguém que a ajude.
CONSUMO DE DROGAS
Embora o aumento do consumo de drogas, entre adolescentes,
suscite justificadas preocupações em muitos países, só os psiquiatras londrinos se ocuparam dêsse problema no Congresso de Edimburgo. Isto não
llldica que a questão interesse apenas aos médicos britânicos: não se deve
esquecer, como dIsse um grande especialista, que o problema estabelecido
pelo consumo de drogas tem caráter internacional; a única coisa que
varia é que alguns países o reconhecem, enquanto outros, não. As estatísticas do consumo de heroína constituem um bom exemplo do enorme
aumento das tOXIcomanias na Grã-Bretanha. Em 1955. não existia nenhum
herolllômano conhecido; em 1960, tinha-se notícia de 1; em 1963, de 17
e, em 1!:!64, de 40. No momento, passavam de 100 os casos conhecidos.
Segundo Connell, o consumo de drogas entre adolescentes (principalmente antetamina misturada com barbituratos) se deve em grande parte,
aos jovens que visitem Londres, (ou outras capitais importantes), nos
tlllS de semana, passando o tempo em bares não fiscalizados, abertos tôda
a nOIte; nestes estabelecimentos entram em contato com prostitutas, pervertidos e vendedores de drogas, passando a pouco e pouco das drogas
suaves para as fortes, especialmente a heroína. A missão do médico reveste-se neste caso de quatro aspectos: diagnóstico, tratamento, avaliação das
conseqüênCIas geraIs e ínlonnação as autoridades para investigação. O
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dIagnóstico pode se tornar difícil por exigir um exame regular de urina.
O tratamento entrenta as mesmas dificuldades que os demais problemas
próprIos da adolescência, e as medidas adotadas pelas autoridades para
impedir a venda da droga têm sido até agora pouco eficazes.
(No dia seguinte da leitura dessa comunicação, o Ministro do
lnterior aprovou novas medidas para enfrentar o problema). Chapple
ucupou-~e principalmente do problema da heroína, consumida atualmente
por rapazes até de 14 anos. Conquanto seja impossível avaliar o número
de heromômanos existentes, não há dúvida de que seja várias vêzes maior
que a CIfra ofICIal. As farmácias londrinas, em que toxicômanos podem
obter a qualquer hora a droga, com receita médica, constituem em atração
turística.
No ano passado, Chapple viu pela primeira vez 5 casos de adolescentes tOXIcômanos que se "iniciaram" diretamente com heroína. Descobnram-se casos de rapazes, das últimas séries do curso secundário, que,
vendiam heroína nos arredores da escola, e que, com isso, facilitavam a
propagação do vício entre estudantes. As manifestações em prol do desarmamento atômIco constituem também um mercado para os consumidores
de drogas, do qual podem ser vítimas todos os jovens, qualquer que seja
o seu gr~u de mteligência. Chapple calculou que a sociedade, tanto no
R.eino Unido como em outros países, fingem ignorar êsse problema, atitude comparável à da era vitoriana em face das questões sexuais.
Conquanto a estrutura atual da sociedade pareça especialmente
talhada a fazer tracassar tôda tentativa de tratamento, já é hora de que
dessa etapa pré-científica se passe à outra, mais cientificamente fundada.
Caso contrario, a profilaxia e o tratamento das toxicomanias, no futuro,
apresentará aspectos muito sombrios.
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